GTO de Bissau parte da ruptura de aspectos tradicionais para criar metáfora dos descaminhos políticos do país
Por Ricardo Riso
Em pé, primeiro à direita, César "Griot"; terceira à direita, Denise Guerra; quarta à direita, Profa. Dra. Conceição Evaristo, autora do livro Ponciá Venâncio; primeiro à esquerda, agachado, Ricardo Riso entre Grupo Teatro do Oprimido de Bissau e guineenses
No último dia de Festlip fui prestigiar o trabalho do Grupo Teatro do Oprimido (GTO) de Guiné-Bissau com a peça “Nó Mama Frutos da Mesma Árvore”, criação e concepção de espetáculo do próprio grupo, sob direção artística de Barbara Santos, secretária executiva do Centro de Teatro do Oprimido do Brasil.
Para quem ainda não conhece, o Teatro do Oprimido foi criado pelo brasileiro Augusto Boal e propõe um teatro que atravessa os limites do palco, vai às ruas ou em qualquer outro lugar, com conscientização social, ação política e participação intensa do público. Ou seja, um teatro que aborda questões excluídas pela grande mídia, um teatro que dá voz às camadas populares sendo fundamental para países periféricos e suas latentes desigualdades sociais.
O GTO iniciou suas atividades em 2004 na cidade de Bissau. O grupo organiza oficinas teatrais com jovens e em escolas, e já realizou dezenas de espetáculos pelo seu país. Atua em diversas áreas como saúde, educação, justiça; apresenta temas como violência doméstica, problemas ambientais entre outros, seguindo à risca as premissas do Teatro do Oprimido, prestando um belo trabalho social, naturalmente.
O espetáculo “ Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” é composto por um mais-velho (o avô), as suas duas filhas, os dois netos – um de cada filha, e um narrador que também é músico e o articulador entre a ação teatral e o público. A peça apresenta uma festa tradicional de confraternização entre duas famílias, Silá e Prela, comandada pelo mais-velho, diante de uma árvore sagrada (o baobá?).
Logo começam os cantos iniciais e as duas filhas mais velhas iniciam a dança, durante este ato já percebemos que a filha mais nova não cumpre corretamente os seus passos. O avô conduz a cerimônia seguindo os rituais de seus antepassados e chama-as para que se banhem na água sagrada, e é neste momento que a filha mais nova molha-se à frente de sua irmã. Ao quebrar a tradição, todos ficam desconcertados, principalmente o avô que jamais havia presenciado uma cena como esta e nem sabia de algo tão grave assim entre seus antepassados.
Com isso, a mais velha sente-se desrespeitada e não aceita a postura da irmã, que, por outro lado, deseja a ruptura, o fim da tradição e a permanência no local da árvore sagrada. O avô, muito nervoso, busca de todas as maneiras convencer as duas filhas para que aconteça a reconciliação, mas não é atendido. As crianças, que são amigas, ficam perplexas e tentam demover suas mães do inevitável conflito, porém são repreendidas por elas e nada podem fazer. O rompimento torna-se definitivo, uma tradição é quebrada, o que acarretará problemas espirituais para todos no futuro.
A partir daí o espetáculo encerra-se e passa a contar com as intervenções da plateia para tentar solucionar o conflito entre as famílias e manter a tradição intocável. O respeito aos mais velhos deveria permanecer inabalável, pois assim o foi em todos os tempos passados.
Com muita dança, tambores, músicas cantadas em crioulo e em português, vestimentas tradicionais (as roupas coloridas e os motivos geométricos dos panos) a peça “Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” valoriza diversos aspectos culturais de Guiné-Bissau, o que vale para saciar a curiosidade de quem não conhece o país.
“Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” é uma importante peça por apresentar através da briga entre famílias uma metáfora dos sangrentos conflitos internos do país no pós-independência, estimulados pelas disputas de terra e de supremacia político-econômica. Basta recordarmos o conflito armado de 1998/1999 e a recente desestabilidade política com a morte do presidente da república guineense, Nino Vieira, morto em março deste ano, assim como a posterior morte do candidato à presidência Baciro Dabó.
Depreendemos que o GTO de Bissau em “Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” procura alternativas pacíficas entre seus pares para contribuir na reconstrução da nação guineense. Ao revalorizar as tradições da multifacetada cultura de Guiné-Bissau, o GTO dialoga com os problemas do seu tempo, mostrando que as soluções para as injustiças sociais e os descaminhos políticos podem estar entre os próprios guineenses, unidos e solidários.
“Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” é uma peça que emociona.
