sexta-feira, 29 de agosto de 2008

vou-vos pôr a estória que me contaram (Ricardo Riso)


vou-vos pôr a estória que me contaram (Ricardo Riso)
pastel s/papel. 59,4 x 42 cm. 08/2008



estória. estória

vou-vos pôr a estória que me
contaram no tempo em que Luanda
tinha jimbondo e a makua comia-se
pouca com medo do mbumbi

estória. estória

vou-vos pôr a estória que me contaram
no tempo em que Luanda tinha mulembas

estória. estória

e nesse tempo Luanda era
cidade da baixa e do musseque
nos jimbondos e mulembas
que estavam nos musseques
fazia-se umbanda e uanga


estória. estória

vou-vos pôr a estória que me contaram
no tempo em que Luanda tinha
cajueiros pitangueiras maboqueiros
gajajeiras romãzeiras figueiras e macieiras da índia
e os ndengues do musseque jogavam bola de meia
e tomavam banho nas cacimbas

estória. estória

e os prédios e as vivendas estavam pouco a pouco
a entrar na barriga do musseque

vou-vos pôr a estória...

Kafukeno, Fernando. Sublimação da Aresta. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2006. 1ª ed. Colecção Guaches da Vida, nº 35. p. 26-27

domingo, 24 de agosto de 2008

Maria Celestina Fernandes: contra a grande desilusão da utopia, a poesia


À bela pátria angolana
nossa terra, nossa mãe
havemos de voltar

Havemos de voltar
À Angola libertada
Angola independente

(Agostinho Neto – Havemos de Voltar)

É essa ansiedade obstinada
De ver os meus irmãos
Renunciar a destruição generalizada
Que se propuseram edificar,
Dessa forma tão obstinada...
(Maria Celestina Fernandes – Angústia)


As duas epígrafes contrapondo anseios distintos da poesia angolana, demonstram que os poetas revelados a partir da década de 1980 tecem um profundo e tenso diálogo com as gerações anteriores, mais precisamente com os que sedimentaram a poesia de cariz nacional, ou seja, os pioneiros do sentimento de angolanidade representado na revista Mensagem, dentre os quais, podemos citar além de Agostinho Neto, Viriato da Cruz e António Jacinto. Da “geração das certezas” à “geração das incertezas”, ou como menciona Inocência Mata: da “espera esperançosa” à “espera desencantada” (MATA, 2006). Que fatores motivaram essas mudanças? O pequeno livro de poemas “O meu canto” (Luanda: UEA, 2004) de Maria Celestina Fernandes, pode ajudar-nos a refletir o desencanto presente na produção literária angolana atual.

Maria Celestina Fernandes é integrante da geração que cresceu durante a guerra colonial e atingiu a juventude na independência angolana, em 1975. Sua formação literária se deu com a leitura dos contundentes poemas em amor e exaltação ao país e à liberdade, sentimento que não pode ser compartilhado por ela e seus contemporâneos em razão da decepção causada pelos descaminhos da revolução. Luís Kandjimbo, poeta e crítico literário, alcunhou a produção de poesia angolana dos anos 1980 como a da “geração das incertezas”, posterior à “geração do silêncio”, surgida nos anos 1970, que revelou nomes como Arlindo Barbeitos e Ruy Duarte de Carvalho. Carmen Lucia Tindó Secco esclarece as renovações trazidas ao corpus literário angolano nas duas décadas supracitadas:

“voltada para a redescoberta ética e estética da palavra poética (...), tendo-se caracterizado pela consciência crítica em relação ao ato de escrever (...). O poema passou a ser, desse modo, o lugar de encontro do poeta consigo mesmo, o local, portanto, da descoberta existencial, política e literária. Nesse sentido, deu passagem à poética dos anos 1980, que radicalizou, em vários aspectos, as conquistas estéticas da década de 1970, diferenciando-se dela, contudo, por não adotar a práxis do silêncio.” (SECCO, 2006, p. 93-94)

