sábado, 18 de setembro de 2010

Helena Theodoro – Os Ibejis e o Carnaval


Helena Theodoro – Os Ibejis e o Carnaval
Por Ricardo Riso

Aprendizado, ludicidade e lirismo dão corpo à bela narrativa Os Ibejis e o Carnaval, da pesquisadora da cultura brasileira e professora doutora Helena Theodoro.

A pequena narrativa gira em torno dos ibejis, nome africano para gêmeos. São eles: Neinho e Lalá. Como todas as crianças, a curiosidade exacerbada conduz o diálogo à festa do carnaval e vários aspectos que envolvem a sua feitura, e é na tessitura textual de intensa habilidade narrativa que o leitor mirim se deparará com a escrita leve, concisa, esclarecedora e envolvente de Helena Theodoro.

Diversos aspectos do carnaval, por conseguinte, da cultura afro-brasileira, são apresentados pela autora. Os pequenos aprendem como é a celebração tradicional do nascimento das crianças entre os negros: com batucada, samba, cantos e apresentação dos bebês à lua, que quando está na fase cheia sinaliza sorte e felicidade aos recém-nascidos.

As crianças crescem, a agitação normal da pouca idade leva as discussões ao carnaval. “Carnaval é a festa do povo! É quando as escolas contam suas histórias e mostram o valor da nossa gente”, diz a menina Lalá; enquanto pela voz de Neinho o pequeno leitor passa a conhecer a diversidade da festa: “carnaval não é só escola de samba, tem os blocos afro da Bahia, blocos de embalo aqui do Rio de Janeiro e até os afoxés”.

Theodoro também mostra sua generosidade ao citar e homenagear figuras ícones do carnaval – como o mestre-sala Ronaldinho do Salgueiro e a porta-bandeira Selminha Sorriso, além de Mestre Dionísio –, menciona blocos como o tradicional Cordão do Bola Preta e a escritora Lygia Bonjunga Nunes.

A narrativa destaca o conhecimento oral transmitidos pelos mais velhos para contar passagens da nossa famosa festa popular e explica-se como a sabedoria oral é passada por meio de histórias, de geração em geração. Contudo, não só a oralidade se faz presente, a avó dos ibejis também lê histórias que dizem respeito a nossa cultura afro-brasileira.

Ao final do livro, encontra-se um importante glossário que descreve termos como os instrumentos de percussão, os ritmos, os diferentes blocos, a origem da festa e breve histórico das pessoas citadas, saciando, assim, na plenitude, a curiosidade dos pequenos e dos grandes leitores.

A graciosa história Os Ibejis e o Carnaval tem como acompanhamento as felizes e riquíssimas ilustrações de Luciana Justiniani Hees. O livro possui uma cuidadosa, criativa e ousada diagramação que dialoga harmoniosamente ilustrações e texto, contribuindo para que o livro pareça um perfeito desfile de uma escola de samba na Marquês de Sapucaí.

Para além de resgatar a cultura afro-brasileira presente na festa do carnaval, Os Ibejis e o Carnaval é uma fundamental ferramenta para os educadores que desejam trabalhar com as leis 10.639/2003 e 11.645/2008, para os pais que presentearão seus filhos com uma agradável e respeitosa abordagem do carnaval tradicional, e também servir como uma forma de resistência da nossa cultura negra, assim como eram as escolas de samba em tempos remotos.

“Vocês sabem que a dança do mestre-sala e da porta-bandeira é a dança da reza?”, questiona a avó às crianças. Esta e o porquê do uso da bandeira pela porta-bandeira são respondidas nesse encantador Os Ibejis e o Carnaval, a excelente incursão de Helena Theodoro na literatura infantil.


Os Ibejis e o Carnaval
de Helena Theodoro
ilustrações de Luciana Justiniani Hees
Rio de Janeiro: Pallas, 2009.

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