Para quem ainda não conhece, o Teatro do Oprimido foi criado pelo brasileiro Augusto Boal e propõe um teatro que atravessa os limites do palco, vai às ruas ou em qualquer outro lugar, com conscientização social, ação política e participação intensa do público. Ou seja, um teatro que aborda questões excluídas pela grande mídia, um teatro que dá voz às camadas populares sendo fundamental para países periféricos e suas latentes desigualdades sociais.
O GTO iniciou suas atividades em 2004 na cidade de Bissau. O grupo organiza oficinas teatrais com jovens e em escolas, e já realizou dezenas de espetáculos pelo seu país. Atua em diversas áreas como saúde, educação, justiça; apresenta temas como violência doméstica, problemas ambientais entre outros, seguindo à risca as premissas do Teatro do Oprimido, prestando um belo trabalho social, naturalmente.
O espetáculo “ Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” é composto por um mais-velho (o avô), as suas duas filhas, os dois netos – um de cada filha, e um narrador que também é músico e o articulador entre a ação teatral e o público. A peça apresenta uma festa tradicional de confraternização entre duas famílias, Silá e Prela, comandada pelo mais-velho, diante de uma árvore sagrada (o baobá?).
Logo começam os cantos iniciais e as duas filhas mais velhas iniciam a dança, durante este ato já percebemos que a filha mais nova não cumpre corretamente os seus passos. O avô conduz a cerimônia seguindo os rituais de seus antepassados e chama-as para que se banhem na água sagrada, e é neste momento que a filha mais nova molha-se à frente de sua irmã. Ao quebrar a tradição, todos ficam desconcertados, principalmente o avô que jamais havia presenciado uma cena como esta e nem sabia de algo tão grave assim entre seus antepassados.
Com isso, a mais velha sente-se desrespeitada e não aceita a postura da irmã, que, por outro lado, deseja a ruptura, o fim da tradição e a permanência no local da árvore sagrada. O avô, muito nervoso, busca de todas as maneiras convencer as duas filhas para que aconteça a reconciliação, mas não é atendido. As crianças, que são amigas, ficam perplexas e tentam demover suas mães do inevitável conflito, porém são repreendidas por elas e nada podem fazer. O rompimento torna-se definitivo, uma tradição é quebrada, o que acarretará problemas espirituais para todos no futuro.
A partir daí o espetáculo encerra-se e passa a contar com as intervenções da plateia para tentar solucionar o conflito entre as famílias e manter a tradição intocável. O respeito aos mais velhos deveria permanecer inabalável, pois assim o foi em todos os tempos passados.
Com muita dança, tambores, músicas cantadas em crioulo e em português, vestimentas tradicionais (as roupas coloridas e os motivos geométricos dos panos) a peça “Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” valoriza diversos aspectos culturais de Guiné-Bissau, o que vale para saciar a curiosidade de quem não conhece o país.
“Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” é uma importante peça por apresentar através da briga entre famílias uma metáfora dos sangrentos conflitos internos do país no pós-independência, estimulados pelas disputas de terra e de supremacia político-econômica. Basta recordarmos o conflito armado de 1998/1999 e a recente desestabilidade política com a morte do presidente da república guineense, Nino Vieira, morto em março deste ano, assim como a posterior morte do candidato à presidência Baciro Dabó.
Depreendemos que o GTO de Bissau em “Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” procura alternativas pacíficas entre seus pares para contribuir na reconstrução da nação guineense. Ao revalorizar as tradições da multifacetada cultura de Guiné-Bissau, o GTO dialoga com os problemas do seu tempo, mostrando que as soluções para as injustiças sociais e os descaminhos políticos podem estar entre os próprios guineenses, unidos e solidários.
“Nó Mama Frutos da Mesma Árvore” é uma peça que emociona.
Ficha técnica
Criação/Concepção coletiva: Grupo de Teatro do Oprimido – GTO / Guiné Bissau – Bissau
Direção Artística: Barbara Santos
Elenco: Claudina Joaquim da Silva Gomes, Edilta da Silva, Elsa Maria Ramos Gomes, José Carlos Lopes Correia, Silvano Bernardo Antônio dos Santos; Suleimane Gadjicó
Duração: 60 min.
Concepção Plástica: Cachalote Mattos
Criação/Concepção coletiva: Grupo de Teatro do Oprimido – GTO / Guiné Bissau – Bissau
Direção Artística: Barbara Santos
Elenco: Claudina Joaquim da Silva Gomes, Edilta da Silva, Elsa Maria Ramos Gomes, José Carlos Lopes Correia, Silvano Bernardo Antônio dos Santos; Suleimane Gadjicó
Duração: 60 min.
Concepção Plástica: Cachalote Mattos
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