quinta-feira, 3 de setembro de 2009

José Eduardo Agualusa - A Conjura (livro - edição brasileira)

A CONJURA
José Eduardo Agualusa

Editora Gryphus

SINOPSE
Publicado originalmente em Portugal, o livro A Conjura ganha agora sua primeira edição brasileira. Em seis capítulos, a obra narra as histórias dos habitantes da velha cidade de São Paulo da Assunção de Luanda, entre os anos de 1880 e 1911. Em um contexto marcado por turbulentas transformações, essa colônia portuguesa era o destino de degredados, ladrões e assassinos da pior espécie. Nessa época, quando nas ruas de Luanda se cruzavam as tipoias dos nobres senhores africanos com as caravanas de escravos angolanos, e os condenados vindos do Reino de Portugal se entranhavam pelos matos em busca de fortuna, estórias se passaram que a História não guardou. Estórias de amores e prodígios que ainda sobrevivem em antigas canções. Estórias de personagens como o barbeiro Jerónimo Caninguili e a jovem Alice, cujas desventuras acompanhamos até o fatídico 16 de junho de 1911, dia da frustrada tentativa de tornar Angola independente de Portugal.

TÍTULO: A CONJURA
ISBN: 9788560610228
IDIOMA: Português (PT).
ENCADERNAÇÃO: Brochura Formato: 14 x 21 190 págs.
ANO EDIÇÃO: 2009
Fonte: http://www.travessa.com.br/A_CONJURA/artigo/775815be-3caf-453c-9b33-db046445771e


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Primeiro romance de José Eduardo Agualusa sai no Brasil após 20 anos

Bolívar Torres, JB Online

RIO - Dois tempos distintos unem e separam, com o Atlântico entre eles, a obra do escritor angolano José Eduardo Agualusa. Recém-lançado em Portugal, Barroco tropical, seu último romance, dá um pulo de 10 anos para vislumbrar uma Luanda em convulsão, num nem tão distante 2020. Deste lado do oceano, sua estreia na ficção, A conjura, escrita duas décadas atrás, chega hoje às livrarias do Rio, fazendo a trajetória inversa: volta 200 anos na história da mesma capital angolana para radiografar, entre 1880 e 1911, um período decisivo do seu passado colonial, marcado por um frustrado levante revolucionário. Mesmo com o abismo temporal, passado e futuro se completam com a mesma função. Em ambos os casos, o que interessa a Agualusa é decifrar a atualidade absurda de seu país.

– Escrevi A conjura como uma maneira de pensar o presente – comenta o autor, enquanto anda pelas ruas de Copacabana, onde está hospedado. – Isso era muito importante naquele momento, em que havia poucos estudos sobre o século 19 em Angola. Eu próprio passei a compreender melhor o país ao escrever o livro. Há divisões na sociedade que só podem ser explicadas ao se analisar o passado. A guerra civil foi mais um embate entre uma visão urbana e rural do que de ideologias de esquerda e direita. Ela opôs uma África profunda, presa à tradição rural, a uma África urbana. Claro que essas divisões já existiam no século 19.

Fato incomum para um escritor iniciante, A conjura é um romance histórico (assim como Nação crioula, sua quinta narrativa longa). Agualusa recria toda a agitação de um período de efervescência política de seu país. Como sempre, o autor traça uma galeria de retratos curiosos, que se agitam, numa espécie de histeria coletiva, dentro de um cenário em plena transformação. O sonho ainda é possível para a população pobre do bairro de Ingombotas, onde se instala, em meio a ladrões, assassinos e outros renegados de Portugal, o barbeiro benguelese Jerónimo Caninguili, um baixo e manco negro que, apesar da feiúra, logo conquista a população local. Fixado no fatídico 16 de junho de 1911, dia da primeira tentativa frustrada de obter a independência, o autor retrocede até às origens da data histórica, e é lá que encontra Caninguili e outros angolanos que organizam uma sociedade cospiradora, com o sonho de dar ao país desenvolvimento e tratamento digno aos excluídos.

– Relendo o livro depois de 20 anos, podemos dizer que este é um primeiro romance, com a ingenuidade de todo primeiro romance, mas também com algumas qualidades – confessa o autor. – E que já traz algumas das obsessões que trato em outros livros.

Identidade e memória

O leitor fiel de Agualusa reconhecerá a estrutura aleatória e movediça da maioria de seus livros. Entre as referidas obsessões, destacam-se as questões sobre identidade e memória, sempre presentes em sua obra.

– É normal que, num país jovem como Angola, a literatura, a música ou o cinema tragam este questionamento – diz o escritor. - Aconteceu o mesmo com o Brasil. À medida que o país vai se formando, a literatura reflete este questionamento. Mas o Brasil já é um país com mais estrutura. Em Angola, não temos bibliotecas num número desejável e a memória se perde facilmente. Há poucos jornais, também. Aliás, é o único país do mundo em que o jornalismo melhorou, já que antes era tão ruim que não poderia ter ficado pior.

Revelado por aqui depois da Flip de 2004 (quando foi elogiado por Caetano Veloso), Agualusa se diz um homem de três continentes, que se sente a vontade tanto no Brasil e em Angola quanto em Portugal. Para este filho de luso-brasileiros, a língua portuguesa é um terreno de experimentação multicultural, onde colonizador e colônia se atraem e se chocam na mesma sintaxe. A língua é fator de união, mas também de distinção. O autor não se furta em carregar seu texto de expressões locais, que ganham suas devidas traduções em notas de rodapé.

– O mais interessante é que a língua une a geografia e as influências diversas, mas se distigue por suas variantes – diz Agualusa, que morou por três anos no Recife. – Mas nem sempre essas particularidades se dão entre países. Há mais diferenças entre o português de Pernambuco e do Rio Grande do Sul do que entre o português do Rio e do Maranhão. O carioca acredita que o português falado aqui é o português que se fala no Brasil todo. Mas não é verdade. Aqui no Rio existe uma variante da língua portuguesa, em São Luis do Maranhão ou no Recife você terá outra.

As trocas culturais são essenciais para Agualusa, que reclama da falta de interesse dos brasileiros pela África, matriz de sua cultura popular. Enquanto Angola absorve até os dias de hoje a influência brasileira, sua pátria irmã vira as costas.

– Muito em função do tráfico de escravos, as relações entre Brasil e Angola eram diretas, sem intermediações com Portugal – analisa. – Angola teve vários governadores de origem brasileira. Vários padres eram formados no Recife. Famílias que ficaram ricas com o tráfico tinham casas no Brasil e Angola. Essa relação direta se perdeu com o fim do tráfico, mas a influência cultural do Brasil no país continua, na música, na literatura e nas telenovelas. Já o Brasil, ao contrário de Portugal, não tem o conhecimento dessa cultura que o moldou.

20:09 - 02/09/2009

Fonte: http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/09/02/e020927842.asp

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