tag:blogger.com,1999:blog-82726407719192439942024-03-18T21:07:59.918-03:00Riso - sonhos não envelhecemUm espaço dedicado à literatura negro-brasileira, às literaturas africanas de língua portuguesa e demais literaturas negro-diaspóricasUnknownnoreply@blogger.comBlogger962125tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-20362748205478718422016-03-13T01:39:00.003-03:002016-03-13T01:41:16.364-03:00Elegia Poética ou “Tou contigo Seu Zé” – a José Carlos Limeira<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<b><i>Elegia Poética ou “Tou contigo Seu Zé” – a José Carlos Limeira<o:p></o:p></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
A admiração a distância, a felicidade de conhecê-lo nos eventos da Ogum’s
Toques do Escritor quando comemoramos os aniversários de Atabaques e O
Arco-Íris Negro, junto daquele contínuo estranho que só vivia na biblioteca,
parceiro seu desde os 70, um tal Éle Semog. Dos papos na cozinha de sua
residência, das histórias do tempo de mimeógrafo de “Zumbi...dos” e “Lembranças”,
do tempo, um tempo distante, da luta ininterrupta contra as indiferenças da
esquerda, das delicadezas musas, tantas musas, negras quilombelas, das
histórias em solo germânico, do disque-poema alemão, de levar a sua poesia
negra aos norte-americanos, das recordações do Negrícia – poesia e arte de
crioulo, do GENS, coletivos literários negros de tantas histórias ainda para registrar,
do nosso Baobá, decano da poesia negra na fala de Guellwaar Ádun, com a
renovação da Ogum’s Toques Negros, de Calalloo, de melhores contos e melhores
poemas de Cadernos Negros, da Colina de Axé, da Razão da Chama camarguiana
desse Limeira Negro Escrito em Schwarze Poesie e Schwarze Prosa, do amadurecimento
e delicadeza de Encantadas, da certeza do Arco-Íris Negro às letras desses
Atabaques, contigo fortaleci a necessidade de “ser um negro vinte e quatro
horas por dia”, transnegrecendo o cânone porque “sou um negro, mais um, meio
louco, meio torto”, da beleza espontânea de jovens manifestantes no metrô
paulistano bradando “por menos que conte a história/ não te esqueço meu povo/
se Palmares não vive mais/ faremos Palmares de novo”, dos nossos “quilombos/meus
sonhos/ sofro de uma insônia eterna/ de viver vocês// Vivo da certeza/ de
renascê-los/ amanhã”, suas nossas Black Intentions<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
“Tou contigo Seu Zé” <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
nesses dias ásperos para nós negros diaspóricos<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
“Tou contigo Seu Zé”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Aqui não há e agora, josé<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
“Sou, vou sempre ser: NEGRO!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
ENE, É, GÊ, ERRE, Ó”<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Valeu, Seu Zé<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Descanse em paz, meu amigo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
José Carlos Limeira.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
Ricardo Riso, <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
13 de março de 2016.<o:p></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<br /></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-76147387440613988022014-09-30T08:20:00.000-03:002014-09-30T08:20:23.793-03:00Naguib – Tatuagens d’Alma (exposição)<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px;">
<b><i>Naguib Elias Abdula – Tatuagens d’Alma</i></b><br /><i>(Ricardo Riso)</i><br /><br /><a href="https://www.youtube.com/watch?v=MKjN26QjbIU" rel="nofollow" style="color: #3b5998; cursor: pointer; text-decoration: none;" target="_blank">https://www.youtube.com/watch?v=MKjN26QjbIU</a></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br />Da multiplicidade do caos surge a Arte em diferentes facetas, suportes, cores, formas, figuras zoomorfas, hieróglifos de um tempo ido, também nosso, muito nosso, pois fala, toca, sente o nosso hoje, expande o agora. Arte que pressiona o que sentimos, que questiona o que vemos, que nos conduz a vivenciar o Belo ali traduzido.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Impactar.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Arte para desolhar o nosso tempo, para, a partir do encanto-espanto, confrontar o texto da constituição da república moçambicana e mergulhar naquele ontem-hoje que se prolonga, fragmentado como algumas formas ali expostas.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Corrosão.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Karingawa ua karingawa, recorda o Velho Cravo, e assim a Arte propõe o ato de decifrar o passado para tentarmos compreender esse cotidiano de injustiças, de crianças maltratadas, entregues à própria sorte. Por isso, o artista interfere no espaço, suas instalações e sites specifics gritam, “gritos sem som”, mas que ensurdecem nosso olhar, massacram nossos sentidos.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Desestabilizar.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
“Pediatras do impossível”, os carrinhos de bebês, “amo-te mamã, amo-te papá”, pássaros estirados... lembro Malangatana Valente que na crua e rude finita possibilidade de materiais para construir a série “Desenhos da Prisão” exortava de seu interior um exterior de mulheres e crianças entristecidas, mas unidas, fortes, esperançosas pelo fim da longa noite... noite que perdura em novas máscaras.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
“O facto de não veres lágrimas nos meus olhos, não significar que não estou a chorar”. A recusa da inércia... inquieta-nos o artista.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Seguir.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
E caminhamos na imensidão do azul como retirantes para longe da Dor e do Desespero em busca de um novo tempo, trilhando as reinvenções plásticas de <a class="profileLink" data-hovercard="/ajax/hovercard/user.php?id=100003799821037" href="https://www.facebook.com/naguibelias.abdula" style="color: #3b5998; cursor: pointer; text-decoration: none;">Naguib Elias Abdula</a> que benzem Esperanças de Beleza como sorrisos moçambicanizados tatuando nossas Almas.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.31999969482422px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
(Tatuagens d’Alma. Exposição de Naguib até 04 nov. 2014, Museu Nacional de Arte, Av. Ho Chi Min, nº 1233, Maputo, Moçambique)</div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-77178217574872790272014-05-17T15:28:00.000-03:002014-05-17T15:28:06.070-03:00Paulo Colina: pequenas considerações descompromissadas sobre este negro poeta-ensaísta instigante<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Paulo Colina: pequenas considerações descompromissadas
sobre este negro poeta-ensaísta instigante<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times New Roman, serif;"><i>Ricardo Riso</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">“Se a Literatura
não tem cor, por onde andam as negras e os negros escritores nas literaturas
brasileira e africanas de língua portuguesa?” Este será o tema para minha
participação em uma mesa de escritores durante o Griots 2014, na UFRN. Elaborando
o material para essa ocasião, releio o prefácio de Paulo Colina (1950-1999) para
“O Negro Escrito – apontamentos sobre a presença do negro na literatura
brasileira”, organizado por Oswaldo de Camargo. Paulo Colina é um nome
incontornável da literatura negro-brasileira por esgarçar as experiências
estético-formais, investir com ousadia na linguagem sem deixar de evidenciar a
marca de um sujeito lírico/narrador negro. Sua transnegressão (citando Ronald
Augusto a partir de feliz expressão poética de Arnaldo Xavier) prima muitas
vezes pela concisão, fugindo do excesso contemplando o sublime poético pelo
apreço à síntese, talvez originária do seu gosto pelo tanka, estilo poético
japonês. Como exemplo “Primeira regra de vôo”: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Quando sonhamos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"> com o horizonte<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">a precisão é
fundamental. (COLINA, 1984, p. 33)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Para além da produção
poética e ficcional, Colina organizou “Axé – antologia contemporânea de poesia
negra brasileira”, pela Global Editora em 1982, reunindo alguns dos principais
agentes da geração literária negra surgida ao final dos anos 1970. Procurando evidenciar
a expressividade nacional da nova poesia negro-brasileira, a publicação agrupa poetas
negrxs “fora do grande eixo São Paulo-Rio (como poderão constatar aqui)
escritores negros espalhados e ilhados de vários estados deste continente que
chamamos Brasil” (COLINA, 1982, p. 8-9). Importante mencionar a relação dos
literatxs com o movimento negro rearticulando-se naquele período de
abrandamento da ditadura, o que serviu como forma de iniciar esse intercâmbio e
propiciar ações coletivas e de alcance nacional (fato destacado por Miriam
Alves, Éle Semog e tantos outros), eliminando o isolamento característico de negrxs
escritores do passado. E “Axé” acabou sendo eleita a melhor publicação de
poesia do ano, prêmio oferecido pela Associação Paulista de Críticos de Arte –
APCA. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Colina também foi
um dos fundadores do Quilombhoje, coletivo responsável pela série “Cadernos
Negros”. Com Oswaldo de Camargo e Abelardo Rodrigues, formou o que ficou
conhecido como “Triunvirato” após a saída do coletivo Quilombhoje por não
concordarem com os rumos deste, e lançaram o manifesto “O escritor negro no
Brasil, quem é ele?”. Negro ensaísta dos necessários, seguem duas amostras do
seu comprometimento literário e identitário. A primeira, o prefácio de Paulo
Colina para “O Negro Escrito – apontamentos sobre a presença do negro na literatura
brasileira”:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">“Entendo que a função do escritor é dar testemunho
fiel de seu tempo, ser o observador ativo de sua sociedade; é colocar-se,
enquanto ser humano (homem/mulher), em confronto com o mundo. Seu instrumento,
não menos que a arte. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Por experiência, sei que toda vez que o “negro
escrito” aparece em um debate, uma conferência, uma palestra, surgem, de
pronto, as perguntas de rotina: “Mas por que literatura negra? Existe? A literatura
tem cor?” E sou obrigado a retroceder às análises que tenho feito desde que me
confronto com o mundo. Para chegar à conclusão de que à sociedade pátria
interessa o “negro mudo”.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Tudo uma questão de voz. Quer ver, leitor? Quando se
questiona a existência de uma literatura negra ou afro-brasileira – quero dizer,
o “negro escrito”, o escritor negro se expressando perante e enquanto mundo –,
existe aí uma tentativa de negação. Negação dos valores que o negro despe em
seu que-fazer literário. Bom adiantar não ser tema fundamental ao negro a
defesa da ecologia, nem a bolsa de valores ou o privê da moda. Frisar que a
sociedade brasileira se diz democraticamente racial. Essa grife. Que não
resiste à nudez.”<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">A segunda
encontra-se em “Reflexões pela noite viva”, comunicação apresentada no 40º
congresso anual da SBPC, em 1988:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">“A literatura é universal, sim. Mas para nós tem
cor. Negra. Não no sentido que Gilberto Freyre quis dar a ela em seu prefácio a
“Poemas Negros”, de Jorge de Lima; tampouco no sentido contemplatório, na
terceira pessoa do singular, como nos entrega Raul Bopp. Quando cantamos “eu”,
este “eu” é coletivo. Seguramente, literatura para nós tem cor. <b>E quando a chamamos de negra, mais que uma definição,
é uma arma de ponta com a qual combatemos todas as armadilhas que procuram nos
caçar o Ser</b>, no sentido lato que este verbo exige, e que no último censo,
realizado em 1980, provou que não é conjugado nesta terra de acordo; que democracia
racial aqui é falácia, apenas. E, pela poesia, recuperamos nossas verdades,
nossas raízes. Quer falando de amor, quer questionando o racismo, fazendo a reversão
de valores ou revisando nossa história (e/ou). Recuperando nossa identidade,
sempre. (grifos nossos)</span></i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">.<i>”</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">A palavra
apunhalada de Paulo Colina destaca a necessária autodenominação para essa
vertente literária, rasurando o cânone, negando aqueles que foram eleitos como
representantes de uma literatura negra brasileira, demonstrando a hipocrisia
das nossas relações e a urgência de romper o véu branco que impede a realização
e a afirmação da pluralidade racial brasileira. Literatura negro-brasileira
necessária para despertar de consciências, para denunciar o racismo sistêmico
que estamos submetidos; literatura negro-brasileira para mostrar que algo vai
mal, muito mal entre nós, e que isso passa pelas ininterruptas tentativas de
branqueamento deste país. <o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-88689893578256931032014-04-21T13:07:00.002-03:002014-04-21T13:07:15.546-03:00GRIOTS - III Congresso Internacional de Culturas Africanas (UFRN)GRIOTS - III Congresso Internacional de Culturas Africanas (UFRN): Literatura, História e Cultura Afro-brasileira e Africana<br />
<br />
Segue o link do evento que está com inscrições para comunicações até 30 de abril:<br />
<br />
http://griotsufrn2014.blogspot.com.br/p/apresentacao.html<br />
<br />
No referido evento ministrarei o minicurso: Que negro é esse nas literaturas africanas de língua portuguesa e na literatura negro-brasileira?Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-83321767741974697362013-11-26T10:59:00.000-02:002013-11-26T11:23:52.112-02:00Alberto Guerra Naranjo - Com Tato Cubano (Lançamento RJ)<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: large;"></span> </span><br />
<span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; color: #333333; display: inline !important; float: none; font-family: "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: 17px; text-align: left; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><span style="color: black; font-family: Calibri; font-size: small;">Lançamento do livro COM TATO CUBANO, de Alberto Guerra Naranjo, abrindo a coleção Cabeças Olmecas, destinada a escritorxs afro-latinos. Mais uma publicação da Kitabu Livraria e Editora.</span><br />
<span style="color: black; font-family: Calibri;"></span><br />
</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; color: #333333; display: inline !important; float: none; font-family: "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: 17px; text-align: left; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-pFfr1pV5fIY/UpSa3DAFcsI/AAAAAAAACoI/du_PVA4rdaA/s1600/convite+com+tato+cubano-web.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-pFfr1pV5fIY/UpSa3DAFcsI/AAAAAAAACoI/du_PVA4rdaA/s320/convite+com+tato+cubano-web.jpg" width="307" /></a></span></div>
<span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; color: #333333; display: inline !important; float: none; font-family: "lucida grande", tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: 17px; text-align: left; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;">
<br />
<span style="color: black; font-family: Times New Roman; font-size: small;"> </span></span><br />Unknownnoreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-84016304664587999132013-11-23T21:39:00.003-02:002013-11-23T21:40:14.886-02:00Alberto Guerra Naranjo - Com Tato Cubano (Kitabu Editora)<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A <strong>Kitabu Livraria e Editora</strong> inicia a coleção Cabeças Olmecas com o afro-cubano <strong>Alberto Guerra Naranjo</strong> e o seu livro de contos <strong>COM TATO CUBANO</strong>. Esta coleção propõe "divulgar, dialogar, mas principalmente disseminar a produção literária de las Hermanas e Hermanos afro-latinos no país".</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-family: "Garamond","serif"; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"> </span></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-L0ERCW5Wn2I/UpE6ePrxdMI/AAAAAAAACns/xvAufDn853I/s1600/capa+divulga%C3%A7%C3%A3o.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-L0ERCW5Wn2I/UpE6ePrxdMI/AAAAAAAACns/xvAufDn853I/s320/capa+divulga%C3%A7%C3%A3o.png" width="224" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Segue texto de orelha de capa de autoria de Ricardo Riso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><em>Vez em quando o mercado
editorial brasileiro contempla o público leitor com algum escritor do Caribe ou
da América Latina. </em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><em>No caso da pequena ilha
desafiadora do Tio Sam, logo percebo a melanina pouco acentuada dos autores e a
ausência dos entraves das relações raciais nos textos literários. </em></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span><em>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Diante das dificuldades
impostas pelo mercado editorial, o pesquisador de literaturas negro-diaspóricas
converte-se em um arqueólogo, procurando vestígios da presença dos negros
escritores, uma vez que eles são raros nos cânones das literaturas dos países
americanos. </span></em></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span><em>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Um olhar mais atento
perceberá o absurdo dessa situação, pois eles se destacam desde o Harlem Renaissance até os dias atuais,
tais como Langston Hughes, Aimé Césaire, Zora Neale Hurston, Nicolas Guillén, Manuel
Zapata Olivella, Eulália Bernard, Patrick Chamoiseau, entre tantos outros.<o:p></o:p></span></em></div>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><em></em></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><em>Agora, deparo-me com o
cubano Alberto Guerra Naranjo (1963) na pequena, porém de grande consistência,
recolha de textos de “com tato cubano”. São quatro contos incessantes, a partir
de uma escrita fragmentada, espiralada, de ritmo efervescente, transgredindo
espaço e tempo, encadeando situações díspares, por vezes irônicas, delineadas
por diferentes narradores que se encontram com coerência pela habilidade
narrativa de Naranjo. </em></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><em></em></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><em>Relevante a maneira
como as tensões raciais surgem nos contos. São situações comuns aos negros da
diáspora, desvelam-se diante da percepção que as relações raciais do cotidiano
cubano estão distantes de aceitar a diferença.</em></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><em></em></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><em>A literatura
negro-cubana de Alberto Guerra Naranjo contribui ao questionar as imagens que
temos de Cuba, rasurando as ideias fixas de certa propaganda e propõe o desafio
à ressignificação da colonialidade do poder que anula a diferença. </em></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><em></em></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span><em>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Sensível às lacunas do
mercado editorial que a <b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Coleção Cabeças Olmecas</b> surge para
preencher, diversificar e potencializar as estantes, enfatizando a tradução de
autores negro-diaspóricos em prosa e poesia, inéditos ou dispersos em
antologias publicadas no Brasil. </span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Um excelente passo
inicial foi dado com Alberto Guerra Naranjo. </span></em><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span><br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">Ricardo Riso</span></i></b><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span></i></b><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"></span></i></b><br />
<br />
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">
