Acabo de receber o texto e algumas imagens de pinturas recentes do artista plástico e escritor cabo-verdiano Tchalê Figueira. Segundo ele, trata-se de "um texto poético quase autobiográfico".
Aqui compartilho com vocês.
Abraços,
Ricardo Riso
Biográfica viagem
Lá longe de aquilo que eu e o Mundo sabe é o vazio. A especulação das estrelas, as palavras. Sempre as palavras! A candeia e a bengala, o sustento do efémero, borboletas desfazendo em cinzas. Sementeira nos campos: Algumas perdidas pela secura da alma, outras iluminadas pelo incêndio do peito, tal mulher casa da primavera. Neste monte verde uma grinalda de névoa entra pelas minhas narinas, penso nos meus mortos que frios jazem em catedrais olvidados e, no meu eu, a luz herdada dos seus candelabros de sabedoria. Com meu cajado de plumas e um mar imenso de pensamentos a águia voa, meus pés descalços sentem a renda dos massa pés, modelando trilhos na ilha. Lembro-me dos teus ombros que beijo e torno a beijar cem vezes cem, ou equação infinita na tábua de ébano dos teus olhos. Borboletas, pássaros, flores, e meus dedos apontando uma lua coralina, que repousa entre os vales dos teus formosos seios. O quarto, a mesa onde divido o pão e escrevo. Invento palavras cortantes como a espada da morte, também o sabor a mel que corre na linha das minhas ideias. Colheitas armazenadas na electricidade do meu crânio iluminado, insectos coloridos com sangue, sobrevoando o lago das minhas incertezas. A casa febril arde, papoilas suspensas na seara, o invisível ar que respiro, a profundidade no oceano das palavras que sondo. Respirar de cavalo sem freio, a tristeza o amor e a morte, corrente marítima, veleiro navegando na borrasca, minha solidão sem beijos… Romarias e suor, repicam-se tambores nas ilhas. Santos por um dia pelas ruas caminham, dos seus sexos bátegas de chuva regando acácias com seus ramos de navalhas apontadas para a lua. O povo canta, a cortina da mingua num tocar de corpos desvanece no vermelho da terra e, ressuscitado por um segundo, Cristo com um panfleto de luz, grita aos homens: Amai uns aos outros, irmãos!... Igrejas. Mesquitas, sinagogas, templos iluminados, dogmas e mártires, artilheiros da fé, mentes flageladas pela cegueira do verbo: Meu corpo é meu templo, são beijos de libelinhas, pairando num regato de cantigas… Violinos, liras, harpas, violoncelos na rua dos tímpanos repousam – Os sentidos orquestram a harmonia do dialogo, e, sentado na raiz milenária de um dragoeiro, oiço o cristal da música embalando meu peito grande. Cintilam estrelas de branco veludo, neste universo sem fim… Violáceo poente, jardim dos meus olhos, quente vermelho, caminho leve, varanda nas pálpebras, minhas pestanas pintando oceanos, as cores, a luz, a sombra e o brilho. – Sem Luz!... Não há espaço nem tempo!... Passa um moscardo, regresso a infância bem longe… Foram tantas, mas algumas pelo caminho as perdi… Daguerreótipos depositados no armário das minhas lembranças: Singapura!... Trinta moedas, três maços de Chesterfield, meu coito triste, órfão do mundo, e, mais mar a fora, a ilha dos sonhos, paraíso perdido que a vida anseia. Rosa-dos-ventos, barco do corpo horizonte de tigres, homens – a – vista!... Será este meu porto seguro?... Teria que encontrar-te de novo, oh musa perdida!... Tu que comigo ao agro foste, escutar a fresca erva crescendo… Planície verde, ausência de espelhos, abominável objecto de vaidades múltiplas, imagem negra no pós Outono da vida, rugas no coração, homens na