domingo, 30 de maio de 2010

No futebol, questão racial não importa para as relações afetivas (????)

No futebol, questão racial não importa para as relações afetivas (????)
Por Ricardo Riso

A matéria a seguir foi publicada na edição on line do jornal Folha de São Paulo. Seu título, No futebol, questão racial não importa para as relações afetivas, tenta encobrir, sem sucesso, o racismo que há na relação das chamadas Maria-Chuteiras com os deslumbrados jogadores negros de futebol.

Aqui temos algumas questões que merecem vir à tona. A primeira refere-se ao negro que consegue ascender socialmente neste país e para completar a sua ascensão ele "necessita" ter uma mulher branca como companheira. Uma outra questão é que o homem negro só é aceito pela mulher branca se apresentar uma condição social elevada e, principalmente, uma conta bancária polpuda. Sim, há exceções, porém, raras. Vale recordar que são uniões que sofrem com os estereótipos, tais como: "ela gosta da coisa preta", ou o "negro de alma branca" que a família da mulher branca é obrigada a aceitar. Outro ponto a ser levantado é de como o estereótipo do negro como objeto sexual permanece em nossa sociedade, a verdadeira máquina de sexo. Se com o homem negro é assim, não preciso mencionar o que a mulher negra passa. (...)

Para ler o restante, acesse o blog A Bola Limpa

sábado, 29 de maio de 2010

José Luiz Tavares - Paraíso Apagado por um Trovão (3a. edição)

Paraíso Apagado por um Trovão, do celebrado poeta José Luiz Tavares chega a sua terceira edição sob a chancela da Universidade de Santiago. O que torna especial a atual edição é o fato de ser bilíngue, com todos os poemas transcritos em língua cabo-verdiana, além de constar uma entrevista à Maria João Cantinho em 2004.

Com esta obra, José Luiz Tavares foi galardoado com os seguintes prêmios: Prémio revelação Cesário Verde, C.M.O. 1999; Prémio Mário António, Fundação Calouste Gulbenkian 2004: e foi Finalista Correntes d’Escritas / Casino da Póvoa 2005.

Marco paradigmático na poesia cabo-verdiana, Paraíso Apagado por um Trovão é, conforme assinalou José Luis Hopffer Almada em posfácio de outro livro do poeta - Lisbon Blues, "choca, desde logo, pelo seu apuro de linguagem, num português raro, e quiçá rebuscado, na sua erudição.


Característico dessa linguagem é o seu quase despojamento do coloquialismo identitário da poética e do concreto léxico da caboverdianidade, por vezes marcada pelo chamado português literário de invenção claridosa, frequentemente chão, mesmo se – como foi anteriormente dito - assaz elaborado na sua inventividade literária e irrecusavelmente autêntico na sua pertinência cultural.

De todo o modo é o apuro da linguagem, na sua raridade e erudição, que tornam patente e incontornável o efeito universalizante de ruptura quer com o telurismo atávico, de raiz claridosa e feição novalargadista e vanguardista".

Parabéns ao poeta José Luiz Tavares por este novo Paraíso Apagado por um Trovão e pela tradução deste para a língua materna, objeto maior da afirmação identitária do arquipélago, e que tanta perseguição sofreu em um triste passado não tão distante. Há-de celebrar a produção em língua materna assumida por nomes como Danny Spínola, Kaká Barbosa, Jorge Carlos Fonseca, Zé Dy Sant'Y'Agu (heterônimo de José Luis Hopffer Almada), seguidores na tradicão do uso do crioulo de nomes como Kaoberdiano Dambará, Pedro Cardoso e Eugénio Tavares.

Ricardo Riso



ONDE HABITA O TROVÃO
UNDI KI STRUBON MORA
2.

A casa é um esboço de memórias:
primeiro, o telhado onde os gatos tecem
ninhadas. A insónia trabalha os alicerces
como furiosos êmbolos percutindo os veios.
Os filhos chamam das janelas, estendem raízes
pelos pátios num sereno avultar de astúcias.

O vento enumera as casas que foram sendo
habitação dos mortos; em segredo;
como um rumor de pálpebras
descendo sobre a surdina dos amados nomes
sussurrados junto aos poços do crepúsculo.

Ruínas de antiga ordem, fitam-nos desde
a lonjura do olvido; mas os esteios lá permanecem;
se bem que esventrados por percucientes máquinas.
Tão fundo descem que é própria raiz dos sonhos
que escarvam.
p. 22


i i .


Kaza é un sbosu di mimórias:
prumeru, tedjadu undi ki gatus ta tise
ninhadas. Insónia ta trabadja alisersis
sima piston furiozu ta rapika na veius.
Fidjus ta txoma di janela, es ta stende raís
pa pátius, nun labantar serenu di astúsia.


Bentu ta konta un pur un kes kaza ki ba ta ser
morada di mortus; sukundidu;
sima un susuru di pálpibras
ta dixi riba di surdina di kes nomi amadu
limiadu baxu djuntu di posus di kanbar di sol.


Ruínas di ordi antigu, es ta djobe-nu
desdi distansia lonji di skesimentu; mas pilar
ta kontinua la; si ben ki ratxadu
pa kes mákina ki ta diskabaka-s. Es ta dixi ton fundu
k’é propi raís di sonhus k’es ta garbata.
p. 23

 
10.

Imenso país imerso, a infância.
Cheira a mangas verdes mordidas sob
o sol de agosto. A bichos padecendo
num estio de febre.

Insoluta pátria de segredos
rescendendo pelos poros,
quando o norte se entenebrece
e as vozes do sul distante tecem
as incalculáveis rotas do regresso,

vejo-a a cada solidão adentrando
a raiz do coração; vejo-a incorruptível
por entre rápidos estandartes,
porque não de pedra
ou outra perecível matéria,

mas silente caule, raiz e húmus,
cicatriz perene — foi de um baio
que tive, jumento talvez, mas isso
que importa?, ó coração velho
que já só urros levas agora na carlinga.
p. 38

 
x.


País tamanhu murgudjadu
é mininesa. E ten txeru di mangi
mordedu na sol d’agostu.
Di bitxus ta padise nun veron di febri.


Pátria di segredus sima pedra
ta risende através di peli
ora ki norti ta sukura y kes vos
di sul la lonji ta kanta kaminhus
inkalkulável di rigresu,


n ta odja-l na kada solidon
ta kanba na rais di kurason; n ta odja-l perfetu
n ta odja-l na meiu di banderas presadu
sima kusa ki ka ta more,
ka pamodi é di pedra o dotu material
ki ta ditiora, mas pamodi
é tronku silensiozu, raís y strumu,


sikatris pa tudu senpri – foi di un kabalu
kor d’oru ki n tevi (si kadjar matxinhu,
mas kel li ka ten inpurtansia) ó kurason
bedju ki gosi so gritu
bu ta leba na kabina.
p. 39

Artiletra 19 anos - “MOVIMENTO A INTELIGÊNCIA ESTÁ NA MODA”

Artiletra 19 anos

PROGRAMA DO PRIMEIRO MÊS DO “MOVIMENTO A INTELIGÊNCIA ESTÁ NA MODA”

2 de Junho de 2010
Abertura do Primeiro Mês do Movimento “A Inteligência Está na Moda” e Lançamento do nº 104 do Artiletra, com um suplemento dedicado ao poeta Mário Fonseca
Hora: 16h00 - Local: Auditório da Universidade Jean Piaget

3 de Junho de 2010
Aula nacional sobre o tema “Protecção do Planeta Terra” com utilização da Banda Desenhada do nº 104 do jornal Artiletra em comemoração do Dia Mundial do Ambiente, com participação de 12152 alunos e 400 professores do EBI.

4 de Junho de 2010
Lançamento do Livro “Escritos Sobre Teatro” de Kwame Kondé, pseudónimo do Dr. Francisco Fragoso, com a parceria da Câmara Municipal da Praia.
Hora: 18h30 - Local: Salão Nobre da Câmara Municipal da Praia

5 de Junho de 2010
Conversa informal com o Dr. Francisco Fragoso sobre o tema “A influência da zona onde crescemos na formação da personalidade”.
Hora: 18h00 -  Local: Rua da Capela, Achada Santo António

6 de Junho de 2010
Lançamento Campanha Xeque Mate
Academia de Jogos de Xadrez, Damas, Uril, etc
Hora: 11h00 - Local: Esplanada do Hotel Rotterdam

Ao longo do mês de Junho
• Campanha de Promoção da Leitura
• Criação de Bibliotecas de Verão
• Oferta da Colectânea do Artiletra da última década e livros publicados pelas Edições Artiletra para bibliotecas e cantinhos de leitura das instituições de ensino em todos os Municípios de Cabo Verde
• Debate e recolha de sugestões sobre a criação do Museu contra a Mediocridade
• Encontros e Debates, com respectiva gravação, transcrição e transmissão de alguns momentos pelos vários órgãos de Comunicação Social, com participação de personalidades convidadas envolvendo toda a sociedade, sobre os seguintes temas:
• Educação e Inteligência • Arte e Inteligência • Escrita e Inteligência • Leitura e Inteligência • Matemática e Inteligência • Humor e Inteligência • Comércio e Inteligência • Política e Inteligência • Ambiente e Inteligência • Comunicação Social e Inteligência • Quotidiano e Inteligência • Família e Inteligência • Saúde e Inteligência • Revolução e Inteligência • Direito, Justiça e Inteligência • Religião e Inteligência • Novas Tecnologias e Inteligência • Urbanismo e Inteligência • Transportes e Inteligência • Turismo e Inteligência • Ciência e Inteligência • Moral e Inteligência • Cultura e Inteligência

30 de Junho de 2010
Encerramento do Primeiro Mês do Movimento “A Inteligência Está na Moda” e Lançamento do nº 105 do Artiletra, com um suplemento baseado nas transcrições dos debates realizados.

Participe !

Edições artiletra - Cx. P. 359
São Vicente
Tel. 231.5551 - Fax 232.5551
Praia
Tel.262.6060/626061 - Fax.262.6061

Fonte: e-mail enviado pelo Artiletra em 28 de maio de 2010.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Vasco Martins - “run shan”


Vasco Martins - “run shan”
Por Ricardo Riso
Resenha publicada no jornal A Nação nº 143, de 27 de maio de 2010, p. 16

Exímio compositor e pianista de formação erudita, 11 álbuns gravados, 9 sinfonias, além de inúmeras peças dedicadas à música tradicional de Cabo Verde, Vasco Oliveira Martins nasceu a 12/07/1956 em Queluz, Portugal. Filho de pai cabo-verdiano e mãe portuguesa, fixou residência na ilha de São Vicente aos 9 anos de idade. Estudou em Portugal e França, retornou ao arquipélago em 1985, permanecendo até os dias atuais.

