quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

L.A.P.A.

Na próxima sexta-feira, dia 25/01, em frente aos Arcos da Lapa, passará o documentário L.A.P.A., de Cavi Borges e Emilio Domingos, dentro da programação do “CINEMA NA RUA – VERÃO 2008. O evento começará às 20h com a apresentação de vários curtas e terminará com o filme do Emilio. A programação completa encontra-se no final deste texto.

Eu tive a oportunidade de assistir ao documentário na 12ª Mostra Internacional do Filme Etnográfico, em novembro de 2007, que agora terá sessão aberta ao público. O documentário retrata como o bairro da Lapa serve de ponto de convergência entre MC’s e rappers de todo o Rio de Janeiro. Além disso, a proposta é mostra o cotidiano, muitas vezes conturbado, desses artistas: onde moram, o que fazem, como ganham a vida, como produzem suas músicas entre outros detalhes.

Estão presentes no documentário nomes de destaque no movimento hip-hop carioca, tais como Black Alien, B Negão, Marcelo D2, MC Macarrão, MC Chapadão, MC Aori e tantos outros que aos trancos e barrancos tentam fazer sua arte. São jovens sem condições financeiras, nascidos em famílias humildes dos subúrbios da cidade maravilhosa, mas que com garra, talento, humor, indignação e revolta procuram expressar o que sentem os garotos excluídos do consumismo imposto pelos meios de comunicação, que sofrem na pele o preconceito da sociedade e convívio diário com a violência policial, e a falta de emprego ou o subemprego, a versão neoliberal do eterno regime escravocrata.

Contundente e impactante é o depoimento de Black Alien, ex-Planet Hemp, ao comentar as artimanhas e manipulação da indústria fonográfica. Um bom tapa na cara para aqueles que acham que no meio artístico tudo é festa, mulheres, drogas e você sairá ileso das garras dos empresários. Para quem não se lembra, o Planet Hemp foi uma das principais bandas dos anos 1990. O Planet escandalizou a mídia ao falar abertamente sobre o uso de drogas, a maconha era o tema principal, o que ocultou um pouco o ótimo cd de estréia, chamado “Usuário”.

Também ex-Planet, B Negão é outro que se afastou dos holofotes da grande mídia e manda o seu recado. O outro Planet é Marcelo D2, hoje uma referência na música do país, que conta com muito humor passagens interessantes do início do movimento carioca ao lado do amigo Skank, já morto.

Já que os rappers têm a palavra como o veículo de informação, o documentário acerta ao não apresentar um narrador, mas sim ao deixar que os próprios artistas se expressem. E como nos surpreendemos com os depoimentos desses griots urbanos. A consciência de que estão fora de um esquema considerado normal e social é escancarada por todos, denunciar as injustiças sofridas no decorrer da vida é a principal inspiração para esses garotos. Sendo assim, apresentam um discurso fora da grande mídia, porém sério, fundamentado, sincero e, por que não?, em alguns momentos, hilário.

Macarrão e MC Funkero, mostram a origem humilde, a vida difícil de quem tem que ralar e muito para sobreviver e ainda assim, cantar e sonhar que um dia vencerão com a música, com a própria arte. E o que conseguiram com o rap é apresentado e mostrado com orgulho e devido agradecimento. Sonho compartilhado por Chapadão, que meses depois apresenta uma nova realidade de dificuldade e mesmo assim, com perseverança e ótimo astral, cria um rap de improviso durante o seu emprego como eletricista.

Ao demonstrar como é o cotidiano desses artistas, tanto nas apresentações como a vida nas casas e trabalhos, o documentário L.A.P.A. marca com imenso interesse, leveza, seriedade e humor como são as pessoas que integram a cultura hip-hop no Rio de Janeiro. Um belo registro desses tempos em que se insiste em mostrar que favela e subúrbio só tem miséria, tráfico e violência, e só uma tropa de elite para contê-los.

L.A.P.A. mostra que há vida inteligente, pessoas honestas e conscientes que buscam de alguma forma apresentar que o destino de um jovem pobre não é na boca-de-fumo ou ser morto por tiros antes de completar 25 anos. O grande mérito de L.A.P.A. é mostrar que ainda há esperança, e ela jamais morrerá. Vale a pena conferir!

Aqui deixo meus parabéns ao meu amigo Emilio, o DJ Saenz Peña da festa Phunk!, parceiro para qualquer parada desde os tempos da adolescência, IFCS/UFRJ...

Todo o sucesso do mundo para você, brother!!!

Riso
22/01/2008

CINEMA NA RUA - VERÃO 2008.
Um mix de exibições de filmes, free-styles, pré-lançamentos, rap. Nos arcos da lapa, com um telão de 8X18 mostrando nossas queridas e apreciadas produções.
Dia 25 de janeiro, a partir das 20h nos Arcos da Lapa. Gratuito

filmes:
20h
. CORUJA de Simplício Neto e Márcia Derraik;
. SETE MINUTOS de Cavi Borges, Paulo Silva e Júlio Pecly;
. O LOBINHO NUNCA MENTE de Ian SBF;
. O FILME DO FILME ROUBADO DO ROUBO DA LOJA DE FILMES de Marcelo Yuka, Paulo
Silva e Júlio Pecly;
. AFINAÇÃO DA INTERIORIDADE de Roberto Berliner;
. PRETINHO BABYLON de Emílio Domingos e Cavi Borges;
22h
. PRÉ-ESTRÉIA - PRETÉRITO PERFEITO de Gustavo Pizzi
23:30h
. PRÉ-ESTRÉIA - L.A.P.A de Cavi Borges e Emílio Domingos

Entre as sessões intervenções sonoras com "bastardos" e participação especial de MC Ramon.
FECHANDO O EVENTO: pocket- show com INUMANOS, MARECHAL, FUNKERO, IKY, CHAPADÃO.

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