plástica, olhos rasgados orbitam sem brilho, a morte que nunca avisa quando vem jantar! … Bandeiras, estandartes, suásticas, soldados, guerreiros marchando, gritam ao tirano: Ave César! Morttituris ti Salutem … Bestas teleguiadas colocando ovos no útero do Mundo. Selvas ardendo, mães sem sorriso, águias apunhaladas no voo do Poeta! Mas, o Poeta, feito pássaro que renasce das cinzas inventa palavras, iluminam-se livros, estes templos sagrados de divina sabedoria… Mãos em chama, fogo da aurora, nasce a palavra, longos dias eternas noites… Ele, Sussurrando pergunta: São verdes os teus olhos, ou são azuis, como a fina linha do mar que vem dar a costa dos meus sonhos?... Oh salamandra dourada, fogueira viva, estrada escarlate! Minhas artérias são rios de sangue, palavras em meus lábios, cotovelos dobrados, rezo a beleza. Fénix renasce, música celestial, partitura divina, divino escuto Beethoven… ( Freude Godes Funkel aus Ellisium) movimento de batuta solar, música infinita… E eis que escrevo este poema aos meus amigos vivos e mortos. Mortos nas suas frias lápides, carrego-os no cadinho da vida… A vela cintila, uma brisa fugaz entra e sai pela janela das persianas verdes… A cor dos teus olhos não é?... Ou!... Serão azuis?... negros?... castanhos?... Amo-te com todas as cores mulher vindima, uva que etiliza meu veleiro de mastro firme. Sou capitão, marinheiro de velas soltas nas vagas do teu pão que como e ofereço-te a comer… Leite, manga, nuvens, crianças, lua, a imensidão do peito, ajoelhado beijo teus lábios em flor… Semente da terra, origem da vida, convexa prenhez, planta que nasce, festejamos a vida, com cavaquinhos e violões, a navalha que corta o fio, entre a mãe e a cria, primavera em brilho, sorrisos marfim, catedrais de ébano, bocas vermelhas, belos os seus rostos, rendas de Holanda, mesas coloridas, iguarias crioulas, manjares e bailes, papilas gustativas, o céu da boca, malagueta e melaço, cana – de – açúcar, o grogue que embriaga nossas alegrias, também as nossas tristezas… Pernas pintadas, pó de terreiros saracoteando, juventude firme, corpos de basalto, seus sexos cheirosos, coxas ritmadas em transe bailando, astros que queimam o circulo das saias, carcelas em fogo, suspiros na noite, lua bem clara, cama de amantes, tamarindo gemendo, flores no quintal, coito efémero, nada eterno, transita o tempo, La nave vá… Ofídia fria, inverno sem luz, os dias, as noites, manto de espinhos, sem água no poço o corpo morre, pálpebras exaustas, guerra dos homens, o frio mármore, almas cortadas, sangue inocente, borrem-se estrelas, lábios sem rega, sede de viver… Moedas que corrompem, de fel é a seiva, vida quebrada, peçonha no cálice, vinho corrompido, falsas abençoas, traqueia que rasga, afónica é a lira, velas e velórios, estrelas extintas, caule quebrado, dedos partidos, canetas ardendo, escritas sangrando, frios revólveres suicidando sonhos… A luz da vida, o dia que renasce!... Montanha curva, ventre de mulher, parto feliz, a vida, relâmpagos no céu, voam os dias, soltam-se amarras, nas veias o sangue, meu corpo nu, multiplicação de anjos, orações divinas, atiçam-se lareiras, meu cérebro descansa, a morte fica, para um outro dia… Desço a corrente num barco de seda, meus gestos, tuas mamas, teu cabelo azeviche, floresta de crinas, teus olhos que brilham, jardim dos sentidos, os sinos que tocam, torre ardendo, meu pénis duro, tua concha em flor, teu desejo molhado, minha língua solar, curvas na púbis, jardim de jasmim, mariposas e pétalas, teu