quinta-feira, 31 de março de 2011

XIV Seminário Nacional/V Seminário Internacional Mulher e Literatura


Apresentação O GT “Mulher e Literatura”, da Associação Nacional em Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL) e a Universidade de Brasília, realizarão, com o apoio dos professores e dos alunos do Instituto de Letra – UnB, do Departamento de Teoria Literária e Literaturas e do programa de Pós Graduação em Literatura, em suas respectivas linhas e grupos de pesquisa, o XIV Seminário Nacional/V Seminário Internacional Mulher e Literatura. O principal objetivo do evento é propiciar à comunidade acadêmica, aos profissionais e aos estudantes de Letras e áreas afins a oportunidade de discutir, de forma abrangente e crítica, questões atuais concernentes aos estudos feministas e de gênero e suas articulações com os estudos literários.
segue  o  site: www.mulhereliteratura.com.br do XIV Seminário Nacional / V Seminário Internacional Mulher e Literatura. O evento acontecerá nos dias 4, 5 e 6 de agosto, do corrente ano na UnB. As escritoras afro-brasileiras serão as homenageadas. 


Fonte: e-mail enviado pela escritora e Profa. Conceição Evaristo em 27 de março de 2011.

quinta-feira, 24 de março de 2011

José Luiz Tavares - Lisbon Blues


José Luiz Tavares - Lisbon Blues
Ricardo Riso
Resenha publicada no semanário cabo-verdiano A Nação, nº 186, p. 10, de 24 de maio de 2011.
A mudança de paradigma na poesia cabo-verdiana atestada por T. T. Tiofe em uma de suas epístolas publicadas no “Primeiro e Segundo Livro de Notcha” em razão de novos caminhos estético-formais, por uma poesia de indagações ontológicas e metafísicas assim consagradas nos “Exemplos” de João Vário, encontra, dentre vários poetas revelados dos anos 1980 para cá, o logro da superação na legítima e autêntica produção poética de José Luiz Tavares.
O livro “Lisbon Blues seguido de Desarmonia” (2008), da editora Escrituras (São Paulo/Brasil), tem posfácio de José Luis Hopffer C. Almada e ilustrações de Fernando Pacheco.
Ao vagar pelas ruas de Lisboa, Tavares apresenta sua cartografia da cidade. Peculiar é o olhar do poeta, de estrangeiro, de “moreno das ilhas”. “A mão que escreve inflama-se” ao passar por diversos lugares, passeios no elétrico, mulheres, turistas, desejos e anseios do poeta beirando o onipresente Tejo. E assim o “poeta duro” transfigura a “agreste matéria” “deste pobre ofício de palavras a que me entrego”.
O extremo rigor com o seu ofício e a exasperação da palavra poética depurada é a busca de Tavares, fazendo da agonia da tessitura poética motivo para explanar com elegância a trivialidade do cotidiano: “Apesar da ignorância da rota desses navios/ que descem o tejo, da mulher que nos subúrbios; os vê passar tão rente à sua mágoa,/ da moça tímida espiando o mundo/ da janela que em breve o escuro virá selar,// ficam bem os sinos esvoaçando sobre a tarde/ de inverno em que busca a justa palavra/ e não vê deus a tua aflição: o que cala,/ o que finge, o que mente – agreste destino/ que te cabe, tingindo pelo clarão da dúvida”.
Exacerbação da linguagem a serviço de uma incessante procura para melhor atingir uma estética rigorosa, inovadora e própria, aliando formas renascentistas, como o soneto, à versificação livre moderna. Para este “arqueólogo da língua”, no dizer de António Cabrita, que faz uso corrente de vocábulos raros e de “palavras que quase só têm lugar nos dicionários do português”, conforme declara Fátima Monteiro citada por Almada: “Entre a tusa e o lumbago arfa, insone, o polegar. O esmalte/ com que disfarça a ciática,/ que mesureiro caronte lho afiança?”. É com essa estética da expressão manifestada pelo requinte da linguagem, por vezes pictórica, que não impede a associação ao vulgar configurando fortes imagens: “A reboque de frases póstumas, num semáforo,/ à rapariga de cu redondo fescenino soneto// prometi”.
Em “Desarmonia” “me entreguei feito escravo do soneto”, diz. Mas para um poeta duro e que “leva a vida em riste” a metapoética é virulenta, o ofício torna-se ofegante transpiração e coerente com a aspereza da “Oficina irritada”, de Drummond, o soneto de abertura deste livro. Tavares demonstra destreza nas aliterações, assonâncias, rimas internas, prosódias, procura transgredir imagens e “busca o incerto elo// que une o tigre e seu modelo (...)// no ser e parecer”. Tal como Drummond, “Eu quero compor um soneto duro”, Tavares afirma que “Não fala esta poesia de coisa casta”. Logo, expandir a rigidez do soneto é uma preocupação constante, seja pela temática: “Flitena, eritema, eczema – pra soneto/ não serão baixo tema?”; seja na inspiração em Drummond: “E agora, josé, estribado vais num/ único pé, para loja e para o café// (...) mas, nas dores que os versos reinventam,// atenção ao metro, que este soneto, apesar/ de louvor ao manco pé, ao bardo aretino/ tira o boné”. Obsessiva é a transgressão do fazer poético e ironiza a rigidez das regras: “em que o metro é o polícia sinaleiro,/ quase divindade que em outra vida/ hei temido (por isso este jeito mesureiro)”.
Lê-se: “digam lá se a poesia fez ou não progressos”. Sim para este multipremiado poeta comprometido com a reinvenção da linguagem, ampliando os limites da poesia com sintaxe e semântica próprias. José Luiz Tavares é um nome incontestável da contemporaneidade e substantivo esse “Lisbon Blues seguido de Desarmonia”.