Na poesia, Vasco Martins recebeu menção honrosa nos Jogos Florais de 12 de setembro de 1976, participou da antologia “Mirabilis – de veias ao sol” e publicou os livros “Universo da ilha” (1986), “Navegam os olhares com o voo do pássaro” (1989) e “run shan” (2008), e artigos em diversas publicações. Na internet, sua poesia está no seu blog Deserto do Sul.

Com poemas atribuídos ao heterônimo Vasc d’Monteverde, run shan é um delicado livro de poesia dedicado ao Monte Verde, ponto máximo (774 m) da ilha de São Vicente. Escorando-se no profundo conhecimento das filosofias orientais, Vasc d’Monteverde recorre ao antigo poeta chinês Li Bai e aos taoístas para celebrar o Monte a partir do conceito de run shan: “significa ‘penetrar a montanha’, no sentido meditativo, contemplativo: usufruir do privilégio de estar longe da polícia geral da vida” (p. 5).

Do Monte Verde, o sujeito lírico revela o seu descontentamento com o mundo que o cerca e o inequívoco desejo de reformular sensações para acalentar o espírito. A montanha é o local de reflexão para os males da contemporaneidade: “Purificado pelas brumas do Monte Verde/ Alma de poeta caminhante contemplativo/ Encontro paz longe longe d’azafáma do mundo” (p. 18).

Das questões existenciais e metafísicas à exacerbada reverência telúrica ao Monte, o sujeito lírico apropria-se dos paradoxos do Tao Te King:

(Agora entre eu e o Monte Verde
Só as nuvens que passam,
Os momentos de plenitude
São quando deixamos de ser nós
(Para sermos nós) (p. 7)

Elementos da natureza como o ar e a aspiração por liberdade aparecem em tenras imagens de uma poesia comprometida com o etéreo. As metáforas do voo surgem envoltas a uma profunda interiorização do ser:

Deste único arvoredo vejo uma
Ilha suspensa: vou com ela
Pelo universo adentro talvez
Nalgum porto o meu espírito há-de acostar (p. 15)

A água é outro elemento invocado para criticar o caos da vida contemporânea e trazer uma nova Era:

De uma secreta fonte há-de brotar
Límpida água
Fluindo depois como uma ribeira
Purificando o coração dos homens
Pacificando o coração dos homens
Restabelecendo a Era da ternura e compaixão (p. 25)

Na procura pela harmonia “Visto uma camisa amarela/ Para condizer com a luz do fim do dia” (p. 23). O poema “Sob um pé de charuteira” mostra a gradação da meditação, da tranquilidade do shanti à passagem a um novo estágio de consciência, o samsara. Sinérgico, a confluência com o Indivisível: “Sinto:/ A montanha parece querer entrar em mim// Agora:/ Azul Abril/ Asa de borboleta nocturna” (p. 21)

Ao usar o heterônimo Vasc d’Monteverde, Vasco Martins contribui de forma excepcional para o lirismo e o universalismo da poesia cabo-verdiana. As ressignificações inspiradas na filosofia oriental demonstram prismas diferenciados que ajudam a pensar alternativas à histeria do mundo ocidental. Um canto lírico mergulhado no cosmo da natureza, de uma poesia liberta das amarras terrenas, conduzida pela ilimitada imaginação do Verbo.

Acompanhamos os versos do poeta, “Felizes brindámos/ À vida com bom vinho/ Momento eterno fugaz” (p. 26). Monte Verde: signo de pureza e alegria, onde os movimentos cósmicos se transformam para renovar o ser humano, renovar o mundo. Monte Verde, reduto do belo; run shan, páginas de encantamento a desvendar o mistério da criação.

Monte Verde!

Já dormi em cima da tua terra limpa-macia!
Celebro-te!
Perto de ti não mais tenho dúvidas!

Que muitas gerações ainda celebrem a tua beleza.
Que te protejam dos homens e das cabras.
Continuarás então a limpar a alma
Dos que sentem o apelo das brumas e do silêncio. (p. 30)

terça-feira, 25 de maio de 2010

Francisco José Tenreiro - Fragmento Blues, Dia da África 3

FRAGMENTO DE BLUES

(A Langston Hughes)

Vem até mim
nesta noite de vendaval na Europa
pela voz solitária de um trompete
toda a melancolia das noites de Geórgia;
oh! mamie oh! mamie
embala o teu menino
oh! mamie oh! mamie
olha o mundo roubando o teu menino.

Vem até mim
ao cair da tristeza no meu coração
a tua voz de negrinha doce
quebrando-se ao som grave dum piano
tocando em Harlem:
– Oh! King Joe
King Joe
Joe Louis bateau Buddy Baer
E Harlem abriu-se num sorriso branco
Nestas noites de vendaval na Europa
Count Basie toca para mim
e ritmos negros da América
encharcam meu coração;
– ah! ritmos negros da América
encharcam meu coração!

E se ainda fico triste
Langston Hughes e Countee Cullen
Vêm até mim
Cantando o poema do novo dia
– ai! os negros não morrem
nem nunca morrerão!

...logo com eles quero cantar
logo com eles quero lutar
– ai! os negros não morrem nem
nem nunca morrerão!

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_africana/s_tome_princepe/francisco_jose_tenreiro.html

Agostinho Neto, Adeus à hora da largada - Dia da África 2

Adeus à hora da largada, Agostinho Neto

Minha Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
tu me ensinaste a esperar
como esperaste nas horas difíceis

Mas a vida
matou em mim essa mística esperança

Eu já não espero
sou aquele por quem se espera

Sou eu minha Mãe
a esperança somos nós
os teus filhos
partidos para uma fé que alimenta a vida

Hoje
somos as crianças nuas das sanzalas do mato
os garotos sem escola a jogar a bola de trapos
nos areais ao meio-dia
somos nós mesmos
os contratados a queimar vidas nos cafezais
os homens negros ignorantes
que devem respeitar o homem branco
e temer o rico

somos os teus filhos
dos bairros de pretos
além aonde não chega a luz elétrica
os homens bêbedos a cair
abandonados ao ritmo dum batuque de morte
teus filhos
com fome
com sede
com vergonha de te chamarmos Mãe
com medo de atravessar as ruas
com medo dos homens
nós mesmos

Amanhã
entoaremos hinos à liberdade
quando comemorarmos
a data da abolição desta escravatura

Nós vamos em busca de luz
os teus filhos Mãe
(todas as mães negras
cujos filhos partiram)
Vão em busca de vida.

(NETO, Agostinho. Sagrada Esperança.)

José Craveirinha - África, DIA DA ÁFRICA 1

África, por José Craveirinha


Em meus lábios grossos fermenta
a farinha do sarcasmo que coloniza minha Mãe África
e meus ouvidos não levam ao coração seco
misturado com o sal dos pensamentos
a sintaxe anglo-latina de novas palavras.

Amam-me com a única verdade dos seus evangelhos
a mística das suas missangas e da sua pólvora
a lógica das suas rajadas de metralhadora
e enchem-me de sons que não sinto
das canções das suas terras
que não conheço.

E dão-me
a única permitida grandeza dos seus heróis
a glória dos seus monumentos de pedra
a sedução dos seus pornográficos Rolls Royce
e a dádiva quotidiana das suas casas de passe.
Ajoelham-me aos pés dos seus deuses de cabelos lisos
e na minha boca diluem o abstracto
sabor da carne de hóstias em milionésimas
circunferências hipóteses católicas de pão.

E em vez dos meus amuletos de garras de leopardo
vendem-me a sua desinfectante benção
a vergonha de uma certidão de filho de pai incógnito
uma educativa sessão de «strip-tease» e meio litro
de vinho tinto com graduação de álcool de branco
exacta só para negro
um gramofone de magaíça
um filme de heróis de carabina ao vencer traiçoeiros
selvagens armados de penas e flechas
e o ósculo das balas e aos gases lacrimogéneos
civiliza o meu casto impudor africano.

Efígies de Cristo suspendem ao meu pescoço
rodelas de latão em vez dos meus autênticos
mutovanas da chuva e da fecundidade das virgens
do ciúme e da colheita de amendoim novo.
E aprendo que os homens que inventaram
A confortável cadeira eléctrica
a técnica de Buchenwald e as bombas V2
acenderam fogos de artifício nas pupilas
de ex-meninos vivos de Varsóvia
criaram Al Capone, Hollywood, Harlem
a seita Ku-Klux Klan, Cato Mannor e Sharpeville
e emprenharam o pássaro que fez o choco
sobre o ninho morno de Hiroshima e Nagasaki
conheciam o segredo das parábolas de Charlie Chaplin
lêem Platão, Marx, Gandhi, Einstein e Jean-Paul Sartre
e sabem que Garcia Lorca não morreu mas foi assassinado
são os filhos dos santos que descobriram a Inquisição
perverteram de labaredas a crucificada nudez
da sua Joana D’Arc e agora vêm
arar os meus campos com charruas «made in Germany»
mas já não ouvem a subtil voz das árvores
nos ouvidos surdos do espasmo das turbinas
não lêem nos meus livros de nuvens
o sinal das cheias e das secas
e nos seus olhos ofuscados pelos clarões metalúrgicos
extingiu-se a eloquente epidérmica beleza de todas
as cores das flores do universo
e já não entendem o gorjeio romântico das aves de casta
instintos de asas em bando nas pistas do éter
infalíveis e simultâneos bicos trespassando sôfregos
a infinta côdea impalpável de um céu que não existe.
E no colo macio das ondas não adivinham os vermelhos
sulcos das quilhas negreiras e não sentem
como eu sinto o prenúncio mágico sob os transatlânticos
da cólera das catanas de ossos nos batuques do mar.
E no coração deles a grandeza do sentimento
é do tamanho cow-boy do nimbo dos átomos
desfolhados no duplo rodeo aéreo do Japão.

Mas nos verdes caminhos oníricos do nosso desespero
Perdoo-lhes a sua bela civilização à custa do sangue
ouro, marfim, amens
e bíceps do meu povo.

E ao som másculo dos tantãs tribais o eros
do meu grito fecunda o húmus dos navios negreiros...

E ergo no equinócio da minha Terra
o moçambicano rubi do mais belo canto xi-ronga
e na insólita brancura dos rins da plena Madrugada
a necessária carícia dos meus dedos selvagens
é a táctica harmonia de azagaias no cio das raças
belas como altivos falos de ouro
erectos no ventre nervoso da noite africana.

(CRAVEIRINHA, José. Xigubo. Lisboa: Edições 70,. p.15-17)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Arménio Vieira - Não há estátua que preste na minha cidade (POEMA)

“Para Léo Ferre, em saudação a todos os anarcos-surrealistas”

Quando um homem pega numa fruta e a leva à boca
Há sempre um polícia que diz “alto aí!, pois essa é do patrão”
O malefício de algumas víboras é mesmo isso:
Fuzilam-te com o olho direito.