profundo olhar que entoa música… Trompetes e tambores, violas de amor, polifonia alegre, montes castanhos, braços e dedos, palma das mãos, rezam-se terços, Cristo bailando, crianças no baile, pura inocência, coroa sem espinhos, ilhas vulcânicas, negro basalto, rosas do mar… Maria, Joana, Bia, Teresa, rebolam-se coxas num abrasado suor, frenesi musical, cursos de água, rostos de negros, índios e brancos, nascimento das ilhas, ancoradouros e portos, casa de marinheiros, desflora dores de santas, a sal, o azeite a cruz e os santos, bordéis nas esquinas, gemem-se janelas, canto de sereias, tatuagens carminas, capitães de Posídon, filhos do mundo, abandonaram-nos no mar, tanta saudade, nos dias renascemos para bem morrer… O rugir do mar, um leque de pranto, terra rasgada, lua serena, cantamos a desgraça, da sombreada vida, aves queimadas, tombam-se estrelas, neste céu sem fim, lágrimas e dor, dédalo sem êxito, labirinto oceânico, oh esperança!!!!!... Buda renasce, crio caminhos, biliões de lanternas, são pirilampos, lótus da vida, flores no trilho, ascendo da ilha até as estrelas, a visão do cosmos, meu universo, sou a candeia do meu caminho… Formam-se clarões, repicam-se sinos. Tocam-se tambores nos vales das ilha, colares de pássaros, flautas marítimas, pernas que brilham, seda é a derme, corpos de cristal, incenso de mulheres, fogueira eterna, cálice que aflui, sangue menstrual, fecunda roseira, mulher sagrada, lança e arado, meto a semente. Flor de espiga, milheiral no vento, peixes e pérolas, mãos dos teus braços, coluna vertebral, pose de rainha, electricidade no ar, horóscopo e oráculos, destinos escritos, infinitamente juntos, possibilidades possíveis, finito, perene, despedidas e encontros, a vida a morte. Naufrágios do mundo, a imensidão do mar… Aqui chegaram, novo mundo criaram…
Lá longe de aquilo que eu e o Mundo sabe é o vazio. A especulação das estrelas, as palavras. Sempre as palavras! A candeia e a bengala, o sustento do efémero, borboletas desfazendo em cinzas. Sementeira nos campos: Algumas perdidas pela secura da alma, outras iluminadas pelo incêndio do peito, tal mulher casa da primavera. Neste monte verde uma grinalda de névoa entra pelas minhas narinas, penso nos meus mortos que frios jazem em catedrais olvidados e, no meu eu, a luz herdada dos seus candelabros de sabedoria. Com meu cajado de plumas e um mar imenso de pensamentos a águia voa, meus pés descalços sentem a renda dos massa pés, modelando trilhos na ilha. Lembro-me dos teus ombros que beijo e torno a beijar cem vezes cem, ou equação infinita na tábua de ébano dos teus olhos. Borboletas, pássaros, flores, e meus dedos apontando uma lua coralina, que repousa entre os vales dos teus formosos seios. O quarto, a mesa onde divido o pão e escrevo. Invento palavras cortantes como a espada da morte, também o sabor a mel que corre na linha das minhas ideias. Colheitas armazenadas na electricidade do meu crânio iluminado, insectos coloridos com sangue, sobrevoando o lago das minhas incertezas. A casa febril arde, papoilas suspensas na seara, o invisível ar que respiro, a profundidade no oceano das palavras que sondo. Respirar de cavalo sem freio, a tristeza o amor e a morte, corrente marítima, veleiro navegando na borrasca, minha solidão sem beijos… Romarias e suor, repicam-se tambores nas ilhas. Santos por um dia pelas ruas caminham, dos seus sexos bátegas de chuva regando acácias com seus ramos de navalhas apontadas para a lua. O povo canta, a cortina da mingua