Cabo Verde completou 32 anos de sua independência no dia 05 de julho, ontem. Daqui celebro a data falando um pouquinho das artes do arquipélago.
Tchalê Figueira é um dos principais nomes da pintura cabo-verdiana na atualidade. Além do relacionamento com pincéis e tintas, Tchalê também atua como poeta, tendo já publicado em poesia “Todos os náufragos do mundo” (1992) e “Onde os sentimentos se encontram” (1998), além de arriscar-se na música, pois adora percussão. É irmão do pintor-poeta Manuel Figueira, outro importante nome da pintura cabo-verdiana que realizou obras de grande apelo durante a luta contra o colonialismo.
Nasceu na ilha de São Vicente, em 1963. Quando estava próximo da idade para o alistamento militar no exército português em 1970, antes da independência colonial, aos dezessete anos Tchalê conseguiu embarcar em um navio rumo à Holanda, seguindo, de certa maneira, o sentimento de evasão que tantas vezes aparece na literatura de seu país em nomes como Jorge Barbosa e Osvaldo Alcântara (Baltasar Lopes). Virou marinheiro e retratou essa experiência no romance “Ptolomeu e a sua viagem de circum-navegação”. Após dois anos vivendo sobre os mares fixou residência na Suíça. Lá, matriculou-se na Escola de Belas-Artes da Basiléia entre os anos de 1976-79, onde aprimorou as técnicas das vanguardas européias.
Dono de um acentuado expressionismo em suas pinturas, percebemos cores e formas da figuração humana descomprometidas com a verossimilhança. Suas cores são saturadas, como que para escandalizar a presença dos seres marginalizados pela sociedade; sua gestualidade alterna momentos de intensa agressividade, fluidez e certa precisão nos traços das faces humanas, que ora remetem às tradicionais máscaras africanas, seja na forma à qual Pablo Picasso se inspirou ou na zoomorfização; e há ausência de rigor na perspectiva acadêmica problematizando a relação figura e fundo, sendo este último geralmente indefinido em vastas áreas em uma paleta reduzidíssima de cores.
A figura humana apresenta formas exageradas, grotescas e toscas em situações eróticas e, às vezes, surreais. Tchalê mostra-nos pinturas que subvertem a representação erótica feminina, pois se apresentam em poses sensuais, porém passam desconforto, são repugnantes tanto pelas cores como pelo tratamento masculinizado dado às mulheres, como podemos notar nas prostitutas de “Tele(come)”. Nesta pintura o artista faz um interessante trabalho com os significados que o título pode demonstrar: o uso do telemóvel (o aparelho de celular como é chamado em Cabo Verde), o nome da operadora de celular no país (Telecom) e a finalidade dos serviços para quem liga.
Trata-se de uma pintura de denúncia a procurar desmascarar a representação das classes menos favorecidas que ambientam a Rua da Praia, local de seu ateliê no Mindelo. São prostitutas, contrabandistas, bandidos, pescadores, artistas, loucos e ociosos em cenas do cotidiano, onde depreendemos a busca incessante do pintor em dar visibilidade e escancarar a condição de desigualdade dessa camada de excluídos da sociedade de sua terra.
Segundo Mário Lúcio Sousa, “A pintura de Tchalê é ficção permanente, nua e crua realidade cotidiana. Surrealismo na esquina. Tchalê trouxe um dos mais importantes elementos estéticos da arte caboverdeana do séc. XX: ele cria personagens, (...) mas que têm a virtude de representar toda a gente, de ditadores a mendigos, de proletário (pobretário é um termo do Tchalê) a apaixonado.”
Tchalê Figueira é um dos principais nomes da pintura cabo-verdiana na atualidade. Além do relacionamento com pincéis e tintas, Tchalê também atua como poeta, tendo já publicado em poesia “Todos os náufragos do mundo” (1992) e “Onde os sentimentos se encontram” (1998), além de arriscar-se na música, pois adora percussão. É irmão do pintor-poeta Manuel Figueira, outro importante nome da pintura cabo-verdiana que realizou obras de grande apelo durante a luta contra o colonialismo.
Nasceu na ilha de São Vicente, em 1963. Quando estava próximo da idade para o alistamento militar no exército português em 1970, antes da independência colonial, aos dezessete anos Tchalê conseguiu embarcar em um navio rumo à Holanda, seguindo, de certa maneira, o sentimento de evasão que tantas vezes aparece na literatura de seu país em nomes como Jorge Barbosa e Osvaldo Alcântara (Baltasar Lopes). Virou marinheiro e retratou essa experiência no romance “Ptolomeu e a sua viagem de circum-navegação”. Após dois anos vivendo sobre os mares fixou residência na Suíça. Lá, matriculou-se na Escola de Belas-Artes da Basiléia entre os anos de 1976-79, onde aprimorou as técnicas das vanguardas européias.