Mas a desgraça não pára aqui:
Sempre que um homem tenta dizer uma certa palavra
Morre enquanto pronuncia a letra A
(uma bomba explode no meio do alfabeto).


E porque não havia de ser assim
Se o mínimo que de uma barata se ouve dizer num parlamento
É que ela vai ser a cantora eleita?


Por isso continuo a jurar que de todos os músicos
Prefiro aquele que se senta ao piano e diz que é surdo.


E quando me dão a escolher entre um cavalo e uma bicicleta
Fecho os olhos e escolho um caracol.
E depois, como não sei que fazer desse animal,
Fico parvo a olhar para ele.


Pois é: um caracol (assim como um soneto)
Será sempre uma máquina estupidamente lenta
No meio d’automóveis que dão tantos à hora.


O olhar de Deus contempla a minha cidade.
Porém, não há estátua que preste na minha cidade

(VIEIRA, Arménio. Poemas. São Vicente: Ilhéu, s/d. p. 111)

sábado, 22 de maio de 2010

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Prémio Camões: Distinção de Arménio Vieira é justiça “à expressão literária de Cabo Verde”

Prémio Camões: Distinção de Arménio Vieira é justiça “à expressão literária de Cabo Verde”
20 Maio 2010


Arménio Vieira, que recebeu das mãos dos Chefes de Estado do Brasil e Portugal o “diploma” galardão “Prémio Camões” na sala dourada do Museu dos Coches, assumiu a distinção “com olhos no futuro, porque as mágoas pertencem ao passado”. Evocou outros poetas da mesma língua: Jorge Barbosa, João Cabral Melo Neto, Carlos Drummond de Andrade... Os dois chefes de Estado consideraram que, além de um marco na língua comum – foi a primeira vez que Cabo Verde ganhou, ao fim de 20 anos - é também marco na justiça da expressão literária de Cabo Verde. Além de Aníbal Cavaco Silva e Luís Inácio Lula da Silva, estavam vários governantes do Brasil e Portugal. De Cabo Verde estava o embaixador Arnaldo Andrade.

A sala estava cheia. Um dos presentes era o ensaísta português Eduardo Lourenço, também já premiado, os poetas cabo-verdianos José Luís Hopffer Almada e José Luís Tavares (estava pouca gente da comunidade cabo-verdiana, os convites tinham sido limitados).

Cavaco e Lula homenageiam Arménio

Cavaco Silva lembrou que o Prémio Camões é individual e reconhece o talento e o trabalho de um autor que tenha contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa. “É portanto, acima de tudo, a obra de Arménio Vieira que hoje homenageamos”, salientou, felicitando com isso o povo cabo-verdiano pelos 35 anos da sua independência e 550 anos do seu descobrimento.

Lula da Silva disse, por seu turno, que o prémio “é uma referência internacional” e por isso “não é um marco apenas para a língua portuguesa”. “Além da sua poesia, Arménio Vieira expressa sentimentos e comunica valores que toca a universalidade cabo-verdiana “ e por isso “o Prémio faz justiça à expressão literária de Cabo Verde”.

Referiu que Arménio Vieira “é poeta, escritor e jornalista e é tão versátil quanto a palavra é seu instrumento de trabalho”. E mais, “ele é um artesão da liberdade e outros valores comuns, especialmente de paz e justiça. Ele anda de mãos dadas com profunda sensibilidade contra as injustiças dos outros, mas nem por isso a sua prosa e poesia são marcadas pela lamentação, mas sim, marcadas pela esperança”.

No início da cerimónia foi declamado um poema de Arménio Vieira, “Lisboa 1971” , a mesma Lisboa que o saudou 40 anos depois. No fim vieram os cumprimentos. O laureado ouviu um recital em sua honra pela soprano Sandra Medeiros e José Brandão ao piano. Seguiu-se um porto de honra.

Arnaldo Andrade enaltece Arménio Vieira

O embaixador de Cabo Verde em Portugal, Arnaldo Andrade, exprimiu ao asemanaonline o seu regozijo por ver premiada a literatura cabo-verdiana através de Arménio Vieira, sobretudo porque “não tem uma máquina de editores nem de marketing”. Por isso a sua certeza de que a escolha ficou a dever-se ao “puro valor” do autor de “Eleito do sol”.

Andrade não deixou, porém, de registar que, apesar de ser “bom para Arménio Vieira, bom para a literatura, bom para Cabo Verde, porque é estimulante”, a justiça às letras cabo-verdianas devia ter sido feita antes, “com João Vário em vida, um poeta de grande qualidade”.

Arménio Vieira, elegante no seu fato cinzento e gravata azul, conviveu depois com os seus amigos. Ao semanaonline disse estar contente, mas “envergonhado”, dada a sua conhecida timidez. Diz que agora precisa descansar um pouco e que logo surgirá outra obra da sua lavra.
 
 
 
COMENTÁRIO DO BLOG
Seria ótimo que o Pres. Lula abandonasse a demagogia e o seu governo apresentasse uma proposta efetiva de intercâmbio cultural com os países africanos, e não apenas leis voltadas à Educação Básica que não são aplicadas nas escolas, como as leis 10.639/03 e 11.645/08. Adoraria que esse ato sensibilizasse nosso presidente e fosse o pontapé inicial de uma sólida aproximação Brasil-Cabo Verde.
Entretanto, conhecendo nosso presidente, nada irá além daquela foto. Uma pena. Só que o escritor Arménio Vieira não tem nada a ver com isso e merece todos os prêmios possíveis à sua obra, e um grande mérito à literatura de Cabo Verde.
Ricardo Riso

IPEAFRO SANKOFA 2010

IPEAFRO SANKOFA 2010

Auditório do Arquivo Nacional, RJ
Praça da República (Campo de Santana)
Próximo à Central do Brasil

A Oficina “Matriz Africana e Ação Educativa”, um espaço de reflexão e ação para educadores e para estudantes de pedagogia, licenciatura e formação de professores (ensino médio) acerca da matriz africana no cotidiano escolar, em duas sessões de duas horas e meia, dias 9 e 10 de junho às 10h. Certificado. Vagas limitadas. Para se inscrever, envie um email para ipeafro@gmail.com com o assunto INSCRIÇÃO OFICINA.

O Fórum Educação Afirmativa Sankofa é um espaço para discussão e debate sobre políticas afirmativas de diversidade e inclusão no ensino brasileiro em todos os níveis, contemplando a população afrodescendente e sua história e cultura, em quatro sessões nas tardes dos dias 7, 8, 9 e 10 de junho. Cerificado. Para se inscrever, envie um email para ipeafro@gmail.com com o assunto INSCRIÇÃO FÓRUM.

O novo Site Ipeafro apresenta o conteúdo digitalizado do Acervo Abdias Nascimento / Ipeafro por meio do projeto “Acessando a História e a Cultura Afro-Brasileiras”.

O Kit Ipeafro para Educadores é um conjunto de textos e materiais para apoiar a ação educativa acerca da história e da cultura de matriz africana.

PROGRAMAÇÃO
Segunda-feira, dia 7 de junho.
14h - Sessão de Abertura.
15h - Apresentação do Site Ipeafro e do Kit Ipeafro para Educadores.
16h - Exibição do vídeo “Acervo Abdias Nascimento - Acessando a História e a Cultura Afro-Brasileiras”.
17h - Coquetel.

Terça-feira, dia 8 de junho.
14h30 - Políticas Afirmativas: Interfaces entre Acesso e Conteúdo.
“Ações Afirmativas nas Universidades Públicas: a Lei 10.639/03 como política de ação afirmativa”. Elielma Ayres Machado (UERJ).
“Quais Áfricas Ensinar? Críticas e possibilidades a partir da Lei 10.639/03". Wilson Mattos (UNEB e CNE).
"Afrocentricidade e Educação: os princípios gerais para um currículo afrocentrado". Renato Nogueira (UFRRJ).
“Perspectiva do universitário”. Leomir Dornellas (FEOP).
Moderador - Carlos Alberto Medeiros, Coordenador Especial de Promoção da Igualdade Racial do Município do Rio de Janeiro.

Quarta-feira, dia 9 de junho.
10h - Oficina “Matriz Africana e Ação Educativa” - Sessão I.
Espaço de reflexão e ação para educadores e para estudantes de pedagogia, licenciatura e formação de professores (ensino médio), acerca da matriz africana no cotidiano escolar.
Coordenadoras - Professoras Azoilda Loretto da Trindade (SME/RJ, FFP/UERJ) e Carla Lopes (Arquivo Nacional, CE Professor Sousa da Silveira).
14h - Faces e Enlaces das Matrizes Africanas.
“África e Diáspora no Ensino Brasileiro”. Alain Pascal Kaly (UFRRJ e Unicamp).
“Matriz africana no Brasil, Ativismo e educação”. Renato Emerson (FFP/UERJ).
Moderador - Ibrahima Gaye, Consul Honorário do Senegal e diretor do Centro Cultural Casa África em Belo Horizonte.
16h - Guerreiras de natureza:
Gênero, cosmogonia e natureza no ensino de nossas crianças.
Mãe Beata de Yemanjá - Mãe de santo e chefe da comunidade terreiro de candomblé Ilê Omiojuaro, localizado no município de Belford Roxo, Estado do Rio de Janeiro.
“Ecologia e Sustentabilidade da Cultura do Candomblé”. Aderbal Moreira, coordenador do Ponto de Cultura Omo Aro Companhia Cultural.
“Guerreiras do Samba”. Helena Theodoro (CEDINE / RJ e ETA/FAETEC).
“Educadoras de Natureza: Mulher negra e religiosidade afro-brasileira”. Maria de Lourdes Siqueira (E.H.S.S., Paris, UFBA, Ilê Aiyê).
Moderador - Éle Semog, poeta e pedagogo; atua na área de educação com especial ênfase no processo de implantação da Lei 10.639/03.
18h - Filme Gisèle
Omindarewa, 71′, 2009, de Clarice Peixoto. Documentário sobre a vida de uma mãe de santo francesa e o cotidiano do seu terreiro em Santa Cruz da Serra, RJ.

Quinta-feira, 10 de junho.
10h - Oficina “Matriz Africana e Ação Educativa” - Sessão II.
14h - Diálogo: Matriz Africana, Escola e Academia.
Apresentação dos resultados da oficina pelas coordenadoras Azoílda Trindade e Carla Lopes. Comentários e debate com Mônica Lima, doutora em história, com tese sobre história da África, e professora do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
17h - Encerramento do Fórum
O encerramento será a cerimônia de entrega do Prêmio Ipeafro Sankofa à Dona Aparecida Silva Prudente, mãe dos Drs. Wilson Prudente, Procurador do Ministério Público do Trabalho, mestre em ciências jurídicas e sociais pela UFF, e Celso Prudente, antropólogo, cineasta, doutor em cultura pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, curador da Mostra Internacional do Cinema Negro, ambos ativistas do movimento negro e autores de diversas publicações.
Participação de Dulce Vasconcellos, Professora Conselheira do Comdedine / Rio, homenageada no Fórum Ipeafro 2007, e Madiagne Diallo, cidadão senegalês e professor de engenharia industrial da PUC-Rio.