num tocar de corpos desvanece no vermelho da terra e, ressuscitado por um segundo, Cristo com um panfleto de luz, grita aos homens: Amai uns aos outros, irmãos!... Igrejas. Mesquitas, sinagogas, templos iluminados, dogmas e mártires, artilheiros da fé, mentes flageladas pela cegueira do verbo: Meu corpo é meu templo, são beijos de libelinhas, pairando num regato de cantigas… Violinos, liras, harpas, violoncelos na rua dos tímpanos repousam – Os sentidos orquestram a harmonia do dialogo, e, sentado na raiz milenária de um dragoeiro, oiço o cristal da música embalando meu peito grande. Cintilam estrelas de branco veludo, neste universo sem fim… Violáceo poente, jardim dos meus olhos, quente vermelho, caminho leve, varanda nas pálpebras, minhas pestanas pintando oceanos, as cores, a luz, a sombra e o brilho. – Sem Luz!... Não há espaço nem tempo!... Passa um moscardo, regresso a infância bem longe… Foram tantas, mas algumas pelo caminho as perdi… Daguerreótipos depositados no armário das minhas lembranças: Singapura!... Trinta moedas, três maços de Chesterfield, meu coito triste, órfão do mundo, e, mais mar a fora, a ilha dos sonhos, paraíso perdido que a vida anseia. Rosa-dos-ventos, barco do corpo horizonte de tigres, homens – a – vista!... Será este meu porto seguro?... Teria que encontrar-te de novo, oh musa perdida!... Tu que comigo ao agro foste, escutar a fresca erva crescendo… Planície verde, ausência de espelhos, abominável objecto de vaidades múltiplas, imagem negra no pós Outono da vida, rugas no coração, homens na plástica, olhos rasgados orbitam sem brilho, a morte que nunca avisa quando vem jantar! … Bandeiras, estandartes, suásticas, soldados, guerreiros marchando, gritam ao tirano: Ave César! Morttituris ti Salutem … Bestas teleguiadas colocando ovos no útero do Mundo. Selvas ardendo, mães sem sorriso, águias apunhaladas no voo do Poeta! Mas, o Poeta, feito pássaro que renasce das cinzas inventa palavras, iluminam-se livros, estes templos sagrados de divina sabedoria… Mãos em chama, fogo da aurora, nasce a palavra, longos dias eternas noites… Ele, Sussurrando pergunta: São verdes os teus olhos, ou são azuis, como a fina linha do mar que vem dar a costa dos meus sonhos?... Oh salamandra dourada, fogueira viva, estrada escarlate! Minhas artérias são rios de sangue, palavras em meus lábios, cotovelos dobrados, rezo a beleza. Fénix renasce, música celestial, partitura divina, divino escuto Beethoven… ( Freude Godes Funkel aus Ellisium) movimento de batuta solar, música infinita… E eis que escrevo este poema aos meus amigos vivos e mortos. Mortos nas suas frias lápides, carrego-os no cadinho da vida… A vela cintila, uma brisa fugaz entra e sai pela janela das persianas verdes… A cor dos teus olhos não é?... Ou!... Serão azuis?... negros?... castanhos?... Amo-te com todas as cores mulher vindima, uva que etiliza meu veleiro de mastro firme. Sou capitão, marinheiro de velas soltas nas vagas do teu pão que como e ofereço-te a comer… Leite, manga, nuvens, crianças, lua, a imensidão do peito, ajoelhado beijo teus lábios em flor… Semente da terra, origem da vida, convexa prenhez, planta que nasce, festejamos a vida, com cavaquinhos e violões, a navalha que corta o fio, entre a mãe e a cria, primavera em brilho, sorrisos marfim, catedrais de ébano, bocas vermelhas, belos os seus rostos, rendas de Holanda, mesas coloridas, iguarias crioulas, manjares e bailes, papilas gustativas, o céu da boca, malagueta e melaço, cana – de – açúcar, o grogue que embriaga nossas alegrias, também as nossas tristezas… Pernas pintadas, pó de terreiros saracoteando, juventude firme, corpos de basalto, seus sexos cheirosos, coxas ritmadas em transe bailando, astros que queimam o circulo das saias, carcelas em fogo, suspiros na noite, lua bem clara, cama de amantes, tamarindo gemendo, flores no quintal, coito efémero, nada eterno, transita o tempo, La nave vá… Ofídia fria, inverno sem luz, os dias, as noites, manto de espinhos, sem água no poço o corpo morre, pálpebras exaustas, guerra dos homens, o frio mármore, almas cortadas, sangue inocente, borrem-se estrelas, lábios sem rega, sede de viver… Moedas que corrompem, de fel é a seiva, vida quebrada, peçonha no cálice, vinho corrompido, falsas abençoas, traqueia que rasga, afónica é a lira, velas e velórios, estrelas extintas, caule quebrado, dedos partidos, canetas ardendo, escritas sangrando, frios revólveres suicidando sonhos… A luz da vida, o dia que renasce!... Montanha curva, ventre de mulher, parto feliz, a vida, relâmpagos no céu, voam os dias, soltam-se amarras, nas veias o sangue, meu corpo nu, multiplicação de anjos, orações divinas, atiçam-se lareiras, meu cérebro descansa, a morte fica, para um outro dia… Desço a corrente num barco de seda, meus gestos, tuas mamas, teu cabelo azeviche, floresta de crinas, teus olhos que brilham, jardim dos sentidos, os sinos que tocam, torre ardendo, meu pénis duro, tua concha em flor, teu desejo molhado, minha língua solar, curvas na púbis, jardim de jasmim, mariposas e pétalas, teu profundo olhar que entoa música… Trompetes e tambores, violas de amor, polifonia alegre, montes castanhos, braços e dedos, palma das mãos, rezam-se terços, Cristo bailando, crianças no baile, pura inocência, coroa sem espinhos, ilhas vulcânicas, negro basalto, rosas do mar… Maria, Joana, Bia, Teresa, rebolam-se coxas num abrasado suor, frenesi musical, cursos de água, rostos de negros, índios e brancos, nascimento das ilhas, ancoradouros e portos, casa de marinheiros, desflora dores de santas, a sal, o azeite a cruz e os santos, bordéis nas esquinas, gemem-se janelas, canto de sereias, tatuagens carminas, capitães de Posídon, filhos do mundo, abandonaram-nos no mar, tanta saudade, nos dias renascemos para bem morrer… O rugir do mar, um leque de pranto, terra rasgada, lua serena, cantamos a desgraça, da sombreada vida, aves queimadas, tombam-se estrelas, neste céu sem fim, lágrimas e dor, dédalo sem êxito, labirinto oceânico, oh esperança!!!!!... Buda renasce, crio caminhos, biliões de lanternas, são pirilampos, lótus da vida, flores no trilho, ascendo da ilha até as estrelas, a visão do cosmos, meu universo, sou a candeia do meu caminho… Formam-se clarões, repicam-se sinos. Tocam-se tambores nos vales das ilha, colares de pássaros, flautas marítimas, pernas que brilham, seda é a derme, corpos de cristal, incenso de mulheres, fogueira eterna, cálice que aflui, sangue menstrual, fecunda roseira, mulher sagrada, lança e arado, meto a semente. Flor de espiga, milheiral no vento, peixes e pérolas, mãos dos teus braços, coluna vertebral, pose de rainha, electricidade no ar, horóscopo e oráculos, destinos escritos, infinitamente juntos, possibilidades possíveis, finito, perene, despedidas e encontros, a vida a morte. Naufrágios do mundo, a imensidão do mar… Aqui chegaram, novo mundo criaram…
