Por Ricardo Riso
Apesar da imensa parcela da população brasileira ser representada por negros e mestiços, a representação destes na arte brasileira sempre foi marginalizada e estereotipada. Temas que valorizem a cultura afro-brasileira e a própria figura do(a) negro(a) nunca foram muito presentes entre nossos artistas, principalmente entre os de vanguarda, com algumas raríssimas exceções, entre as quais, destaco Hélio Oiticica. Pode ser que isso explique pelo fato de ser mínima a participação de artistas de descendência afro-brasileira entre os vanguardistas, logo, estes, oriundos de uma elite branca, que estranhamente insiste em afirmar que não há racismo no país, não trabalha temas inspirados em nossas raízes afro e africanas.
Talvez, por isso, seja comum encontrarmos tais temas em artistas que representam a parcela excluída da população brasileira. Artistas conscientes de seu papel social, étnicorracial, portanto, sensíveis à defesa da cultura de seus pares. O artista plástico carioca Alcir Dias pertence a esse grupo de artistas que procura revelar que a cultura brasileira possui uma diversidade rica e negra, mas renegada pelos principais meios de comunicação e no circuito artístico contemporâneo de galerias e museus, inclusive.
Fiel à pintura, Alcir Dias retrata a imagem do homem e da mulher negros. Detentor de um olhar acurado, delicado e harmonioso, somos conduzidos por suas telas a um belo universo que mostra a exuberância da cultura negra, dos seus costumes, cotidiano e religiosidade de raiz ancestral africana e como se formou o amálgama da cultura afro-brasileira. Passear o nosso olhar sobre as pinturas elaboradas por Dias é navegar pelo mundo negro, por aquilo que ele tem de pungente, bonito e sedutor.
Zé Maria
Contudo, Alcir Dias jamais abandona a denúncia social perpetrada ao negro que já havia sofrido pelos séculos de escravidão, mas, que, infelizmente, os flagelos prolongam-se devido à permanência das condições desfavoráveis impostas nos dias atuais. Obra como “Zé Maria” desmascara o que há de mais vergonhoso em nossa sociedade: o descaso, a invisibilidade e a insensibilidade do menor abandonado, negro, em sua maioria. O traço firme de Dias escancara a incompreensível mazela social ao qual as crianças negras são obrigadas a viver. O fundo da tela em tons ocre e azul, com motivos geométricos mas sem maiores detalhes faz uma analogia com o menor abandonado, com o vazio de sua existência. O olhar melancólico do menino retratado pela sensível mão de Dias, atinge-nos com a voracidade de quem tem fome, de quem é incapaz de entender o mundo em que vive, que rejeita a sua condição de criança, que nega a sua dignidade e não lhe dá esperança. Contemplar o olhar triste de “Zé Maria” é inferir o quanto somos hipócritas ao sustentarmos essa repugnante insensibilidade.
Outro aspecto tratado com relevância na trajetória pictórica de Dias é a representação de elementos da religiosidade afro-brasileira, tratada com exuberância, respeito e dignidade ao retratar os orixás e toda simbologia que os compõe. Expressar a religiosidade afro é importante para demarcar o quanto nossa cultura é plural e o quanto é necessário o respeito ao outro, principalmente quando esse outro é negro. Daí a pertinência desses temas serem retratados nesses tempos em que a intolerância religiosa expande perigosas garras ao manifestar seu ódio contra as manifestações espirituais afro-brasileiras.
Oxalá
Bom, a obra de Alcir Dias presta um belo serviço à sociedade ao valorizar com maestria a cultura afro-brasileira. Dar a visibilidade e a dignidade que a ela é renegada por um perverso racismo que não assume a sua posição, que procura manter a população afro-descendente longe de oportunidades justas de vida e que faz o possível para menosprezar e, até proibir, as manifestações em favor das raízes afro e africanas. Entretanto, as pinturas de Alcir Dias representam a alegria e a beleza da cultura negra, além de apresentar a resistência que sempre a caracterizou. Suas pinturas são o frescor necessário às nossas vistas e levam-nos a manifestar o sincero sentimento que sai de dentro de nós: o sorriso de ser negro.
Oi, Ricardo.
ResponderExcluirTudo bem com você?
Seus posts estão excelentes.
Boa semana p/ você.
Bjos
Olá, Val Du!
ResponderExcluirTudo ótimo? E vc?
Obrigado pelos comentários.
Um grande abraço,
Ricardo
yo!!! mano,dificil nesse pais ter um mano artista principalmente nessas areas da pintura, cartoon etc,etc,etc, tal como o cartunista mauricio pestana, embora á distancia to ligado,valew tamus junts .
ResponderExcluirGod bls you...pax
valeu, negobrown!!
ResponderExcluiré importante divulgarmos esses artistas, pois o espaço para eles é reduzido. mas vamos somando forças, incomodando até ocuparmos as áreas não permitidas até então.
obrigado pelo comentário!
abraços!
ola!! linda pintura
ResponderExcluirmais gostaria de saber
o ano que foi criada
pois estou fazendo um trabalho e vou apresentar esta pintura mais preciso do ano que ela foi criada
obg
tenhas um bom dia
Oi!
ResponderExcluirO melhor seria fazer contato direto com o artista, já que pretende utilizar alguma pintura para o seu trabalho. Ao final do texto, você verá o endereço do site.
Obrigado pela visita e comentário.
Abraços!
Prezado artista
ResponderExcluirPrimeiramente reverenciamos o seu trabalho pelo bom gosto e pela habilidade artística.
Acontecerá em Novembro(provavelmente na Semana da Consciência Negra/2016 com data a ser fixada) o 1º. Congresso: A Arte nos Terreiros-Mogi das Cruzes/SP.
O Jornal A GAXÉTA e o Babalorixá Flávio de Yansan estão interessados em envolve-lo na composição do evento, caso haja interesse favor entrar em contato no E-mail: cong.artenosterreiros@gmail.com . Aguardamos contato no prado de 20 dias para podermos incluí-lo na programação do evento.
Detalhes da participação diretamente com os organizadores do congresso. Contamos com sua participação. Julgamos que seu trabalho deve ser apresentado.
Organizadores do Congresso.
MC, 04/03/2016.
Prezados Organizadores,
ResponderExcluirO Alcir Dias possui Facebook. Façam contato direto com o artista.
Grande abraço!