Realização: Ipeafro.
Patrocínio: Petrobras e Seppir.
Apoio: Fundação Kellogg e Arquivo Nacional ____________________________________________________________­

IPEAFRO  -   INSTITUTO DE PESQUISAS E ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS
Rua Benjamin Constant, 55 /1101 – Rio de Janeiro, RJ – 20241.150 – Brasil
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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ao município da Praia, pelo seu 19 de maio - 152 anos

CIDADE VI


“a arménio vieira, jorge carlos fonseca, osvaldo azevedo,
oswaldo osório, fernando monteiro, armindo silva,
daniel benoni, ludgero correia e fi linto elísio correia e silva,
observadores, amantes e críticos da cidade”

Nós temos uma cidade.
A nossa cidade nem sequer chega a ser nojenta.
A nossa cidade está de nojo.
A nossa cidade está de nojo pelos sobreviventes da cidade.

Estes deambulam circunspectos pelas ruelas de ponta-belém e pelo que sobreviveu das ruas de madragoa, de sá da bandeira, de andrade corvo, de serpa pinto, da república, de cândido dos reis, da horta, da moradia, oh!, pelas antigas ruas cinicamente sorrindo, transfi guradas e ainda aturdidas sob as vestes e os nomes heróicos das placas toponímicas recém-colocadas.

Prosseguem pela pracinha da escola grande, constatam que, entre os canteiros descuidados e as fl ores devassadas, a mesma continua estranhamente ostentando o nome original do poeta de os lusíadas e a estátua em bronze do doutor lereno, ilustrativa das suas benemerências de médico humanista.

Continuam até à pracinha do liceu, descansam por momentos aprazíveis nos bancos dos jardins fl oridos e, maquinalmente, recitam os versos de camões ainda inscritos nos azulejos azuis exaltantes da expansão portuguesa e que estoicamente sobreviveram aos tumultos estudantis que se seguiram ao golpe de estado do 25 de abril de 1974.

Postam-se depois nos muros avarandados da cidade e lançam olhares tristes sobre a imensidão dos subúrbios. Planam o olhar pelas silhuetas de ponta-de-água, da achada eugénio lima, da achada grande, do paiol, da fazenda, de lém-cachorro, do castelão, da vila nova, da achadinha, de pensamento, de safende e de outros bairros postados contra a longínqua imponência das montanhas do interior da ilha e o translúcido e majestoso vulto do pico de antónio.

Tranquilizam-se e ao seu espírito inquieto deambulando imaginariamente pelos jardins do parque 5 de julho, complexo recém-inaugurado com enjoativas pompa e circunstância acompanhadas dos discursos heróico-cavalgantes do costume. Admitem a contragosto que o parque se tornou lugar emblemático da cidade, seu pulmão verde e centro de diversões nocturnas e de diurnos e apaziguadores multi-usos. Embevecidos, fi xam-se nos perfi s das suas duas casa padja, felizes recriações modernas e vagamente monumentais das antigas casas rurais cobertas de palha para a realização de colóquios, concertos, mesas-redondas, seminários e conferências internacionais, tão destes ofuscantes tempos, embebidos de petulância e de promiscuidade entre os fi lhos de gente antiga, branca e fi na e filhos de pés descalços, enfatuados o quanto baste nas suas vestes e poses de doutores recém-licenciados em universidades comunistas dos países de leste.

Agitam-se, tomados de maus agoiros, com o pressentimento da breve decadência desse novo rosto da cidade e de outros novos rostos, como, por exemplo, o centro social primeiro de maio, o restaurante hong kong (obviamente de indecifráveis comerciantes chineses), todos marginando a avenida cidade de lisboa, de nome inegavelmente auspicioso mas construída, imagine-se, nas circundações dos bairros suburbanos da achadinha e da várzea e dos casebres do taiti.

Cidade de lisboa… quedam-se saudosos na silenciosa evocação das férias graciosas passadas ou imaginadas na capital do império e cogitam demoradamente na obstinação desses antigos combatentes do mato agora reciclados como sagazes salvadores da pátria por mor da sua astúcia na arrecadação das ajudas internacionais. Fogo fátuo, condenado à lenta extinção, profetizam pessimistas, por efeito do mero cansaço dos doadores internacionais, agora promovidos a parceiros estrangeiros do desenvolvimento, afi nal meros substitutos dos congeminadores metropolitanos dos antigos planos de fomento que tantas escolas, estradas e postos sanitários trouxeram à província ultramarina. Afinal, meros sósias sem a glória da pátria e a grandeza do império!

Desistem de imaginar o burburinho que irá por achada de santo antónio, tira-chapéu (ou frouxa-chapéu, para os mais renitentes) e outros subúrbios das proximidades do mar, agora envaidecidos pela presença próxima da antiga placidez das moscas e das alimárias e das hortas miraculadas do palmarejo, de símbolos do poder como o palácio da assembleia nacional popular, as embaixadas da união soviética, da china e de portugal, de vivendas e residências de ministros, juízes, directores-gerais, inspectores das fi nanças, auditores das alfândegas e outros altos funcionários do estado.

Dir-se-ia, pensam de si para si e nos subúrbios que se estendem defronte dos seus olhos indignados, um extenso mercado de candongueiros, um roque santeiro luandense ou um imenso acampamento de exércitos hititas prestes a invadir ménfis, tebas e outras cidades egípcias e a destruir a grandeza das suas pedras multisseculares e a magnificência das suas memórias milenares.

Atravessam a rua do hospital. Alguns dos sobreviventes da cidade encarceram-se no pavilhão dos alienados, dementes e possessos da quinta enfermaria do hospital central “agostinho neto” para sessões de consulta psiquiátrica e de meditação sobre o tempo e a cidade ou, melhor, sobre os tempos da cidade.

Conspícuos, os habitantes da cidade apresentam condolências ao quase-cadáver sorridente da cidade. As melhores condolências, asseguram, são as que se apresentam aos sobreviventes, as únicas vítimas de algum mérito e merecedoras de autêntica pena, escárnio que baste e muita condescendência. Afi nal, verdadeiros mortos-vivos, são eles irrefutável memória e assídua presença das ruínas do futuro! Ah! os sobreviventes da cidade!

Nem sequer acreditam na ressurreição do seu lugar de natalidade. Espavoridos e insólitos, sentados na plácida e obesa comodidade das tocatinas e das conversas de fi m de tarde nos bancos da praça grande, observam o crescer dos prédios, a abertura de novas avenidas, o calcetamento de novos arruamentos (e, fantasiam, a asfaltagem e, extrapolam, quiçá a pavimentação artística de vias exclusivamente destinadas aos peões), a alegre devoração e as doces guerras dos festivais de música, a consonântica (mas, admitem, melodiosa) desfaçatez de alguns dos recém-chegados …

Com um certo temor e muito a contra-gosto digerem o impúdico abraço entre o plateau e os subúrbios. Por isso, declinam os convites para as inaugurações de empreendimentos turísticos e de modernas vias rápidas que, cogitam, pretendem unifi car as achadas, achadinhas, várzeas, colinas, encostas e ribanceiras numa, profetizam sarcásticos, cidade-menina do atlântico.

Meditativos, os sobreviventes da cidade revisitam os lugares da infância e, pressurosos, lamentam o entranhado lixo da cidade, a proliferação do comércio ambulante e das quotidianas feiras debugigangas, a ruína de lojas tradicionais emblemáticas (como a casa serbam, a loja herculano, a casa feba, as galerias-praia), a caótica degradação dos bairros, o terramoto da miséria e do êxodo rural, a invasão dos bárbaros que, dizem, são os sampadjudos das as-ilhas, os badios de fora (das aldeias, dos cutelos e das vilas do interior da ilha), os cooperantes de carteiras recheadas e olhos claros omniscientes, os mandjacos (negros, animistas e muçulmanos da costa de áfrica), os comerciantes chineses que, escudados na monumentalidade do palácio da assembleia nacional popular na achada de santo antónio e no baixo preço dos produtos importados da sua ásia natal, vêm arruinado os comerciantes locais, não se coibindo sequer de se juntar aos rabidantes indígenas das ilhas e instar os mandjacos a irem para a sua terra, a regressarem às suas cubatas aldeãs e suburbanas…

Enfim, e para culminar, constatam consternados a negra veracidade do que os petulantes da cidade denominam a plena dakarização das ruas, das mentalidades, da cidade...

Em conversas segredadas asseveram que enquanto uns invadem os leitos das ribeiras e as encostas (como se pode verifi car in loco na chamada embaixada (ou encosta) dos sampadjudos, sobranceira ao subúrbio das vila nova), e constroem bairros de barracas e casebres sumamente degradados em safende, vila nova, et cetera, et cetera, outros ocupam a beira-mar e refastelam-se nas vivendas e outros rostos recentes e outros recantos antiquíssimos da capitalidade, remetendo os sobreviventes da cidade para a insignifi cância e a amnésia, para a triste irrelevância de moradores antigos e primeiros da capital, cidade cantada e vilipendiada como rochosa transfiguração da velha e antiga metáfora de cidade santa, urbe reiterada e secularmente mal-amada por alguns conhecidos forasteiros que nela e noutras reinam e todavia reivindicam.…

Sentados no cruzeiro, os sobreviventes da cidade observam o mar e a sua possível transfi guração em trilho para o além, em viagem ou suicídio desde que represente uma forma defi nitiva de fuga ao corpo putrefacto da cidade.

Cidade despojada da praia negra e dos seus coqueiros e pic-nics, substituídos pelos dejectos da fábrica de cervejas e pelo cheiro nauseabundo dos tanques onde vão sendo experimentadas novas formas de energia renovável sem qualquer utilidade prática imediata ou visível.

Cidade despojada da memória do verde, dos pássaros cinzentos e do canto do bico de lacre no taiti e nas antigas florestas circundantes do bairro craveiro lopes e da fazenda, para sempre extintas.

Sentados no cruzeiro, sob os auspícios e a ferrugem dos canhões antiquíssimos e a proximidade das conversas dos moradores dos apartamentos pequeno-burgueses dos prédios do ténis, os sobreviventes da cidade são tomados de um imperecível desejo de evasão da cidade carregada de vento, pó, ruas esburacadas e sobrepovoada de insolentes animais, racionais e irracionais, domésticos e exóticos.