Nas suas naus arribaram, ilhas vulcânicas, paleolítico repouso, a primeira missa, répteis e pássaros, baptizaram-nos com nomes que não advêm de Deus… mas sim dos homens, da sua memoria… A bíblia, a espada, pólvora e grilhetas, ninharias e missangas, homens esbeltos, negros e negras, belos como a noite, nocturno azeviche, sangue e chicote, úlceras e ultrajes, negreiros malditos, homens marcados, a ferro e fogo, nasceu do outro lado, o Novo Mundo, com: The Blues, el merengue, el uáuánko. Quato por oito, kumba lele, Xango Ogum, Yenmanjá, novo lado do mar, algodão em rama, Coton Club negro, crioulo é o Jazz, que nos vai libertando para renascermos… Mas… Com o destino, por aqui ficamos: Dermes brancas, rosas negras, melaço nos lábios, cor de mulato, peixe, feijão, milho e pilão, cavaquinho nos dedos, divinas mornas, este mar imenso que nos rodeia, festa das águas, se Deus quiser, meu penedo de Tântalo, sede secular, fonte amputada, língua murchada… Morremos e ressuscitamos nosso desespero… teimosamente aqui ficamos. Daqui zarparam naus e veleiros, barcos de pedra, arpoadores de cetáceos. Ondas gigantes, gentes remotas, filhos do fogo, dez ilhas secas sede sem fim… Xango, Tatanka, Cristo, Shalom, sou negro, índio, lusitano, hebreu, marinheiro das ilhas, num norte sul, cheiro a goiaba, delicioso carpo, orgasmo forte, filho colonial, carrego em mim, continentes e mundos… Querer ficar e ter que partir…
Penélope acena com seu lenço de pedra, lágrimas secas, dias rasgados, membros calcinados, exiladas almas, cartas que chegam, modas e moedas, epistolas de luto, luto e amor, matrimónio por fotos, procurações. Bodas em Lisboa, Boston e Paris, vistos de entrada, cartas de chamada, convocações. Censuradas cartas, Salazar voraz, Tarrafal farpado, frigideira queima, pulmões rasgados, ratazanas e rondas, camaradas delidos, carne de canhão, chumbo de indecência, irremediável loucura, círculo craniano, réptil milenar, nocturna demência, navalhas loucas, baionetas frias, fresca é a carne, heróis na peleja, mortos e medalhas, mataram e morreram, anos sem fim, há tempo para tudo, aqui no Mundo…
Em vagas frescas nasceu meu mar, lavei meu corpo, nasceram mundos, pão nas estrelas, abanico de chamas, signos e flores, monte de rosas, sexo balsâmico, paixão de viver, a hemoglobina quente, bíceps crescendo, luvas de água, mãos de pétalas, campo de folhas, bela é a vida, forte o amor, pássaro que voa, neste mar que canta… Minha viagem!... Lábios de tulipa ardem em meu corpo, película branca, neve do norte, rios gelados, torres néon, estrada do paraíso, relógios de água, mulheres loiras, polidos vasos, porcelanas de Delft, crinas de milho, triangulo solar, meu sexo ébrio, embriague de touro, planície verde, diques e riachos, humedecidas conchas, narciso mulato mornando na viola, canta as mulheres de Blanca Luna… Roterdão, as pontes, pernas bonitas, bicicletas girando, seios altivos, meu peito que rasga, nascem tulipas, aqui habito, vindo das ilhas, broca gelada, fura meus ossos, barcos à – vista, marinheiros sonhando, mornas e ninfas, faróis do porto, navegação exótica, vitrinas de sexo, gonorreis arcaicas, falos em delírio, desgraçada solidão, La petite mort…
Cargueiro na neblina, Oceano Pacífico, Singapura, China, livro de Mao, altifalantes ríspidos, uniformes azuis, individualidades perdidas, falsas doutrinas, num corcel de sangue, galopa a peleja, Vietname queimado, América murchando, Marte de espada, ceifa Saigão, heroína nas veias, filhos da noite, senhores das guerras, assassinos perversos, sorvem champanhe, em crânios de chumbo, contemplo as estrelas, oh miséria humana!...