Replanejar o país, repensar a poesia e valorizar a cidadania são algumas das atitudes assumidas pelos novos poetas no período pós-colonial que, segundo Carmen Lucia Tindó Secco:

“Muitos dos poetas da poesia angolana das últimas décadas fazem de seus poemas lugares de novas memórias pelas quais buscam repensar o cotidiano da sociedade, refletindo sobre a persistência das tradições, a fragilidade das mudanças sociais e as novas formas de relações humanas existentes nos tempos atuais. Transformam, desse modo, suas composições poéticas em locais políticos, onde o amor, os sonhos e a amizade surgem como alternativas críticas para libertar o pensamento e os sentimentos de cada cidadão dos paradigmas partidários utópicos e fechados, característicos dos tempos regidos por um ethos revolucionário.” (SECCO, 2007, p. 160)

Diferente da geração que sentiu com maior intensidade o jugo colonial, notabilizada por “uma retórica que buscou partilhar memórias imaginariamente históricas e sociais e coletivizar angústias e aspirações (...), que intentava a construção de um corpo uno e coeso, dentro dos propósitos do nacionalismo” (MATA, 2006, p. 26), a poesia contemporânea recorre a temáticas do passado rebuscando os sonhos irrealizados da nação independente, com ampla diversidade estética. Entretanto,

“operando um processo canibalesco, no sentido da devoração como metáfora da assimilação crítica dos elementos da estética fundacional, com a condição de esses elementos retirados serem reelaborados em moldes do contexto histórico, sob a urgência das várias tensões fraturantes da sociedade angolana atual”. (MATA, 2006, p. 27)

Há semelhanças nas temáticas abordadas pela nova geração. Embora o discurso dos poetas do pós-colonialismo continue a versar o espaço geográfico angolano, este não reaparece como exaltação de suas belezas aliado ao nós coletivo, mas sim, em ruínas, ruínas da capital do país dilacerado pela guerra associada às ruínas da condição humana deste início de século:

Oh, Luanda! Bela capital
Desta Angola grandiosa, (...)

Que das águas do Atlântico emerge graciosa,
Impulsionada pela força mágica da Kianda matriarcal
De onde retira resistência assombrosa.

Desafortunadamente, sobre a natural beldade
Foram semeando em abundância o caos, cidade linda,
Emergindo, assim, pelos teus cantos e recantos, qual
cogumelos, fealdade...

mas com toda a dignidade
reergue-te bravamente, Luanda,
para que não sintas, nunca, vergonha de te mostrar em
plenitude... (p. 20)

Para resistir aos séculos de opressão colonial e às fraturas da guerra pós-colonial, o eu lírico revisita o passado mítico do povo angolano e convoca a força da Kianda, deusa do mar, para auxiliar na reconstrução nacional. Ao rememorar o passado, Inocência Mata afirma que para a atual geração “o redimensionamento crítico do discurso sobre a nação” é alimentado pelos sonhos irrealizados da revolução, “embora sempre ainda a partir das coordenadas do projeto nacional” mostra que o “‘país real’ já não permite a euforia do canto celebrativo” (MATA, 2006, p. 38).

Depreendemos que o poema de Fernades é um contraponto ao poema “Havemos de voltar” de Agostinho Neto. Enquanto neste, Angola, com suas belezas e riquezas: “Às nossas minas de diamantes (...)/ Aos nossos rios, nossos lagos/ às montanhas, às florestas” (NETO, 1986, p. 126), opõe-se à invasão do colonizador, Fernandes reatualiza a resistência contra o inimigo interno, os próprios angolanos, apoiados pelas potências da então Guerra Fria, e posteriormente pelo neoliberalismo.

Dor intensa é sentida pelo eu lírico com os terríveis acontecimentos consumados em tempos de exceção, da destruição exacerbada realizada pelos angolanos que destroem vidas indiscriminadamente:

Por entre os destroços
das carruagens do combóio em chamas,
ateadas por mãos fétidas,
a vida se acasalou com os horrores do inferno:
fogo, sangue, grito e lágrimas = morteeeeeeeeee...
No ar o odor irrespirável de carne abrasada
dos filhos da pátria traiçoeiramente trucidados.
desconseguimos chorar com olhos secos,
Poeta Maior...