Sentados no cruzeiro, os sobreviventes da cidade cogitam, utópicos e visionários, e ante os seus olhos confi guram-se as imagens de uma longa avenida marginal estendendo-se, asfaltada, iluminada e movimentada, da gamboa, passando pelo porto, até à praia da mulher branca, com as devidas e modernas bifurcações para um mais moderno aeroporto internacional e os remodelados bairros de lém-ferreira, ponta-de-água e achada-grande-trás…

Pesarosos, os sobreviventes da cidade debruçam-se sobre as trucidadas flores da praça grande, das pracinhas da escola grande e do liceu adriano moreira (os sobreviventes da cidade recusam-se a pronunciar o novo nome do liceu, domingos ramos, guinéu e comparsa semi-analfabeto de, imagine-se, outros terroristas, ou de modo mais eufemístico, combatentes do mato, em boa hora neutralizados, como amílcar cabral, josina machel, eduardo mondlane, chico té, che guevara, justino lopes, jaime mota, ludgero lima e o ainda mais execrável kwame nkrumah…).

Crispados, os sobreviventes da cidade cogitam sobre a futura reposição da verdade dos lugares e dos seus nobres e pátrios nomes, como craveiro lopes, alexandre albuquerque, andrade corvo, serpa pinto, sem, obviamente, esquecer os heróis de mucaba…

Os sobreviventes da cidade rezam sobre as ruínas da cadeia civil e dos sobrados coloniais amarelecidos pelo tempo e pela decrepitude, os quintais de algumas casas térreas de persianas verdes, janelas envidraçadas e soalheiras meias-portas e outras casas típicas do planalto da cidade da praia, urbe outrora chamada de santa maria da esperança e da vitória.

Os sobreviventes da cidade indignam-se com a transfi guração do planalto (recapitulam: capital de facto das ilhas de cabo verde desde o abandono da cidade velha em 1776 e capital ofi cial da província ultramarina desde 29 de Abril de 1858) em reles e francófono plateau de uma cinematografi a, na qual a cidade se transmutou em mero figurante numa vilã miríade de subúrbios.

Os sobreviventes da cidade continuam deambulando pelas ruelas e constatam com alívio, orgulho e alguma vaidade que os moradores das casas mais modestas dos quarteirões mais pobres do planalto-capital recusam terminantemente a deportação para o longínquo bairro da terra-branca (branca de novos ricos indígenas e de cabelos loiros cooperantes, dizem sarcásticos) ou para qualquer achada, achadinha ou ribeira, todas fl ageladas pelo cinzento, pelo abandono, pelo caos, pelo despojamento de urbanidade, por todo o tipo de carências, pela ausência de qualquer memória urbanística e, sobretudo, pela irremissível circunstância de serem baxu-praia, abaixo da praia, sub-praia…

Os sobreviventes periféricos e suburbanos do planalto-capital preferem ser despejados. O cubículo ou a casa térrea de dois ou três quartos e muita promiscuidade não se salva, mas ao menos salvam-se a honra e a dignidade de indefectíveis praienses. Ocupa-se a praça e abre-se escritório de conversador na esplanada central da cidade, no restaurante avis ou no café cachito ou abanca-se como engraxador de sapatos na praça alexandre albuquerque (arremetem os auscultadores da cidade: mas a polícia nega-se a fazer reluzir as botas na praça “12 de Setembro”. Quando for o caso não há-de a polícia precisar de botas reluzentes. Abaixo o boato e a paranóia!)

Os habitantes da cidade estão de nojo. Pelos sobreviventes da cidade ou por si próprios.
Milhafres e vampiros debicando o cadáver da cidade. Persistentemente. Diligentemente.

Os habitantes da cidade estão de luto. Pela cidade e por si próprios.
Cadáveres futuros sobre o corpo arruinado da cidade.
Irremediavelmente.

Dizia eu, nós temos uma cidade.
A nossa cidade e os seus habitantes nem sequer chegam a ser nojentos.
A nossa cidade e os seus habitantes estão aparentemente de nojo.
Estão de nojo pela cidade e pelos sobreviventes da cidade.
Magnanimamente.

(poema atribuído ao heterónimo Erasmo Cabral de Almada)

(ALMADA, José Luis Hopffer. Praianas. Praia: Spleen Edições, 2009. p. 115-121)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

ANTI (minha) EVASÃO - Ana Paula Lisboa

Ana Paula Lisboa é poetisa, colega do curso de Letras e autora do blog Quando eu resolvo escrever - .
Abaixo, sua releitura do poema Anti-evasão, de Ovídio Martins

ANTI (minha) EVASÃO - Ana Paula Lisboa

Eu também não vou.
Pedirei contigo,
Suplicarei junto
E chorarei muito mais que tudo.

“Não vou para Pasárgada!”

Me jogarei ao chão também,
Mas como criança birrenta
Vou bater os pés bem forte.

Tenho uma faca em punho
E a Palavra escrita no pulso.

Vou ficar aqui!
“Não vou para Pasárgada!”

Eu posso passar ferias,
Talvez uma breve temporada.
Mas meu lugar é aqui.

Não é por opção,
é por escolha.
Eu escolhi ficar!
Aqui é o quartel da resistência.

Berrarei.
Gritarei.
Matar será a menor das coisas que farei.

Eu estou cansada sim...mas
Os que estão comigo não me
Deixam abandonar a luta armada.

Já perdi uma perna nessa guerra.
Ganhei um tiro no coração.
Fui torturada, marcada a fogo
E a ferro como gado.
Mas eles erraram ao me deixarem
Os braços intactos e não me mataram a
Imensa fome de escrever.

“Não vou para Pasárgada!”
 
(Versos inspirados no poema “Anti- Evasão” de Ovídio Martins)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ovídio Martins – desesperadamente Caboverdeano (A Nação nº 141)


Por Ricardo Riso

Publicado no semanário A Nação, nº 141, de 13 a 19/05/2010, p. 38.

Sob o inferno colonial português e as suas abomináveis táticas de repressão, tortura e medo, submetendo o povo caboverdeano à miséria e à ignorância, e dando sequência à afirmação identitária – “de fincar os pés na terra”, como diria Manuel Lopes – iniciada pelos escritores da revista Claridade, surge a geração da Nova Largada com o propósito de dar continuidade ao projeto claridoso, porém acentuando a postura contrária à política vigente à época como podemos inferir nas temáticas da revista Certeza (1944), e a posterior e necessária radicalização na virada dos anos 1950/60 em publicações como Suplemento Cultural, Boletim dos Alunos do Liceu Gil Eanes e Seló – Página dos Novíssimos.

Motivados pela crítica ferrenha ao colonialismo, fazendo da poesia a arte da intervenção social e usando a força da palavra contestatária para estimular a revolta e o inconformismo, os poetas da Nova Largada, dentre outros, Arnaldo França, Orlanda Amarilis, Tomás Martins, Gabriel Mariano, Onésimo Silveira, e posteriores seguidores dessa linha urgem os nomes de Arménio Vieira, Oswaldo Osório e Mário Fonseca, todos projetores da gestação de um país independente. Insubmissos, partícipes da “noite grávida de punhais”, junta-se a eles o mindelense Ovídio Martins.

Ainda, para complementar esse processo de configuração de um sentimento nacional e de aspiração por uma nação livre, dando o seu contributo e a importância histórica devida, há a criação do PAIGC (Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo Verde) sob a visionária e correta liderança de Amílcar Cabral. Também é necessário frisar a relevância de ensaios perscrutados no campo cultural de Gabriel Mariano, com destaque para “Do funco ao sobrado ou o mundo que o mulato criou”, que estimulam a origem mestiça e o vínculo com o continente africano.

Um dos mais combativos poetas de sua geração, Ovídio Martins (17/08/1928 – 29/04/1999) foi um defensor implacável da libertação colonial, comprometido em denunciar as injustiças que afligiam seus pares. Exaltado defensor do antievasionismo, atualizou a Pasárgada de Manuel Bandeira que inspirou Osvaldo Alcântara para a urgência político-social de seu tempo, “Gritarei / Berrarei / Matarei / Não vou para Pasárgada”, para, em nome da união de seu povo, “estendermos as mãos / desesperadamente estendermos as mãos / por sobre o mar”.

O mar para este poeta dos olhos que “rolam lágrimas cor de sangue” teve a sua relação reconfigurada, sendo revisada a condição insular do ilhéu, porque naquele momento passou a ser um aliado contra o colonialismo e incorporado à construção identitária caboverdeana, pois “o mar transmitiu-nos a sua perseverança” e agora “as ondas não são muros / são laços de sagarços / que servirão de leito / à grande madrugada”.

Detentor de um olhar atento ao sofrimento dos seus pares, a figura arquetípica do contratado possui espaço considerável nos poemas de Ovídio Martins que expõe a dor daqueles que estão distantes, submetidos aos trabalhos forçados nas roças e nas prisões das ilhas de São Tomé. Solidária, a voz do sujeito lírico convoca os irmãos caboverdeanos para prestar atenção às mazelas dos distantes companheiros: “Silêncio Cabo-Verdianos! / choram irmãos nossos / nas roças de São Tomé”; e, ainda assim, passar mensagem de esperança: “Bendito sejas / serviçal cabo-verdiano / Não deixes que tuas pálpebras /amorteçam na dor / É preciso enrijá-las / para o dia do regresso / Que voltarás / não numa manhã de nevoeiro / de morbidez alquebrada / mas num dia de sol quente”.

Infere-se que a poesia para Ovídio Martins foi um espaço de reivindicação, de coerência com seus ideais, de luta libertária contra a opressão de seu tempo constatadas em seus livros “Caminhada” (1962), “Tchutchinha” (1962) e “Gritarei, berrarei, matarei: - Não vou para Pasárgada!” (1973). De “Ilha a ilha. Dor a dor. Amor a amor”, o poeta contribuiu para a concretização da utopia, para o surgimento de Cabo Verde independente.

Samuel da Costa, literatura negra contra o banzo pós-moderno

Quando completou 100 anos de abolição da escravidão no Brasil em 1988, os grandes meios de comunicação viram nesta data uma excelente oportunidade para fortalecer a mentira da democracia racial em nossa sociedade. Porém, não contavam com a sensibilidade dos movimentos negros que perceberam, de forma brilhante, que esta data seria ideal para denunciar o racismo sofrido por nós, negros, e as demais desigualdades impostas a mim, a você e a todos os nossos irmãos negros.

Portanto, aproveito este dia para apresentar um jovem escritor negro, sensível aos problemas que enfrentamos em nosso cotidiano, natural de Itajaí – Santa Catarina, chama-se Samuel da Costa (samueldeitajai@yahoo.com.br), autor de Horizonte Vermelho e Na cor e na flor.