Constelações de palmeiras, cruzeiro do sul, pescando pérolas, homens castanhos, Gauguin pintando, a luz é vida, na Austrália cantam, doces sábios, aborígenes da terra, telepatia forte, bumerangues voláteis, separando estrelas, trilhos da noite olhos felinos, canto nómadas, seus djederutus, musicando com seixos seus corpos bailam, oiros cabelos, narinas largas… vieram britânicos, raptaram seus filhos, violência e álcool, agonia de um povo, Sidney, Cairns, Adelaide, Pert, soltei amarras, segui o destino…
Quinze dias e quinze noites, vi o monte Fuji, beijei Bacho, lendo Haykus. Poesia breve, universo profundo, meu Zen budismo, a espiritualidade do ser, Yokohama ocidental, comboios cometas, trilhos chiando, peixe gigante, mito de sismos… juba de Einstein, MC2… Openheimer devasta com seu Litlle boy, duas cidades, a bomba atómica, cadáveres em pó, flautas de bambu, schaguaschy que chora, quimonos de seda, gueixas no chá, amendoeira e neve, pétalas perfeitas, mariposas azuis, levante solar, fim da estrada do Japão parti, termina aqui, a segunda viagem…
De contratos com a vida seguimos vivendo, pela sabedoria dos homens nos céus voei… Do Oriente para o Ocidente; Sir Isaac Newton e a gravidade. Macieira e maçã, que não é a de Adão, tão – pouco de Eva, mito de Ícaro, sonho dos homens, inatingíveis mundos, liberdade ou queda… Tokyo, Amsterdam, via Alasca, foi um milhão de dólares, conta a história, Ancorage na névoa, rios com salmões, saltam para a morte, seu renascimento; meu caminho na vida, linhas da mão, labirinto sem centro, a metafísica, penso no amor, existo, penso… Lua soberana, céu argentino, rosto de mulher, pálpebras rasgadas, branco cristal, nocturnos olhos, pestanas de seda, quimono florido, vénias e luvas, mãos de nuvens, papel de arroz, caligrafia zen, diploma lácteo, pólo norte níveo, Robert Perry frio, infinito silencio, a evolução dos homens, máquinas voadoras, meu avião no ar, sigo viagem, caixa veloz, perfurando sombras…
De contratos com a vida seguimos vivendo, pela sabedoria dos homens nos céus voei… Do Oriente para o Ocidente; Sir Isaac Newton e a gravidade. Macieira e maçã, que não é a de Adão, tão – pouco de Eva, mito de Ícaro, sonho dos homens, inatingíveis mundos, liberdade ou queda… Tokyo, Amsterdam, via Alasca, foi um milhão de dólares, conta a história, Ancorage na névoa, rios com salmões, saltam para a morte, seu renascimento; meu caminho na vida, linhas da mão, labirinto sem centro, a metafísica, penso no amor, existo, penso… Lua soberana, céu argentino, rosto de mulher, pálpebras rasgadas, branco cristal, nocturnos olhos, pestanas de seda, quimono florido, vénias e luvas, mãos de nuvens, papel de arroz, caligrafia zen, diploma lácteo, pólo norte níveo, Robert Perry frio, infinito silencio, a evolução dos homens, máquinas voadoras, meu avião no ar, sigo viagem, caixa veloz, perfurando sombras…
Mas tudo regressa, ao ponto de partida!...
Roterdão meu templo, rezo as divinas, bicicletas voam, meu falo sulca, regresso a Ítaca, rosto bronzeado, labareda ardendo, I,am a sex machine; objecto sexual, Europa mulher, minha comcubina, sou bailarino leve, pétala no vento, furação coreográfico, bailando James Brown… I tis a mans mans World… divina tragédia… Visto de estadia, aborta aos três meses, barco ou fronteira, comboios de gado… Lisboa alerta, Salazar seu esqualo, capanga mor, Tarrafal demente, colecciona cérebros, misantropia perversa, esquadrões da morte, optei de novo, o caminho do mar…
