A maior exposição realizada na América Latina sobre a obra de Marcel Duchamp - MARCEL DUCHAMP: uma obra que não é uma obra “de arte” - ficará exposta no Museu de Arte Moderna de São Paulo ( http://www.mam.org.br/ ) até o dia 21 de setembro de 2008.
Infelizmente, a curadoria da exposição não elaborou material especial para o site do MAM. Fato comum quando há uma grande retrospectiva de algum artista nas principais instituições do mundo. Basta acessarmos os belos trabalhos realizados pelo Museu do Brooklin, quando da fantástica retrospectiva de Jean-Michel Basquiat, Street to Studio: Jean-Michel Basquiat at Brooklin Museum ( http://www.brooklynmuseum.org/exhibitions/basquiat/street-to-studio/ ) , e a maior retrospectiva de Hélio Oiticica já realizada, chamada Hélio Oiticica – The body of colour ( http://www.tate.org.uk/modern/exhibitions/heliooiticica/default.shtm ) , na Tate.
Como vemos, perde-se uma ótima oportunidade em popularizar e romper os estereótipos acerca da obra de Duchamp e, conseqüentemente, da arte contemporânea.
A seguir, um texto que fiz na minha época de estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, a respeito dos ready-made de Marcel Duchamp.
Ricardo Riso
Marcel Duchamp, o indiferente
Falar sobre Marcel Duchamp é falar da obra que é a negação da noção de obra. Suas pinturas não eram imagens, mas uma reflexão sobre a imagem. Ele não procurava fazer a pintura-pintura, mas a pintura-idéia. Essa negação à pintura vinha do que ele chamava de sensações olfativa (terebentina) e retiniana (visual). Na negação ele incorporava o título da obra como fator determinante numa pintura, que pretendia ir além da pintura retiniana.
Duchamp não queria ficar preso a uma pintura manual e visual, ele queria ser um pintor de idéias. Com a inserção do texto, do verbo, busca a linguagem que é de ordem intelectual, sendo a melhor maneira de criar significados e, também, destruí-los em obras.
Devemos pensar na obra de Duchamp como a obra das idéias, na qual procurava reduzir as funções do objeto, atingir a questão da indiferença, quebrar a idéia de beleza, ou seja, uma beleza livre da noção de beleza. Agarrava-se às idéias e incorporava-as à ironia.
Duchamp dava tanta importância à linguagem que nos títulos de algumas obras procurava confrontar palavras com sons semelhantes, porém de sentidos diferentes e encontrar nelas uma ponte verbal, tudo com ironia associada à experiência plástica.
A respeito dos ready-made, cito o crítico Octavio Paz: "Os ready-made são objetos anônimos que o gesto gratuito do artista, pelo único fato de escolhê-los, converte em obra de arte. Ao mesmo tempo esse gesto dissolve a noção de obra. A contradição é a essência do ato; é o equivalente plástico do jogo das palavras: este destrói o significado, aquele a idéia de valor. Os ready-made não são antiarte, (...), mas a-rtísticos."1
Vemos que o seu interesse não é plástico, mas crítico ou filosófico. Então ele diz: "Seria estúpido discutir sobre a sua beleza ou feiúra, tanto porque estão mais além da beleza e da feiúra como porque não são obras, mas signos de interrogação ou de negação adiante das obras."2
Duchamp demonstra que o ready-made é uma crítica ao gosto e ànoção de obra de arte. Ele quer provar que o ready-made é uma crítica àquela idéia de arte retiniana, pois nesta arte os seus significados são, na verdade, insignificantes (impressões, sensações). Com o ready-made, ele quer a não-significação, a neutralidade, por isso o não há compromisso com o que é belo, bonito, agradável. O objeto tem que ser neutro.
Ele dizia que os ready-made não eram feitos com freqüência para não caírem na tentação do gosto. E é neste ponto, creio, que Duchamp e seus ready-made são equivocadamente interpretados.
Porque fora do seu contexto, os objetos perdem os seus significados, tendem ao vazio, e a ironia seria o grande aliado para manter a neutralidade buscada por Duchamp. Para o artista que quer criar um ready-made, é necessário manter um distanciamento em relação ao objeto que será um ready-made. O artista não deve escolhê-lo pelo gosto. O artista escolhe um objeto que tem um nome, logo, um significado. A partir daí, ele começa a jogar, como, por exemplo, um porta-garrafas sem garrafas. Ele quer tirar o objeto do seu significado, ele quer a negação de sua função.