<br />
</span><div class="MsoNormal" style="line-height: 200%; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;"><span style="color: blue;"><em><strong>Alberto Guerra Naranjo </strong></em>(Havana, Cuba, 1963) é graduado em História e Ciências
Sociais, professor de roteiros audiovisuais do Instituto Superior de Arte da
Universidade de Havana.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%; mso-bidi-font-size: 10.0pt;">
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: blue;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; line-height: 200%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Produtor cultural e
coordenador dos espaços <em>Toma del Cuento </em>e
<em>Sin Azúcar</em>. Coordenador do grupo de
criação literária on<a href="http://www.blogger.com/null" name="_GoBack"></a> line <em>Café Naranjo</em>. <o:p></o:p></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: blue;">
<span lang="ES-MX" style="font-family: "Garamond","serif"; line-height: 200%; mso-ansi-language: ES-MX; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Publicou
os livros de contos <em>Disparos en el aula</em>
(Extramuros, 1992), <em>Aporías de la feria </em>(Extramuros,
1994), <em>Blasfemia del escriba </em>(Letras
Cubanas, 2000 e 2002) e o romance <em>La Soledad
del tiempo</em> (Union, 2009).<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: blue;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; line-height: 200%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Possui contos
publicados em várias revistas e antologias nacionais e internacionais, tem obras
traduzidas para inglês, francês, italiano, alemão, português e dinamarquês.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: blue;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; line-height: 200%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">É realizador de
projetos audiovisuais e obteve como roteirista o prêmio internacional <em>Broad Casting Caribe, </em>como melhor obra
do ano de 2011 com <em>Los Heraldos Negros</em>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: blue;">
<span style="font-family: "Garamond","serif"; line-height: 200%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Obteve vários prêmios
em concursos literários com destaque para o prêmio da <em>Gaceta de Cuba, </em>em 1997 e 1999, o único escritor a recebê-lo até o
momento.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="color: blue;">
</span></div>
</span><br />Unknownnoreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-77414788927299845462013-09-15T01:42:00.001-03:002013-09-15T01:46:46.619-03:00Entrevista Ricardo Riso para jornal A Capital (Angola)<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Entrevista de Ricardo Riso para o
jornal “A Capital”, de Luanda, Angola, com a primeira parte publicada no
caderno Artes, de 27 de julho de 2013, pp. 32-34, e a derradeira parte no mesmo
caderno, de 17 de agosto de 2013, pp. 32-33.</span></span></b></div>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><o:p></o:p></span></span></b><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-mVe-y6l0tUY/UjU3q5FP45I/AAAAAAAACck/J9OB14G6l8w/s1600/ent.angola.rr.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-mVe-y6l0tUY/UjU3q5FP45I/AAAAAAAACck/J9OB14G6l8w/s320/ent.angola.rr.jpg" width="232" /></a></span></span></b></div>
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span lang="PT" style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">
</span></span></b>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></span></div>
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Pergunta:- O ministro da Educação de
Angola, Pinda Simão, disse, no dia 10 do corrente mês, na sede da União dos
escritores Angolanos, que Angola ainda está aprofundar a reflexão sobre o
acordo ortográfico que considera positivo, mas que pensa haver aspectos dos
povos de Angola que devem ser tidos em conta e que o acordo poria de parte. O
que tem a comentar sobre este facto?<o:p></o:p></span></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">O novo
acordo ortográfico gerou enorme polêmica aqui no Brasil, muito pela sua
ineficiência e que em<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>nada contribui
para solucionar o problema da educação no país. Trata-se de algo menor diante
de tantas carências que temos e que precisam de soluções emergenciais nas áreas
de saúde e educação. Creio que em Angola seja assim também. Isto é apenas mais
um dado que reflete o total descompasso do brancocentrismo da elite com o
restante da população, assim como a manutenção da dominação pela língua; a
língua como processo de seleção e exclusão. Além disso, há o agravante dos
gastos estratosféricos com as reedições de livros didáticos para que estejam
conforme as novas regras. Enquanto isso, escolas permanecem desaparelhadas e os
professores precisam usar a criatividade para ter condições mínimas de
trabalho. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Será que podemos estar diante de uma
crise sobre a ratificação e implementação do acordo ortográfico na lusofonia?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Precisamos
sim questionar este acordo. Por que temos que falar e escrever da mesma
maneira? Por que a referência/submissão a Portugal? O que é lusofonia? Há
espaço para o negro na lusofonia? A quem interessa? Para que precisamos de um
novo acordo? Não estamos nos comunicando? Precisamos de menos ordens, normas,
obediências e afins. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-AgRkE0z4urY/UjU4pDTby6I/AAAAAAAACcs/hQxJ5N8vRqc/s1600/ent.angola.rr2.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-AgRkE0z4urY/UjU4pDTby6I/AAAAAAAACcs/hQxJ5N8vRqc/s320/ent.angola.rr2.jpg" width="232" /></a><span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Como classifica as literaturas
africanas de língua portuguesa?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Toda classificação
é arbitrária e a maneira vaga como foi colocada a pergunta deixa-me em difícil
posição. Penso que podemos problematizar esse grande guarda-chuva denominado
literaturas africanas de língua portuguesa. Ser “tudólogo” em literaturas
africanas exige que escolhas sejam feitas. Sendo assim, começamos a perceber as
exclusões. As literaturas de Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe são as maiores
prejudicadas nesse processo. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Pensando na
Academia, no caso a brasileira, por que não podemos estudar a literatura
angolana, a cabo-verdiana, a moçambicana, a guineense ou a são-tomense, e a
partir daí nos aprofundarmos em cada uma delas? Outra questão: por que somente
as literaturas produzidas em língua portuguesa? Por que esse neocolonialismo
acadêmico? Já que por exigência acadêmica somos obrigados a saber inglês,
francês, espanhol, entre outras línguas europeias, seria interessante que o
pesquisador das literaturas de cada país incorporasse a literatura angolana em
quimbundo, a literatura cabo-verdiana crioula e assim em diante. No caso de
Cabo Verde há uma vasta produção em crioulo que é ignorada pela crítica
brasileira. Por que isto? Penso que é urgente rever esta posição, até como
respeito ao pluralismo linguístico desses países africanos. </span><span lang="PT" style="color: black; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Acha que elas estão no mesmo nível de
concepção estético-discursiva, divulgação de livros e autores no Brasil? Se é
que existe essa divulgação na terra do rei pelé?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Dentro das
suas especificidades temporais e históricas, elas têm o seu valor no plano
estético, basta partir para o texto literário. Creio ser desnecessária a
comparação. A respeito da divulgação, muito já foi feito e a Lei 10.639/2003
(obriga o ensino de História e culturas africanas e afro-brasileira em todo a
educação básica) foi um grande estímulo e incentivador para o mercado
editorial, assim como para os professores que passaram a se interessar por
essas temáticas. Há dez anos, chegávamos às livrarias e encontrávamos os livros
de autores africanos em lugares pouco privilegiados. Hoje, temos bancadas ou estantes
sobre assuntos africanos e alguns autores luso-descendentes ocupam posições de
destaque nas vitrines. Importante frisar o trabalho crítico desenvolvido nos
cursos de pós-graduação ao longo dos anos que contribuíram para o
desenvolvimento desse processo. Porém, ainda estamos distantes do que seria uma
boa divulgação de autores africanos, muito em razão da restrição ao reconhecido
cânone luso-descendente do mercado editorial e das universidades. E no caso
angolano, isso é gritante. A pluralidade de autores está longe de ser atingida,
levando em consideração critérios como raça e gênero. Para conhecer outros
autores, é preciso que o pesquisador saia da inércia e se transfigure em um
arqueólogo. Hoje temos o Facebook, revistas como a Literatas e blogs como o de
minha autoria. Buscar outros autores que não constam no cânone estabelecido,
pode trazer surpresas agradáveis. </span><span lang="PT" style="color: black; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P: Quais os nomes que mais lhe ressalvam
nesta literatura, tanto na velha como nova gerações?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Creio que
sua pergunta esteja direcionada à literatura angolana. Bom, é importante para o
pesquisador conhecer o sistema literário em sua plenitude. Hoje vejo nos
congressos que participo poucos trabalhos a respeito dos textos fundacionais da
literatura angolana, sinto falta de Cordeiro da Mata, Castro Soromenho...
Necessário olharmos para o passado e resgatarmos nomes que foram ostracizados e
não ficarmos dependentes do cânone. Isso é um ponto essencial para o
investigador. Avançando um pouco no tempo, deparamo-nos com a pouca referência
ao nome de Viriato da Cruz, por exemplo. Lembrando que falo daqui do Brasil. A
geração dos anos 40/50 é essencial. Não falar de literaturas africanas sem
mencionar essa época, em particular, a antologia “Poesia negra de expressão
portuguesa”, organizada por Mário Pinto de Andrade e Francisco José Tenreiro é
um erro gravíssimo. Tenho especial carinho por esse período. Um texto que gosto
de lembrar e divulgar é o “Mestre Tamoda”, de Uanhenga Xitu. Um personagem
fascinante!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Com receio
de esquecer algum dos autores atuais, mas já como uma longa trajetória, aprecio
muito e vejo como nomes incontornáveis da poesia Trajanno Nankhova Trajanno,
Lopito Feijoó, João Tala, João Maimona, Conceição Cristóvão, José Luis
Mendonça... na prosa, os contos de Tala, Roderick Nehone, o Carmo Neto de
“Degravata”... dos mais novos, gosto particularmente de Abreu Paxe, inclusive
as análises críticas deste, Akiz Neto, Antonio Pompílio, Pombal Maria, Nok
Nogueira... mas, vejo muita pretensão em outros nomes que não atingem o conseguimento
estético almejado, tornando suas poéticas exaustivas... agora, o gênero é que
fica comprometido na literatura angolana... houve Alda Lara, agora a Paula
Tavares, a Isabel Ferreira... a pouca visibilidade da escrita feminina angolana
é algo que precisa ser tensionado, principalmente na constituição de seu cânone
e de antologias angolanas recentes. Do publicado aqui não preciso dizer, muitos
brasileiros já dizem – ou só dizem – sobre essas obras e autores.</span><span lang="PT" style="color: black; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span> </div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Falando das novas gerações, acredita
que as novas gerações tem pouco ou nada a oferecer a literatura angolana? Até
que ponto está afirmação serve de incentivo aos novos autores angolanos?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Toda nova
geração tem algo a oferecer e o tempo é o melhor filtro. Caso contrário,
pararemos no tempo. O que é necessário é que os jovens literatos leiam, leiam
muito dos grandes nomes espalhados pelo mundo e também conheçam os grandes
autores angolanos. Mas, uma leitura concentrada, assim como o ato da escrita...
sem pressa, estudada... vejo como o maior problema entre os jovens é a rapidez
em publicar. Talvez pela facilidade da internet, o “curtir” do Facebook,
necessidade de visibilidade, status... é um caminho perigoso. A palavra poética
precisa ser lapidada com calma e é essencial a troca com outros autores.</span><span lang="PT" style="color: black; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Em Angola temos estado a assistir um
forte conflito de gerações. Até que ponto esse conflito é prejudicial e/ou
ajuda os novos autores? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A literatura
é um espaço de poder, não podemos perder isto de vista. Sendo assim, os
conflitos sempre existirão e serão múltiplos: de tendências literárias, gênero,
classe, raça, etário. Temos que estar atentos às reivindicações dos mais novos.
Há o ímpeto da juventude, que pode ser bom ou ruim, e inserido nisso podem
estar alguns problemas da máquina literária, tais como a dificuldade em
publicar, os prêmios literários viciados, invisibilidade nas tertúlias e
cadernos literários...</span><span lang="PT" style="color: black; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-iviz-Ot0Ybc/UjU4pGlSNuI/AAAAAAAACcw/kKzDnMTTOgY/s1600/ent.angola.rr3.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-iviz-Ot0Ybc/UjU4pGlSNuI/AAAAAAAACcw/kKzDnMTTOgY/s320/ent.angola.rr3.jpg" width="232" /></a><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Que responsabilidade tem os escritores
de gerações consolidadas <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>na afirmação de
novos autores e/ou gerações?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A
responsabilidade desses autores está presente nas suas obras, nos desafios com
a linguagem e o compromisso com a palavra depurada que cada um se comprometeu;
é responsabilidade sim dos mais novos conhecerem essas obras. É claro que o contato
e o incentivo aos mais novos é sempre um fator relevante, de apoio e
fortalecimento para os mais novos. Penso que é sempre frutífero o convívio
entre os escritores de diversas gerações. Não se deve separá-los ou alimentar
inimizades. </span><span lang="PT" style="color: black; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Enquanto isso, cada vez é mais visível
a promoção de autores africanos luso-descendentes. O que se passa? será que há
descriminação na promoção das nossas literaturas a nível de Portugal e Brasil?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Em 2012, eu
e a pesquisadora Geny Ferreira Guimarães (doutoranda em Geografia/UFBA) apresentamos,
na UFOP/Minas Gerais, um exaustivo levantamento de autores africanos de língua
portuguesa publicados no Brasil, intitulado: “Mercado editorial brasileiro:
seus entraves para a aplicação da lei 10.639/2003 e o permanente não reconhecimento
do negro escritor”. Nosso levantamento reuniu 115 livros das literaturas
africanas de língua portuguesa (romance, contos, poesia e infantil) lançados de
1962 a outubro de 2012. Da literatura angolana levantamos 62 livros, sendo que
48 obras são do cânone luso-descendente (Pepetela, Ruy Duarte de Carvalho, José
Eduardo Agualusa, Luandino Vieira e Ondjaki). Ou seja, 77% da literatura
angolana publicada no Brasil durante o período pesquisado resume-se a cinco
autores, quadro ainda mais agravante após 2003, ano da lei 10.639. E não há
como se estranhar este dado? Onde está o escritor negro angolano? Nos catálogos
das editoras brasileiras é que ele não se encontra. Quem racializa a questão? E
a situação só não atinge algo perto do zero porque editoras especializadas em
temáticas afro-brasileiras se preocupam com essa disparidade, casos da Mazza,
Nandyala e Pallas. Por outro lado, hoje temos editoras com forte suporte
financeiro, de divulgação e obras com qualidade gráfica invejável que se
escoram no conceito da lusofonia. Entretanto, a lusofonia nada mais é que a renovação
da discriminação ao negro escritor. Enquanto elas tentam fugir da
estigmatização de autores africanos, eliminam as representações nacionais e
continentais e incorporam um discurso diluído na lusofonia. Essas novas
editoras mantêm a discriminação de raça e de gênero, fato já denunciado
anteriormente pela Drª Laura Cavalcante Padilha (UFF) no seu brilhante artigo
“A diferença interroga o cânone” que, ao se referir à constituição do cânone
das literaturas africanas, cita as antologias “No reino de Caliban” (1975), de
Manuel Ferreira, e “Entrevistas com Escritores” (1991), de Michel Laban, diz o
seguinte: “Lembrando o fato de que o acervo crítico dessas literaturas se ter
forjado inicialmente fora da África – na Europa e nas Américas, com Portugal e
Brasil à frente –, começo a questionar até que ponto, o cânone ‘consagrado’ por
outras vozes que não as africanas, submeteu-se aos mesmos mecanismos de
dominação e poder que sempre tiveram como meta elidir as diferenças, sobretudo
se o objeto recortado são questões como de gênero e raça” (2002, p. 164).
Mudamos nesse sentido? De maneira nenhuma e só vamos fortalecendo a exclusão. E
se analisarmos teses, dissertações e comunicações nas universidades e
congressos de literaturas africanas, o que constataremos?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- As nossas literaturas africanas de
língua portuguesa, francófonas são estudadas nas universidades brasileiras?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Infelizmente,
desconheço a respeito das francófonas. De uma maneira geral, escritores e/ou
pensadores negros não são traduzidos pelo mercado editorial brasileiro. E
quando não são traduzidos, a circulação desses textos é excessivamente
restrita. Nesse ponto, considero importante a relação mercado
editorial/universidade como forma de práticas de biopoder, o que dificulta a
inserção de novos autores e outras bases epistemológicas nas universidades.
Quando muito, temos casos isolados como o de Chinua Achebe. Um nome reconhecido
no mundo como Wole Soyinka somente teve a sua primeira obra aqui publicada no
ano passado. A íntegra de<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"> </b>“Cahiers d’un
retour au pays natal” de Aimé Césaire somente ano passado ganhou uma edição
brasileira. Temos uma obra de Patrick Chamoiseau, de outros negros, mas
dispersas nos catálogos das editoras... Nomes consagrados da luta antirracista
nos EUA, do Harlem Renaissance, da Negritude, afro-americanos de línguas
espanhola, inglesa ou francesa são raríssimos por aqui, assim como de outros
países africanos. Até textos de líderes africanos como Amílcar Cabral, Stevie
Biko e Samora Machel não são reeditados há anos. Ou seja, essas ausências não
são gratuitas. No caso angolano, o livro “Sagrada Esperança”, de Agostinho
Neto, foi lançado em comemoração ao primeiro decênio de Angola independente.
Desde então... <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No que diz
respeito às universidades, muito já foi feito nas públicas graças aos esforços
e competência dos nossos professores consagrados que todos nós sabemos seus
nomes. Entretanto, há uma realidade entre os grandes centros universitários de
literaturas africanas de língua portuguesa e outras universidades públicas e
particulares, distantes do eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Belo Horizonte. Ainda
ocorre certa rejeição às literaturas africanas, quando muito são encaixadas em
“literaturas de expressão portuguesa”. Importante frisar que são raras as
disciplinas de literaturas africanas nas grades de graduação dos cursos de
Letras espalhados pelo país; nos cursos de pós-graduação a situação é um pouco
melhor. Ou seja, já avançamos bastante nesse sentido. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Entretanto,
há outro problema no que diz respeito à circulação da crítica literária
produzida nos países africanos de língua portuguesa. Sinto falta de maior
contato de ensaios críticos de angolanos como Luis Kandjimbo, Francisco Soares
e Abreu Paxe, dos moçambicanos Francisco Noa e Lucilio Manjate, do
cabo-verdiano José Luis Hopffer Almada e das epístolas de Timóteo Tio Tiofe.