segunda-feira, 21 de março de 2011

José Luiz Tavares - Dia Mundial da Poesia

EPÍSTOLA AOS POETAS DO MEU PAÍS
(Antimanifesto para um tempo sem poesia)

Oram e laboram nas catacumbas
do mistério, os poetas do meu país.
Têm pactos com a metafísica.
São fiéis assalariados da tristeza.
Carpem a desfortuna da história,
o glorioso incêndio de roma,
e até mesmo o primeiro uivo divino.
Cobrem-se de tantas imaginárias
dores, como se lhes não bastasse
as veras que lhes dá o mundo.

Ó altos atletas da mágoa,
de lacrimais talentos possuidores,
o paraíso ou o inferno não são mesteres
de um só dia. Canção de embalo
ou acorde perfeito não erguem cidades.
À bulha com as pedras, até que derribada
a última quimera, sufocada a harmonia,
não sobre alento para canto ou choro.

E no entanto o mundo se revida?
Pobres versos não movem guerras;
sorriem antes ou desembestam caretas,
porquanto nem piedade ou cólera
defendem da humilhação e o progresso
lá vai fazendo as suas vítimas.

Ó crentes nas ideias que não defenderam
atenas do soçobro, a posteridade vale
bem menos que a gratidão do sol
esparramada por sobre esses fêveros
pardos campos. Soltar gases, armar
escarcéu, é bem mais poético e mais
humano, que o silêncio foi sempre
uma forma de morte distraída.

Ó tribunícios companheiros no altar
do verbo, se o tempo é chaga e o dom
impuro, fazei antes estalar o chicote,
ou desatai aos pinotes num desmedido
arroubo de danados.

JOSÉ LUIZ TAVARES

José Luiz Tavares nasceu em Cabo Verde em 1967 e reside em Lisboa, Portugal, onde estudou literatura e filosofia. Publicou «Paraíso Apagado por um Trovão» (2003), Agreste Matéria Mundo (2004), Lisbon Blues seguido de Desarmonia (2008), Cabotagem&Ressaca (2008) e Cidade do Mais antigo Nome (2009). Recebeu inúmeros prémios literários em Cabo Verde, Portugal, Brasil e Espanha, entre os quais o Prémio Mário António, da Fundação Calouste Gulbenkian, o Prémio Jorge Barbosa, da Associação dos Escritores Caboverdianos, o Prémio Literatura para Todos, do Ministério da Educação do Brasil, o Prémio Pedro Cardoso, do Ministério da Cultura de Cabo Verde, e o Prémio Cidade de Ourense, do Ayuntamiento de Ourense. Foi ainda Finalista do Prémio ibero-americano, Correntes d’escritas, e semi-finalista do Prémio Portugal Telecom de literatura no Brasil.

* Poema gentilmente cedido por José Luiz Tavares para publicação neste blog em virtude do Dia Mundial da Poesia.

domingo, 20 de março de 2011

MITO ELIAS apresenta PÉ NA BOTI – Testemunhos VideoFónicos

MITO ELIAS apresenta PÉ NA BOTI  Testemunhos VideoFónicos

Screening  de 10 curtas em tom de morabeza digital. 
Mais uma caminhada vídeo nómada junto da comunidade de Cabo Verde na Holanda. 
Este exercício pluri-media versa a estória de gentes Crioulas na sua diaspórica 11ª ilha.





Fonte: e-mail gentilmente enviado por Mito Elias.

XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais (UFBA)

AMPLIADO O PRAZO DE INSCRIÇÃO PARA OS TRABALHOS INDIVIDUAIS ATÉ 30 DE MARÇO DE 2011

Grupo de trabalho:  
INTERSECÇÕES ENTRE RAÇA, ETNICIDADE E GÊNERO: AFRICANOS(AS) E AFRO-BRASILEIROS(AS), CONEXÕES DIFERENCIADAS E / OU DESIGUAIS

Convidamos a todas e todos para O XI CONGRESSO LUSO AFRO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS 
SOCIAIS – AGOSTO – SALVADOR -BAHIA

Nos dias 07, 08, 09 e 10  de Agosto de 2011 com o tema as "Diversidades e (Des)Igualdades", que serão discutidos em 11 eixos temáticos. Durante os quatro dias de evento, especialistas em ciências sociais e humanidades de diversos países estarão reunidos para debater a diversidade e a complexidade de sociedades diferenciadas, nos mais variados aspectos, como é o caso dos países de língua portuguesa

GT 40: INTERSECÇÕES ENTRE RAÇA, ETNICIDADE E GÊNERO: AFRICANOS (AS) E AFRO-BRASILEIROS (AS), CONEXÕES DIFERENCIADAS E OU DESIGUAIS.
Coordenadores: Joselina da Silva (UFC); João Batista Lukombo (Universidade Agostinho Neto); 
Alecsandro Ratts (UFG)

RESUMO:
A primeira década do século XX traz como marco para os afro- brasileiros dois grandes eventos que nos ajudam a pensar e estruturar este GT. O primeiro deles refere-se à realização da Terceira Conferência Mundial Contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e a Intolerância Correlata, ocorrida na África do Sul, em 2001. A presença da delegação brasileira composta por mais de cinco dezenas de integrantes, em que a expressiva maioria era oriunda dos movimentos sociais, demarcou um novo limiar, nas relações raciais brasileiras, sobretudo com os documentos em que o país foi um dos signatários. Ainda neste mesmo decênio, no âmbito das políticas públicas, a promulgação da lei 10639/03 que institui a obrigatoriedade do ensino de História Africana e Cultura Afro-Brasileira, pode ser analisada como mais um passo na direção da oportunidade de estreitamento das relações entre brasileiros e africanos de diferentes nações. Neste sentido, podemos observar a ampliação da área de investigação envolvendo temáticas de raça, etnicidade e gênero, num olhar comparativo que busca entender os deslocamentos - voluntários ou forçados- e as suas diásporas criadas como construto de sociedades globalizadas, em que africanos e brasileiros são parte integrante há vários séculos. Inseridas nestes novos campus de estudos das Áfricas no Brasil e na América Latina localizamos as representações das africanidades, as relações raciais, os estudos sobre desigualdades, as manifestações culturais, bem como os aspectos históricos sociais, aliados aqueles que se dedicam aos territórios africanizados. Estas intercessões analíticas, teóricas e discursivas e passaram então, a ocupar ampliada visibilidade e abrigo nas cátedras acadêmicas dos continentes americano e africano. Nestes contextos os saberes produzidos nestas interações, bem como as conexões diferenciadas ou as desigualdades produzidas, por consequência passam a ser alvo de nosso olhar, neste GT que se insere no eixo temático: Cultura, sociabilidades e pluralismos culturais: interseções de gênero, classe, família, raça e etnia.

Objetivos:
- Privilegiar a apresentação de trabalhos que apresentem leituras plurais atuantes nos diversos imaginários nacionais e nas políticas multiculturais, atualmente em vigor, na maior parte dos países africanos e suas diásporas.
- Estimular a reflexão crítica e a troca de saberes entre os participantes do GT visando futuros trabalhos, pesquisas e publicações conjuntas. 

Justificativa:
África e sua diáspora, aqui considerada em particular para os territórios brasileiro e português, constituem regiões que permitem examinar de forma privilegiada as intersecções entre raça, etnicidade, gênero e deslocamentos dada a importância que tem recebido no estudo das identidades locais e nacionais. Consideramos de grande interesse confrontar as diferentes maneiras em que as distintas sociedades dessa grande região - África, Europa (Portugal) e América (Brasil) - tem entendido e lidado com estas variáveis. Também buscamos compreender os problemas políticos e culturais específicos que provocam a aproximação ou desarticulação dos interesses e direitos de gênero e sexualidade com os étnico-raciais nas políticas públicas e programas de desenvolvimento, que em muito podem contribuir com as configurações de deslocamento individuais ou coletivas.
AS INSCRIÇÕES PARA OS TRABALHOS INDIVIDUAIS VÃO ATÉ 30 DE MARÇO DE 2011  

Fonte: e-mail enviado pela Profa. Dra. Joselina da Silva (UFC), coordenadora do Congresso.