Dessa forma, temos duas negações: a primeira, a noção de obra de arte e, a segunda seria a negação do objeto, tornando-o nulo, inútil. Por isso, o ready-made tem que ser neutro para poder virar obra. Reafirmo, é no conceito de ready-made que Duchamp é interpretado erroneamente porque obriga o artista a ser totalmente desinteressado pelo objeto que pretende sê-lo.
Para entendermos melhor, cito o próprio Duchamp: "O grande problema era o ato de escolher. Tinha que eleger um objeto sem que este me impressionasse e sem a menor intervenção, dentro do possível, de qualquer idéia ou propósito de deleite estético. Era necessário reduzir o meu gosto pessoal a zero. É dificílimo escolher um que não nos interesse absolutamente, e não só no dia em que o elegemos mas para sempre e que, por fim, não tenha a possibilidade de tornar-se algo belo, agradável ou feio."3
Portanto, é extremamente complicado pensarmos em criar algo em que a finalidade seja a não-contemplação, a indiferença. Duchamp chamava a isso de Beleza da Indiferença, ou seja, a liberdade.
Riso
29 de setembro de 2005
1. Paz, Octavio. Marcel Duchamp ou o castelo da pureza. Ed. Perspectiva. Pág. 23.
2. Paz, Octavio. Marcel Duchamp ou o castelo da pureza. Ed. Perspectiva. Pág. 23.
3. Paz, Octavio. Marcel Duchamp ou o castelo da pureza. Ed. Perspectiva. Pág. 29.
Infelizmente, a curadoria da exposição não elaborou material especial para o site do MAM. Fato comum quando há uma grande retrospectiva de algum artista nas principais instituições do mundo. Basta acessarmos os belos trabalhos realizados pelo Museu do Brooklin, quando da fantástica retrospectiva de Jean-Michel Basquiat, Street to Studio: Jean-Michel Basquiat at Brooklin Museum ( http://www.brooklynmuseum.org/exhibitions/basquiat/street-to-studio/ ) , e a maior retrospectiva de Hélio Oiticica já realizada, chamada Hélio Oiticica – The body of colour ( http://www.tate.org.uk/modern/exhibitions/heliooiticica/default.shtm ) , na Tate.
Como vemos, perde-se uma ótima oportunidade em popularizar e romper os estereótipos acerca da obra de Duchamp e, conseqüentemente, da arte contemporânea.
A seguir, um texto que fiz na minha época de estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, a respeito dos ready-made de Marcel Duchamp.
Ricardo Riso
Marcel Duchamp, o indiferente
Falar sobre Marcel Duchamp é falar da obra que é a negação da noção de obra. Suas pinturas não eram imagens, mas uma reflexão sobre a imagem. Ele não procurava fazer a pintura-pintura, mas a pintura-idéia. Essa negação à pintura vinha do que ele chamava de sensações olfativa (terebentina) e retiniana (visual). Na negação ele incorporava o título da obra como fator determinante numa pintura, que pretendia ir além da pintura retiniana.
Duchamp não queria ficar preso a uma pintura manual e visual, ele queria ser um pintor de idéias. Com a inserção do texto, do verbo, busca a linguagem que é de ordem intelectual, sendo a melhor maneira de criar significados e, também, destruí-los em obras.
Devemos pensar na obra de Duchamp como a obra das idéias, na qual procurava reduzir as funções do objeto, atingir a questão da indiferença, quebrar a idéia de beleza, ou seja, uma beleza livre da noção de beleza. Agarrava-se às idéias e incorporava-as à ironia.
Duchamp dava tanta importância à linguagem que nos títulos de algumas obras procurava confrontar palavras com sons semelhantes, porém de sentidos diferentes e encontrar nelas uma ponte verbal, tudo com ironia associada à experiência plástica.
