Interesse pelas obras se diluem como os materiais perecíveis usados pelo artista
Por Ricardo Riso
Por Ricardo Riso
No último domingo estive no Museu de Arte Moderna – MAM/RJ para ver a retrospectiva do badalado artista plástico Vik Muniz. Surpreendeu-me a grande presença de público em uma tarde bastante ensolarada do verão carioca, o que é muito bom, ainda mais quando se trata de um artista brasileiro em atividade, pois grandes públicos são comuns em exposições de Picasso, Monet, surrealismo etc. Porém, esta mostra de VM conta com um bom apoio da mídia e não podemos desprezar o caráter pop das obras do artista.
Vik Muniz é conhecido por suas pesquisas na reelaboração de imagens ícones da história da arte, com reproduções de pinturas famosas, e de imagens históricas do jornalismo, de celebridades, ou simples cenas do cotidiano. Contudo, sua grande característica é a pluralidade na utilização de materiais inusitados para a construção de suas idéias, que são muito bem elaboradas.
Por sua relação com a recriação de imagens, é inevitável a comparação com os artistas da pop art, como Andy Warhol e Roy Lichtenstein. Entretanto, Vik Muniz quer mais, faz mais: vai até Arcimboldo e cria uma bandeira americana com legumes e verduras. Suas reproduções imagéticas não meras cópias em razão dos materiais utilizados. Com uma leitura própria, poética e sensível, Vik Muniz reproduz a obra do outro, conseguindo autenticidade para suas re-criações.
Constatamos a criatividade do artista em trabalhos como o que usa chocolate derretido e reproduz uma famosa fotografia de Jackson Pollock, e associamos imediatamente ao gotejamento (dripping) usado pelo papa da Action Painting. Assim, VM nos conduz a uma viagem imagética instigante proporcionada pelo minucioso cuidado, pleno em originalidade, na feitura de suas obras relacionada a semelhança causada pelas fotografias dessas imagens, que são recriadas a partir de cenas celebradas pelos meios de comunicação.
E é nessa peleja que entramos incentivados pelo artista: entre a cópia criada e a fotografia como resultado final. Logo, inferimos um intrigante paradoxo em Vik Muniz, pois trata-se de um artista inserido no seu tempo por utilizar a fotografia e suas novas tecnologias digitais de manipulação da imagem; por outro lado, quando vemos, a partir dessas imagens, que há todo um processo, na maioria dos casos, artesanal, braçal e de intensa pesquisa que estão mesclados em um único resultado. E creio ser exatamente essa linha tênue, por si paradoxal, percorrida com audácia por ele como o seu ponto mais relevante.
Entretanto, ao passar por mais de cem trabalhos expostos tive uma sensação paradoxal, também. Da mesma maneira que a ousadia e as diversas questões relacionadas a valor levantadas por Vik Muniz, como o uso de diamantes, lixo, materiais orgânicos e perecíveis que fascinam o olhar do espectador, me causou certo cansaço e enfado, motivado pela curiosidade em conhecer o processo de criação em cada obra, em uma atividade lúdica, que, ao final, acaba parecendo um grande jogo de adivinhação. Como consequência, esses trabalhos apresentam uma relação perigosa com aquilo que é efêmero, perecível, vazio estimulado pelo rápido desinteresse quando descobrimos como as obras foram criadas. Sensação presente principalmente diante dos retratos feitos com papéis perfurados, pois depois que vemos o primeiro se perde a graça de ver outros. Arte descartável como os tempos atuais.
No fundo, a grandiosidade inventiva dos trabalhos exposto por Vik Muniz assemelha-se a um ótimo parque de diversões. Infelizmente.
Achei muito bem colocado seu ponto de vista. Creio que a "obra" de Vik Muniz se perpetua mais na ordem do simulacro do que como criação de uma poética pessoal.
ResponderExcluirWaldirene
Muito bem colocada a sua observação a respeito do simulacro, Waldirene.
ResponderExcluirObrigado pela participação!
Abraços,
Ricardo Riso