Revolução literária moçambicana – o paradigma Movimento Kuphaluxa
Ricardo Riso
Texto publicado na revista moçambicana Literatas, n. 19, de 24 de fevereiro de 2012, p. 13
Quase o tempo de existência do Movimento Kuphaluxa foi o início do meu contato com alguns dos seus integrantes, dentre os quais destaco Mauro Brito e Amosse Mucavele, este já um parceiro de projetos literários.
Desde o seu início impressionou-me a determinação de seus componentes em tirar da inércia a cena literária moçambicana, ainda que diante das limitações do pequeno ambiente das letras no país, dos impedimentos que a nova geração sofre para adquirir seu espaço e obter o respeito das gerações anteriores, assim como o parco apoio financeiro e tecnológico para o desenvolvimento de seu projeto de maior ambição, a revista eletrônica “Literatas”.
Após dezoito edições, “Literatas” é hoje uma importante publicação de integração das literaturas em língua portuguesa. Um projeto ousado, a mostrar a coragem de um grupo de jovens apaixonados pela literatura e aptos a promover o fim do silenciamento comunicativo das nossas ilhas lusófonas espalhadas pelo globo terrestre. Uma manifestação literária que em sua curta duração já semeou e colheu melhores frutos do que as pífias políticas dos nossos governos e seus ministérios de cultura, o que me leva a confirmar a análise do ensaísta brasileiro Silviano Santiago acerca do “cosmopolitismo do pobre” e sua atuação como agente reprodutor de cultura e reivindicações:
No plano dos marginalizados, a crítica radical aos desmandos do estado nacional, tal como este está sendo reconstituído em tempos de globalização, não se dá mais na instância da política oficial do governo nem na instância da agenda econômica assumida pelo Banco Central, em acordo com a influência coercitiva dos órgãos financeiros internacionais. Ela se dá no plano do diálogo entre culturas afins que se desconheciam mutuamente até os dias de hoje. Seu modo subversivo é brando, embora seu caldo político seja espesso e pouco afeito às festividades induzidas pela máquina governamental (SANTIAGO, 2004, p. 61).
“Literatas” ainda apresenta-se incipiente em seu projeto gráfico e linha editorial, porém, condizente ao processo de formação literária e intelectual de seus idealizadores que procuram aprimorar a revista a cada edição. Minha única ressalva se dá para a ausência de representantes da literatura negro-brasileira, pois com a integração de seus partícipes em suas páginas, visto que esses escritores são invisibilizados por aquilo que se considera como literatura brasileira, a comunidade lusófona teria outra dimensão da pluralidade da produção literária do Brasil.
Para finalizar, minhas congratulações para este coletivo moçambicano que concretiza um novo paradigma para o intercâmbio das literaturas em língua portuguesa.
Longa vida à revista “Literatas” e ao Movimento Kuphaluxa!
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