Curso “LITERATURA, FUTEBOL E NEGAÇA



Salve. Positividade. Com licença para um chamado.

Edições Toró, Sarau da Fundão e Coordenadoria de Bibliotecas da Secretaria Municipal de Cultura de SP - SMC convidam para o curso “LITERATURA, FUTEBOL E NEGAÇA".

Considerando as fintas, impedimentos e soladas das relações étnico-raciais brasileiras, abrindo rumos para vivências em Arte/Educação que contemplem questões ancestrais e urgentes da população negra e do povo brasileiro em geral. Atentando à forma e ao conteúdo (separados tantas vezes falsamente).

Com oficinas, aulas teóricas, projeção de vídeos, fotografias e músicas, leituras dramáticas e mapas.

Cinco encontros aos sábados, de 02 a 30/04/2011.

02/04 – "100 anos jogando com a raça: discriminação, ascensão social, pátria e grandes negócios”, com Flavio Francisco (Historiador e Pesquisador das Mídias Negras do começo do Século XX) e Uvanderson Vítor (Sociólogo, Pesquisador das Desigualdades Sócio-raciais Brasileiras)
Com textos de Nelson Rodrigues, Gilberto Freire e João Antônio

09/04 - "De Retratos a Chuteiras – A Nação envergonhada", com Monica Cardim (Fotógrafa e Arte-Educadora, Mestranda em Estética e História da Arte).
Com textos de Lima Barreto

16/04: "Corpo Negro em futebol e teatro: Dramaturgias, cenas e ritual", com Evani Tavares (Atriz, Angoleira, Doutora em Artes pela UNICAMP):
Com textos de Cidinha da Silva e Oduvaldo Vianna Filho

23/04: "O baque do Maracanã 50 e o goleiro Barbosa – enquadro e projeção”, com Renata Martins (Cineasta atuante em Direção, Roteiro e Montagem. Educadora em Artes Visuais)
Com textos de Eduardo Galeano

30/04: "Do campinho ao estádio: Geografia das emoções e Imagens da bola preta" - com Billy Malachias ( Mestre em Geografia Humana, Pesquisador do NEINB/USP e Consultor do MEC)
Com textos de Plínio Marcos, José Roberto Torero e do cordelista José Soares


Na Biblioteca Helena Silveira: Rua Doutor João Batista Reimão, 146 (Atrás do Terminal Campo Limpo)

GRATUITO para 35 participantes, com distribuição de certificados ao final do curso.

INSCRIÇÕES no sítio www.edicoestoro.net ou na Biblioteca tel: 5841-1259

Pedagoginga - mais reflexão e menos marketing, mais fogueira e menos fogos de artifício

Allan da Rosa/ Edições Toró
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Realização: Edições Toró, Sarau da Fundão e Coordenadoria de Bibliotecas da Secretaria Municipal de Cultura de SP - SMC

Articulação Pedagógica: Allan da Rosa

Concepção do cartaz: Mateus 'Subverso'


Fonte: e-mail enviado por Allan da Rosa em 17 de março de 2011.

Quatro poetas de Cabo Verde (vozes femininas) na sèrieAlfa - art i literatura

A revista catalã sèrieAlfa - art i literatura em seu número 49 (março-2011) providenciou uma justa antologia de poesia feminina de Cabo Verde. Organizada por Paloma Serra Robles, esta versão de Quatre poetes de Cap Verd (Quatro poetas de Cabo Verde) reúne Eileen Almeida Barbosa, Vera Duarte, Margarida Filipa de Andrade António Fontes e Chissana Mosso Magalhães e juntam-se ao material reunido para Quatre poetes de Cap Verd (Quatro poetas de Cabo Verde), uma pequena antologia de poesia contemporânea realizada por José Luiz Tavares e Joan Navarro, este o responsável da tradução para o catalão. Constam na antologia os nomes de Mario Lucio Sousa, Arménio Vieira, Oswaldo Osório e Valentinous Velhinho.

Para acessar a antologia clique aqui.

Fico feliz por ter colaborado neste trabalho e ajudar a levar a literatura de Cabo Verde a outras paragens.