No Zenza do Itombe
Massacre!

Vítimas de Zenza do Itombe: - Presentes!
Os irmãos angolanos jamais vos esquecerão... (p. 35)

Os ‘olhos secos’ evocados pelo eu lírico foram sugeridos pelo Poeta Maior Agostinho Neto, contudo, em um contexto em que a violência desmedida era aplicada pelo colonizador português. No poema “Criar”, Neto invoca os angolanos a resistir à opressão colonial:

Criar criar
gargalhadas sobre o escárnio da palmatória
coragem nas pontas das botas do roceiro
força no esfrangalhado das portas violentadas
firmeza no vermelho sangue da insegurança
criar
criar com os olhos secos

Criar criar (...)
paz sobre o suor sobre a lágrima do contrato
paz sobre o ódio
criar
criar paz com os olhos secos

Criar criar
criar liberdade nas estradas escravas
algemas de amor nos caminhos paganizados do amor
sons festivos sobre o balanceio dos corpos em forcas simuladas

criar
criar amor com os olhos secos (NETO, 1986, p. 81-82)


Destruído o país, assolado pela ganância desmedida de seus governantes e pela estupidez de um conflito fratricida, o eu lírico, em súplicas, questiona “Para onde remeteram teus sonhos/ do promissor futuro para todos?” (FERNANDES, p. 33). O desejo da terra livre, tantas vezes decantado nos versos dos contemporâneos de Neto, acompanhado por suas belezas geográficas, seus costumes e conclamando o povo angolano a se unir por uma causa libertária que traria a promessa de um novo tempo, foram substituídos pela tristeza e melancolia motivados pela perpetuação da miséria no pós-independência:

Em cada canto alguém suspirando
a cada passo um mendigo
a cada instante alguém agonizando
em cada encruzilhada um assalto
em cada boca um lamento
no seio do povo
lamento uníssono... (p. 31)

Os flagelos da violência desmedida por anos de horror fixam marcas indeléveis na população indefesa, deixando as pessoas desnorteadas, em estado de torpor:

Caminhantes que vão e vêm
e vêm por caminhos tortuosos,
caminhantes que sobem
e descem por infindáveis degraus nebulosos,
sem mesmo saberem o que buscam,
em seus ombros trouxas pesadas que nada carregam,
sua fala é o silêncio,
no olhar só desesperança. (p. 30)

Do sonho libertário de uma nova nação para o pesadelo há tempos enraizado entre os angolanos dilacerando as esperanças, é denunciado pelo eu lírico: “Inviável se torna o sonho, por demais adiado,/ de um melhor amanhã...” (p. 29). Nem as metáforas relacionadas ao elemento primordial ar conseguem suprimir o desespero atingido pela situação angolana. Não há espaço para a paz e o vôo livre do verso não consegue ser alçado diante da ferocidade que devasta o país. Com isso, o desencanto predomina nos poemas, como depreendemos nos dois exemplos a seguir:

POMBA
Era uma pomba imaculada
quando chegou ao meu pombal;
Uma pomba vitalizada,
portadora de mensagens de fé/paz

partiu, voou pelos lugarejos mais próximos,
arribou em paragens bem mais distantes
deste desafortunado país;

era uma pomba vermelha de sangue
quando regressou ao meu pombal;
Uma pomba desvitalizada,
mensageira de terror/medo. (p. 34)

AQUELE ROUXINOL
Aquele rouxinol
morava na gaiola
do meu peito,
eu sentia suas canções
ora tristes, ora alegres
pelo pulsar do coração;

mas o pulsar do coração
deixou de anunciar
os cantares de rouxinol,
alarmei-me: - esperei, esperei e nada mais senti

Desesperada bati fortemente em meu peito
e suas entranhas libertaram aquele rouxinol;
arribou em plena palma da minha mão
quedo e mudo,
- sem vida

sem vida também
ficou para sempre o pulsar
do meu coração. (p. 42)

