Zaida Sanches – Coleção Stera
Por Ricardo Riso
Resenha publicada no semanário cabo-verdiano A Nação, nº 151, de 22 a 28/07/2010
Estimular o hábito da leitura nas crianças é a melhor maneira para se formar um público leitor adulto, além das vantagens consagradas pela pedagogia no processo de ensino e aprendizagem que tanto contribui para a formação do futuro cidadão.
Apesar de ainda escassa, a produção literária infantil cabo-verdiana começa, de maneira tímida, a revelar novos escritores que participam desse importante processo de formação de leitores. Por isso, torna-se pertinente celebrar uma publicação tão bem cuidada como a “Colecção Stera” de Zaida Sanches, lançada em 2009.
Em sua estreia literária, Sanches brinda o público infantil com quatro pequenas narrativas: “O Reino das Rochas” (desenhos de Anderson Fernandes), “A Greve dos Animais” (ilustrações de Ivanilson Sanches), “A Sopa da Beleza” e “A Princesa do Mês de Agosto” (os dois últimos ilustrados por Dudu Rodrigues).
Com um acurado olhar para o universo dos pequeninos, os quatro livrinhos procuram explorar aspectos tradicionais da cultura cabo-verdiana, valendo-se de tradições orais – provérbios e crenças populares – atualizadas para a época atual. O marcante caráter educativo embala as singelas narrativas: conhece-se a máquina tradicional do trapiche na qual o grogue é feito, a rotina rural e a importância de se respeitar os animais em “A Greve dos Animais”; dois agoiros populares dão a tônica de “A Princesa do Mês de Agosto”, com habilidade a autora desconstrói a ideia de que casamento no mês de agosto dá azar e de que se neste mês “a terra entrar para dentro de casa traz azar para aquela família”. Além disso, os pequeninos ficam sabendo como as festas eram comemoradas e como identificar as quatro estações do ano.
A tradição oral é revista em “A Sopa da Beleza”, que mostra a necessidade de uma alimentação diversificada, rica por legumes, verduras, frutas e outros itens, sendo o segredo para que as crianças tenham um crescimento saudável, longe das doenças e assim combater com sucesso absoluto o mal agoiro da hora minguada. A narrativa resgata as prendas que eram oferecidas aos pais quando nasciam os filhos. Enquanto em “O Reino das Rochas” apresenta o achamento de Cabo Verde pelos navegadores portugueses, a maneira como as ilhas foram colonizadas e a narrativa repassa a história do castigo das pedrinhas.
As boas soluções encontradas por Zaida Sanches em suas histórias, tornam a “Colecção Stera” um excelente presente a se ofertar às crianças. De forma lúdica, os pequeninos aguçam a curiosidade, aprendem aspectos tradicionais da cultura e da história cabo-verdiana, e são incentivados a ter uma conduta correta e respeitosa. Ou seja, as quatro narrativas de Sanches seguem a orientação barthesiana: é saber com sabor.
A gratificante leitura da “Colecção Stera” de Zaida Sanches ensina o quanto é relevante o incentivo não só à leitura dos pequeninos, mas dimensiona a importância de investimento do governo e das editoras em um segmento literário ainda tão carente de publicações. Apesar do custo elevado de um livro infantil, em razão de um maior cuidado gráfico, policromia etc., deve-se recordar que a criança que adquire o hábito da leitura, será um adulto leitor, consumidor de livros, por conseguinte, estimulará a leitura em seus filhos. Além de maior apoio aos escritores atuantes nesse segmento, também seria de enorme valia que os escritores e artistas plásticos consagrados do país também participassem de projetos voltados para o público infantil. Assim, a maior visibilidade dessa literatura será inevitável.