Esse estranho distanciamento reflete-se na crítica produzida no Brasil. Quais
serão os seus motivos?<o:p></o:p></span></div>
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-TGnA6OSA6fE/UjU4pJUkRUI/AAAAAAAACc4/K5YGBwruKSo/s1600/ent.angola.rr4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-TGnA6OSA6fE/UjU4pJUkRUI/AAAAAAAACc4/K5YGBwruKSo/s320/ent.angola.rr4.jpg" width="236" /></a><br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Quais são os autores mais
referenciados e porque?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As duas
últimas edições do Encontro Internacional de Professores de Literaturas
Africanas (UFRJ, 2007 e UFOP-PUC/MG, 2010) oferecem um bom parâmetro para
percebermos o que vem sendo estudado pelo país. O cânone luso-descendente, e
acrescento o moçambicano Mia Couto, foi predominante nas comunicações. Por
isso, insisto na relação universidades/mercado editorial. A justificativa
cômoda diz que são os autores publicados aqui. Mas, não causa estranheza as
análises críticas concentradas nos escritores luso-descendentes? Estamos
falando de literaturas africanas, e até quando o escritor luso-descendente será
o porta-voz dessas literaturas? O que essa ausência quer dizer? Como há um
desprezo das universidades brasileiras por nossa literatura negra, será que o nosso
pesquisador carrega o seu olhar brancocêntrico para as literaturas africanas e
isso o impede de investigar os textos de autores negros africanos? Com a doença
psíquica do racismo, o pesquisador branco, instruído desde os bancos escolares
a não reconhecer o negro como escritor, ao lidar com as literaturas africanas
percebe-se diante de um dilema que tem dificuldade de resolver, logo, escora-se
naqueles que lhe são fenotipicamente parecidos e ideologicamente próximos.
Talvez por isso o discurso da mestiçagem constante na obra de Mia Couto ofereça
o conforto necessário e seja ovacionado por aqui. A internet facilitou o
contato entre os pesquisadores e os escritores africanos. Podemos ser
independentes ao mercado editorial. Hoje nos relacionamos diretamente com os
autores. Minha trajetória é um exemplo disso. Entre livros e arquivos em pdf,
tenho um pouco mais de duas centenas de títulos de prosa e poesia graças a
generosidade dos escritores, que agradeço a todos. Quem presta um excelente
trabalho para o deslocamento do cânone é a revista moçambicana “Literatas”,
idealizada por jovens autores que perceberam essas restrições e decidiram
encarar a ordem vigente. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No que diz
respeito às pesquisas nas universidades, acompanho com muito interesse as
investigações da Drª Lívia Natália, Dr. Jesiel Oliveira e Dr. José Henrique
Freitas, todos da UFBA, assim como o Dr. Amarino Queiróz (UFRN) e a Drª Ana
Lucia Silva Souza (UNILAB). Esses competentíssimos pesquisadores encontram-se à
margem dos grandes centros e propõem linhas investigativas “incomuns” e
comparativos não estimulados no Sudeste como entre as literaturas africanas e a
literatura negro-brasileira. Além disso, ampliam as discussões ao apresentarem
outras bases epistemológicas, oxigenando as literaturas africanas. Também não
posso esquecer da trajetória pioneira da relação das literaturas africanas com
demais literaturas negras realizadas pela Drª Maria Nazareth Soares Fonseca (PUC-MG)
e Drª Florentina Silva Souza (UFBA). Vejo como a melhor maneira de
homenagearmos nossos principais pesquisadores é com a expansão e a diversidade
nas linhas investigativas, e não a cômoda reprodução do que já é/foi feito com
excelência por eles. Urge a cura do complexo de papagaio residente na maioria
dos jovens doutores e mestres de literaturas africanas no Brasil. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Importante
frisar que a questão de gênero de certa maneira é melhor resolvida. Temos
Paulina Chiziane, Paula Tavares, Isabel Ferreira, Vera Duarte, Dina Salústio,
Odete Costa Semedo, Conceição Lima, entre as contemporâneas... nomes restritos,
mas, e para não me acusarem de essencialista, destaco as ausências de Maria
Helena Sato e Carlota de Barros, duas escritoras cabo-verdianas de grande
valor. Porém, e o negro escritor?</span><span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Ricardo Riso é um grande activista de
luta contra o racismo na cultura, especificamente na literatura, há racismo na
literatura brasileira e como vocês combatem esse fenómeno?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Sou apenas
mais um negro ciente da minha condição enquanto negro em uma sociedade racista
como a brasileira, que conseguiu não se tornar mais um dado estatístico do
genocídio que afeta a juventude negra; ciente do corpo-natureza pré-concebido
pelos olhares sociais que vêm em mim os atributos físicos e sexuais, jamais o
intelecutal ou relacionado a qualquer atividade que exija o mínimo de reflexão;
ciente dos entraves no mercado de trabalho; ciente das dificuldades dessa
condição de ser negro nos bancos escolares; ciente dos entraves de ser um
pesquisador negro com temática negra no território hostil que é a universidade
brasileira, da ousadia de deslocar-me de objeto para sujeito, a todo instante
sendo chamado atenção por ostentar um discurso militante, como se essa violenta
censura epistêmica não fosse militante; um negro atento às violências no campo
do simbólico nos meios de comunicação; e, desde sempre, temeroso com a próxima
blitz policial, já que minha cor representa a marca da suspeita. Conforme o
poema de Éle Semog, “Do Ser”: “Sou universalmente negro/ Na ponta deste lápis/
No âmago desta alma// Sou universalmente livre/ Em cada canto/ Desta raça/ Em
cada labirinto desta prisão”. Essas são algumas das questões que passam pelo
cotidiano de um negro inserido na farsa da democracia racial. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Sendo assim,
quando você me pergunta se há racismo na literatura brasileira, eu preciso
dizer que o Brasil republicano, desde sua proclamação, não preocupou-se em
inserir os negros na sociedade, mas sim em como resolver o problema dos negros,
tanto que “intelectuais” da época apostavam em diferentes formas de
embranquecimento da população: pela entrada de imigrantes europeus, pelos
cruzamentos inter-raciais em que o fenótipo do europeu prevaleceria, pela
esterilização compulsória e permanente, pelo abandono à própria sorte dos
negros e sem condições de emprego ou acesso à saúde, ou educação. Os
responsáveis atuaram em múltiplas áreas e até hoje são “nomes respeitáveis do
pensamento nacional”, dentre outros, Silvio Romero, Nina Rodrigues, Euclides da
Cunha, Renato Kehl, Monteiro Lobato, Belizário Penna... A doença psíquica do
racismo é tão forte que Joaquim Batista Lacerda representou o país como
“delegado oficial do Brasil” durante o Universal Races Congress, dentre outros
presentes estavam Franz Boas e W. E. B. Du Bois, em Londres, em 1911, e teve o <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">disparate</i></b>
de dizer que em menos de um século negros e mestiços desapareceriam da
população brasileira. Bom, essa ideia é tão forte e tão presente entre a nossa
elite que basta olhar para as novelas brasileiras e veremos que esse ideal
ainda é almejado. Ou seja, a literatura brasileira, elitista como é da sua
natureza, não pode ter negros no seu cânone. E assim, embraquecem Machado de
Assis</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-J7lu7TVm2rM/UjU4pyWHwqI/AAAAAAAACdA/cnjyebz3jYo/s1600/ent.angola.rr5.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-J7lu7TVm2rM/UjU4pyWHwqI/AAAAAAAACdA/cnjyebz3jYo/s320/ent.angola.rr5.jpg" width="236" /></a><span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Sendo assim,
a questão é: o que o leitor angolano conhece da literatura brasileira engloba
algum escritor negro-brasileiro? O que o leitor angolano conhece da literatura
produzida por negros brasileiros? Mudando um pouco o prisma: o pesquisador brasileiro
que estuda a literatura angolana propõe o comparativo com a literatura
negro-brasileira? Ou seja, se dependermos daquilo que é reconhecido como
literatura brasileira, o leitor angolano jamais conhecerá um autor
negro-brasileiro.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">As
escritoras e os escritores negros para quebrar esse círculo ininterrupto e
fechado de exclusão atuam com meios próprios para divulgação, distribuição e
formas de atingir o seu público leitor, em sua maioria formado por negros. Sim,
existe um leitor negro que a literatura canônica sempre ignorou, pois não
percebe o negro como consumidor de literatura nem como escritor. A literatura
negro-brasileira visualiza um leitor negro, algo que o cânone jamais conseguiu,
por isso, a insistência de personagens negros subalternizados e estereotipados
nos textos nacionais, o que reflete as posições étnico-raciais no país. Os
autores negros divulgam suas obras nas redes formadas pelos movimentos sociais
negros, na internet através de blogs e redes sociais e assim “traficamos” esses
livros. Hoje temos editoras próprias, mas boa parte das obras ainda são
financiadas pelos próprios autores, as famosas edições de autor. Com o livro
pronto, o escritor vende de forma “artesanal”, ou em espaços específicos como a
“Kitabu – Livraria Negra”, de Heloísa Marconde e Drª Fernanda Felisberto, no
Rio de Janeiro. Outro dado importante para a constituição dessa rede é a
publicação coletiva, frisando que a opção pelo coletivo é oriunda da
dificuldade de aceitação pelas grandes editoras que não querem ter nos seus
catálogos títulos que demonstrem as tensões raciais no Brasil, assim como os
altos custos gráficos que são extremamente pesados para boa parte dos
escritores negros. Nesse sentido, a série “Cadernos Negros” ocupa lugar de
destaque. Desde 1978 que esta série publica negras e negros intercalando poesia
em um ano e no seguinte, contos. Cadernos Negros é um referencial obrigatório
para o escritor e o leitor negro; em Cadernos Negros deparamo-nos com a
diversidade da literatura brasileira. Contudo, apesar de atingir neste ano a
36ª edição, a série ainda enfrenta problemas com a divulgação e distribuição de
seus exemplares, contando com as diferentes redes negras do país e no
estrangeiro. Uma outra ação que merece destaque é o site “Ogum’s Toques”,
coordenado por <b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><i style="mso-bidi-font-style: normal;">Guellwaarr</i></b> Adún e que sou colaborador. A proposta de Ogum’s
Toques é divulgar as literaturas negras no mundo, em qualquer língua.
Literatura que expõe as dificuldades da mulher negra, do homem negro na
diáspora ou em África, estará na Ogum’s Toques. Por um humanismo que contemple
as diferenças conforme proclamava Aimé Césaire, pela pluriversalidade contra as
restrições da universalidade do sul-africano Mogobe Ramose, Ogum’s Toques
representa tudo isso. De suma importância e que não poderia ficar de fora é o
portal “Literafro”, organizado pelo Dr. Eduardo de Assis Duarte (UFMG). Neste
portal estão catalogados mais de duzentos autores negro-brasileiros com
biobibliografias, textos críticos e excertos de textos literários. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Quer dizer que o Canone literário no
Brasil é escolhido com base na pigmentação da pele? Quais os grandes autores negros
brasileiros?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Você sabia
que Machado de Assis era negro? Os autores negros não são inseridos no cânone
da literatura brasileira. Os poucos que são aceitos, casos de Machado de Assis,
Cruz e Sousa e Lima Barreto, têm suas vivências de negros completamente
excluídas das análises literárias. São embranquecidos. Convivemos com absurdos
de que Machado não tocava na questão racial e olhava com desdém o processo
abolicionista. Pura mentira e injúria! O olhar atento de Machado ao problema do
negro está presente nos seus romances, contos, crônicas e poemas. O Dr. Eduardo
de Assis Duarte fez uma brilhante pesquisa que redundou no livro “Machado
afro-descendente”, de 2007. Este livro é ignorado pelas universidades
brasileiras. Nele, Duarte demonstra com perspicácia como Machado estava atento
aos problemas do negro antes e depois da abolição. Além disso, há uma
incapacidade da intelectualidade e dos meios de comunicação de admitirem o
nosso maior escritor como negro. No que diz respeito à representação de Machado,
recentemente, a Caixa Econômica Federal divulgou um comercial televiso que o
ator que representava o escritor era branco, quase um caucasiano. Óbvio que as
organizações que formam o movimento social negro protestaram e o comercial
precisou ser refeito e foi novamente ao ar com um Machado negro. Precisava
disso? O que motiva o embranquecimento do escritor? Já Cruz e Sousa sofre(u)
com a doença psíquica do racismo dos críticos literários que insistem na
brancura de sua poesia e ignoram os seus diversos poemas que denunciam o
racismo e o problema do negro. “Emparedado”, “Caveira” estão entre esses
poemas. Chega a ser desonestidade com a obra de Cruz e Sousa falar essas
verdadeiras bobagens. Enquanto Lima Barreto muitas vezes é tratado como o
louco, o bêbado que não sabia escrever. Todas as características do modernismo
brasileiro já estão presentes em sua obra, e ele é considerado um
pré-modernista. Por quê? Mas, Lima Barreto denunciou a hipocrisia da elite
carioca, e a denúncia do racismo é central em textos como “Clara dos Anjos” e
“Recordações do escrivão Isaías Caminha”. Os angolanos conhecem a obra de Lima
Barreto?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Necessário
destacar que o véu branco à frente da crítica brasileira impediu-a de analisar
a ausência do escritor negro e de como a personagem negra era representada na
nossa literatura. Somente a partir da análise de brasilianistas que essas
ausências na literatura brasileira vieram à tona, casos dos pioneiros trabalhos
de Roger Bastide (A poesia afro-brasileira, 1944), Raymond Sayers (O negro na
literatura brasileira, 1958), Gregory Rabassa (O negro na ficção brasileira,
1965) e David Brookshaw apresenta “Raça e Cor na literatura brasileira” em
1983. Por causa desse silenciamento da crítica brasileira, os escritores
negros, principalmente a partir da geração dos anos 1970, passaram a
desenvolver ensaios questionando o cânone literário e a defender a existência
de uma literatura negra no Brasil. Desde então, vários autores sentiram a
necessidade de entrar para a Academia e realizar esse debate nesse espaço de
poder. Conceição Evaristo e Cuti são exemplos de escritores negros que se
tornaram doutores em literatura, aquela na UFF, este na UNICAMP, como forma de
“legitimar” os seus discursos.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Alguns nomes
que posso destacar são os de Luiz Gama, que foi vendido como escravo por seu
pai branco, depois tornou-se poeta, advogado e abolicionista. Ele sim o
verdadeiro “Poeta dos Escravos”. Momentos pioneiros da literatura brasileira
vieram de autores negros: o primeiro romance escrito no Brasil veio de um
negro, Teixeira e Sousa, assim como a primeira mulher a escrever um romance foi
Maria Firmina dos Reis em 1858. Outros nomes marcantes no decorrer do século XX
foram Lino Guedes, Solano Trindade, Eduardo de Oliveira, Oswaldo de Camargo, o
fenômeno Carolina Maria de Jesus que vendeu cem mil exemplares da primeira
edição de “Quarto de despejo” em 1960, posteriormente traduzido para mais de
uma dezena de idiomas. Os angolanos conhecem Carolina Maria de Jesus? Porém, é
a partir dos anos 1970, durante a ditadura e lembrando que abordar o racismo
enquadrava a pessoa na Lei de Segurança Nacional, e no decorrer dos anos 1980
que coletivos negros começam a se rearticular e destacar seus escritores, caso
do Grupo Palmares (Porto Alegre/RS), Gens (Salvador/BA), Garra Suburbana e
Negrícia (Rio de Janeiro), Cadernos Negros e Quilombhoje (São Paulo/SP).
Literatura e movimento social negro atuam lado a lado e na distensão da
ditadura fortalecem organizações como CECAN, MNUCDR, IPCN, SINBA, GTAR e
jornais como Árvore da Palavra, do MNU, Tição, entre outros. Os 90 anos da
Abolição, em 1978, foi uma data marcante nesse processo. Também temos que
considerar as influências e contatos externos: as lutas pelos direitos civis
nos EUA e a descolonização dos países africanos, principalmente os de língua
portugesa, foram eventos motivadores para os negros brasileiros. Há uma aura de
solidariedade negra no Atlântico negro. Assim, nomes como José Craveirinha e
Agostinho Neto influenciaram os autores negros brasileiros e contribuíram no resgate
de África como capital simbólico para nós. Autores marcantes desse processo são
Éle Semog, José Carlos Limeira, Cuti, Jamu Minka, Oliveira Silveira, Adão
Ventura, Paulo Colina, Abelardo Rodrigues, Márcio Barbosa, Jônatas Conceição,
Geni Guimarães, Miriam Alves, Esmeralda Ribeiro, Arnaldo Xavier, Edimilson de
Almeida Pereira, Lia Vieira, Ronald Augusto... a partir dos anos 90
consolidam-se Conceição Evaristo, Lande Onawale, Lepê Correia, Cristiane
Sobral, Cidinha da Silva... <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Um dos principais produtos da relação
África- Brasil devia ser a cultura. Acha que o Brasil dá a África em igual
proporção ao que a África e países como Angola deram ao Brasil durante séculos,
culturalmente?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Dentro do
nosso processo de rejeição ao passado africano e ao negro brasileiro, tanto que
por aqui transforma-se o que é oriundo da cultura negra em mestiço e assim vira
identidade nacional, caso do samba, e assim naturaliza-se certo desprezo das
políticas culturais voltadas para os países africanos. Quando acontecem, tendem
para a valorização do exótico e das representações estereotipadas. Mas, o que
os angolanos conhecem da cultura negro-brasileira? Há interesse desse
intercâmbio por parte dos angolanos?</span><span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:-Como a África no geral, e Angola em
particular, é vista hoje no Brasil, principalmente pelas Meios de Difusão
Massiva, depois do longo tempo de guerra civil?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">A visão de
África de uma forma geral, e de Angola não foge da extrema estereotipia, da
África selvagem que aparece sempre no “Globo Repórter”. Nas escolas temos que
começar pontuando que Angola e outros países falam português, que passaram por
uma guerra de independência, depois civil... é tudo muito raso por aqui. Exceto
os pesquisadores, para a população em geral falar de África ainda é falar de
miséria, fome, guerra... </span><span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Porquê que os mídias africanos têm
dificuldade de penetração no Brasil?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Creio que
pelo apontado anteriormente. Não há interesse do Brasil em aproximar-se dos
países africanos. E a maioria dos canais que buscam esse contato com os
africanos são os que lidam com a cultura negra,</span><span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:-Na relação com as antigas colónias
portuguesas, o Brasil supera Portugal, pela influência dos mídias e produtos
culturais como a música, cinema, literatura e televisão, além do poder
económico. Acha que o Brasil tem aproveitado essa hegemonia e superioridade da
melhor forma?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Percebo
práticas neocoloniais que em nada favorecem Angola e Moçambique, por exemplo.