A desesperança pela longa duração da guerra entre os angolanos exige que o eu lírico procure uma difícil e necessária reconciliação entre os povos, árdua tarefa diante dos excessos cometidos e das máculas nas mentes daqueles que viveram as bestialidades do conflito. Recorre-se aos tempos do outrora para celebrar a união ao redor da fogueira, local de confraternização e aprendizado com as histórias contadas pelos mais velhos e, assim, reparar as nódoas entre etnias para iniciar a restauração do país:

Irmão!
Não importa de que lado estás
ou mesmo o que pensas,
vamos todos colher lenha
para acender a fogueira da paz...
entrelacemos vigorosamente nossas mãos
de modo que ninguém possa apartá-las
e, à volta da fogueira,
rodando e cantando, cantando e rodando,
como em tempos de meninice,
façamos uma corrente de fé,
para despojar de nossos corações
os muitos rancores há muito enraizados (p. 32)

Apesar da chegada da paz com o fim da guerra encerrada recentemente, a insegurança permanece no ar, impera uma atmosfera de desconfiança entre os cidadãos com décadas de conflitos e acordos que não foram cumpridos. A paz precisará de tempo para que as pessoas possam retomar o ritmo normal de suas vidas, ou como esclarece Carmen Lucia Tindó Secco: “os poetas começam a perceber que a paz é recente e é urgente ocupar os lugares de cinza deixados pelos longos anos de guerra” (SECCO, 2007, p. 169). Todavia, o eu lírico ainda incerto e desconfiado com a serenidade presente, e calejado por anos de turbulência e intolerância, alerta:

És feliz agora?
Então goza intensamente cada segundo
Disto que pensas ser a tua felicidade,
Pois pode ser momento efémero e singular (...) (p. 17)

Revitalizar os relacionamentos com os seus afetos, é o caminho traçado pelo eu lírico para dissipar a insensibilidade causada pelos infortúnios vivenciados. Por isso, celebra as mulheres: “a fonte geradora da vida” (p. 38); a família: “Tenho duas lindas pérolas (...)/ Tão raras são as minhas pérolas/ Que, para seguramente as proteger,/ em meu coração as encofrei” (p. 37), a mãe não mais presente: “Sonho/ Sonhos tão doces, mãe!” (p. 43); e roga o retorno à paz do passado em um esforço criativo de refazer os tempos felizes e tranqüilos do outrora:

Fica comigo, amigo,
Vamos recordar o passado
Porque vale sempre a pena rememorar
O que se viveu, para avaliar o que se vive. (...)

Repousaremos despreocupadamente como nos velhos tempos
Da nossa ingénua /feliz adolescência.

Fica comigo, amigo! (p. 43)

Lançado em 2004, vinte e nove anos após a independência angolana e somente dois anos depois da duradoura guerra civil, ainda sob seus ruidosos e sangrentos ecos, podemos explorar a multiplicidade interpretativa do título do livro de Maria Celestina Fernandes. Os poemas reunidos em “O meu canto” questionam-nos a respeito da polissemia da palavra ‘canto’. Qual canto o eu lírico versa? Será o canto do espaço físico, o canto de uma casa? O canto geométrico? O canto de um pugilista que faz das palavras suas armas de combate? O canto oprimido do poema, confinado às margens do livro? Ou é um canto polifônico de pranto, de dor, de esperança?

O pequeno livro de Maria Celestina Fernandes inicia-se e encerra-se com poemas que valorizam o Amor. Amor aos seus conterrâneos, amor ao seu país tão sofrido por tantas opressões e fraturas ao longo dos séculos. Amor à história literária angolana, amor ao desejo de paz e união entre os homens para finalmente concretizar o projeto de reconstrução da nação angolana.

‘O meu canto’ é um canto de resistência, é um canto de amor à poesia, aos homens, à paz.

O meu canto é acordar
todos os dias
e ter a certeza de continuar a sonhar (...)