Ricardo Riso

quinta-feira, 10 de março de 2011

Resenha d'A Febre dos Deuses no jornal Notícias (Moçambique)

Minha resenha para o livro de contos A FEBRE DOS DEUSES, do jovem moçambicano Andes Chivangue foi publicada no caderno cultural do jornal Notícias (Moçambique), do dia 9 de março de 2011. Para fazer a leitura do texto, clique aqui.
Meu agradecimento especial ao Andes Chivangue e ao Manecas Cândido.
Ricardo Riso

Mario Lucio Sousa – Para nunca mais falarmos de amor (resenha)

Mario Lucio Sousa – Para nunca mais falarmos de amor

Ricardo Riso
Resenha publicada no semanário cabo-verdiano A Nação, n. 184, p. 10, de 10 de março de 2011.
O poeta Mario Lucio Sousa, pseudônimo de Lúcio Matias de Sousa Mendes, nasceu a 21 de outubro de 1964, no Tarrafal, Ilha de Santiago. Já possui uma considerável obra literária que tem se destacado pela variedade estética. De sua lavra são os títulos: Nascimento de Um Mundo (poesia, 1991); Sob os Signos da Luz (poesia, 1992), Para Nunca Mais Falarmos de Amor (poesia, 1999), Os Trinta Dias do Homem mais Pobre do Mundo (ficção, 2000 – prêmio do Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa) e O Novíssimo Testamento (ficção, 2010). Além disso, o poeta também atua no teatro e na música, sendo nesta atividade um dos principais nomes de Cabo Verde no estrangeiro.
Em “Para nunca mais falarmos de amor”, sob a chancela da Edições Artiletra, o poeta brinda-nos com uma temática destelurizada do cânone literário cabo-verdiano, poemas breves e concisos em dísticos, tercetos e quadras, para além de agradáveis experiências com os hai-kais e a poesia zen. Destacamos a capa do livro que merece atenção especial por se tratar de uma carta do poeta escrita à mão, indicando o que poderia ser uma dolorosa viagem intimista no decorrer das páginas, condição que somente a leitura avaliará.
Neste livro, em razão das formas curtas optadas pelo poeta, o instante poético é captado com extrema sensibilidade em imagens inusitadas, por vezes irônicas, e em muitos poemas prevalece a melancolia e a amargura. A fugacidade da inspiração é sentida na observação da simplicidade do cotidiano, na harmonia plena com a natureza: “Quando a ave voa/ o vento espreita e monta”. Neste, inferimos a leveza do sujeito lírico apropriando-se do voo e do ar, símbolos da liberdade incorporados à poesia. Liberdade para vivenciar e expressar em matéria poética o que para muitos poderia ser considerado banal: “Manhã/ Palavra que nunca adormece”.
A influência da poesia oriental nos poemas de Mario Lucio é pertinente por apresentar questões que desestabilizam nossos sentidos. O ato de se sentir no mundo é questionado, há uma preocupação de demonstrar a “consciência da nossa fragilidade e da precariedade da nossa existência” no mundo, conforme afirma Octávio Paz no artigo “A tradição do haiku”. Sensação que fica ainda mais evidenciada pelo uso da linguagem coloquial e pela brevidade do poema: “Tudo pode mudar/ o que não sabemos/ é que não”.
Beleza enobrecedora do instante poético, o corte abrupto, perplexidade, silêncio. A dificuldade de dizer conduz à reflexão sobre a linguagem: “Nunca usei esta palavra./ Não há de agora ser. Não há/ Sofro em silêncio”. Obstáculo que transporta para a livre associação, para o absurdo zen: “Voltarei a nadar como dantes/ nem que seja numa mão d’água sobre/ a minha cabeça”.
A dor da perda amorosa gera melancólicos poemas. A brevidade dos versos contrapõe-se ao sofrimento imensurável: “A luz, essa/ fugiu dos teus olhos./ Não vês” ou “Hoje, tenho comigo todas as tristezas do Mundo./ – São assim tantas?” O lirismo amoroso comparece acompanhado de tristeza e solidão: “Mesmo que acabe o amor/ eu estarei aqui./ Fui amado. Amei”. Do angustiante sentir, a continuidade após os estilhaços da dor: “Viverei sozinho esta Eternidade./ Ninguém saberá o que dizer/ que o Mundo quase acabou para mim”.
Assim atravessamos com satisfação os oitenta e quatro pequenos poemas de “Para nunca mais falarmos de amor”, carregados de sinceridade, em alguns momentos dolorosos, reveladores de um artista com a sensibilidade à flor da pele e pronto para desnudar o belo da poesia, o bom de viver. Trata-se de mais uma interessante e gratificante investida de Mario Lucio Sousa na literatura.