Dono de um acentuado expressionismo em suas pinturas, percebemos cores e formas da figuração humana descomprometidas com a verossimilhança. Suas cores são saturadas, como que para escandalizar a presença dos seres marginalizados pela sociedade; sua gestualidade alterna momentos de intensa agressividade, fluidez e certa precisão nos traços das faces humanas, que ora remetem às tradicionais máscaras africanas, seja na forma à qual Pablo Picasso se inspirou ou na zoomorfização; e há ausência de rigor na perspectiva acadêmica problematizando a relação figura e fundo, sendo este último geralmente indefinido em vastas áreas em uma paleta reduzidíssima de cores.
A figura humana apresenta formas exageradas, grotescas e toscas em situações eróticas e, às vezes, surreais. Tchalê mostra-nos pinturas que subvertem a representação erótica feminina, pois se apresentam em poses sensuais, porém passam desconforto, são repugnantes tanto pelas cores como pelo tratamento masculinizado dado às mulheres, como podemos notar nas prostitutas de “Tele(come)”. Nesta pintura o artista faz um interessante trabalho com os significados que o título pode demonstrar: o uso do telemóvel (o aparelho de celular como é chamado em Cabo Verde), o nome da operadora de celular no país (Telecom) e a finalidade dos serviços para quem liga.
Trata-se de uma pintura de denúncia a procurar desmascarar a representação das classes menos favorecidas que ambientam a Rua da Praia, local de seu ateliê no Mindelo. São prostitutas, contrabandistas, bandidos, pescadores, artistas, loucos e ociosos em cenas do cotidiano, onde depreendemos a busca incessante do pintor em dar visibilidade e escancarar a condição de desigualdade dessa camada de excluídos da sociedade de sua terra.
Segundo Mário Lúcio Sousa, “A pintura de Tchalê é ficção permanente, nua e crua realidade cotidiana. Surrealismo na esquina. Tchalê trouxe um dos mais importantes elementos estéticos da arte caboverdeana do séc. XX: ele cria personagens, (...) mas que têm a virtude de representar toda a gente, de ditadores a mendigos, de proletário (pobretário é um termo do Tchalê) a apaixonado.”
Em sua fase mais recente, o pintor revela-nos pinturas menores, delicadas, com lirismo e simplicidade, descartando o excesso característico de trabalhos anteriores. São pequenas peças, na maior parte em preto e valorizando o branco do papel, com traços ora elegantes a remeter aos desenhos de Henri Matisse.
Um novo caminho que mostra a ousadia que também se apresenta em suas contundentes opiniões, que vão desde os rumos indefinidos da arte caboverdiana aos desajustes sociais, passando pelo despreparo dos governantes do país deste importante pintor contemporâneo e na sua inquietante busca em retratar os seus pares. Assim é a obra de Tchalê Figueira.
Um novo caminho que mostra a ousadia que também se apresenta em suas contundentes opiniões, que vão desde os rumos indefinidos da arte caboverdiana aos desajustes sociais, passando pelo despreparo dos governantes do país deste importante pintor contemporâneo e na sua inquietante busca em retratar os seus pares. Assim é a obra de Tchalê Figueira.
Réplica e Rebeldia: artistas de Angola, Brasil, Cabo Verde e Moçambique. Catálogo da exposição no Museu de Arte Moderna / Rio de Janeiro.
Caputo, Simone. Rostos, gestos, falas, olhares de mulher: o texto literário de autoria feminina em Cabo Verde. In: Marcas da diferença: as literaturas africanas de língua portuguesa. Alameda Casa Editorial. São Paulo, 2006.
Caputo, Simone. A poesia de Cabo Verde: um trajeto identitário. In: Revista Poesia Sempre n° 23. Fundação Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, 2006
Imagens:
Rainha do carnaval. Acrílica s/tela. 250 x 150 cm. 2004.
Bem vinda na bicicleta. Acrílica s/tela. 200 x 150 cm. 2004.
Tele (come). Acrílica s/tela. 200 x 150 cm. 2004.
Com um boy na cama. Acrílica s/tela. 200 x 150 cm. 2004.
Parabéns pelo blog, ficou fabuloso!! Serei frequentadora!
ResponderExcluir** Aguardo pelo rock'n'roll!!!!
Beijos.
Ok. Que legal, volto para mais leituras e comentários.
ResponderExcluirUm abraço do Indico
Obrigado, Lívia!
ResponderExcluirOs comentários sobre rock'n'roll em breve estarão por aqui.
Grande Ouri, logo falarei dos artistas da sua terra.
ResponderExcluirAbraço!
Oi Primo,
ResponderExcluirLegal d+...parabéns e sucesso!
Bjs Paty
Obrigado, prima!!!
ResponderExcluir