Orenoco serpenteia, águas sem fim, aves coloridas… lembro-me de Simão; … não cirenaico do morto na cruz, mas de Bolívar, el Libertador… que em Santa Marta morreu, febril, seus sonhos, gasta utopia, vida e la muerte, del General, todos os dias morremos na cruz… Avançando na selva, cântico de xamanes escuto, tatuagens negras, bambus e flechas, pepitas douradas voando nas lâmpadas, urros de fantasmas, los conquistadores, sangue derramado, índios vestidos, gládio e livro, verbo de Deus, homens centauros, é a profecia, a pólvora e a cruz, Bartolomeu de las Casas… Meu barco acelera, contra a maré, minha água turva, Amazona queimada, morte e moedas, arquitectura efémera, em porto Ordaz, no Novo Mundo, cheguei… Circe é puta, Ulisses mareante, inverte-se o canto, Homero enxerga, Circe é índia, enfeitiçada por dólares, Ulisses fode… cama molhada, charco de esperma, curral de putas, azares da historia, Coca-Cola bebem, elixir dos deuses, lágrimas sem sal, abraços sem flores, beijos sem água, doces mentiras, o dia chega, benzeno nos tanques, cheira a veneno, passos perdidos, mar encrespado, sigo viagem, To the American deam, Filadélfia à vista!!!! Apertam atracas, minha nave chegou…
De amor fraterno provêm o nome, cidade antiga, Dionísio seu deus, antes da Americana, foi a primeira, o universo gira, nada é eterno, Filadélfia ontem, Filadélfia hoje, o novo império, a sua historia, a pequenez dos homens, grande é o tempo, metrópole fria, letreiros néon, dragões são carros escarrando asfalto, vadias em delírio querem chupar-me, Roosevelt por 100 dólares, usa peruca, narinas largas, o crak despacha, a Independence hall, a constituição, sino da liberdade, Poe meu poeta, corvo agourento fura meus olhos, deprimente é a neve, minha tristeza, imenso lamento, Poe delirando: Tudo acabou!!!! Tudo acabou!!!!... Digam que Edy já não existe… Constituição e liberdade, negros linchados… strange fruits nas árvores, white trash nos guetos, latinos na coca… América! América!... Ginsberg é poeta, Ginsberg gritando: América, América!... Quando vais enviar teus ovos a Índia????...
Triste nas brumas, Filadélfia ficou, rumamos para o norte, velas esticadas cristas nas quilhas, marinheiro na gávea, alto é o céu; arranha-céus fálicos, carros e trombetas, azafama de loucos crimes com arte, cidade de insónia, psiquiatras a quilos, cavalo sem freio, Time hear is mony!!!!! Estátua da liberdade, não liberta almas, Manahata, por 24 dólares, Nova Amsterdam, meus irmãos Lenape, rindo dos brancos, o Sol e a Terra, a nada pertencem, bastam 7 palmos quando a morte beijar… Wall srteet não para, cães pelejando salivam gás, Serra Leoa decepada diamantes com sangue… África fodida… New York – New York… Hudson seu rio, neblina e água, Harlem e Bronx furam-se veias, Hooper e as pinturas, que solidão!... Peguy Guggenheim na arte é poesia. Quens rainha, Miled Davis azul, a Kind of Blue; Central Park verde, respira-se vida, Nações Desunidas, guerras sem fim. Mata o forte, o fraco morre… esta nova Babilónia, foi berço de índios, de traqueias queimadas, água de fogo, negros no Soul, Vénus é rameira, Iam a sailor from Cape –Verde islands arquipélago seco, seco, mas Sabe… mas Sabe que Hollywood é tempo de partir, não vou para as ilhas, proibido regresso, fascismo espreita, terror e morte…Noite tenebrosa, grávida de punhais.
Nas vagas da vida avistei Europa, cansado do mar purguei o sal; pelas estradas caminhei, em Helvécia cheguei… Desenhando gentes, pássaros e nuvens, esposa, amizade, filhos e arte, amor pela arte, arte da vida, poesia sublime navegam os dias…
Regressei às ilhas, foram 15 longas luas, escutei o Cântico da manhã futura! …
Sou peregrino, nos trilhos do mundo, queda e ascensão, a vida é assim, alegria e tristezas, sigo o caminho, como poeta cantando, novos mundos criando, as divas do meu destino, ofereço a luz, meus 55 anos formosos, Monte Verde sagrado, neblina mística, suave frescura, minhas narinas amplas, oxigénio no cérebro, horizonte e utopias, a imensidão do mar… 15Km por 23, São Vicente flutua!... Suspensa no ar, a ilha flutua, pensamentos brotando, serenas jornadas, doce memória, sigo avante, a vida é bela, amo-vos mulheres, musas divinas, candeia altiva, lua celeste, alvorada em parto, razão de viver… vou adiar a morte, para um outro dia…
(Tchalê Figueira - abril/2009)
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