III Festival Alagoano das Palavras Pretas





III Festival Alagoano das Palavras Pretas acontece em 21 de março.*
Arísia Barros


A 3ª edição do Festival Alagoano das Palavras Pretas acontece no Dia Internacional de Luta Contra o Racismo, o 21 de março, como um prosseguimento da experiência de plantar espaços mais amplos e democráticos, para a palavra despir-se da roupagem convencional, invadindo continentes alheios ao nosso conhecimento cotidiano, criando sinergias, articulando as muitas e diversas gentes que gostam de gostar da emoção do encontro com poesia.
Será mais uma noite especialmente poética de uma segunda-feira, 21 de março, com o cheiro e sabor das palavras despindo as amarras: “minha-mãe-não-deixa-não”, rasgando alguns silêncios sociais.
III Festival Alagoano das Palavras Pretas conta com o “apadrinhamento artístico” do ator e militante do movimento negro, Milton Gonçalves e experimenta algo novo.
O novo assusta?
O Festival tem a intenção de criar uma maior intimidade com os diversos mundos existentes na palavra-poesia. Mundos que quebram barreiras,promovem a abolição de códigos caducos, racistas e sexistas, renovam a arte de poetar.
Mundos que propõem formas alternativas de “pensar” o racismo brasileiro, potencializando a diversidade de poemas africanos e afro-brasileiros ou de gente que escreve sobre a questão afro alagoana ou brasileira.
Quantos poemas africanos ou afro-brasileiros você conhece?
Ficou na dúvida? Pois é, está aí um momento ímpar para conhecê-los.
Como estamos em março o III Festival Alagoano das Palavras Pretas terá o sugestivo título de “Palavras com Cor e Gênero” e nesta noite a grande protagonista é a mulher que cerze o verbo, bordando histórias de determinação, possibilidades, oportunidades, continuidade...
Poetisas que em seu lugar e tempo, são marcos de referência.
Você escreve sobre a temática?
Manda seu poema para gente divulgar no Festival, ou caso não, venha participar da oportunidade de raptar a palavra do papel dando-lhe voz e vida.
O palco do III Festival das Palavras Pretas: Palavras com Cor e Gênero é o Teatro Abelardo Lopes/SESI- Galeria Arte Center. Av. Antonio Gouveia, 1113, Pajuçara.Ah! nessa terceira versão teremos um olhar especial para os poemas estrategicamente espalhados ao longo do Teatro para serem colhidos por você. É que no II Festival eles simplesmente sumiram.
Após uns dias de encucação-o-que-foi-que-aconteceu?-uma senhora nos ligou agradecendo pelo convite, teceu elogios e afirmou que graças ao II Festival ela agora tinha um “monte” de poemas africanos e afrobrasileiros colados em um caderno.
Como um livro!
Que bom!
Para inscrever-se basta enviar um e-mail para raizesdeafricas@gmail.com dizendo:quero-participar-do-III-festival-das-palavras-pretas, com os seguintes dados: nome, instituição, celular, endereço.
Até lá!

* Contribuição enviada por Marize Conceição de Jesus para este blog em  09/03/2011.

terça-feira, 8 de março de 2011

Pedro Matos - Midju di Fogu (livro ed. Nandyala)



Lançamento do livro Midju di Fogu - 'Azágua' e outras memórias de Cabo Verde, do jovem Pedro Matos, natural da Ilha do Fogo - Cabo Verde. Além dos poemas do autor, o prefácio é da Profa. Dra. Simone Caputo Gomes (USP) e o texto de contracapa é de Ricardo Riso. O livro é mais um lançamento da Nandyala, gratificante editora mineira que atua nas temáticas afro-brasileiras e africanas.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Pombal Maria - “Palavras Lavradas”


À procura da concretização de um caminho para a poesia angolana em “Palavras Lavradas”, de Pombal Maria
Por Ricardo Riso, 04 de março de 2011.
“Palavras Lavradas” (Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2010), título do segundo livro de poesia de Pombal Maria, estimula-nos, pelo que o título indica, a realizar a travessia das páginas em busca de um poeta que não tem receio em experimentar e partir para novos referenciais estético-formais, ou seja, a esperança que as palavras lavradas, como bem anunciou Abreu Paxe no prefácio da obra a respeito da arte da capa e da relação com o título, ofereçam-nos novos significados, caminhos diferenciados para a poesia.
Qual não foi nossa surpresa ao constatarmos uma proposta estética com forte inspiração na Poesia Concreta e as suas naturais ressonâncias nos poemas de Mallarmé e e. e. cummings, uma estética vanguardista de discreta presença na poesia angolana?
São amplas as possibilidades que a Poesia Concreta oferece e que parte considerável do conjunto de poemas de “Palavras Lavradas” procura se encontrar com inovações sintáticas e semânticas, a desconstrução morfológica, a exploração da topografia trazendo o componente visual aos poemas e a consequente abolição da linearidade dos versos.
O interessante da Poesia Concreta é a sua subversão em relação à poesia. Com ela, os experimentalismos propostos pelos concretistas brasileiros – Augusto e Haroldo de Campos, Décio Pignatari e outros – nos anos 1950 ressignificaram a forma de se ler/ver o poema. O poema não era mais sobre algo ou alguma coisa, mas sim autônomo em si, principalmente quando partia para a ruptura com a linguagem, aliando-se às formas geométricas e ao não-verbal. O poeta brasileiro Pedro Xisto, contemporâneo dos concretistas, conseguiu ótimos resultados e podemos citar os seus poemas “Zen” e “Epithalamium – II”:
Pombal Maria explora a visualidade do poema e apresenta um poema que em nosso entendimento vale pela ousadia extrema, um poema que se tornará referência. Trata-se de “1ma cruz entre os ver-sos de interrogações”. Neste, de um quadrado de interrogações simultâneas visualizamos uma cruz que cria um interessante jogo de relações com versos de angolano Lopito Feijoó como epígrafe:

Visualidade que também será explorada com bom resultado no poema “Estranho Naufrágio”:

Encontramos a radicalização e a ironia da proposta poética de Maria em “Poema invisível na lavra de palavras”. Neste, o desarranjo e a impossibilidade da leitura se dá com os diversos sinais de pontuação que constroem o poema, o que demonstra a necessidade de se buscar uma nova forma de discurso para a poesia. Corajosa, frisamos, pois o poeta avisa-nos que a leitura deve ser feita em voz alta, com direito ao aumento dos tipos da palavra “alta”, recurso gráfico que será reutilizado no poema “Dança”, que procura na oscilação do tamanhos das letras o ritmo de uma dança.
Entendemos que as experimentações da Poesia Concreta podem contribuir para a tessitura da poesia angolana, principalmente quando se trata da crítica à ordem estabelecida. Diante do feroz e excludente neoliberalismo da atual política angolana, ficamos, de certa maneira, frustrados com o lirismo de “Fuga”, ainda mais quando lemos os versos “Sombras/ mascam lixo do luxo” e não há como não recordar o célebre poema de Augusto de Campos, “lixo/luxo”:
O discurso utópico permanece no poema “Talvez”, contudo, no plano estético o poema carece de ousadia, pois a subversiva proposta do primeiro verso “SeAsFrasesNãoTivessemEspaço” perde-se com o uso das maiúsculas a cada nova palavra, por que se optasse entre só maiúsculas ou somente minúsculas em todo o poema, isso certamente reforçaria a proposta visual e traria um maior desafio para os leitores. Parece-nos que a indecisão do título se transferiu para a feitura do poema.
Uma outra timidez que devemos pontuar e que merecia ser melhor trabalhada se dá com o uso dos numerais substituindo sílabas ou sintagmas que são fartamente usados por Maria, todavia, com restritiva variação, somente encontramos seus melhores resultados em “Meu amor”. Por isso, é mister recordarmos um belíssimo exemplo dentro da poesia angolana com o “poema alfanumérico”, de Conceição Cristóvão, em “solsalseiosexo”: “eu 20 dizer o seguinte:/ se ele 60/ 100 pejo/ no dorso de sua malva10/ qual 1000ionário/ in100sível/ ou ainda 70/ o inútil desejo de 12ar/ seu c8 incestuoso/ corto-lhe eu o cordão/ 1bilical/ e provoco-lhe uma 5pe./ aí será o final da 9la.”
Apesar do acanhamento apresentado em algumas propostas, e que cabe ao exercício crítico pontuá-los, consideramos que a subversão da linguagem, a ressemantização das palavras em alinhamento com os sinais gráficos, para além do abundante uso dos sinais de pontuação a exigir do leitor participação ativa na construção e leitura dos poemas, como se somente a radicalização da linguagem seria possível em um mundo impossível e insensível, sendo exemplo o ótimo poema “Diálogo dos Mudos”, posicionam este “Palavras Lavradas” de Pombal Maria em um novo paradigma para a poesia produzida em Angola. Um livro que merece nossas atenções e a torcida para que Maria continue a explorar esse vasto mar que a Poesia Concreta ainda pode nos surpreender, principalmente quando inserida nos programas gráficos de computador e sem abandonar o comprometimento crítico ao mundo que o cerca, para “lavrar palavra a palavra (...) pedra a pedra o verbo da noite”. Com seus acertos e erros, “Palavras Lavradas” é um livro necessário e que chega em boa hora para desafinar o coro dos contentes de uma poesia sem riscos.

terça-feira, 1 de março de 2011

Arménio Vieira - poemas dispersos

Uma singela e valiosa colaboração do Prof. Ms. Rui Guilherme Gabriel (Universidade de Coimbra/Portugal) para este blog. Seguem dois poemas de Arménio Vieira, o vate maior da literatura de Cabo Verde, que foram publicados no jornal cabo-verdiano Voz di Povo em 1975, mas que não vieram a ser incluídos em seus livros.