Para além da nefasta ideologia dos canais de televisão que levam os seus
péssimos produtos. Tenham cuidado!</span><span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- O mundo vive o fenómeno das
manifestações anti-governamentais. Na sua observação o que se está passar?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No caso
brasileiro, vejo sobretudo a explosão de uma profunda crise de representação
partidária e de movimentos sindicais. Após longo silenciamento, o Padrão Fifa
estimulou a população a analisar a falta desse padrão nos transportes, na
saúde, na educação, nos serviços como saneamento... percebeu o excesso de ordem
ao qual estamos submetidos e quase nada em troca. Um pouco de desordem faz bem
à saúde democrática, ainda tão fragilizada no país. Chama atenção a
heterogeneidade de reivindicações, cenário normal diante de tantos absurdos e
governança voltada para a elite. E as pautas negras estão inseridas nesse
processo, dentre tantas necessidades urgentes, temos como maior preocupação o
genocídio da juventude negra. Os índices só aumentam com o passar dos anos e
vários meninos são mortos pela Polícia Militar sem nenhum motivo aparente. A
triste realidade dos negrotérios, neologismo de Éle Semog, é algo que precisa terminar.
Porém, matar negros não causa indignação à população nem vira notícia de
televisão ou primeira capa de jornal. É algo natural.</span><span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:-Esta é apenas uma questão de desigualdade
social. Ou uma mudança progressiva na relação social ao nível do mundo?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">No Brasil é
um problema racial que a esquerda política jamais quis participar. Em relação
ao mundo, o modelo neoliberal já mostrou o seu esgotamento e a ampliação
descarada das desigualdades. Por isso, a urgência dos conflitos e
manifestações. </span><span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Quando restam grandes desigualdades sociais
e desafios culturais dos países lusófonos, como caracteriza a sociedade
brasileira hoje?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">Com uma
dificuldade imensa de encarar os seus problemas e em apresentar solucões. Reina
a histeria e a hipocrisia na defesa de privilégios enraizados desde o tempo
colonial. Ações afirmativas para negros, bolsas-família, novos direitos
trabalhistas para empregadas domésticas são alvos de intensa campanha contrária
e insatisfação das classes abastadas. </span><span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: black; font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">P:- Ricardo Riso, tanto quanto soubemos os
negros no Brasil e América tem sido descriminados e até hoje há grandes
dificuldades de inserção social. Quais as estratégias que vocês tem para
inverter a situação? Pode nos falar das ideias pan-americanistas hoje? O que a
África precisa de ouvir de vós?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="color: red; font-family: "Bodoni MT","serif"; font-size: 14pt; line-height: 115%;">W. E. B. Du
Bois no sermão “Sobre as nossas lutas espirituais”, no seu imprescindível “As
almas da gente negra”, aponta para o problema de “ser negro e americano sem ser
amaldiçoado e cuspido por seus camaradas, sem ter as portas da Oportunidade
brutalmente batidas na cara”. Nós, afro-americanos, ainda avançamos para a
construção de um diálogo pan-americano. O problema do racismo é mundial, atravessa
espaços e o tempo, por isso, é pertinente quando o historiador cubano Carlos
Moore fala do protorracismo, das origens dos enfrentamentos raciais entre
melanodermos e leucodermos na antiguidade e como isso foi crescendo no decorrer
dos séculos. Não sinto-me confortável para dizer algo aos angolanos e/ou
africanos no sentido de soluções. O que precisamos é de aproximação, de
cooperação, do resgate e atualização de uma luta pan-africana antirracista.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-AgRkE0z4urY/UjU4pDTby6I/AAAAAAAACcs/hQxJ5N8vRqc/s1600/ent.angola.rr2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a> </div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-iviz-Ot0Ybc/UjU4pGlSNuI/AAAAAAAACcw/kKzDnMTTOgY/s1600/ent.angola.rr3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a> </div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-TGnA6OSA6fE/UjU4pJUkRUI/AAAAAAAACc4/K5YGBwruKSo/s1600/ent.angola.rr4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a> </div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-J7lu7TVm2rM/UjU4pyWHwqI/AAAAAAAACdA/cnjyebz3jYo/s1600/ent.angola.rr5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a> </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-mVe-y6l0tUY/UjU3q5FP45I/AAAAAAAACck/J9OB14G6l8w/s1600/ent.angola.rr.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"></a> </div>
Unknownnoreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-80096813313648203952013-09-15T00:51:00.001-03:002013-09-15T00:51:27.801-03:00José Carlos Limeira e Éle Semog: Ogum's Toques do Escritor (vídeos e fotos)
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">No dia 23 de agosto de 2013, José Carlos Limeira e Éle Semog
participaram do evento Ogum’s Toques do Escritor, organizado pelo coletivo
literário Ogum’s Toques no CEAO/UFBA, Salvador, Bahia. A ocasião foi uma forma
de homenagear os trinta anos do livro “Atabaques” e trinta e quatro anos de “O
Arco-Íris Negro”, as duas parcerias desses autores. Fui honrado com a mediação
da mesa. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Seguem os dois links para o debate:</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=4isZlxTI0-w"><span style="color: blue; font-family: Calibri;">http://www.youtube.com/watch?v=4isZlxTI0-w</span></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p><a href="http://www.youtube.com/watch?v=sxkoCK3w2Pw"><span style="color: blue; font-family: Calibri;">http://www.youtube.com/watch?v=sxkoCK3w2Pw</span></a></div>
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Algumas fotos do evento.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-ltHpppdvCMo/UjUq4nmodqI/AAAAAAAACbY/FVmEFXYGc_A/s1600/atabaques+marcador.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="http://2.bp.blogspot.com/-ltHpppdvCMo/UjUq4nmodqI/AAAAAAAACbY/FVmEFXYGc_A/s320/atabaques+marcador.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Tg66tvkD8Og/UjUt5Iw53kI/AAAAAAAACbw/Y9y6Po7cJIQ/s1600/semog+limeira+riso+3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-Tg66tvkD8Og/UjUt5Iw53kI/AAAAAAAACbw/Y9y6Po7cJIQ/s320/semog+limeira+riso+3.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-aM7O9Gfn0uM/UjUt5JSLpnI/AAAAAAAACbs/3L7eRSM_KeU/s1600/semog+limeira+riso+4.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-aM7O9Gfn0uM/UjUt5JSLpnI/AAAAAAAACbs/3L7eRSM_KeU/s320/semog+limeira+riso+4.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-psxHwXrUfnQ/UjUt3S5XK4I/AAAAAAAACbk/tNnbXETDhG0/s1600/semog+limeira+riso+5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-psxHwXrUfnQ/UjUt3S5XK4I/AAAAAAAACbk/tNnbXETDhG0/s320/semog+limeira+riso+5.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-Ud-7ENLzta0/UjUt7oo3a5I/AAAAAAAACb8/UlYUcyfJitY/s1600/semog+limeira+riso+guellwaar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-Ud-7ENLzta0/UjUt7oo3a5I/AAAAAAAACb8/UlYUcyfJitY/s320/semog+limeira+riso+guellwaar.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-mnToD7KC4xM/UjUuCZCpX9I/AAAAAAAACcE/d5z-eLlKAaE/s1600/semog+limeira+riso+henrique.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://2.bp.blogspot.com/-mnToD7KC4xM/UjUuCZCpX9I/AAAAAAAACcE/d5z-eLlKAaE/s320/semog+limeira+riso+henrique.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-n6tVH8YxYMI/UjUuJRX3TzI/AAAAAAAACcU/gPS2xTSkjnU/s1600/semog+limeira+riso.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-n6tVH8YxYMI/UjUuJRX3TzI/AAAAAAAACcU/gPS2xTSkjnU/s320/semog+limeira+riso.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-AW3DSlIHWC4/UjUuH3tG24I/AAAAAAAACcM/byUQdzxgEeQ/s1600/semog+limeira+suica+riso.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-AW3DSlIHWC4/UjUuH3tG24I/AAAAAAAACcM/byUQdzxgEeQ/s320/semog+limeira+suica+riso.jpg" width="320" /></a></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-64184349151932773902013-09-02T13:05:00.000-03:002013-09-02T13:05:19.138-03:00Vera Duarte e Ungulani Ba Kha Khosa na UFMG<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-C2s3WAtP5bM/UiS3MdSOQyI/AAAAAAAACRA/nN6V0yLR358/s1600/encontro+de+escritores+africanos+na+ufmg.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-C2s3WAtP5bM/UiS3MdSOQyI/AAAAAAAACRA/nN6V0yLR358/s320/encontro+de+escritores+africanos+na+ufmg.jpg" width="320" /></a></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-27616111609352322042013-08-30T12:20:00.000-03:002013-08-30T12:20:51.488-03:00FLIAFRO Rio de Janeiro 2013
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Participarei como coordenador da mesa LITERATURA CABO-VERDIANA com a
presença da escritora Vera Duarte e Dra. Maria Teresa Salgado, como debatedora.
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-UKd94L3AgoI/UiC336RGuHI/AAAAAAAACO8/ZGl_A8c4ETM/s1600/Programa%C3%A7%C3%A3o+completa+FLIAFRO+RIO+-+divulga%C3%A7%C3%A3o+(1).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-UKd94L3AgoI/UiC336RGuHI/AAAAAAAACO8/ZGl_A8c4ETM/s320/Programa%C3%A7%C3%A3o+completa+FLIAFRO+RIO+-+divulga%C3%A7%C3%A3o+(1).jpg" width="226" /></a></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-89428699034341469342013-08-30T12:14:00.000-03:002013-08-30T12:14:06.480-03:00Eduardo White: universidades, bienais do livro e mercado editorial
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Eduardo White, escritor moçambicano, expõe sua indignação acerca de
alguns problemas que envolvem a relação escritores africanos-mercado editorial-bienais
do livro-universidades brasileiras. A postagem foi feita no Facebook e
autorizada para publicação aqui. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<a href="https://www.facebook.com/photo.php?fbid=375746325885948&set=a.113785065415410.10107.100003517517706&type=1">https://www.facebook.com/photo.php?fbid=375746325885948&set=a.113785065415410.10107.100003517517706&type=1</a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Caro Ricardo Riso, já ligeiramente corrigido o meu texto, quanto 'a
questão que me puseste e muito bem:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Não esta' em causa o lançamento dos livros de dois escritores de muito
mérito e da minha geração com quem não tenho divergências nenhumas a não ser as
que sempre tivemos e haveremos de ter e ao longo das nossas vidas e
salutarmente. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Ninguém pode tirar o mérito aos distintos confrades que ai e muito bem
vão representar Moçambique. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">O que é facto é que a vossa Bienal do Livro é a mais importante feira
no espaço dos falante e dos "escreventes" da Língua Portuguesa e um
mercado que pode possibilitar a ponte definitiva para o intercambio das
culturas dos nossos Países. Depois dessa seguem-se todas as outras que ocorrem
em Portugal, Angola e Cabo-Verde.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">O que me vem indignando desde há algum tempo a esta parte é a
quantidade de mestrados e teses que se tem feito no Brasil sobre a minha obra e
sobre a orientação de duas Professoras Doutoras que ai vão estar como
palestrantes de quem em seu nome, inclusivamente, tenho recebido alguns dos
seus Doutores em Maputo, nunca se terem dignado, jamais, a dirigirem-me uma tese
por correio ou um convite para qualquer dessas sessões ou defesas de teses ou
mestrados e ou organizado contactos com os meritíssimos leitores que ai tenho
no Brasil. Ao longo deste tempo todo e como você poderá pesquisar na Internet
só me tenho surpreendido.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Inclusivamente, bem nos recentes anos ai esteve um delegação com o Luis
Abel dos Santos Cezerilo em que a minha obra era um dos temas em debate e em
Maputo fiquei para trás. E como esse exemplo existem vários, tanto cá, como em
Portugal, como com vários convites que me chegam pelos canais que deveriam
chegar, toda a gente sabe qual, e vão outras pessoas em minha representação.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Mas isso é de outro fórum. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">O que eu fico surpreendido é que Alcance pretende internacionalizar um
autor que já está quase meio internacionalizado, passe-se a expressão, e
desconhece tudo sobre o autor que tinha. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Os meus livros, tanto da Texto Editora como da Alcance Editores, são
todos impressos em Portugal e não se justifica que não tenha eu um único livro
actual com prémios ganhos, este ano, aqui e lá, no mercado Português. E nem
hajam, igualmente, os que editei em Portugal no mercado Português. E se os há
alguns sou eu que os levo e os deixo porque faço eu o trabalho que as editoras
deveriam fazer. Comprova a MIL, Movimento Internacional da Língua Portuguesa
com a doação que fiz dos Nudos por achar aquele Movimento com pernas para
andar.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Se esse acontecimento que agora decorre no Brasil e que aplaudo
vivamente tem em vista uma maior participação dos autores africanos e
afro-brasileiros na Bienal do Livro, como se justifica que os meus livros, faz
anos, nunca tenham surgido nas feiras dos livros, como aconteceu bem há' pouco
tempo em Lisboa? E no Brasil?<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Há qualquer coisa que está errado.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Da Prof. Dra. Carmen Tindo' Secco e outras, bem antes de eu seguir para
Portugal para receber o Prémio Gloria de Sant'Anna de que existem duvidas
quanto 'a legitimidade das razões do mesmo me ter sido atribuído, dei de caras
com um dos seus orientandos na Livraria Conhecimento, em Maputo, que procurava
pelo meu ultimo livro para levar para o Brasil para um trabalho na Universidade
onde ela lecciona.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Pergunto:<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Que papel tem então África e os seus autores de Língua Portuguesa
nessas reuniões aonde a gente não participa mas estão lá eles? <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">E a CPLP, o que faz? <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Desculpa este atabalhoado todo, mas estou cansado de ver nitidamente o
que se passa e de estar calado e por isso o "mito" - e todas as
catalogações - de que o Eduardo White temperamentalmente é um autor irreverente
e uma serie de bujardas a meu respeito. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Eu é que represento o meu trabalho e se o meu me confere o direito de o
representar, então sou eu e não eles.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<o:p><span style="font-family: Calibri;"> </span></o:p></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-family: Calibri;">E não me vou calar perante o que se esta' a passar comigo vivo porque
depois de morto a única herança e a melhor memoria de mim que deixarei para os
meus filhos e netos que já' os tenho, e' apenas esta loucura minha de me ter
casado com a escrita."</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-45151455730150670992013-08-16T01:39:00.000-03:002013-08-16T01:39:34.725-03:00Ogum's Toques dos escritores: Éle Semog e José Carlos Limeira<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-813Q2CBUmj0/Ug2SHdHI_OI/AAAAAAAACOM/iqaQWN-5sEc/s1600/atabaques.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-813Q2CBUmj0/Ug2SHdHI_OI/AAAAAAAACOM/iqaQWN-5sEc/s320/atabaques.jpg" width="240" /></a></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_520d8e6b4d1149263052212">
<br /></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_520d8e6b4d1149263052212">
<br /></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_520d8e6b4d1149263052212">