A seguir estão alguns poemas e um conto gentilmente enviados pelo autor. Para conhecer um pouco mais da obra de Samuel da Costa, acesse os endereços a seguir:



Abraços,
Ricardo Riso


Não! Eu não quero mais ser negro

Cansei de ser negro
De ser parado pela polícia
Ser confundido com um bandido qualquer
De ter relações promíscuas com os políticos
Sendo sempre massa de manobra
Na mão de algum abnegado...
Não! Eu não quero mais ser negro
Ser minoria nas universidades
Ser tachado de preguiçoso...
Ser o primeiro de lista dos desempregados
Não quero ficar para trás
De tudo
De todos
Das oportunidades
De um futuro melhor
Não quero mais ser negro
Ser excluído de todas as formas
De todas a maneiras
Definitivamente estou casando de celebrar
Meus ritos escondidos
Dos olhos da sociedade
Não quero mais ser negro
E ter a responsabilidade de ser:
No melhor no futebol
Ser bom no pagode
Não...
Não quero mais ter um passado
negro
Que cheira a escravidão
Que cheira a dor
Quero renunciar ao meu futuro
De dor
Não quero mais ser negro
Chega de sofrer
O banzo pós-moderno


Negras memórias
A José Bento Rosa

A pele é negra
A minha pele
Tem que ser negra
O olfato negro...
Ao fato negro
O fator negro
É sempre negro
O poder negro
Do mercado negro
Quer manchar nossa história
Que compõe nossa estória
Que é sempre negra
Como meu passado é negro
Que tem o tom da minha pele
Cor negra por todos os lados
Cor de ébano!
Como minha memória...
Negras memórias!
De um pobre negro...
Do negro pobre
Que é sempre negro
Como meu passado negro
Que não é negro
Mas é negro!
Tão negro como minha pele...
...negra
Pois tenho origem no velho continente
O velho mundo
Que é negro
Assim como minha pele
Que é negra
Pois somos!
Os braços!
As pernas!
A nação proletária
Com as costas marcadas
Das chibatas
Negra...
Que movimentaram
Que movimentam
Que movimentarão
O futuro...
Desta Terra
De novo mundo...
Sou negro
Assim como minhas...
...memórias
Que alguns tentam
Em vão apagar
Minha consciência é negra
Meu passado é negro
Meu futuro há de ser negro


Com licença EU vou a luta
Para Tais Carolina Rita

Meu senhor vai bem!
A colheita foi boa!
Este ano...
Este século...
Para o meu senhor tudo vai bem!
Alguns negros fingiram!
Outras negras pariram,
Muitos outros...negros!
Meu senhor a colheita foi boa!
Este ano!
Este século...
Foi boa
Os Negros?
Os negros!
Alguns morreram...
Alguns Forros
Mas outros ficaram
Meu senhor
Meu amo...
Meu sinhô
A colheita foi boa!
Mas as correntes enferrujaram
Sinhô
E os negros e negras
Forros
Não estão mais aqui
Contudo preferiram
Ficar!
Livres!
Dispersos!
Por ai em qualquer lugar


 
Tumbeiro

Amarga e sonha!
Transporta tumbeiro
A negra dor
A negra carne
A carne negra
Lacera e lacera...
A negra vida
Transporta
Enrique-se
O mundo branco!
O branco luxo
A negra dor
Transporta
E lacera a negra carne
Transborda
De riqueza
O mundo branco!
Mundo reluzente
Racional
Transporta o negro
Ouro
A negra sina
O negro pranto


Para a Mãe África (Eu me rebatizo)
(Em memória a Miguel M. da Costa)

Ao som dos tambores...
Para o povo que sofre...
Para arte profana...
Eu me rebatizo
Vou me rebatizar
Para ti Oh Mãe África
Dos ridículos da vida
Volto para ti
Para a Mãe África
Para o povo que sofre
Volto para ti...
Para música profana
Com todo o rigor
Eu me rebatizo
Para toda a música profana
Do batuque...
Dança a música profana
O batuque...
Para toda a música profana
Volto para ti
Oh mãe África...


Adeus carne

l
O corpo esguio e o andar rápido em meio aos corredores e, ela não parecia se importar com o fato dos detentos estarem perfilados e, de cara para a parede, enquanto ela passava. O fato já não intrigara mais Maria da Saudade, com seus olhos verdes sedutores e seus quarenta anos de idade, e já se foram um pouco mais de um ano que fizera sua primeira visita ao seu filho no cárcere. Ficou sabendo logo como as coisas ali se precediam. E ficou feliz e amargurada ao mesmo tempo. Hoje esta especialmente feliz, pois estava enfim chegando o dia da soltura de seu filho e, amargurada de ainda ao vê-lo ali preso. E hoje, ao visitá-lo, foi o encontrar amuado em seu cubículo. – Filho, o que foi?

– Hora o que foi? Quero sair deste inferno mãe!É ‘’que’’ quero acertar umas continhas fora daqui...

– Tu vais sair logo meu filho! As palavras saíram em tom acalentador da boca de Maria. Ver o filho em tal estado, não era uma coisa que ela estava preparada. Era sempre assim, todas as sextas-feiras, um recomeçar, uma agonia sem fim, uma vez por semana e todo o mês. A princípio, ela pensava que o filho morreria em dois tempos naquele lugar infernal, mas logo soube que o ‘’Comando Criminoso’’ havia suspendido, toda e qualquer, acerto de contas ali dentro. As ‘’broncas’’ deveriam ser resolvidas no lado de fora do presídio. Isto devido à superpopulação de presídio. – O advogado, disse que tu vai sair no mês ‘’qui’’ vem filho. O que Maria da Saudade não sabia, era que o ‘’Comando Criminoso’’ quem de fato mandava no presídio, fizera uma acareação, entre seu filho e o Josué de Guimarães Travasso, o ‘’Nego preto’’, que fora preso logo após o filho da Maria ‘’cair na rua’’. ‘’O Patrão’’ queira saber da ‘’bronca’’ entre os dois e, deixar bem claro que as diferenças entre os dois seriam acertados fora do presídio. ‘’O Patrão’’ ficou contente, por saber que quem dera o tiro que matou um ‘’casqueiro’’ qualquer fora o Nego preto e o filho de Maria da Saudade ficou quieto durante todo o inquérito e o processo que o arrolava como homicida. E agora que o Nego Preto estava na rua, uma coisa não saia da cabeça do filho de Maria da Saudade.

II
Ao subir na ‘’ziquinha’’, Josué de Guimarães Travasso, o Nego Preto só pensava no lucro que teria à noite. Repassar sua cota de drogas e ficar de boa com o traficante ‘’Trinta e oito’’, mas repente em sua mente um pressentimento lhe invade a mente. Um mau presságio, e a figura do ‘’prego’’ que estava ‘’pagando’’ cadeia no seu lugar, vêm em sua mente. Preto não sabia se ele já estava para ser solto ou não. Vender a arma para ele foi uma tacada de mestre, justo a arma que usara para matar aquele ‘’laranja’’, que lhe devia uma boa quantidade de craque. – Ligo ‘’pros’’ irmãos mais tarde, pra sabe do lance! –Diz Josué de si para si mesmo. E ao chegar bem em frente da escola aonde estudara aquele adágio lhe invade com toda a força. E ele não escuta o tiro, disparado em sua direção, que o derruba da bicicleta, mas senti o ombro esquerdo em brasas. Atônito e atordoado ‘’Nego preto’’ em sua confusão mental se vira e, vê a figura de uma mulher que se aproxima. Seu andar era firme e esguio, seus olhos verdes sem emoção alguma a lhe fitar bem de perto. Josué de Guimarães Travasso se lembra da fisionomia da mulher, só não sabe de onde. O Nego preto que sentia o ombro em brasas vê a arma apontada para sua têmpora e, um brilho laranja esbranquiçado e uma fumaça. Sua cabeça que é jogada para trás, e ele que sentia o ombro em brasas já não sentia mais nada.

Religiosidade Afro-Brasileira, pelo Prof. José Flavio Pessoa de Barros

O dia 13 de maio é uma ótima oportunidade para divulgarmos as religiosidades afro-brasileiras, vítimas do racismo e da intolerância da sociedade de um país que se autoproclama a maior democracia racial do mundo.

Portanto, é sempre bom ouvirmos um pesquisador do assunto, o professor José Flavio Pessoa de Barros (UERJ), que está postando uma série de vídeos no Youtube sobre a religiosidade afro-brasileira.

Clique nos links a seguir para ter acesso aos depoimentos do professor.

Ricardo Riso




 
Fonte: e-mail gentilmente enviado pelo colega Rafael Eiras em 13/05/2010.

Vasco Martins - Mare Oceanus (Sinfonia 9)

Prezados(as),

o músico e poeta cabo-verdiano Vasco Martins informa que concluiu a sua Sinfonia 9e chama-se, em difinitivo, «Mare Oceanus», e aqui compartilho os links enviados pelo consagrado artista:

podem ouvir a primeira versão gravada pela Moravian P.Orchestra, dirigida por Vit Micka:

a actual 'global score' em PDF:

uma versão no You Tube, com imagens:

Para quem quiser conhecer a poesia de Vasco Martins e ter acesso ao seu sítio e blog, basta clicar no marcador ao com o seu nome ao final deste texto.

Ricardo Riso

Fonte: e-mail enviado por Vasco Martins em 12/05/2010.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Eduardo White - A fuga e a húmida do amor (excertos)

1

Possuem uma cabeça essas mãos com as quais repartes a farínica pele do pão que tomaste sobre a mesa. Têm os olhos porosos incrustados em sua crosta e a chuva cerca-as pela lembrança da lenha que o cozeu.

Das mãos, os dedos moldávios na massa, o risível conhecimento da insónia inquietando-a iluminada deformável.

Sinceramente: gosto do modo como o repartes, pouco a pouco, lentissimamente impregnada de inconfidencialidade, de terra, cinza e água. Matéria bastante para revelar-me, eu chamando-te.

Sabes-me a essa nudez do instante onde és ave a adornar a língua tilintante da beleza e onde o pão se confunde, aberto, repartido, contigo, nua habitável, como um país do qual se escreve.

No corpo um coração impresso, pulsante e matinal tal é a sua nitidez. Observo-o atento. para lá do que me é possível dizer.

As mãos, então, é que já te digo, espelhos autênticos, necessários ao tarot da música que reflectes como se a ela suasses. Poro a poro. Parte à parte incomensurável do seu corpo.
(p. 31)


6

Também, é bom beijar-te. Um beijo está sempre mais ao alcance da fala, do búzio sonoro do silêncio, da água aérea da saliva.

No entanto, quero que saibas que não me consterna o facto de aqui não estares. De nunca teres estado, pois nunca passaste, desde sempre, de uma visão.