Meu sincero agradecimento e um abraço fraterno ao Prof. Rui Guilherme.
Ricardo Riso


EVOCAÇÃO DA MINHA INFÂNCIA

Até mim
rumores…
farrapos dispersos da minha infância
minha infância
morta-sepultada-adormecida
em ataúde branco
com cadeado de ouro.
Farrapos da minha infância
nos seios-duros
da preta Xila despida no banho:
Menino-ladrão-de-prazer
Luxúria-a-estremecer espreitando
as coxas nuas da preta Xila.
Farrapos da minha infância…
Menino-sufocado-de-riso
bailando…
bailando perdido
nos berros histéricos de Nha Maninha-Doida.

Farrapos da minha infância
no lume-vermelho de cigarro furtado
na chaminé-revelação
do meu nariz em fumo.
Farrapos da minha infância
nos pardais
sangrados à pedra
na indescritível emoção
das pernas
tiros
e cenas de pancadaria
vendidos no cinema.
Farrapos da minha infância
desenrolando-se
nas selvagens fugas diárias
– com doidos-por-Mim-assobiados
– com cães-por-Mim-açulados
– com polícias-por-Mim-apupados
com o mundo no meu encalço.

Farrapos da minha infância
nas mágicas pedrinhas
atiradas ao pote
no contemplar-espantado no cais
de músculos inchados
levantando fardos.
Farrapos…
rumores da minha infância
no chocalhar de vidraças partidas
no clandestino buzinar de carros parados
nos berros de Nha Maninha-Doida…
Farrapos da minha infância
nas poderosas musculaturas
dos carregadores de cais
da minha infância…
morta-sepultura-adormecida
nas coxas interditas
da preta Xila. 

(Um dos “três poemas in Mákua, 1. Sá da Bandeira, 1962 [na lombada: «1963»]”, segundo Ferreira e Moser. Também em Voz di Povo, n.º 103, Praia, 23 de Julho de 1977, p. 8) e em Resistência Africana, Serafim Ferreira (org.), Lisboa: Diabril, 1975, p. 57-58).



O CONDENADO

Sentou-se em cima do parapeito e por breves instantes olhou para o mar. A duzentos metros, se tanto, as ondas assemelhavam-se a pachorrentas vacas ruminando feno ao meio da tarde. O mar fora sempre uma das poucas alegrias da sua vida. Banhista solitário, ele relaxava-se tanto quanto era possível a um bom nadador, e com delícia entregava-se aos afagos do mar. Longe do mar era como se a vida, sem horizontes nem sonhos, o comprimisse entre duas sombrias paredes, cada vez mais estreitas com a passagem do tempo. O mar! E uma onda de nostalgia reprimiu-lhe o impulso, prolongando a sentença há muito ditada pelos seus demónios. Uma sentença implacável, inadiável, para ser cumprida, rigorosamente, naquele dia e naquele lugar. Um dos «espíritos», que o seguia de perto, a fim de zelar pela execução da sentença, sussurrou-lhe ao pé do ouvido, num tom martelado, imperativo: – Salta! O condenado voltou a contemplar as ondas, num derradeiro adeus. Tirou a camisa e os sapatos, pensando: um homem deve morrer nu, tal como nasceu. No entanto, reservas de pudor obrigaram-no a conservar as calças. Lançou um breve e comovente olhar ao único ser vivo ali presente: uma velhota pregada ao solo, indecisa e ofegante ante o insólito. O condenado benzeu-se, evitando olhar de novo para o mar, e atirou-se. A velhota levou a mão à frente e persignou-se.

Recolheram-no seminu do fundo do abismo, precisamente no sítio onde uma vala começava a ser aberta. Não tentaram reanimá-lo. Via-se bem: estava morto. Mais tarde, no hospital, constatou-se que o seu corpo, magrinho e cheio de escoriações provenientes da queda, apresentava várias fracturas. Da sua face, porém, desaparecera esse aspecto de tronco contorcido e rugoso que adquirira nesses anos todos de vaivém entre a taberna e os demónios. Suas feições, finalmente, valiam bem as de um santo que acabasse de transpor os umbrais do paraíso.

(in Voz di Povo, n.º 86, Praia, 26 de Março de 1977, p. 9).