A respeito dos ready-made, cito o crítico Octavio Paz: "Os ready-made são objetos anônimos que o gesto gratuito do artista, pelo único fato de escolhê-los, converte em obra de arte. Ao mesmo tempo esse gesto dissolve a noção de obra. A contradição é a essência do ato; é o equivalente plástico do jogo das palavras: este destrói o significado, aquele a idéia de valor. Os ready-made não são antiarte, (...), mas a-rtísticos."1
Vemos que o seu interesse não é plástico, mas crítico ou filosófico. Então ele diz: "Seria estúpido discutir sobre a sua beleza ou feiúra, tanto porque estão mais além da beleza e da feiúra como porque não são obras, mas signos de interrogação ou de negação adiante das obras."2
Duchamp demonstra que o ready-made é uma crítica ao gosto e ànoção de obra de arte. Ele quer provar que o ready-made é uma crítica àquela idéia de arte retiniana, pois nesta arte os seus significados são, na verdade, insignificantes (impressões, sensações). Com o ready-made, ele quer a não-significação, a neutralidade, por isso o não há compromisso com o que é belo, bonito, agradável. O objeto tem que ser neutro.
Ele dizia que os ready-made não eram feitos com freqüência para não caírem na tentação do gosto. E é neste ponto, creio, que Duchamp e seus ready-made são equivocadamente interpretados.
Porque fora do seu contexto, os objetos perdem os seus significados, tendem ao vazio, e a ironia seria o grande aliado para manter a neutralidade buscada por Duchamp. Para o artista que quer criar um ready-made, é necessário manter um distanciamento em relação ao objeto que será um ready-made. O artista não deve escolhê-lo pelo gosto. O artista escolhe um objeto que tem um nome, logo, um significado. A partir daí, ele começa a jogar, como, por exemplo, um porta-garrafas sem garrafas. Ele quer tirar o objeto do seu significado, ele quer a negação de sua função.
Dessa forma, temos duas negações: a primeira, a noção de obra de arte e, a segunda seria a negação do objeto, tornando-o nulo, inútil. Por isso, o ready-made tem que ser neutro para poder virar obra. Reafirmo, é no conceito de ready-made que Duchamp é interpretado erroneamente porque obriga o artista a ser totalmente desinteressado pelo objeto que pretende sê-lo.
Para entendermos melhor, cito o próprio Duchamp: "O grande problema era o ato de escolher. Tinha que eleger um objeto sem que este me impressionasse e sem a menor intervenção, dentro do possível, de qualquer idéia ou propósito de deleite estético. Era necessário reduzir o meu gosto pessoal a zero. É dificílimo escolher um que não nos interesse absolutamente, e não só no dia em que o elegemos mas para sempre e que, por fim, não tenha a possibilidade de tornar-se algo belo, agradável ou feio."3
Portanto, é extremamente complicado pensarmos em criar algo em que a finalidade seja a não-contemplação, a indiferença. Duchamp chamava a isso de Beleza da Indiferença, ou seja, a liberdade.
Riso
29 de setembro de 2005
1. Paz, Octavio. Marcel Duchamp ou o castelo da pureza. Ed. Perspectiva. Pág. 23.
2. Paz, Octavio. Marcel Duchamp ou o castelo da pureza. Ed. Perspectiva. Pág. 23.
3. Paz, Octavio. Marcel Duchamp ou o castelo da pureza. Ed. Perspectiva. Pág. 29.
Nota:
Para quem quiser conhecer um pouco mais de Marcel Duchamp, clique no link abaixo da revista Bravo!
http://bravonline.abril.com.br/artes_duchamp.shtml
Para quem quiser conhecer um pouco mais de Marcel Duchamp, clique no link abaixo da revista Bravo!
http://bravonline.abril.com.br/artes_duchamp.shtml
OI SOU ISABELA -ARTISTA- ESTUDANTE,APRECIO MUITO SUA ARTE,PRINCIPALMENTE POR QUE SUA FORMA DE EXPRESSAR-SE É INCRÍVEL,PERMITA-ME DIZER QUE SUA EXPOSIÇAO DE UM MICTÓRIO NÃO SEI SE VOCE SE RECORDA,MAS FOI DEMAIS É BEM READY-MADE ESTA OBRA ,SEU TRABALHO É BEM APRECIADO ACRE3DITE.
ResponderExcluirBom, parece-me que vc estava se referindo ao Marcel Duchamp... até aí tudo bem.
ResponderExcluirobrigado pela visita.
bj!