O meu amor amura-te o suficiente para que sejas mais do que real. Aliás, como o é a minha loucura para os outros. Amar-te é como nascer, faço-o sozinho.

Embarcado no que acredito, no que recordo, no que avivo, no que crio e invento.

Em resumo: com o que te sonho.
(p. 38)


8

Acendo um feitiço dentro desta folha. A teoria da possibilidade de o seres. Os entes que evoco pelas conchas das palavras, os ungüentos da pontuação. Leio-os espalhados pela esteira. E uma tempestade nasce-me dentro. Em turbilhão.

Pedem-me os deuses outras falas. Outros estrebuchares do corpo. Outros revirares dos olhos. Tu impassível diante de tudo. Serena como uma lua a encandear a noite.

Não sei, nem dentro deste exorcismo, nem destas convulsões, não diviso os deuses pequenos para que te atendam. Que pacto terás feito tu com Deus para que estejas tão omnipresente, tão cândida e refrescante?

Estou possesso. Prostrado e angustiado pelo chão. Pelos vasilhames da exaustão.

Rendido ao mal do qual me havia proposto salvar-te.

Não estás, agora. Agora que, cambaleante, vou regressando da tontura. Tal como surges, partes.
(p. 40)

(WHITE, Eduardo. A fuga e a húmida escrita do amor. Maputo: Texto Editores, 2008)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

NA ESQUINA DO TEMPO - blog de Manuel Brito-Semedo (Cabo Verde)

Um ótimo blog para quem quiser conhecer aspectos culturais, literários e da identidade cabo-verdiana, além de um belo trabalho de preservação da memória intelectual do país, basta passar NA ESQUINA DO TEMPO, de autoria do Prof. Dr. Manuel Brito-Semedo.

Nascido na ilha de São Vicente, licenciado em Ensino da Língua Portuguesa pelo Inst. Superior Pedagógico de Maputo (Moçambique), Doutorado em Antropologia pela Univ. Nova de Lisboa, desde 1998. É membro fundador da Associação de Escritores Cabo-verdianos e membro da Associação Moçambicana de Língua Portuguesa (AMOLP). É pesquisador e professor da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde.

Já publicou, dentre outras: Caboverdianamente ensaiando I e II; A morna balada - o legado de Renato Cardoso; A construção da identidade nacional - análise da Imprensa entre 1877 e 1975.

Segue, a parte inicial do texto "Escritores Cabo-verdianos são Trilingues":

"Segundo o conceituado romancista Teixeira de Sousa (Fogo, 1919-2006), os escritores cabo-verdianos são trilingues. Desta forma: “temos o crioulo, temos o português claridoso [...] e [temos] o português domingueiro, correcto e vernáculo, que usamos no ensaio, nos relatórios, nos ofícios, nos discursos, na correspondência, etc., etc.” [1].

De facto, é possível, através da análise das produções literárias detectar os momentos marcantes no discurso linguístico cabo-verdianos, porque os mesmos se sobrepõem aos períodos e sub-períodos ou fases da literatura, a saber: o Período do Cabo-verdianismo (1842-1936), o Período da Cabo-verdianidade (1936-1974/75) e o Período do Universalismo (1974/75-...)." mais

Abraços,
Ricardo Riso

terça-feira, 4 de maio de 2010

Palestras Ricardo Riso - maio/2010

Prezados,

convido-os para as palestras que participarei neste mês de maio/2010. São gratuitas.

Aguardo vocês.
Abraços,
Ricardo Riso

Palestra para turma de calouros do curso de Letras com ex-alunos apresentando as conquistas profissionais na área
Dia 11 de maio – às 19h
Auditório 3 – 22o. andar
Universidade Estácio de Sá – campus Centro I
Av. Presidente Vargas, 642 - Centro

Semana de Letras 2010 - Identidades
Multietnicidade nas literaturas de língua portuguesa: Brasil e Cabo Verde
Profa. Dra. Norma Lima e Ricardo Riso
Dia 12 de maio – às 19h
Universidade Estácio de Sá – campus Millôr Fernandes
Rua Dias Da Cruz, 255 - Shopping do Méier

segunda-feira, 3 de maio de 2010

SARAU AFRO MIX

SARAU AFRO MIX

Dia 10 de maio de 2010 - segunda-feira
das 18h às 20h - entrada franca
Galeria Olido
Av. S. João, 473 - térreo - centro - São Paulo

Mojuba,

O que é literatura para você?

Estamos convidando você para participar conosco do Sarau Afro Mix - Lima Barreto e Carolina de Jesus, na Galeria Olido.

Este sarau será realizado em maio, que tem no dia 13 para a maioria a lembrança da abolição (esta, ainda, inacabada), mas esse dia tem outros significados (consulte o calendário afro para essa e outras datas).

Um bom motivo para celebrar o dia 13, e quem gosta de ler, seja novo ou velho, negro ou branco, concordará conosco, é que é dia de nascimento do escritor Lima Barreto. No sarau, falaremos um pouco sobre esse escritor pré-modernista, que nasceu "sem dinheiro, mulato e livre" (conforme escreve e se descreve) e também sobre a escritora Carolina de Jesus, cuja obra "Quarto de Despejo" completa 50 anos em 2010 e é referência para muitos jovens, especialmente os moradores de periferia.

Então fica assim: Intervenção sobre Lima e Carolina; poesia com participação de Esmeralda Ribeiro, Helton Fesan, Márcio Barbosa, Sacolinha, Sergio Ballouk e Thyko de Souza (e quem mais chegar chegando); e intervenção musical com a cantora Lia Jones.

Teremos a roda de poemas, que é aberta a quem quiser levar suas poesias (sejam tradicionais ou em forma de rap). Basta entrar na roda e lê-las, declamá-las (desse jeito: cantamos um ponto, paramos, lê-se um poema, ponto, e a coisa segue...).

É uma ótima oportunidade que a literatura proporciona para renovarmos nossa energia.

"Canta pra assentar o axé, iô"
Axé!
Quilombhoje

Dina Salústio - Filhas do Vento (livro)


O novo romance de Dina Salústio, Filhas do Vento. A seguir, o texto de contracapa do livro.

DINA SALÚSTIO – Bernadina de Oliveria Salústio – nasceu em Cabo Verde, Ilha de Santo Antão, em 1941. publicações: Mornas eram as noites, contos, 1994; A Louca de Serrano, romance, 1998; Estrelinha Tlim Tlim, infanto-juvenil, 2000; Violência contra as Mulheres, estudo, 2001; O que os olhos não vêem, infanto-juvenil, co-autora com Marilene Pereira, 2002; Cabo Verde, 30 anos de edições – 1975/2005, catálogo enciclopédico, 2005.

Está presente em algumas antologias cabo-verdianas e estrangeiras. A sua escrita foi já matéria de vários estudos, destacando-se duas teses de mestrado e duas de doutoramento, além de alguns trabalhos científicos ligados quer à sua prosa quer à sua poesia. Sócia-fundadora da Associação dos Escritores Cabo-verdianos. 1º Prémio em literatura infanto-juvenil (1994), Cabo Verde e 3º Prémio em literatura infanto-juvenil dos PALOP, Países Africanos de Língua Portuguesa (2000). Galardoada pelo Governo de Cabo Verde com a Ordem do Mérito Cultural (2005).

“Filhas do Vento” narra a relação de uma menina com a avó, um fantasma que vive dentro de um livro. Atormentada por um crime que cometeu pede à neta que a livre de uma maldição que carrega, para que a sua família e a sua terra não se percam no meio de um eclipse do tempo. Um tempo sem dia nem filhos ou noite: sem riso, ódio, vento ou mulher; sem carnaval nem homem; sem emoção e amigos ou o mar de uma baía clara. Para a salvar, a neta terá que abandonar a própria história para cumprir o destino que a avó negara, milhares de gerações atrás. Quando Susane soube do pedido teve um ataque, possivelmente de fúria, quem sabe de riso, talvez de choro. Não, na verdade – conforme a velha ama falou – “deu-lhe uma coisa e caiu para o chão”.

 
SALÚSTIO, Dina. Filhas do Vento. Praia: Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro (IBNL), 2009.

domingo, 2 de maio de 2010

III Espelho Atlântico - Mostra de Cinema da África e da Diáspora


III ESPELHO ATLÂNTICO
MOSTRA DE CINEMA DA ÁFRICA E DA DIÁSPORA

A III Espelho Atlântico - Mostra de Cinema da África e da Diáspora, com direção geral da cineasta Lilian Solá Santiago, traz pela terceira vez ao Rio de Janeiro sua primorosa seleção de filmes africanos e da diáspora negra.

De 11 a 16 de maio, com exibições simultâneas nas salas 1 e 2 da Caixa Cultural, a mostra proporcionará uma abordagem atual e significativa da produção cinematográfica africana contemporânea e da realizada fora do continente, mas que dialoga diretamente com a herança cultural do continente africano.

Falar de diáspora é reconhecer que a África vive. Não só nos territórios africanos de hoje, com sua enorme diversidade de povos e culturas, mas principalmente no Novo Mundo e na Europa. Em todos esses lugares, o que é branco, europeu, ocidental e colonizador sempre foram os elementos considerados positivos, o que reflete na cinematografia. A mostra “Espelho Atlântico” destaca o que comumente é posicionado em termos de subordinação e marginalização: o pensamento, os sentimentos e os traços negros – de africanos, escravizados e colonizados.

A III Espelho Atlântico - Mostra de Cinema da África e da Diáspora é uma rara oportunidade de assistir a importantes títulos, alguns inéditos por aqui, capazes de provocar uma profunda reflexão sobre os pontos de identificação e convergência entre as identidades brasileira, africana e ocidental.