O meu canto é acordar
todos os dias
e ter a certeza que vale a pena continuar a amar. (p.13-14)

Quando eu morrer (...)

Honrem tão somente a minha memória
Perdoando o mal que alguma vez causei,
Preservando tudo o que de bom pude transmitir
- Sobretudo, nunca se cansem de Amar! (p. 48)


Ricardo Riso


BIBLIOGRAFIA:
FERNANDES, Maria Celestina. O meu canto. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2004.

MATA, Inocência. Sob o signo de uma nostalgia projetiva: a poesia angolana nacionalista e a poesia pós-colonial. In: Belo Horizonte: Scripta, v. 10, n. 19, p. 25-42, 2º sem. 2006.

NETO, Agostinho. Sagrada Esperança. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1986.

SECCO, Carmen Lucia Tindó. Sendas de sonho e beleza (algumas reflexões sobre a poesia angolana de hoje). In: CHAVES, Rita; MACEDO, Tânia (ORG). Marcas da diferença: as literaturas africanas de língua portuguesa. São Paulo: Alameda, 2006.

SECCO, Carmen L. T. R. A poesia angolana atual e a procura por outras formas de politização. In: CHAVES, Rita; MACEDO, Tânia et alli. (orgs). A kinda e a missanga: encontros brasileiros com a literatura angolana. São Paulo: Cultura Acadêmica; Luanda: Nzila, 2007.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Eu

Texto de Erika de Lima Pinto Marra, graduada em Letras


Eu, quando criança, sonhava com um mundo melhor, sem guerras e sem tanta desigualdade.

Naquela época onde eu era a “barbie” e meu marido era o “Ken” tudo era maravilhoso; tinha um carro, um marido perfeito e era uma mulher bem sucedida na vida.

Eu, quando adolescente, sonhava com um mundo menos injusto, apesar de saber que tudo isso não passava de ilusão.

Naquela época onde eu era a garota mais “popular” da escola, meu namorado era um príncipe encantado (que eu esperava chegar em um cavalo branco) e, apesar de o mundo conspirar contra mim, conseguia me sair bem de qualquer situação.

Eu, agora adulta, não tenho esperanças que o mundo melhore: na verdade eu nem sonho mais.

Hoje me chamo Erika, meu marido não é o “Ken” (mas na medida do possível tenta ser meu príncipe encantado), não sou uma pessoa bem sucedida e continuo achando que o mundo conspira contra mim, mas agora não consigo me sair bem de nenhuma situação.

Descobri que a vida só é boa quando a gente sonha, mas depois que viramos adultos nunca temos tempo para sonhar, logo, não somos felizes.

Bons tempos àqueles quando os sonhos se tornavam realidade...

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Negro Olhar – I ciclo de leituras dramatizadas com autores e artistas negros

Negro Olhar – I ciclo de leituras dramatizadas com autores e artistas negros

De 19 a 22 de agosto de 2008
Início às 19h – duração 2h30

Leitura dramatizada seguida de palestra e show “Misto Negro” com o músico Rocino Crispim.
Retirada de senha no dia – lotação: 388 lugares

Com Ruth de Souza, Léa Garcia, Milton Gonçalves, Haroldo Costa, Fabrício Oliveira, Juliana Alves, Dani Ornellas, Mariah da Penha e Silvio Guindane entre outros.

CAIXA Cultural – Teatro Nelson Rodrigues
Avenida República do Chile, 230 – Centro – RJ
Telefone: 2262-8152

ENTRADA FRANCA

Coordenação e idealização: Tatiana Tiburcio
Produção: Cely Leal e Tatiana Tiburcio
Produção de Vídeo: Denegrir (Coletivo de Estudantes Negros e Negras da UERJ)

Programação:
19/08 Sortilégio mistério negro, de Abdias Nascimento; direção Tatiana Tiburcio; com Léa Garcia e convidados

20/08 O traseiro negro de Ma Raney, de Augusto Wilson; direção Haroldo Costa; com Juliana Alves e convidados

21/08 Tamborim da Glória, de Langston Hughes; direção Milton Gonçalves; com Ruth de Souza e convidados