<a class="_58cn" data-pub="{"type":"hashtag","id":145516178949771,"source":null}" href="https://www.facebook.com/hashtag/ogumstoques"><span class="_58cl">#</span><span class="_58cm">OgumsToques</span></a> : Ogum's Toques dos escritores Éle Semog e José Carlos Limeira.<br /><br />"A ação dos literatos foi fundamental para a rearticulação dos movimentos sociais negros durante a década de 1970. Autoras e autores reuniam-se em coletivos, trocavam informações em diferentes cidades, mimeografavam seus textos e distribuíam em bailes black music, por exemplo, e outros espaços negros.<br /><br />Rompia-se<span class="text_exposed_show"> a asfixia da ditadura militar com seus poemas e contos que denunciavam de forma explícita a farsa da democracia racial, assim como a discriminação a negras e negros como integrante do cotidiano brasileiro. Como parte histórica incontornável desse processo encontravam-se Éle Semog e José Carlos Limeira. Com atuações marcantes nos movimentos negros, desde cedo desenvolveram uma escrita negra, até que um vai ao encontro “daquele contínuo muito estranho que não saía da biblioteca” e começavam ali uma das mais representativas parcerias da literatura negro-brasileira. A união rendeu dois livros: “O Arco-Íris Negro”, de 1979, e “Atabaques” em 1983.<br /><br />Para celebrar os 30 anos de “Atabaques”, conhecer como foi aquele encontro, ser escritor negro em plena ditadura e como manter a resistência literária no decorrer de tanto tempo, Ogum’s Toques do Escritor convida o público para reviver essa parceria em um bate-papo com Éle Semog e José Carlos Limeira. Uma excelente oportunidade para conhecermos as trajetórias desses dois autores e um pouco da história da literatura negro-brasileira contemporânea, que passa pelas suas escritas imprescindíveis, plenas de inquietação, conscientização e inquestionável apuro estético."<br />-<a data-hovercard="/ajax/hovercard/user.php?id=1516962711&extragetparams=%7B%22directed_target_id%22%3A0%7D" href="https://www.facebook.com/ricardo.riso.7?directed_target_id=0">Ricardo Riso</a>-</span></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_520d8e6b4d1149263052212">
<span class="text_exposed_show"><br /></span></div>
<div class="text_exposed_root text_exposed" id="id_520d8e6b4d1149263052212">
<span class="text_exposed_show">A mediação ficará a cargo de Ricardo Riso.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-56252743050660176552013-07-31T09:23:00.001-03:002013-07-31T09:23:01.779-03:00Ogum's Toques da Escritora: CIDINHA DA SILVA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/--5_aEAHSt6A/UfkBXMzcwDI/AAAAAAAACNM/ZWKZ6TUUj2A/s1600/cidinha.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/--5_aEAHSt6A/UfkBXMzcwDI/AAAAAAAACNM/ZWKZ6TUUj2A/s320/cidinha.jpg" width="224" /></a></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-26164670094739674232013-07-30T23:17:00.000-03:002013-07-30T23:17:46.552-03:00Eneida Nelly e o cânone<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-vnDLjcMuZKU/UfhyRBFhHnI/AAAAAAAACM8/jacvAJ95qME/s1600/riso+308.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-vnDLjcMuZKU/UfhyRBFhHnI/AAAAAAAACM8/jacvAJ95qME/s320/riso+308.jpg" width="256" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><br /></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Eneida Nelly e o cânone</span></i></b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Ricardo Riso</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif; line-height: 150%;"><span style="font-size: x-small;">Resenha publicada no semanário cabo-verdiano A Nação, n. 308, 25 de julho de 2013, p. A34.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">O estabelecimento do cânone fala muito
mais pelas ausências e silenciamentos impostos do que por aqueles contemplados
para constituí-lo. Sua rigidez está conotada aos espaços de poder em disputa. Assim,
é fundamental questionar a homogeneização do cânone, “ignorar essa abertura é
reforçar o papel da literatura como mecanismo de distinção e hierarquização
social, deixando de lado as suas potencialidades como discurso desestabilizador
e contraditório”, afirma a ensaísta brasileira Regina Dalcastagnè no livro “Literatura
Brasileira Contemporânea: um território contestado” (2012, p. 12).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Nas literaturas africanas de língua
portuguesa, a ensaísta brasileira Laura Cavalcante Padilha, no artigo “A
diferença interroga o cânone”, chama atenção de obras que contribuíram para a
constituição deste cânone, são as antologias “No reino de Caliban” (1975), de
Manuel Ferreira, e “Entrevistas com Escritores” (1991), de Michel Laban. Ela
afirma que:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">“Lembrando o fato de que o acervo
crítico dessas literaturas se ter forjado inicialmente fora da África – na
Europa e nas Américas, com Portugal e Brasil à frente –, começo a questionar
até que ponto, o cânone “consagrado” por outras vozes que não as africanas,
submeteu-se aos mesmos mecanismos de dominação e poder que sempre tiveram como
meta elidir as diferenças, sobretudo se o objeto recortado são questões como de
gênero e raça” (2002, p. 164).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Ou seja, na obra de Ferreira temos 36
escritores e, dentre eles, apenas uma mulher (Yolanda Morazzo), omitindo-se a
questão de raça. Quase 20 anos depois, a seleção de Laban inclui 25 escritores,
entre eles, apenas uma mulher, Orlanda Amarilis. Como já afirmamos em outros
momentos, o negro e a mulher estão fora do cânone literário cabo-verdiano, por
isso, a pertinência de interrogar o cânone e a pergunta que incomoda a quem
interessa a manutenção do status quo: onde estão aqueles que sempre foram
silenciados e excluídos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">A intelectual indiana Gayatri
Chakravorty Spivak é uma das mais lúcidas vozes no combate à situação da
mulher, voz subalternizada e excluída do jogo do poder. Para Spivak (2010), essa
condição subalterna forçada mantém o silenciamento de sua voz e ainda assim
quando consegue se pronunciar não é escutada. A pergunta de Spivak: pode o
subalterno falar? O sujeito subalterno feminino não é sujeito da sua história,
não tem voz e não pode falar, falam por ele, o que se configura uma violência
epistêmica. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">E perguntamos: se a mulher não pode
falar, será que a mulher negra pode falar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Diante da heteronormatividade presente
nas sociedades patriarcais, logo brancocêntricas, não é de se estranhar a
ausência de uma escritora negra no cânone literário cabo-verdiano. Eneida Nelly
desafia esse cânone e os seus pesquisadores quando lança o seu único e
derradeiro livro de poesia, “Sukutam” (Escuta-me), em 2011. Primeiro pela
escrita em língua materna cabo-verdiana, que já conta com uma vasta produção
que é ignorada pelos especialistas da literatura de Cabo Verde – os brasileiros
que o digam, restritos à produção em língua portuguesa. Neocolonialismo? Por
que não? Segundo, nos 50 poemas do livro, Nelly desvela a mundivivência de uma
mulher negra, pobre, da zona rural da Ilha de Santiago. Estão ali a denúncia
social e a sensibilidade feminina ao retratar o cotidiano de dificuldades e de
resistência das manifestações culturais negras das camadas marginalizadas.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">O papel pioneiro exercido por Eneida
Nelly ao trazer o gênero, a raça e a autoria feminina em crioulo, demonstra a
necessidade de reavaliação do cânone e da postura do pesquisador brasileiro de
literatura cabo-verdiana, restrito à produção em língua portuguesa. Diante das
adversidades da vida e do meio literário, seria surpresa o seu suicídio meses após
a publicação do livro? Tal abertura pode oferecer outras abordagens para a
literatura de Cabo Verde, contribuindo para sua diversidade. A poesia de Eneida
Nelly escancara o desejo de ser ouvida. Mas, deixaremos o subalterno falar?<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-50580941210576292462013-07-30T22:57:00.000-03:002013-07-30T22:57:15.113-03:00Abelardo Rodrigues – Memória da noite revisitada & outros poemas (resenha)<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Abelardo
Rodrigues – Memória da noite revisitada & outros poemas<o:p></o:p></span></b></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Nós
somos daqueles que se recusam a esquecer.<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Nós
somos daqueles que recusam a amnésia mesmo que seja como uma saída.<o:p></o:p></span></i></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: right;">
<i><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">(Aimé
Césaire)<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Para as comunidades negras na diáspora
africana, a memória é parte essencial da constituição e da afirmação
identitária em sociedades as quais a integração de negras e negros até hoje
passa por turbulências. Ainda que o período de discriminação explícita e de
base jurídica já tenha passado, caso dos EUA, neste e nos demais países do
continente americano, reivindicar uma identidade negra, exaltar seus feitos e
propor a revisão crítica da história ou pelo simples reconhecimento da
contribuição negra para a formação das nações são bandeiras de negociações árduas
e exaustivas na disputa pela hegemonia. Por isso, a recorrência à memória é uma
maneira de combater tudo aquilo que é imposto à população negra que, através da
transmissão oral de diferentes agentes, distantes do academicismo de origem
eurocêntrica, transmitem seus ensinamentos e mantêm vivos os percursos da
história de negras e negros em condições adversas nas sociedades do Novo Mundo.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">O excerto de Aimé Césaire como epígrafe
assinala a resistência dos negros americanos, da denúncia de um
passado/presente de opressão aos quais os movimentos sociais negros não deixam
diluir-se no tempo. Apesar das (nossas) vozes não alcançarem o volume auditivo
das instâncias do poder, o balbucio de um objeto que insiste em ser sujeito
está sempre presente, marcando o lugar da sua fala que subverte a ordem das
vozes ditas legitimadas. O ensaísta uruguaio utiliza a metáfora dos planetas
sem boca, de Lacan, para ilustrar essa condição de repressão (ACHUGAR, 2006, p.
20), porém, o ato de balbuciar demonstra a insubmissão àquilo que querem que o
Outro seja, que “balbuciar não é uma carência, mas uma afirmação” (idem, ibidem,
p. 24). A audição desse balbucio demonstra que os “espaços incertos” precisam
ser repensados, que outras versões da História necessitam vir à tona. Insere-se
aqui a importância da estreia literária de Abelardo Rodrigues com “Memória da
noite” e que completa trinta e cinco anos celebrados com a reedição de “Memória
da noite revisitada e outros poemas”, uma iniciativa que contou com a
participação de Marciano Ventura e o Ciclo Contínuo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Originalmente lançado em 1978,
arrisco-me a dizer que “Memória da noite” pode ser enquadrado como integrante
de uma literatura de fundação, uma vez que marca a presença explícita de um
sujeito lírico negro dirigindo-se a um leitor negro com a preocupação de
conscientizá-lo e participá-lo das circunstâncias específicas das relações
étnico-raciais na sociedade brasileira. Trata-se de um livro-denúncia, da voz
sufocada pela escravidão, posterior democracia racial e de uma cruel ditadura
que considerava apontar o racismo no Brasil como passível de punição de acordo
com a Lei de Segurança Nacional (artigo 33º do Decreto-Lei nº 510, de
20/03/1969). Entretanto, o discurso homogêneo da ditadura, após longo tempo,
começa a sofrer com os questionamentos e a lenta rearticulação dos movimentos
sociais, dentre eles, o movimento social negro, que passa por uma onda de novas
instituições e grupos desabrochando no decorrer dos anos 1970 em várias
capitais do país, tais como Grupo Palmares (Porto Alegre, 1971), CECAN (Centro
de Cultura e Arte Negra, São Paulo, 1972), SINBA (Sociedade de Intercâmbio
Brasil-África, Rio de Janeiro, 1974), IPCN (Instituto de Pesquisas das Culturas
Negras, Rio de Janeiro, 1975), o bloco Ilê Ayê (Salvador, 1976). Além de
movimentos que tinham a literatura como grande importância, casos dos coletivos
“Garra Suburbana” que publicou a antologia “Incidente Normal” (RJ) e GENS
(Grupo de Escritores Negros de Salvador). Também destaque para o jornal “Árvore
da Palavra” e revista “Tição”, além de antologias como “Coletânea de Poesia
Negra”, organizada pelo Centro de Estudos Culturais Afro-brasileiro Zumbi em
1976 e “Negrice I” no ano de 1977, assim como as lutas pelos direitos civis nos
EUA e a descolonização dos países africanos, em especial os de língua
portuguesa (PEREIRA, pp. 44-49; CUTI, pp. 126-127). Para além de livros de
diferentes representantes da literatura negro-brasileira e seus cuidados com a
linguagem, demonstrando a pluralidade da literatura negro-brasileira, casos de
Adão Ventura, Oliveira Silveira, José Carlos Limeira, além de nomes mais
rodados como Carlos de Assumpção, Oswaldo de Camargo e Eduardo de Oliveira.
Todas essas manifestações estimularam os contatos entre os partícipes do
movimento negro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Porém, o ano de 1978 é especial para a
literatura negro-brasileira em razão dos lançamentos dos livros do já citado
Abelardo Rodrigues, de “Poemas da Carapinha”, primeiro livro de poesia de Luiz
Silva, o Cuti, e do primeiro volume que se tornaria a série “Cadernos Negros”.
Também nesse ano começam as atividades do MNUCDR (Movimento Negro Unificado
Contra a Discriminação Racial) em São Paulo e a célebre manifestação contra o
racismo nas escadarias do Teatro Municipal, no mês de julho. Adequados à
urgência de seu tempo, os escritores que participam desse período possuem uma
postura incisiva. O prefácio de estreia de “Cadernos Negros” coloca-nos a par
da intensidade da época:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">A África está se libertando! já
dizia Bélsiva, um dos nossos velhos poetas. E nós brasileiros de origem
africana, como estamos?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">Estaremos no limiar de um novo
tempo. Tempo de África vida nova, mais justa e mais livre e, inspirados por
ela, renascemos arrancando as máscaras brancas, pondo fim à imitação.
Descobrimos a lavagem cerebral que nos poluía e estamos assumindo nossa negrura
bela e forte. Estamos limpando nosso espírito das idéias que nos enfraquecem e
que só querem nos dominar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">‘Cadernos Negros’ marca passos
decisivos para nossa valorização e resulta de nossa vigilância contra as idéias
que nos confundem, nos enfraquecem e nos sufocam. As diferenças de estilo,
concepções de literatura, forma, nada disso pode mais ser muro erguido entre
aqueles que encontram na poesia um meio de expressão negra. Aqui se trata da
legítima defesa dos valores do povo negro. A poesia como verdade, testemunha do
nosso tempo. (ALVES, 2012, p. 222)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Como dito anteriormente, a efervescência
do continente africano é mais um estímulo para os negros daqui fortalecerem-se
em grupos, propor discussões e partir para ações contra o sistema racista
brasileiro no nonagésimo aniversário da abolição da escravatura. Olhar para a
África independente é pensar a condição do negro no Brasil, a sua identidade, a
sua memória e o que diz a história oficial. Problematizar essas questões e
tensioná-las diante do mito da democracia racial é um dos objetivos imediatos
dos escritores negros. Por isso, o sujeito lírico de Abelardo Rodrigues em
“memória da noite...” é o “timoneiro de um novo tempo” (RODRIGUES, 2012, p.
20), condutor de vozes até então silenciadas. A preocupação maior dos poemas
que formam o corpo deste livro é com a construção identitária do negro, o
revisitar de sua memória trazendo o tensionamento dos apagamentos da história,
uma vez que “a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade”
(POLLAK, 1992, p. 204), trazê-la à tona é entrar num território de disputas
intensas, já que “a memória e a identidade são valores disputados em conflitos
sociais e intergrupais, e particularmente em conflitos que opõem grupos
políticos diversos” (idem, ibidem, p. 205). Dessa maneira será recorrente a
presença do vocábulo “grito” repetido à exaustão em seus poemas, como forma de
se fazer ouvir, pois estamos em um quadro de ditadura e de uma identidade negro-brasileira
massacrada pelos séculos de escravidão e pela condição subalterna permanente
que se encontram os negros no pós-abolição: “Gestos/ por que não contá-los/ gritos/
por que não libertá-los,/ irmão?” (RODRIGUES, 2013, p. 19). Rompendo a barreira
da asfixia o sujeito lírico enfatiza: “quero o jorro de minha garganta/ limpa
dessas teias seculares// Jugulares veias gritantes/ devem ser meus versos” (idem,
ibidem, p. 18).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">O leitor está diante de uma poesia
comprometida em denunciar os séculos de opressão, o poeta realiza com a versificação
livre, muitas vezes em estrofe única, a melhor forma para atingir o seu leitor
negro e atentá-lo para a ruptura do tempo presente: “basta que façamos do
sopro/ um vendaval” (idem, ibidem, p. 22). O conteúdo prevalece em relação à
forma, é a urgência da palavra poética levando o dizer da Noite, pois “o
silêncio do poeta/ é o trovão das palavras silenciosas/ O frio do poeta/ é o
calor do conteúdo/ é a palavra ‘negro’ posta/ em pratos limpos” (idem, ibidem, p.
39). A afirmação identitária combate “as senzalas-prisões/ que permanecem/
corroendo nossas mentes” (idem, ibidem, p.42), porém o sujeito lírico “com seu
grito acordou/ nossas mentes adormecidas/ lançando palavras de escárnio/ aos
velhos livros/ nos quais aprendemos/ o beabá da servidão” (idem, ibidem, p.
61). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Somente com a emergência de novos
agentes sociais que o discurso hegemônico é desestabilizado, reescrever a
narrativa nacional passa por uma árdua negociação com diversos setores da
sociedade, principalmente os intelectuais e os políticos, implica <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif";">uma batalha pelo discurso e pela
representação. Implica, de fato, uma batalha por ocupar a posição do que
tem/possui a história, do que sabe e do que escolhe. (...) Implica o desafio de
abandonar as regras do jogo vigentes que eram vistas, de modo incontestável,
até bem pouco tempo. Implica um desafio e uma utopia. A utopia de tentar a
transformação do autoritarismo próprio do discurso nacional homogeneizador. O
desafio de construir os múltiplos cenários da memória nacional como um lugar
(...) onde diferentes concepções da nação disputam e negociam entre si
(ACHUGAR, 2006, p. 163)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">O livro “memória da noite...” de
Abelardo Rodrigues está inserido nesse processo de negociação, contribui para
tentar resgatar a memória coletiva negra silenciada na longa noite de opressão
e atua contra o esquecimento imposto pela ordem racista brasileira. Uma poesia
marcada pelo enfrentamento direto da branquitude que a tudo domina, contra o
embranquecimento dos negros, que olha para o passado de matriz africana como
fortalecimento do seu capital simbólico. E aqui cabe um interesse especial de
minha parte que ora propõe este visitar pelo livro de Rodrigues, que é a
aproximação do escritor negro-brasileiro com os autores dos países africanos de
língua portuguesa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Notória a influência do modernismo
brasileiro para a conscientização nacional de angolanos, moçambicanos,
cabo-verdianos etc. propalada pelos escritores africanos expoentes das décadas
de 1930 a 1950 como fundamental para a construção da identidade nacional e de
uma postura de crítica contrária ao colonialismo português. Exemplos explícitos
são os de Agostinho Neto (Angola) e José Craveirinha (Moçambique). Esse período
é bastante celebrado pelos estudiosos de literaturas africanas de língua
portuguesa aqui no Brasil. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Entretanto, estranho o fato de um
segundo momento de suma importância para essa relação entre a literatura
negro-brasileira e as literaturas africanas de língua portuguesa que é o final
dos anos 1970. O excerto do prefácio de Cadernos Negros supracitado evidencia o
quanto a libertação dos países africanos de língua portuguesa atualizam o
questionamento da condição do negro no Brasil: ele está liberto? Ou “E nós
brasileiros de origem africana, como estamos?” A confluência tempo e espaço é
de essencial importância para as comunidades negras e mostra uma característica
da diáspora africana: que é a relação com outros negros de diferentes países em
diversos lugares do mundo. O processo de independência dos países africanos, de
certa forma, torna-se mais um motivo para que os negros brasileiros olhem para
a sua cidadania na sociedade e partam para a denúncia do racismo e
reivindicação para solução de problemas sociais que afligem diretamente a
população negra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Nessa perspectiva, não causa
estranhamento a influência de Agostinho Neto na poética de Abelardo Rodrigues
que até dedica um poema ao primeiro presidente de Angola intitulado “Sentinela”,
e destacado por Hélio Pinto Ferreira na primeira edição e Oswaldo de Camargo na
atual. Tal como a poesia de Neto, Rodrigues propõe o resgate das heranças
culturais negras, é contrário à assimilação imposta pelo colonizador branco,
dirige-se a um eu coletivo que se quer insubmisso em poéticas de devir, de
poetas que compreendem a urgência do tempo que lhes coube viver: “destruindo
coloniais ideias (...) alimentando a hora e o dia/ em que teremos nossa
humanidade/ resgatada” (RODRIGUES, 2013, p. 48), como em Rodrigues; enquanto em
Neto, “Eu já não espero/ sou aquele por quem se espera/ (...) teus filhos/ com
medo de te chamarmos Mãe// (...) Amanhã/ entoaremos hinos à liberdade/ quando
comemorarmos/ a data da abolição desta escravatura// Nós vamos em busca de luz
(...)” (NETO, 1986, p. 13-14). Também podemos falar de imagens dissonantes,
raras neste livro de Rodrigues em razão da proposta incisiva e de engajamento
de combate ao racismo, mas que o aproximam de José Craveirinha. Rodrigues em
“Moendas”: “Eles transitam sonhos parasitas/ são corpos mágicos/ vivendo o chão
espinhoso anestesiador” (RODRIGUES, 2013, p. 35) ou no poema “Futuro”:
“Abraçam-se/ beijam-se paladares de um novo dia/ quem são estes homens que
chocam ovos verdes?/ quem são estes homens negros e mulatos/ varando a lassidão
vítrea da paz?” (idem, ibidem, p. 23) desvelam a angústia de defrontar-se com o
racismo brasileiro e mostra a sua mensagem corrosiva, assim como o moçambicano
José Craveirinha que expande a semântica ao criar imagens surreais: “Noites
enjoadas de um milhão de angústias/ racham-me as unhas na lascívia das macias/ paredes
de cimento (mentira não são macias) caiado/ e no amoroso cárcere ensurdecedor
de silêncios (...)” (CRAVEIRINHA, 1980, p. 15). Ou seja, fica evidenciada a
aproximação desse diálogo dos negros brasileiros com as literaturas africanas
serve como fator de coragem para a afirmação identitária negra brasileira, que
teve a oportunidade de ler obras de Agostinho Neto, como “Poemas de Angola”,
aqui publicado pela Codecri, e antologias organizadas por Mário Pinto de
Andrade, tais como “Na noite grávida dos Punhais” e “O canto armado”, todos
títulos dos anos 1970. Agora, por que esse diálogo encontrado na poesia de
Abelardo Rodrigues, em “Cadernos Negros” e em tantos outros escritores dos anos
1970/80 não serve como estímulo para estudos comparativos entre essas
literaturas? Até quando ficaremos presos ao referencial modernista para as
literaturas africanas? Não seria caminho natural a origem africana de nossos
escritores negros para buscar vestígios, investigar semelhanças no texto
literário?<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-i-DJ7gHqiAs/UfhucOQ0JII/AAAAAAAACMs/ayF9Hkl-AZE/s1600/399872_587636684589495_982909040_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-i-DJ7gHqiAs/UfhucOQ0JII/AAAAAAAACMs/ayF9Hkl-AZE/s320/399872_587636684589495_982909040_n.jpg" width="226" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Para finalizar, destaco a importância da
retomada da obra de um autor fundamental para a literatura negro-brasileira
contemporânea, que é Abelardo Rodrigues, dando oportunidade às novas gerações
de desfrutar de um momento crucial da poética negro-brasileira e de como a
postura combativa deste autor ainda inspira muitos das autoras negras e autores
negros que sentem a obrigação do fazer do texto literário como espaço
ininterrupto de denúncia do racismo sistêmico brasileiro. “Memória da noite
revisitada & outros poemas” é um livro de inquietação, de um poeta
angustiado e comprometido com a população negra que utiliza a literatura como
arma de combate para uma sociedade justa e igualitária. Após 35 anos, ter a
oportunidade de acesso a uma obra completa desse marcante período do movimento
literário negro ainda é raro, mas que faço votos para que outras obras sejam
reeditadas e outras editoras demonstrem interesse por esse importante trabalho
de memória da literatura negro-brasileira. Por enquanto, meus parabéns para
Marciano Ventura e o Ciclo Contínuo, e principalmente para Oswaldo de Camargo e
Abelardo Rodrigues, dois nomes essenciais dessa trajetória. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">Bibliografia:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">ACHUGAR, Hugo. <i>Planetas sem boca</i>: escritos efêmeros
sobre Arte, Cultura e Literatura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">ALVES, Miriam. Cadernos Negros
(número 1): estado de alerta no fogo cruzado. In: FIGUEIREDO, Maria do Carmo
Lanna; FONSECA, Maria Nazareth Soares (Orgs.). <i>Poéticas afro-brasileiras</i>. 2ª ed. Belo Horizonte: Mazza Edições;
Editora PUC Minas, 2012. pp. 221-240.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">CRAVEIRINHA, José. <i>Cela 1</i>. Lisboa: Edições 70, 1980.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">CUTI. <i>Literatura negro-brasileira.</i> São Paulo: Selo Negro, 2010.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">NETO, Agostinho. <i>Sagrada Esperança.</i> Luanda: União dos
Escritores Angolanos, 1986.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">PEREIRA, Amauri Mendes. <i>Trajetórias e perspectivas do Movimento
Negro Brasileiro. </i>Belo Horizonte: Nandyala, 2008.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">POLLAK, Michael. <i>Estudos históricos</i>. Rio de Janeiro, vol.
5, n. 10, 1992, p. 200-212.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt;">RODRIGUES, Abelardo. <i>Memória da noite revisitada & outros
poemas. </i>2ª ed. São Paulo: Edição do Autor, 2013.<o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-21124292499416800312013-07-02T20:16:00.001-03:002013-07-02T20:16:43.139-03:00Namíbia, não! (nova temporada RJ)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-uLkJwX2GTmo/UdNfMipp4gI/AAAAAAAACKo/YKIr622t_Tw/s960/179719_10200275286947947_1105923357_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-uLkJwX2GTmo/UdNfMipp4gI/AAAAAAAACKo/YKIr622t_Tw/s320/179719_10200275286947947_1105923357_n.jpg" width="190" /></a></div>
<br />Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-82059751271510736572013-06-30T03:57:00.002-03:002013-06-30T03:57:43.295-03:00António Pedro (1909-1966) (A Nação)<h1 style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">António Pedro (1909-1966)</span></h1>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Ricardo Riso<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Resenha publicada no semanário cabo-verdiano A Nação, n. 302.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">António Pedro da Costa nasceu na cidade da Praia, Ilha de Santiago, a
9/12/1909, e ainda na tenra idade foi para Portugal. Filho de pai português e
mãe inglesa, estudou na Faculdade de Letras de Lisboa e na Sorbonne. Foi
locutor da BBC. Atuou como poeta, artista plástico e teatro. No meio literário
português ficou conhecido pela forte influência do surrealismo em suas obras,
assim como entre os surrealistas ingleses. Veio a falecer na cidade do Minho
(Portugal) em 17/8/1966.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">António Pedro foi fundamental para a historiografia literária
cabo-verdiana de língua portuguesa em razão de livro único de poesia, lançado
no arquipélago em 1929, intitulado “Diário”. Prestes a completar vinte anos de
idade, o poeta retornou a sua terra naquele ano e relacionou-se com pessoas
como Jorge Barbosa. Essa convivência fecunda estimulou Barbosa a alçar outros
voos literários para além dos anteriormente praticados nas ilhas, casos dos
antecessores António Januário Leite, Pedro Cardoso e José Lopes. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A poética constante em “Diário” revelou um autor vinculado às tendências
modernistas em voga na Europa. A versificação livre e o seu olhar distanciado
para o cotidiano das ilhas foi carregado de ironia, comum a um jovem branco de
formação europeia, que procurou se envolver com o meio novo ao qual era
(re)apresentado. Destacada sua irreverência quando o sujeito lírico deparou-se
com os ritmos locais: “Vi um batuque/ baque,/ bacanal!/ E fiquei de olhos
cansados/ – pobres selvagens –/ a ver horas e horas/ rolar a mesma dança/
doida...”, ou quando referiu-se à morna: “E a morna/ morna,/ bole/ mole,/ já
velha, sem ser antiga,/ num compasso de cantiga/ sexual.// Reminiscência dum
fado/ que, dançado/ num maxixe,/ tem a tristeza postiça/ dum cansaço.” Com esse
olhar diante do novo que António Pedro transformou esteticamente suas
impressões, sem medos ou fingimentos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Seu olhar de estrangeiro, porém, não ficou imune ao drama da seca: “Ai
árvores ali/ e duras!,... ai!:/ e aqui/ terra queimada/ só.// Bé!,/ o pó/ da
ventania/ sufoca!/... Lá na baía/ ou doca/ ou que é,/ lá do vapor/ parecia/
melhor,/ embora fosse careca/ a terra seca,/ e o sol queimasse/ e adormentasse/
já.// Cá/ há mais do que calor,/ há dor/do sol!”. Também atento às mudanças da
paisagem com a chegada da chuva: “Chuva!,/ chuva que bonda!,/ chuva que tomba/
- bumba!...// Cheiro a chuva que embriaga.../ Chuva que alaga,/ e estraga o mal
do sol.// Esverdinharam-se os montes/ - um poema! -/ ... foi em dois dias/ um
poema...// Eram castanhos os montes/ e as árvores esgalhadas/ e atormentadas,/
e nuas...// Esverdinharam-se as árvores/ e as bordaduras/ das ruas”. Assim como
a observação irônica das relações raciais no arquipélago: “Os brancos daqui/
são mais modestos que os pretos:/ os pretos chamam-se pretos,/ os brancos
chamam-lhes gente daqui,/ e aqui.../ há brancos e pretos...”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O livro “Diário”, de António Pedro, consagrou-o como precursor do
modernismo na literatura cabo-verdiana, a percepção, ainda que distanciada para
os aspectos sociais e culturais do arq<a href="" name="_GoBack"></a>uipélago, trouxe
uma nova guinada e serviu como motivação para os jovens escritores que buscavam
romper com as formas ainda submissas e vinculadas ao colonizador português,
fato que se confirmaria com a revista “Claridade” e poetas como Jorge Barbosa e
Osvaldo Alcântara. Por isso, destacamos a relevância de António Pedro para o
desenvolvimento da mais que secular literatura cabo-verdiana de língua
portuguesa. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">*</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Destacamos a forte presença de Cabo Verde no “VII
Semana da África - Identidades africanas na produção audiovisual em África e na
sua diáspora”, ocorrido em Salvador (Bahia/Brasil) de 20 a 25 de maio. A
literatura fez-se presente com os escritores Filinto Elísio e Joaquim Arena,
também estavam os colaboradores do “A Nação”, Márcia Souto (Uni-CV) e Ricardo
Riso. Souto e Elísio lançaram seus livros “Fenestra” e “Me_xendo no baú”,
respectivamente, durante o evento. Além da presença do Dr. Amarino Queiroz
(UFRN), do Dr. Claudio Alves Furtado (Uni-CV), de António Tavares (coreógrafo)
e dos cineastas Leão Lopes, Pedro Marcelino e César Schofield.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-14073517284303743162013-06-30T03:53:00.002-03:002013-06-30T18:09:01.800-03:00Aimé Césaire e a Negritude (A Nação)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-eIMO-rbmkFA/Uc_Vs4xYS5I/AAAAAAAACKU/iISQV-myHgw/s620/riso+300.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-eIMO-rbmkFA/Uc_Vs4xYS5I/AAAAAAAACKU/iISQV-myHgw/s320/riso+300.jpg" width="247" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><i><br /></i></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><b><i>Aimé
Césaire e a Negritude</i></b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><i><span style="line-height: 150%;">Ricardo Riso</span></i><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><span style="line-height: 150%;">Resenha publicada no semanário cabo-verdiano <b><i>A
Nação</i></b>, n. 300</span><span style="line-height: 150%;">, de </span>30 de maio<span style="line-height: 150%;"> de 2013, p. </span>A28<span style="line-height: 150%;">.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A
Negritude surge como movimento político e cultural a partir da reunião de
intelectuais negros africanos e da diáspora em Paris, França, nos anos 1930.
Esse contato entre negros de diferentes localidades mostra pontos comuns nas
condições adversas que encontram tanto na Europa quanto nos seus países, muitos
ainda sob o colonialismo, o que rapidamente transforma-se na tomada de
consciência racial. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">No
seu momento inicial, os partícipes da Negritude inspiram-se nos ideais
políticos do marxismo e na estética inovadora do surrealismo a favor da
denúncia da opressão sofrida pelos negros no mundo. Várias publicações
sedimentam e revelam a efervescência da época, tais como <i>Légitime Défense</i> em 1932; o jornal <i>L’Etudiant Noir</i> com a participação de Aimé Césaire (Martinica),
Léon G. Damas (Guiana), Leopold S. Senghor (Senegal) são os principais nomes da
Negritude; e da <i>Anthologie de la nouvelle
poésie nègre et malgache de langue française</i> (1948), organizada por
Senghor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A
Negritude escora-se na afirmação identitária negra, atenção para a situação
desigual do negro na diáspora e luta contra o colonialismo, e o ataque de
maneira frontal ao humanismo ocidental. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Aimé
Césaire (1913-2008) utiliza a expressão negritude pela primeira vez, produz uma
série de obras literárias, atua na política e torna-se voz explícita contra o
colonialismo em África, apesar de não ter a mesma postura em relação ao seu
país, a Martinica, talvez a maior contradição de seu pensamento. Para ele, a
Negritude é o simples reconhecimento de ser negro, a aceitação de seu destino,
de sua história, de sua cultura, que depois definiria em identidade (assumir
plenamente a condição de negro), fidelidade (a ligação com a terra-mãe) e
solidariedade (sentimento que liga todos os negros do mundo, a ajudá-los e a
preservar uma identidade comum). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Césaire
marca época quando menciona as contradições do marxismo e dos defensores da
luta de classes. Tal fato evidencia-se na sua ruptura com o Partido Comunista
Francês, na célebre <i>Carta a Maurice
Thorez</i>, de 1956, em que afirma: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Não
é a vontade de lutar a sós ou de desdenhar qualquer aliança. É a vontade de não
confundir aliança com subordinação. Solidariedade com renúncia. (...) O que eu
quero é que o marxismo e o comunismo sejam colocados ao serviço dos povos
negros, e não os povos negros ao serviço do marxismo e do comunismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">No
ano anterior, Césaire escandaliza o Ocidente com o seu virulento <i>Discurso sobre o Colonialismo</i> com
críticas vorazes à civilização europeia:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">que
não perdoa a Hitler não é o <i>crime</i> em
si, <i>o crime contra o homem</i>, não é <i>a humilhação do homem em si</i>, é o crime
contra o homem branco, a humilhação do homem branco e o ter aplicado à Europa
processos colonialistas a que até aqui só os árabes da Argélia, os ‘coolies’ da
Índia e os negros de África estavam subordinados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Em
1987, Miami/EUA, após longo silêncio, Césaire reafirma o caráter humanista da
Negritude e o seu compromisso de revelar as rasuras da história, a validade de
seus ideais: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Nós
somos daqueles que se recusam a esquecer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Nós
somos daqueles que recusam a amnésia mesmo que seja como uma saída.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Ao
longo de sua vida, Césaire demonstra a necessidade de um humanismo que englobe
as diferenças, não os expostos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos,
de 1948, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, mas que mantém o
colonialismo ao redor do mundo.<span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Na
sua vertente literária, vários de seus ideais estão explicitados no livro de
poesia <i>Cahier d’um retour au pays natal</i>,
publicado em 1939 e com versão definitiva em 1956. Neste enorme poema de forte
presença surrealista, Césaire propõe um movimento de exaltação da raça negra, o
orgulho apresenta-se a partir da subversão das conquistas celebradas pelos
modelos brancocêntricos:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas
que estranho orgulho de repente me ilumina?/ (...)Os que não inventaram nem a
pólvora nem a bússola/ os que nunca souberam domar o vapor nem a eletricidade/
os que não exploraram nem os mares nem o céu/ mas aqueles sem os quais a terra
seria a terra/ (...) a terra/ silo onde se preserva e amadurece o que a terra
tem de mais terra/ minha negritude não é uma pedra, sua surdez lançada contra o
clamor do dia/ minha negritude não é uma mancha de água morta sobre o olho
morto da terra/ minha negritude não é uma torre nem uma catedral<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 4cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Com
Aimé Césaire a Negritude ganha a sua expressão mais politizada e radical, a
defesa dos negros e de outro humanismo para todos os povos. Ideologia
revolucionária, a Negritude passa a ser um referencial para os povos oprimidos
do mundo, influenciando, inclusive, os escritores africanos de língua
portuguesa que moram em Portugal e lançam a antologia <i>Poesia negra de expressão portuguesa</i> (1953), organizada por
Francisco José Tenreiro e Mário Pinto de Andrade.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-46864909015039891592013-06-30T03:48:00.000-03:002013-06-30T18:13:24.827-03:00Langston Hughes e o Harlem Renaissance (A Nação)<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b><i><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Langston Hughes e o Harlem Renaissance<o:p></o:p></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Ricardo Riso</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Resenha publicada no semanário cabo-verdiano <b><i>A Nação</i></b>, n. 297, de 9 de
maio de 2013, p. A40.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Movimento
de enorme alcance entre os negros norte-americanos na década de 1920, o Harlem
Renaissance – ou New Negro, ou Black Renaissance – é motivado pelo deslocamento
maciço de negros do sul dos Estados Unidos para as cidades de Chicago e Nova
Iorque, fugindo do racismo explícito e violento do sul do país, ainda
inconformado com o fim da escravidão. No Harlem, bairro nova-iorquino, os
negros deparam-se com um ambiente de menor discriminação racial, favorável para
a valorização e celebração das manifestações culturais e políticas negras, têm
acesso a empregos e tornam a cidade de Nova Iorque a de maior comunidade negra
dos EUA. Esse movimento multicultural busca no “renascimento” do negro a
vontade exacerbada de renovar as artes negras a partir de uma herança
afro-americana. Artes plásticas, teatro, dança, literatura e música encontram o
seu momento de efervescência e da união de talentos como Bessie Smith, Louis
Armstrong e Claude McKay.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Vários
são os livros na década de 1920 que marcam uma nova representação do negro na
literatura e contribuem para combater o preconceito racial. James Mercer
Langston Hughes (1902-1967) é o poeta de maior expressividade do período. Filho
de pai branco e mãe negra é logo reconhecido pela qualidade poética assim que
seus textos passam a ser publicados. Hughes inova ao trazer para a poesia a
oralidade do negro norte-americano, inspira-se nas sonoridades do blues e do
jazz como manifestações genuínas do seu povo e imbui-se da tarefa de ser a voz
capaz de interpretar e revelar o cotidiano dos seus pares. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O
contato com África e Europa a bordo de um navio como camareiro nos primeiros
anos da década de 1920, quando trabalha em subempregos na França, na Itália e
nos Estados Unidos, aumenta sua percepção para os dramas dos negros em contato
com os brancos. Toda essa vivência molda sua poesia com a experiência de ser
negro no mundo. Dessa forma, os poemas percorrem o trajeto da experiência
individual para a coletiva, passam a ser incisivos na defesa de sua etnia e na
denúncia dos problemas enfrentados pelos negros. Para isso, sua poética
desenvolve-se simples como a fala das pessoas dos lugares que convive, dialoga
com os ritmos do blues e do jazz em ascensão na época. O poema “Eu também canto
a América” é representativo dessa nova guinada:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu também canto a América.//
Eu sou o irmão mais escuro./ Eles me mandam comer na cozinha/ Quando chega
visita,/ Mas eu rio,/ E como bem,/ E vou crescendo.// Amanhã,/ Eu me sentarei à
mesa,/ Quando houver visita./ Ninguém se atreverá/ A me dizer.// “Vai comer na
cozinha”,/ Desta vez.// Além disso,/ Eles verão como sou belo/ E ficarão
envergonhados./ Eu, também, sou América.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Neste
poema a <i>blackness</i> reivindica o seu espaço de plena cidadania americana.