PROGRAMAÇÃO E SINOPSES

Dia 11/05 – terça-feira

O espírito de luta (documentário)
Gana / Estados Unidos / Reino Unido – 2007
Direção: George Amponsah
Documentário, HD, 80’, Cor
Premiado com o AfroPop Award (2008) e no Festival de Documentário Real Life, exibido no New York African Film Festival e no Africa In The Picture Film Festival.
Três boxeadores, dois homens e uma mulher de uma pequena comunidade de Gana, buscam seu caminho para conquistar os maiores prêmios desse esporte, em Nova Iorque e Londres. A realidade da África moderna, os sonhos e ambições de seus jovens lutando por recompensa, respeito e a conquista de seu espaço.
Roteiro: George Amponsah; Produção: Michael Tait; Produção Executiva: Leslie Amponsah, Christi Collier, Jacqui Timberlake; Fotografia: George Amponsah; Montagem: James Devlin; Trilha sonora: Eric Windrich
Produtora: Guardian Films; Produtor Associado: Dionne Walker

Dia 12/05 – quarta-feira



Quero um vestido de noiva
Zimbabwe – 2008
Direção: Tsitsi Dangarembga
Ficção, Beta SP, 26’, Cor
Kundisai está de casamento marcado e deseja comprar um belo vestido de noiva. Tanto ela quanto seu noivo não têm dinheiro para transformar esse sonho tão simples em realidade. Para conseguir o vestido, Kundisai faz escolhas que podem não ter o resultado esperado.
Roteiro: Tsitsi Dangarembga; Produção: Olaf Koschke; Fotografia: Linette Frewin; Montagem: Olaf Koschke; Trilha sonora: Sister Flame; Produtora: Nyerai Films com apoio de UNFPA Zimbabwe

Yandé Codou, uma griot de Senghor
Senegal – 2008
Direção: Agèle Diabang Brener
Documentário, Betacam, 52’, Cor
Prêmio de público de melhor documentário no Festival de Filmes de Dakar (2008).
A cantora Yandé Codou Sène, 80 anos de idade, é uma das últimas mestras da poesia polifônica “sérère”. O filme é um olhar íntimo sobre uma diva que atravessou a história do Senegal perto de um dos seus maiores mitos, o presidente e poeta Léopold Sédar Senghor.
Roteiro e Produção: Angèle Diabang Brener; Diretor de Produção: Fabacary Assymby Coly (Loguiss); Assistente de Produção: Coudy Aly Dia; Fotografia: Florian Bouchet & Fabacary Assymby Coly; Montagem: Yannick Leroy; Edição: Damien Defays; Som: Mouhamet Thior; Mixagem de som: Damien Defays; Trilha sonora: Yandé Codou Sène, Wasis Diop, Youssou Ndour; Produtora: Karoninka; Co-Produção: Africalia Belgium

Dia 13/05 – quinta-feira

Darluz
Brasil – 2009
Direção: Leandro Goddinho
Ficção, MiniDV, 15’, Cor e P&B
“Dei José, dei Antonio, dei Maria. Dei, daria e dou. Não posso criar.”
Premiado no 17º Festival de Vídeo de Teresina – PI e no 16º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá. Selecionado para o 10º International Film Festival Hannover.
Elenco: Mawusi Tulani, Antonio Vanfill, Carolina Bianchi, Ricardo Monastero, Ester Laccava, Tayrone Porto, Valdir Grillo, Lucélia Sérgio.
Roteiro: João Fábio Cabral e Leandro Goddinho; Direção de Produção: Juliana Kiçula e Renata Esperança; Produção: Leandro Goddinho; Fotografia: Fred Ouro Preto; Direção de Arte: Antonio Vanfill; Montagem: Leandro Goddinho; Design de som: Leandro Goddinho

Aproveite a pobreza
Holanda – 2008
Direção: Renzo Martens
Documentário, BetaCam, 90’, Cor
Selecionado para a abertura de Amsterdam International Documentary Festival.
Durante dois anos, o diretor viajou pelo Congo, desvendando a indústria da luta contra a pobreza no país pós-guerra civil. Sua conclusão: a pobreza veio para ficar, e "combatê-la" é uma indústria que em nada beneficia os pobres.
Roteiro: Renzo Martens; Produção: Peter Krüger, Renzo Martens; Fotografia: Renzo Martens; Montagem: Jan De Coster; Edição de Som: Raf Enckels; Mixagem de som: Federik van de Moortel; Produtora: Renzo Martens Menselijke Activiteiten; Co-Produtora: Inti Films

Dia 14/05 – sexta-feira



Quase todo dia
Brasil / Estados Unidos – 2009
Direção: Gandja Monteiro
Ficção, 35mm, 18’, Cor
Selecionado para o Los Angeles Latino International Film (2009), Festival do Rio de Janeiro (2009) e Tribeca Film Festival (2009).
Em um dia de inverno, Priscilla e sua filha percorrem uma longa jornada enfrentando engarrafamentos, situações inesperadas e o descaso das pessoas de quem Priscilla mais precisa neste importante momento de sua vida.
Elenco: Priscila Marinho, Agatha Marinho, João Lima, Fernanda Félix, Hélio Braga
Roteiro: Gandja Monteiro; Produção Executiva: Gandja Monteiro, Kevin Sutavee; Produção: Carol Albuquerque; Fotografia: Julia Equi; Montagem: Gandja Monteiro, Bruno Toré; Som: Bruno Fernandes; Mixagem de som: Richard Levengood; Direção de arte: Carolina Britto; Produtora: 6&B Films; Co-produção: Laura Grant; Produtora Associada: Juliana Monteiro, Ana Sette, Bruno Toré

35 doses de rum
França/Alemanha – 2008
Direção: Claire Denis
Ficção, 35mm, 100’, Cor
Selecionado para o Toronto Film Festival (2008) e Festival de Veneza (2008). Premiado em Gijón International Film Festival (2008) e nomeado em Chlotrudis Awards (2010).
O viúvo Lionel vive com sua filha, Josephine no subúrbio de Paris. Enquanto ele atrai a atenção de uma mulher de meia-idade, um taxista do bairro flerta com Josephine. Lionel percebe que a filha está ficando independente e que talvez seja hora deles confrontarem seus passados.
Elenco: Alex Descas , Mati Diop , Nicole Dogué , Grégoire Colin , Jean-Christophe Folly, Julieth Mars, Djedjé Apali, participação especial: Ingrid Caven
Roteiro: Jean-Pol Fargeau e Claire Denis; Direção de Produção: Benoit Pilot; Produção: Bruno Pesery; Fotografia: Agnès Godard; Montagem: Guy Lecorne; Música: Tindersticks; Direção de arte: Arnaud de Moléron; Som: Martin Boissau, Christophe Winding e Dominique Hennequin; Produtora: Soudaine Compagnie; Co-produção: Christophe Friedel e Claudia Steffen

Dia 15/05 - sábado

Black Berlim
Selecionado para o Lateinamerika-Institut (LAI) da Universidade Livre de Berlim (FU Berlin).
Brasil /Alemanha – 2009
Direção: Sabrina Fidalgo
Ficção, DV, 13’, Cor e P&B
Nelson é um jovem baiano estudante de engenharia em uma renomada universidade em Berlim. Leva uma vida hedonista, distante de suas verdadeiras raízes. Tudo muda quando ele passa a encontrar Maria, uma imigrante ilegal do Senegal. As lembranças o remetem a um passado que ele preferia esquecer.
Elenco: Bobby Gomes, Sabrina Fidalgo, Robson „Caracú“ Ramos, Marília Coelho, Walter Chavarry, Luíza Baratz, João Vítor Nascimento,Tonia Reeh, André Schröder, Carolina Ciminelli, Juan Velloso Melo, Clara Buentes e Lucas Cruz
Narração: João Correa; Roteiro: Sabrina Fidalgo; Produção Executiva: Sabrina Fidalgo e Monique Cruz; Fotografia: Ras Adauto; Montagem: Chico Serra e Fernando Oliveira; Trilha sonora: Liz Christine; Direção de arte: Marcelo Moraes; Som: Toninho Muricy; Mixagem de som: Bruno Espírito Santo; Produtora: Kfofo Productions; Co-produção: Eduardo Raccah; Co-produção: Casa Cinco Produções, Associação Cultural & Teatral Ubirajara Fidalgo

Em Quadro - A História de 4 Negros nas Telas
Selecionado para a abertura da Mostra Especial Fora de Competição do 37º Festival de Cinema de Gramado e para o Festival do Rio (2009).
Brasil – 2009
Direção: Luiz Antonio Pilar
Documentário, Color Digital, 93’, Cor
O documentário retrata vida e obra de Ruth de Souza, Zezé Motta, Lea Garcia e Milton Gonçalves. Os cineastas Roberto Farias, Cacá Diegues, Antonio Carlos da Fontoura e Joel Zito Araújo relatam experiências em obras como O Assalto ao Trem Pagador, Xica da Silva, A Rainha Diaba e Filhas do Vento.
Roteiro: Luiz Antonio Pilar; Produção Executiva: Luiz Antonio Pilar; Assistente de direção e produção: Flavia Trindade; Fotografia: Daniel Leite e Werner Lachtermacher; Montagem: Duda Villa Verde e Flavia Trindade; Trilha sonora: Julius Britto; Produtora: Black e Preto Produções Artísticas, LAPILAR Produções Artísticas

Dia 16/05 - Domingo
Doido Lelé
Brasil – 2009
Direção: Ceci Alves
Ficção, 35mm, 15’, Cor
Premiado no 4º Festival do Paraná de Cinema Brasileiro Latino, exibido na mostra Corrida Audiovisuelle, em Toulouse como convidado da École Supérieure d’Audiovisuel (ESAV), França.
Caetano sonha em ser cantor de rádio na década de 1950 e foge todas as noites de casa para tentar, sem sucesso, a sorte num programa de calouros. Até que, uma noite, ele aposta tudo numa louca e definitiva performance.
Elenco: Vinícius Nascimento, Jussara Mathias, Maurício Pedrosa, Nonato Freire
Produção: Vanessa Salles; Roteiro: Ceci Alves; Produção Executiva: Fátima Fróes; Fotografia: Pedro Semanovschi; Montagem: Dedeco Macedo; Direção de arte: Hamilton Lima; Trilha Sonora: Gerônimo Santana; Som: Napoleão Cunha

Bem-vindo à Nollywood
Selecionado para o Full Frame Documentary Film Festival (2007), Avignon Film Festival (2007) e Melbourne International Film Festival (2007).
Estados Unidos – 2007
Direção: Jamie Meltzer
Ficção, 35mm, 56’, Cor
Em Lagos, capital da Nigéria, o diretor segue três dos mais conceituados realizadores de Nollywood, cada um com seu diferente estilo e personalidade, enquanto produzem seus filmes sobre amor, guerra, traição e o sobrenatural.
Roteiro: Jamie Meltzer; Produção: Michael Cayce Lindner, Henry S. Rosenthal; Fotografia: Bruce Dickson, Akinola Davies, Jamie Meltzer; Montagem: Daniel J. Friedman; Música: Ben Krauss e Dave Nelson; Co-produção: National Black Programming Consortium e Infinity Films Nigeria; Produtores Associados: Chris Eriobu, Akinola Davies, Bruce Dickson

III Espelho Atlântico – Mostra de Cinema da África e da Diáspora
Local: CAIXA Cultural RJ – Cinemas 1 e 2
Endereço: Av. Almirante Barroso, 25, Centro (ao lado da estação Carioca do metrô)
Tel: 21 2544 4080 / 21 2544 4080
Temporada: de 11 a 16 de maio de 2010
Sessões: a partir das 19h
Preço: R$ 4,00 (inteira); R$ 2,00 (meia-entrada) e R$ 10,00 (passaporte para 08 sessões).
Acesso para portadores de necessidades especiais.
Classificação indicativa:14 anos