22/08As respostas da coruja, de Adrienne Kennedy; direção Julio Wensceslau; com Dani Ornellas e convidados

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Gonçalo Ivo, João Magalhães e Paulo Pasta: a produção pictórica brasileira no século XXI



Três artistas brasileiros com trabalhos recentes e exposições em andamento, no Rio de Janeiro, reafirmam que a pintura ainda resiste à ordem estabelecida pelos meios da arte contemporânea, valorizador das performances, objetos, vídeo-instalações e intervenções, pois, há tempos, vivenciamos o predomínio do efêmero, perecível e conceitual.

Entretanto, João Magalhães no Museu de Arte Moderna/MAM, Gonçalo Ivo no Museu Nacional de Belas Artes/MNBA e Paulo Pasta no Centro Cultural Banco do Brasil/CCBB, mostram-nos, por diferentes trajetórias pictóricas, que a pintura resiste, renova-se e segue em frente, ora buscando novas possibilidades, ora relendo o passado da arte.

Com curadoria de Ronaldo Brito, as 40 obras criadas a partir de 2004, sendo a maioria em grande formato, dentre elas 20 inéditas, Paulo Pasta surpreende-nos pela concisão de elementos, cores harmoniosas sem agredir o olhar do espectador. Muito pelo contrário, exigem sim, cuidadosa e paciente atenção diante das nuanças de cores, das formas verticais e horizontais, as cruzes e vigas como salientou Ronaldo Brito em folder da mostra. São pinturas rigorosas em sua confecção, suaves e líricas de alguém que domina a cor como poucos. Sendo que esta se apresenta sem o excesso visual dos tempos atuais. Ponto para Paulo Pasta.

Ao dialogar com a tradição construtiva da arte internacional e com a nossa raiz concreta, pois estão lá as garrafas de Morandi, Mondrian, Alfredo Volpi e, por que não?, Mark Rothko, as pinturas de Paulo Pasta convidam-nos ao silêncio, à contemplação do simples, do cotidiano, do cândido. De acordo com Ronaldo Brito:

“Tudo menos exibicionistas, as pinturas de Paulo Pasta apresentam-se agora decididas, frontais, coextensivas à superfície do mundo. E cumprem aí, eu diria, uma função de higiene estética: em meio a tanto lixo, tanta banalidade e venalidade, nada mais saudável do que a visão de coisas puras, isto é, coisas que se empenham ao máximo em ser exatamente o que são.”

Grandes e intensos coloristas ajudaram e ajudam a sedimentar a pintura brasileira. Alfredo Volpi, Iberê Camargo, Luíz Áquila e Jorge Guinle são alguns ótimos exemplos da nossa tradição pictórica. Surgido nos anos 1980, independente a grupos como a Geração 80 carioca e ao Casa 7 paulistano, grupos que retomaram a pintura com a força que ela sempre mostrou, o artista carioca Gonçalo Ivo (http://www.goncaloivo.com.br/), filho do escritor Ledo Ivo, confirma o seu nome entre os maiores artistas do país com a exposição A cor-espaço.

Extremo colorista, o excesso em suas telas nunca é demais. Pintura paradoxal sim, entretanto, pintura exaustivamente estudada, com rigoroso valor estético fruto de profundas pesquisas da história da arte. Gonçalo Ivo passeia por diversas tradições pictóricas, com cores exuberantes, fortes, agressivas, todavia, líricas, delicadas, sensuais em telas de grande formato que dialogam com a linha construtiva da arte, assim como, e principalmente, com a arte geométrica africana, de totens a capulanas, à qual Gonçalo Ivo estuda e reler há anos.

Ao enveredar por caminhos fora do suporte tradicional da pintura, no caso, a tela, Ivo arrisca-se com sucesso em pedaços de madeira e objetos para sua pintura, questionando os limites impostos pela arte européia.

