Elegia Poética ou “Tou contigo Seu Zé” – a José Carlos Limeira
A admiração a distância, a felicidade de conhecê-lo nos eventos da Ogum’s
Toques do Escritor quando comemoramos os aniversários de Atabaques e O
Arco-Íris Negro, junto daquele contínuo estranho que só vivia na biblioteca,
parceiro seu desde os 70, um tal Éle Semog. Dos papos na cozinha de sua
residência, das histórias do tempo de mimeógrafo de “Zumbi...dos” e “Lembranças”,
do tempo, um tempo distante, da luta ininterrupta contra as indiferenças da
esquerda, das delicadezas musas, tantas musas, negras quilombelas, das
histórias em solo germânico, do disque-poema alemão, de levar a sua poesia
negra aos norte-americanos, das recordações do Negrícia – poesia e arte de
crioulo, do GENS, coletivos literários negros de tantas histórias ainda para registrar,
do nosso Baobá, decano da poesia negra na fala de Guellwaar Ádun, com a
renovação da Ogum’s Toques Negros, de Calalloo, de melhores contos e melhores
poemas de Cadernos Negros, da Colina de Axé, da Razão da Chama camarguiana
desse Limeira Negro Escrito em Schwarze Poesie e Schwarze Prosa, do amadurecimento
e delicadeza de Encantadas, da certeza do Arco-Íris Negro às letras desses
Atabaques, contigo fortaleci a necessidade de “ser um negro vinte e quatro
horas por dia”, transnegrecendo o cânone porque “sou um negro, mais um, meio
louco, meio torto”, da beleza espontânea de jovens manifestantes no metrô
paulistano bradando “por menos que conte a história/ não te esqueço meu povo/
se Palmares não vive mais/ faremos Palmares de novo”, dos nossos “quilombos/meus
sonhos/ sofro de uma insônia eterna/ de viver vocês// Vivo da certeza/ de
renascê-los/ amanhã”, suas nossas Black Intentions
“Tou contigo Seu Zé”
nesses dias ásperos para nós negros diaspóricos
“Tou contigo Seu Zé”
Aqui não há e agora, josé
“Sou, vou sempre ser: NEGRO!
ENE, É, GÊ, ERRE, Ó”
Valeu, Seu Zé
Descanse em paz, meu amigo
José Carlos Limeira.
Ricardo Riso,
13 de março de 2016.