António Pompílio – O camaleão e a cobra
Por Ricardo Riso
Nos últimos anos os expoentes da literatura angolana cumprem um inestimável papel ao dedicarem seus talentos a histórias voltadas para o público infantil. Trata-se de sinal de respeito aos pequeninos e mostram uma postura ousada e sem receio em diversificarem suas produções, por conseguinte, a ampliação de leitores.
Parte ativa desse projeto, a União dos Escritores Angolanos vem contribuindo para a formação de um público-leitor infantil e investindo com generosidade nesse segmento. Em 2009, a celebrada organização lançou “O camaleão e a cobra”, uma pequena narrativa de António Pompílio e ilustrada pelo competente Casimiro Pedro.
O enredo é simples. A história se passa em uma floresta na qual um camaleão cuida de seu casal de filhos. A paz da família é perturbada quando o camaleão escuta os planos malignos da cobra e do macaco. Ambos desejavam devorar a família de répteis. Os camaleões refugiam-se em casa, entretanto, a cobra, desesperada com a fome, pratica uma má ação e rouba a comida da casa do coelho. Quando este descobre que foi assaltado, reclama a todos os animais, porém a dupla sem caráter inventa uma mentira e acusa o camaleão do roubo. Os outros animais revoltam-se com a atitude do inocente camaleão e acabam matando-o.
Contudo, a mentira tem pernas curtas e a verdade logo vem à tona. O leão, o rei da floresta, determina uma severa punição ao macaco e à cobra, enquanto os filhotes do camaleão, agora órfãos, ficarão sob os cuidados de todos os animais da floresta.
A narrativa curta e direta demonstra didaticamente como um roubo seguido de uma mentira pode ter consequências devastadoras para as vidas das pessoas. A bela e trágica metáfora que atinge a família de camaleões proposta por Pompílio, ensina as crianças o quanto é importante a solidariedade nos momentos difíceis e o quanto é ruim e de péssimo comportamento as atitudes da cobra e do macaco. Em seu término, a bela lição de solidariedade que é passada com a dedicação de todos os animais para a criação dos pequeninos camaleões.
Pompílio resgata em sua escrita simples e linear a tradição da narrativa oral angolana, popularmente conhecida como missosso. Através de animais humanizados, a narrativa apresenta por meio de atitudes individuais, códigos de conduta que atingem o coletivo, traçando o seu perfil comunitário.
A publicação tem formato agradável, papel resistente e com boas cores. As ilustrações de Casimiro Pedro, corretas e sem exageros, complementam com maestria o texto de Pompílio. Todavia, algumas gralhas de revisão textual (como as do texto de aba de capa e da página 11) passaram despercebidas e faltou maior cuidado com a relação texto-imagem-cor, dificultando um pouco a leitura (pág. 7). Pequenas falhas que não comprometem a obra, mas que devem ser evitadas, principalmente para o público ainda em formação que se pretende atingir.
António Pompílio. É membro da União dos Escritores Angolanos, natural do Lobito, nascido aos 05-07-1964. Design Gráfico e Jornalista Bacharel do Curso de Língua Portuguesa, na Faculdade de Letras e Ciências Sociais em Luanda. Dentre várias obras, destacamos: “O sal dos Olhos do Mar”, Menção Honrosa, prêmio Sonangol de Literatura de 1994, “Simetrias” e “Mambelé, o engraxador”.
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