O sujeito lírico identifica-se como “o irmão mais escuro” da América e quer
igual tratamento ao enfrentar a segregação assumida. Poema de devir, o uso do
gerúndio – “crescendo” – confirma o desenvolvimento da afirmação identitária; o
tempo futuro demarcado pela aceitação do sujeito, pela ocupação do mesmo
espaço. Agora, ele sabe da sua importância para a construção da América e a
necessidade urgente para uma mudança de postura e de autoafirmação ao se
reconhecer como “belo”, ofensa maior para uma sociedade racista. Com essa
identificação, Hughes atenta a coletividade negra da América e das Américas
para o orgulho negro, para a incontestável participação nas sociedades onde
habitam. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O
Harlem Renaissance perdura com menor intensidade nas duas décadas posteriores
com destaque para os nomes de Richard Wright e Billie Holiday. Porém, o
esplendor dos anos 1920 marca a cultura norte-americana e a dos negros, em
especial. Lugar de redefinição da identidade negra, as trocas do Harlem
Renaissance influenciam gerações de artistas – como as escritoras Alice Walker
e Toni Morisson – e encontram na atuação poética e intelectual de Langston
Hughes um dos seus momentos mais brilhantes.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-56588805524351063492013-06-30T03:44:00.002-03:002013-06-30T18:23:59.208-03:00ODETE COSTA SEMEDO – NO FUNDO DO CANTO (A Nação)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-MFFCcFBZtyo/Uc_TtziHiQI/AAAAAAAACKE/tBQlY7bzWqs/s620/riso+295.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-MFFCcFBZtyo/Uc_TtziHiQI/AAAAAAAACKE/tBQlY7bzWqs/s320/riso+295.jpg" width="247" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">ODETE COSTA SEMEDO – NO FUNDO DO
CANTO</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Ricardo Riso</span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Resenha publicada no semanário cabo-verdiano <b><i>A Nação</i></b>, n. 295, de 25 de
abril de 2013, p. A40.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A Guiné-Bissau é um país de parca produção literária e Odete Costa Semedo
traz uma excelente contribuição para a poesia guineense com o seu livro “No
fundo do canto”, de 2003. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; line-height: 150%;">Após o trauma do sangrento conflito armado entre 07/06/1998 e 07/05/1999,
Semedo utilizou a experiência vivenciada como matéria poética para o
canto-poema de seu livro: é “o desabafo escancarado de uma situação” (SEMEDO,
2007, p. 13) em que o país havia mergulhado por causa dos vários descaminhos
políticos após a independência, em 1974.</span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif;">“No
fundo do canto” trata da história recente do país e do horror da guerra, e, a
partir daí, afirmar a identidade nacional, buscando desconstruir a nação para
reconstruí-la poeticamente. Para isso, Semedo nos introduz na multifacetada
cultura das etnias guineenses, valendo-se do retorno às tradições, do culto aos
antepassados e ao uso constante de vocábulos da língua crioulo que se misturam
ao português.</span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Em
poemas curtos ou longos; ora épicos, ora líricos; o sujeito lírico narra em
primeira pessoa a guerra ou em terceira pessoa descreve fatos e determina
vaticínios. Logo, apreendemos a crescente tensão política do país em quatro
partes que se completam no decorrer da leitura, a saber: “No fundo... no
fundo”, “A história dos trezentos e trinta e três dias”, “Consílio dos irans” e
“Os embrulhos”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Na
primeira parte somos convocados pelo <i>tcholonadur</i>, o mensageiro, que se
autoafirma o intermediário que narrará os acontecimentos: “Não te afastes /
aproxima-te de mim / (...) pede-me que te mostre / o caminho do desassossego /
o canto do sofrimento / porque sou eu o teu mensageiro / (...) vem... /
senta-te que a história não é curta”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O
afastamento da cultura tradicional para que o país se enquadrasse na política
internacional, exigia a modernização da nação em detrimento das promessas da
revolução: “Veio a tecnologia / espreitou / mas não entrou / tropeçou num
buraco / estava escuro / não deu com a entrada / e continuou na rua ao pé da
casa / à espera de luz “. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">“A
história dos trezentos e trinta e três dias” denuncia a agonia dos guineenses
com o cruel conflito. O caos estabelecido pela violência dos militares
nacionais e estrangeiros acompanha o horror da poetisa: “venceram a ganância /
a violência / e o desespero / E nós? / não acredito / no que os meus olhos
vêem”. O vaticínio se cumpriu; os ideais da libertação, minados: “Um mundo de
promessas / foi deixado para trás”. Surge a distopia: “Bissau não quis
acreditar / que estava sendo violada / violentada / adulterada (...) / nua
deitou-se de bruços / para receber chicotadas / para receber açoite”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">No
“Consílio dos Irans”, a convocação das entidades de todas as etnias e
subetnias, seus <i>irans</i> e totens em
rituais, mostra a pluralidade cultural guineense. As linhagens anunciam-se, é
feita a <i>kontrada</i> (grande reunião) com <i>irans</i> (divindades
protetoras) de todas as <i>djorsons</i> (linhagens), porque “há culpados... /
Que não fiquem mudos / nem impunes”. Semedo recorre à religiosidade tradicional
para reconstruir a fragmentada identidade nacional através da identidade
coletiva e procura salvar a nação da guerra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Entretanto,
o rompimento com a exploração se dá quando todas as etnias se unem, ou seja, o
país se recompõe pela reconciliação de seus filhos, sem apoio estrangeiro. A
força dos antepassados e das entidades emerge a nação: “Os irans das djorsons
sentiram / Guiné e Bissau uma só / erguendo-se com vigor / reafirmando sua
força (...) / invocaram todas as energias / do alto às profundezas do mar / e o
chão foi abençoado”.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoBodyText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Depreendemos
após a leitura de “No fundo do canto”, que, Odete Semedo, testemunha do
conflito de 1998/1999, denuncia o horror da guerra, usa a ironia para
desmascarar o discurso da classe dominante e o mal que o neoliberalismo
encoberta. Em seu texto, propõe, através de alegorias e da desconstrução da
realidade do país, a revalorização da multifacetada cultura guineense em favor
da identidade e soberania nacionais. </span><span style="font-family: Times New Roman, serif;"><o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-74361257742108083812013-06-30T03:39:00.000-03:002013-06-30T03:39:02.156-03:00Eulalia Bernard (Costa Rica) (A Nação)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-3WLxZo2tkEU/Uc_SayNuFnI/AAAAAAAACJ0/Zwnr4Um3nUg/s620/riso+293.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-3WLxZo2tkEU/Uc_SayNuFnI/AAAAAAAACJ0/Zwnr4Um3nUg/s320/riso+293.jpg" width="247" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b style="line-height: 150%;"><i><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Eulalia Bernard (Costa Rica)</span></span></i></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><i><span style="line-height: 150%;">Ricardo Riso</span></i><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Resenha publicada no semanário
cabo-verdiano <b><i>A Nação</i></b>, n. 293, de 11 de abril de 2013, p. E21.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">As histórias das nações do continente
americano são marcadas pelo silenciamento da participação dos negros na
construção desses países. Retirados à força da África, a presença negra é
mencionada durante o absurdo da violenta escravidão, depois com os processos de
abolição, porém mantém-se silêncio sepulcral à revolução dos negros escravizados
no Haiti (1804) e posterior expulsão dos colonizadores franceses. Uma
humilhação para europeus e elites coloniais temerosos que uma onda
revolucionária negra expandisse pelas Américas, que legou ao ostracismo para o restante
do mundo a digna revolta antiescravagista liderada por Toussaint Louverture.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O cânone das literaturas americanas participa
desse processo de ocultar os negros tanto nas personagens como na autoria. Em
razão disso, uma das funções do texto literário produzido por negros é o seu
caráter testemunhal, revisitando as rasuras da história, rompendo com os
estereótipos impostos pelo preconceito racial, exigindo o reconhecimento da
dignidade dos negros e da sua contribuição na formação de seus países. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Na Costa Rica, pequeno país da América
Central, não poderia ser diferente e Eulalia Bernard (1935) é um nome que se
impõe ao romper com essa perspectiva. Nascida em Limón, filha de jamaicanos,
professora de literatura, criadora da cátedra de estudos afro-americanos na
Universidade da Costa Rica em 1981.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">“Ritmohéroe” (Editorial Costa Rica, 1982),
livro de estreia desta poetisa negra, a primeira a ter publicação individual no
seu país, procura retratar a peculiar presença dos negros na Costa Rica e os
embates para construir uma identidade costa-riquenha. O prefácio de Quince
Duncan revela que a diáspora negra na Costa Rica começa com a chegada de negros
antilhanos – maioria jamaicanos – para construção de ferrovias ao final do
século XIX. Depois, os negros passam a trabalhar no cultivo da banana. Essa primeira
geração concentra-se na cidade de Limón, comunica-se em inglês e objetiva juntar
economias para retornar à Jamaica. A partir de 1930, o país atravessa grave crise
econômica, o regime fascista impõe o uso do idioma espanhol e força a
assimilação cultural dos negros. A segunda geração relaciona-se com a Jamaica
como um Éden, Limón como sua cidade e que guarda certos valores da cultura
negra. Em 1960, a geração seguinte reage a esse processo, busca suas raízes e a
contribuição dos negros para o país. Desde então esse processo vem sendo
fortalecido pela quarta geração já nos anos 1980, tendo na inserção às
universidades a marca para a disputa de novas epistemologias para pensar a
população negra na Costa Rica.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span lang="ES-CR" style="line-height: 150%;">Na
sua poesia a fé católica surge não como resignação, mas como forma de
questionamento diante das injustiças sociais: “Y el negro rezó/ pero Jesús no
lo oyó/ y el negro rezó/ pero La Virgen no lo vio/ rezó el negro/ el negro
rezó/ (...) el negro no más rezó/ el negro el fusil tomó/ el negro habló y habló/
Jesús lo oyó/ la Virgen lo vio/ con su voz de fusil/ y su estómago de reloj”. </span><span style="line-height: 150%;">A urgência de mudanças apresenta-se na brevidade dos
versos a partir da não manifestação de apoio das figuras bíblicas de Jesus e da
Virgem Maria, que podem ser transpassadas para a indiferença de uma sociedade
calcada na exclusão. Resta à população negra a voz insurgente para a emergência
de seu tempo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">Dentre as marcas culturais dos negros na
Costa Rica, a festa do carnaval é celebrada em alguns poemas como o momento de
liberdade e gozo para os negros: “El Carnaval,/ vamos, veamos los negros
brincar,/ que trabajo no les vamos a dar.// </span><span lang="ES-CR" style="line-height: 150%;">El Carnaval,/ siéntete rey o
reina del mar,/ negro!, es tu única oportunidad”. Realidade comum lá e cá.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">O amadurecimento identitário, o
pertencimento à nação e o mito do paraíso perdido se dá em “Requiem a mi primo
jamaiquino”: “Soy negro del campo,/ del Valle La Estrella./ Soy uma estrella
negra/ em el flamante Blanco, azul y rojo/ de nuestra bandera”. A ruptura com o
motivo edênico da Jamaica para a primeira geração de negros na Costa Rica surge
com a identificação ao novo lugar, ao Valle La Estrela, e com o símbolo
nacional da bandeira. Com isso, na zona de tensão caracterizada o
entrecruzamento cultural aparece no uso da língua para a comunidade de Limón,
ora espanhol, ora inglês, ou no uso do ‘spainenglish’: “Sí Seño;/ soy
costarricense,/ aunque apellidado este/ con ‘insky’, ‘man’, o ‘Le’”. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="line-height: 150%;">É na transgressão da ordem estabelecida
que a poesia de Eulalia Bernard desvela a participação dos negros na formação
identitária costa-riquenha, tendo na ancestralidade do tambor a subversão da
palavra escrita, da religião, da língua. A força da poesia ao ritmo do tambor,
signo marcante da poética negra presente tanto no brasileiro Carlos de
Assumpção quanto no martinicano Aimé Césaire, ou ainda no moçambicano José
Craveirinha: “Mi poesía es um tamborileo. </span><span lang="ES-CR" style="line-height: 150%;">(A veces fuerte) con ritmos
multiplicados por el fervor fuerte./ (...)En mi poesía el tambor es lira y el
ritmo es el soneto. Yo soy la mambo del culto ancestro// Sé decir sí, sé decir
‘yes’. Sé decir lo que quiero en las lenguas que prefiero, con el habla del
tambor./ En mi poesía, cada palabra es un dios. Cada dios es un ritmo, cada
ritmo cópula, cada cópula un canto./ Mi poesía es. Hazte tambor y amarás mi
canto”. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Estes são rápidos momentos da poética de
Eulália Bernard, integrante dessa poética negro-diaspórica que incomoda com
seus deslocamentos estéticos, semânticos, sintáticos, os cânones literários.</span></span><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><o:p></o:p></span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-57378631997450177952013-06-30T03:34:00.001-03:002013-06-30T11:23:36.749-03:00Cruz e Sousa – o negro branco (A Nação)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/--Ye8CNIHYPQ/Uc_RSzJrWqI/AAAAAAAACJk/nc49jTHejvo/s620/riso+289.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/--Ye8CNIHYPQ/Uc_RSzJrWqI/AAAAAAAACJk/nc49jTHejvo/s320/riso+289.jpg" width="247" /></a></div>
<h1 style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: 'Helvetica Neue', Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: small;">Cruz e Sousa – o negro
branco</span></h1>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Ricardo Riso</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Resenha publicada no semanário cabo-verdiano A Nação, n. 289, de 14 de março de 2013, p. E18</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Embora João da Cruz e Sousa seja o maior nome do Simbolismo brasileiro, a
nossa historiografia literária dedicou-lhe uma equivocada atenção ao considerar
seus poemas acríticos a sua condição de negro em um período efervescente da
história brasileira, com o fim da escravidão (1888) e a proclamação da
República (1889). Contra essa história das ausências que uma considerável
fortuna crítica, com destaque para “A consciência do impacto nas obras de Cruz
e Sousa e Lima Barreto”, tese de doutorado de Cuti, vem sendo desenvolvida à
margem do cânone para anular o embranquecimento imposto. Frisa-se que fato
parecido ocorre(u) com a obra de Machado de Assis e o silenciamento da Academia
diante do livro “Machado afrodescendente”, de Eduardo de Assis Duarte. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A biografia “Cruz e Sousa – o negro branco” (São Paulo: Brasiliense,
2003), feita pelo também consagrado poeta Paulo Leminski (1944-1989), contribui
para a dificuldade do cânone em exaltar a genialidade de um negro e que essa
vivência apareça em sua obra. Logo, estranha-se o fato de seu poema
“Emparedado”, em que explicita o ser negro, apenas mais dentre tantos outros
poemas, seja ignorado pela crítica especializada. Afinal, não somos racistas,
escreveu alguém muito importante.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Cruz e Sousa nasceu escravo em 24/11/1861, em Nossa Senhora do Desterro,
estado de Santa Catarina, e morreu* no Rio de Janeiro em 1898. Foi adotado pelos
proprietários de seus pais que lhe deram educação e todos os direitos proibidos
aos negros. O poeta aproveitou-os e destacou-se pela inteligência incomum,
sendo a prova do absurdo das teses racistas do período. A vida de negro no
mundo dos brancos aguçou a consciência dupla escancarada para além das
conversões simbolistas, sua tormenta oriunda do meio em que viveu transformou-se
esteticamente, trazendo para a poesia os conflitos do homem negro emparedado,
castrado no mundo dos brancos, mas sem jamais submeter-se. Seu simbolismo tem a
alvura de Rimbaud e outros, mas é carregado da subversão consciente dos
impedimentos. Ele enegreceu o Simbolismo e forçou os críticos a atentar para a livre
expansão dos signos em imagens viscerais, o que Leminski identificou como
expressionista. Interessante a ousadia de deslocar o cânone para o Poeta do Desterro,
já que o “Expressionismo não existe na história das formas literárias, no
Brasil”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Com isso, célebre o poema “Caveira” no qual a relação das três estrofes
com a gradação do vocábulo caveira e da pontuação exclamativa demonstra as
diferenças fenotípicas – olhos azuis, nariz de linha, boca de curva leve – são
anuladas pela morte. Para Leminski, tem poetas cuja vida é, por si só, um
signo, e elege “a figura de retórica mais adequada para a vida de Cruz e Sousa
é o oxímoro, a figura de ironia, que diz uma coisa dizendo outra”, já presente
no provocante título da obra.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Gratificantes as considerações de Leminski acerca da rejeição dos
literatos brasileiros ao Simbolismo destacando o momento de auge do
Parnasianismo de Olavo Bilac e outros da Casa Grande – o Rio de Janeiro – com
seu egocentrismo e de sentidos corretos, enquanto o Simbolismo desenvolveu-se
em cidades periféricas, e o negro Cruz e Sousa com sua poesia sinestésico-visceral
de destruição e ampliação dos sentidos causava estranheza. Assinala-se a
relevância das múltiplas citações às culturas negras diaspóricas, à
religiosidade negra brasileira, à música negro-poética de Gilberto Gil e Bob
Marley e a referências literárias. Leminski construiu uma biografia alinear,
concisa, de exaltação ao Simbolismo, essa expressão máxima da palavra poética, apresentou
exemplos do uso do aspecto visual e expansão dos signos foram importantes para o
movimento e, sobretudo, a admiração a Cruz e Sousa.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Para concluir, a maneira envolvente como Leminski acrescentou elementos
autobiográficos ao biografado flexionou o conceito de biografia, para além das
diversas referências culturais engrandecendo o texto. O filho de pai polonês e
mãe negra brasileira, esse polaco negro buscou completar-se nesse outro
atormentado – tormentas terríveis vivenciou Leminski – pelo trânsito em dois
mundos, assumindo-se como o outro. E assim encerra:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">“Perfeição só existe na integração / dissolução do sujeito no objeto.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Na tradução do eu no outro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">É por isso que você gostou tanto deste livro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Você, agora, sabe.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Você, eu sou Cruz e Sousa.”<br /><br />----x----</span><br />
<span style="font-family: Arial;">É errônea a informação do local de morte de Cruz e Sousa na biografia feita por Paulo Leminski. O poeta faleceu na cidade de Sítio, estado de Minas Gerais, a 19 de março de 1898.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-30586317639428403612013-06-30T03:28:00.002-03:002013-06-30T03:28:51.178-03:00Arménio Vieira - Metaliteratura em “No Inferno” (A Nação)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-ZI0vEKUa8rA/Uc_QAhGXspI/AAAAAAAACJU/K8YteEXSLlg/s620/riso+287.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-ZI0vEKUa8rA/Uc_QAhGXspI/AAAAAAAACJU/K8YteEXSLlg/s320/riso+287.jpg" width="247" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Metaliteratura em “No Inferno”</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><i>Ricardo Riso</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Resenha publicada no semanário cabo-verdiano <i><b>A Nação</b></i>, n. 287, de 28 de
fevereiro de 2013, p. E18</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Um escritor é
convidado por um mecenas para escrever um romance. Para tal empreitada é
enclausurado em uma casa que possui uma vastíssima biblioteca, mas para ter sua
liberdade de volta, tem um ano para fazê-lo e necessita que esse romance seja
considerado excelente por um júri. Caso este o avalie como uma obra prima, imediata
a libertação. Como alternativa a essas exigências, o escritor pode decifrar
incontáveis códigos de vários cacifos, porém é logo desencorajado em razão do
tempo que pode levar para atingir sua meta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">As condições
inquestionáveis transformam-se no inferno ao qual se encontra o
personagem-narrador-autor deste (não)romance realizado por Arménio Vieira: “No
Inferno” (Praia, Mindelo: Centro Cultural Português, 1999). A obra de Arménio
caracteriza-se pelo esgarçamento das fronteiras literárias comuns ao sistema
literário cabo-verdiano, afastando-se, quando muitas vezes, subvertendo o
legado claridoso, ou melhor, um anticlaridoso como bem apontou José Luis
Hopffer C. Almada. De sua lavra, dentre outros, “Poemas”, “O eleito do Sol” e “MITOgrafias”,
além da participação em jornais e revistas desde os anos 1960. Galardoado com
Prêmio Camões em 2009.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Em “No
Inferno”, Vieira vai ao extremo da metalinguagem ao realizar um “romance” no
qual a maior homenageada é a Literatura, principalmente a ocidental, com
incontáveis referências aos cânones – Homero, Dante, Shakespeare, Rimbaud – e
personagens consagrados ao longo dos anos – Fausto, Godot, Robinson Crusoé,
Romeu, Ulisses –, em uma enorme colcha de retalhos, fragmentos que se fundem,
refundem numa história assaz criativa acerca da condição desesperada de um
escritor, originalmente poeta, para cumprir a sua tarefa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Assinaláveis
as ocorrências de natureza autobiográfica ao longo do texto, a ausência de
memória identitária do narrador-personagem e a maneira habilidosa e envolvente
como o autor conduz o leitor a esse jogo. Por outro lado, da imensa biblioteca
à disposição do personagem surge a surpresa com a lembrança de livros inteiros,
transcrevendo-os. É a ironia, figura de retórica tão característica na obra de
Vieira. A partir daí, a frustração com o que escrever, uma vez que o gênero
romance se esgotou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Delírios
desordenados aparecem em diálogos absurdos aos quais Robinson – que
transmuta-se em Leopold, Romeu, Safo, seja lá quem for – quando desanda a
escrever não cria romances, mas contos, pequenas histórias. A narrativa avança
nas intertextualidades, mas, questiona-se: e o romance, quando começa a
escrevê-lo? Cada vez mais rápida e inusitada segue a narrativa e o leitor à
espera de algo que não acontece. O que, de maneira nenhuma, gera frustração a
quem lê, mas sim satisfação com a inventividade de “(u)m escritor talvez
inconcebível fora de uma literatura-metalinguagem”, em feliz assertiva da
prefaciadora Clara Seabra. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Arménio
Vieira vai ao extremo do que a literatura pode oferecer como revelação do mundo
e de transformar cada um de nós a partir de dentro, como bem afirma Tzvetan
Todorov em “A literatura em perigo” (2010). A literatura pode muito, Vieira
sabe e faz isso muito bem a partir de um imenso – por vezes dá impressão de
inesgotável – repertório, construindo intertextualidades que cairiam fáceis na
pura vaidade e suposta complexidade oca da maioria dos autores contemporâneos.
Entretanto, Arménio não é um escritor narcisista e submete o fazer literário à vanglória.
Sendo assim, consegue estremecer o leitor com uma inesgotável capacidade de
surpreendê-lo a partir de referências díspares, de Walt Disney a Dante, passando
por Goethe, James Dean, Safo e Michael Jackson, e assim alcança uma
metaliteratura com a construção desse envolvente (não)romance “No Inferno”.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Da metáfora
da clausura na ilha à clausura do escritor para escrever, do esgotamento do
romance ou não, Arménio Vieira, como o próprio sinaliza em Nota Prévia, cultiva
o seu jardim, assim como Hemingway, Camus, García-Márquez e Saramago; e conforme
estes, saiu-se muito bem. </span><o:p></o:p></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-78085980040333132422013-06-30T03:24:00.002-03:002013-06-30T03:24:23.707-03:00Lêdo Ivo (A Nação)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-H3QFcp3uoIg/Uc_O17YrKHI/AAAAAAAACJE/qamY8_Jq11c/s620/riso+285.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-H3QFcp3uoIg/Uc_O17YrKHI/AAAAAAAACJE/qamY8_Jq11c/s320/riso+285.jpg" width="247" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b style="line-height: 150%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Lêdo Ivo</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><i>Ricardo Riso</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Resenha publicada no semanário cabo-verdiano <i><b>A Nação</b></i>, n. 285, de 14 de
fevereiro de 2013, p. E14</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">No dia 23/12/2012 encantou-se um dos maiores representantes da literatura
brasileira: o escritor Lêdo Ivo. Nascido a 18/2/1924, em Maceió, Alagoas,
estado do nordeste brasileiro, ficcionista, ensaísta, memorialista, porém
consagrou-se como poeta, Lêdo Ivo integrou a chamada “Geração de 45”. Contudo,
tal definição serviu apenas para demarcar as propostas opositoras dos novos
escritores ao movimento modernista de 1922, com seu coloquialismo, versificação
livre, concentrada temática nacionalista etc., Ainda assim, Lêdo Ivo
apresentou-se indomável desde suas letras seminais, constatada em “Poesia
Completa 1940-2004” (Top Books/Braskem).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A geração de Ivo viu-se diante de enorme desafio, pois a década anterior
havia revelado poetas do porte de Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e
Jorge de Lima. Logo, para Ivo e todos os outros a busca por uma identidade
poética era árdua. Com isso, fortaleceu-se nesses escritores o retorno a um
rigor métrico e formal exigente com o valor estético e a depuração da linguagem,
tendo na poesia de João Cabral de Melo Neto o seu exemplo maior. Lêdo Ivo
correspondeu a esses pressupostos, entretanto, transgressor por natureza,
passeou ora pelo soneto, ora pela versificação desmedida como no poema
“Justificação do Poeta”, do seu livro de estreia, “As imaginações” (1944):
“Pai, meus pensamentos não cabem na tua sala com piano tranquilo a um lado e
escuras cadeiras vazias perto da janela/ meus inquietos pensamentos não cabem
na saleta com flores morrendo nos jarros e paisagens sorrindo nas molduras/
deixa que eles atinjam além das cortinas azuis e caminhem para muito além das
janelas abertas”. A metáfora da paisagem fixa da casa burguesa e do
enfrentamento da figura paterna anunciou uma polifonia que vasculharia os
riscos ilimitados da palavra poética. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Com o passar dos anos, a temática da poesia de Lêdo Ivo concentrou-se em
questões ontológicas e metafísicas, mas jamais abandonado o caráter
memorialista e regionalista, característicos de outros escritores nordestinos,
tais como José Lins do Rêgo e Graciliano Ramos. A transitoriedade da vida
passou a ser uma preocupação constante do poeta, “Felicito-me a mim mesmo por
ser transitório./ Sempre tive medo da eternidade” (p. 262). Navegou do efêmero
ao eterno com furor criativo de quem não tinha temor da folha em branco de
papel: “Vejo o mundo com os olhos feridos pelas estrelas/ e os pulsos queimados
pelas estações” (p. 262). Da sua pena, sem medo, o inefável era o alvo a ser
atingido: “Não quero achar o que os outros perderam (...)/ Ao que ninguém viu,
aspiro; (...)/ Quero, sonho e admiro o inédito (...)/ Não me comove o
irretornável, nem o tempo caído./ Em jogo descoberto, crio minha emoção/ e à
janela contemplo a noite formal/ e eu mesmo sou ogiva aberta aos grandes
astros. (...)/ E sempre adiante busco/ minha paisagem impor-se nas paliçadas
alheias” (p. 266).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Também caminhou por uma poesia mais engajada comum na década de 1960, na
qual teve no seu contemporâneo Ferreira Gullar um dos seus cultores e os textos
inspirados na literatura de cordel quando estava envolvido com o CPC da (UNE).
Ivo com o livro “Estação central” de 1964, ano do início da ditadura militar no
Brasil, mostrou-se sensível aos problemas sociais e ao clima de reivindicação da
época. O poema “Primeira Lição” é um exemplo: “Um dia num muro/ Ivo soletrou/ a
liçã da plebe.// E aprendeu a ver./ Ivo viu a ave?/ Ivo viu o ovo?// Na nova
cartilha/ Ivo viu a greve/ Ivo viu o povo” (p. 437).</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Já no livro “Plenilúnio” (2004), Ivo subverteu Bernardo Soares: “Minha
pátria não é a língua portuguesa./ Nenhuma língua é a pátria. (...)// Ela serve
apenas para que eu celebre a minha grande e pobre pátria muda,/ minha pátria
disentérica e desdentada, sem gramática e sem dicionário, minha pátria sem
língua e sem palavras” (pp. 1027-8). Ou seja, do alto dos 80 anos de idade Lêdo
Ivo não perdeu o vigor de surpreender e de inquietar retinas e mentes inertes.</span></div>
Unknownnoreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-8272640771919243994.post-18339282888717859922013-06-30T03:19:00.002-03:002013-06-30T03:19:56.079-03:00Conceição Lima - Canto obscuro da memória (A Nação)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-MZ0Q9MYfJ80/Uc_N9syQ8JI/AAAAAAAACI8/b1RUwsBSBYw/s620/riso+283.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-MZ0Q9MYfJ80/Uc_N9syQ8JI/AAAAAAAACI8/b1RUwsBSBYw/s320/riso+283.jpg" width="247" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Canto obscuro da memória<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;"><i>Ricardo Riso</i></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: x-small;">Resenha publicada no semanário cabo-verdiano <b><i>A Nação</i></b>, n. 283, de 31 de
janeiro de 2013, p. E14</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Os agentes das
literaturas africanas de língua portuguesa revisitam fatos, reconstroem
acontecimentos, desvelam personagens rasurados pelos anos de colonização e de
uma história escrita por um discurso hegemônico alheio aos interesses dos
colonizados. Com o advento das independências em meados dos anos 1970, essas
literaturas passaram a desenvolver releituras até então silenciadas nos tempos
de antanho. O direito a significar mencionado por Homi Bhabha passa a ser
exercido e o texto literário transforma-se no espaço para tensionar os
apagamentos do passado, oferecendo a possibilidade do direito à memória àquelas
vozes que deveriam sair da subalternidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Evidente que
em uma “nova” ordem a disputa de poder permanece e outras negociações são
realizadas. O ensaísta uruguaio Hugo Achugar destaca que o ato de narrar não é
só para quem quer, mas de quem sabe e possui o direito ao relato, de escolher e
decidir na tensão entre o esquecimento e a memória. Nesse sentido, quando as
instâncias de poder são controladas por homens a voz feminina permanece
excluída. Por isso, que ressaltamos o enorme interesse nas literaturas
produzidas por mulheres, principalmente negras, pois são as vozes que sofrem
maior silenciamento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A obra poética
da são-tomense Conceição Lima (1961) remexe incômodos do passado, estremece a
inércia do presente, inquieta e pressiona para possibilidades de leituras diversificadas
para o futuro por meio de sua linguagem contradiscursiva. Substanciada na
condição feminina, os poemas de São Lima – como é carinhosamente conhecida –
abordam diversos aspectos que angustiam seus conterrâneos e todos que se
indignam com as injustiças impostas aos negros entre outras minorias. Seu livro
“A dolorosa raiz do Micondó” (2011, 2ª ed.), o 2º de três obras, revela o
quanto a poesia feita com esmero pode surpreender e agraciar aos sentidos
indiferentes. Para isso, destaco o longo poema “Canto obscuro às raízes”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Neste poema, o
sujeito poético trata com habilidade um drama para os negros da diáspora: a
origem de seus antepassados africanos. Assim, inspira-se na obra do escritor
afro-americano Alex Haley, autor de “Raízes”, que narra a obsessiva recolha
para reconstruir o caminho feito por seu antepassado forçosamente retirado da
África no século XVII e escravizado nos EUA, “que ao olvido dos arquivos/ e à
memória dos griots Mandinga/ resgatou o caminho para Juffure,/ a aldeia de
Kunta Kinte –/ seu último avô africano/ primeiro na América”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Porém, como
percorrer esse caminho de retorno? Apesar de impor o seu direito à voz, “eu, a
que agora fala”, o sujeito poético transparece a agonia diante da
impossibilidade de reconstruir o percurso de seus antepassados, “não encontrei
em Libreville o caminho para Juffure.// Perdi-me na linearidade das fronteiras”.
Entretanto, ainda que os versos chamem atenção para a incompletude do ser negro,
isso revela a necessidade de negociar a homogeneização autoritária das
narrativas identitárias e das nações que ocultam o passado dos negros
escravizados. É o que Stuart Hall assinala como enormes esforços empreendidos
para a reconstrução das rotas fragmentárias e tornar o invisível visível. “[E]ncontrei
em ti, Libreville, o injusto património a que chamo casa”, revela a memória
fragmentada nessa arena de disputa permanente.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">É com a
emergência desses novos atores sociais que a poesia de Conceição Lima contribui
para combater o esquecimento imposto pelo discurso dominante: “Eu, a peregrina
que não encontrou o caminho para Juffure/ Eu, a nómada que regressará sempre a
Juffure”. A insistência do sujeito poético mostra que a impossibilidade de
reconstruir a origem da população negra na diáspora foi fruto do descaso da
elite hegemônica branca. Não medir esforços para resgatar esses trajetos é colaborar
com esse esquecimento imposto, negando histórias plurais ainda silenciadas pela
manutenção da obscuridade das diferenças, tanto no Brasil quanto em Cabo Verde,
Argentina, Cuba, São Tomé e Príncipe...</span><o:p></o:p></div>
Unknownnoreply@blogger.com0