Vemos em suas obras, além dos artistas citados, George Braque e, claro, Henri Matisse. Uma exposição obrigatória para contemplarmos as obras de um consistente e criativo artista de sua geração. Uma exposição de Gonçalo Ivo é sempre uma aula de pintura... uma aula da história da pintura.

João Magalhães, meu ex-professor da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, apresenta, no MAM, um conjunto de pinturas que rejeitam “terminantemente qualquer recurso de sedução que a pintura possa oferecer”, segundo o curador Reynaldo Roels. O que não é novidade para quem conhece a trajetória pictórica de João Magalhães e o seu rigoroso método de ensino nas aulas do Parque Lage.

Telas em grande formato com domínio da cor preta, assim são suas novas obras, em que a rara presença de outras cores não interfere nos trabalhos, tornando-se quase que imperceptíveis. Inquietantes, questionadoras para quem as visualiza, “brutalista” como denominou Frederico Morais em e-mail de divulgação da exposição, neste ponto sinto que sua obra se aproxima do espanhol Antoni Tapies. Com parcos elementos, João Magalhães segue a sua máxima de problematizar as “possibilidades da pintura, usando os meios da própria pintura”. Uma questão que sempre permeou as suas aulas e sempre me angustiou enquanto fui seu aluno.

Experimental, João arrisca-se em caminhos tortuosos, limítrofes. Em várias obras expostas, as relações com os limites do suporte são trabalhadas e estudadas, tornando-se, em muitos casos, os momentos de maior tensão. O exemplo maior é o diálogo proposto com o importante nome da Action Painting americana, Barnett Newman, no trabalho intitulado “Who’s affraid Barnett Newman?”.

Segundo Reynaldo Roels, em catálogo da mostra:

“Desde o início de sua trajetória, nos anos 80, João Magalhães, recusou o fascínio que o meio permite e enfrentou o ato da pintura da forma mais difícil. Agora, continuando a rejeitar a facilidade, elas apresentam uma aparente aridez que, de fato, nada mais é do que a honestidade, o enfrentamento direto e explícito de alguns dos problemas mais básicos que a pintura oferece tanto ao fazer quanto ao olhar.”

Concluindo, são três ótimas e diversificadas exposições, demonstrando o caráter dinâmico e questionador da pintura produzida no Brasil, por três legítimos representantes: Gonçalo Ivo, João Magalhães e Paulo Pasta.

Ricardo Riso

GONÇALO IVO – A cor/espaço
Museu Nacional de Belas Artes. Cinelândia: av. Rio Branco, 199, entrada pela rua Araujo Porto Alegre, tels. (21) 2240-0068 / 0160. Ter. a sex., 10h/18h; sáb. e dom., 12h/17h. R$ 5. Grátis aos domingos. Até 26 de agosto.
www.mnba.gov.br

JOÃO MAGALHÃES – Beleza Bruta
Museu de Arte Moderna. Parque do Flamengo: av. Infante Dom Henrique, 85, tels. (21) 2240-4944 / 4924. Ter. a sex., 12h/18h; sáb., dom. e fer., 12h/19h. R$ 5 e R$ 2 (estudantes e maiores de 60 anos). Grátis para crianças de até 12 anos. Aos domingos, ingresso-família a R$ 5 por grupo. Até 5 de outubro.
www.mamrio.org.br

PAULO PASTA
Centro Cultural Banco do Brasil. Centro: Rua Primeiro de Março, 66/1º andar – Rio de Janeiro/RJ. Tel: 21-3808-2020 Grátis. Até 21 de setembro
www.bb.com.br/cultura

Estácio de Sá: problemas na colação de grau

E-mail enviado (Segunda-feira, 18 de Agosto de 2008, 12:22) pela colega Erika Marra, do curso de Letras/Méier, relatando seu recente problema para colar grau na Estácio de Sá.
Olá, meu nome é Erika, sou do campus Méier e gostaria de contar um pouco da minha história de insatisfação com a Universidade Estácio de Sá.

Desde que entrei para o curso de Letras (noite) há três anos, nunca vi algo dar certo nesta instituição e o descaso com que somos tratados é cada vez mais latente.

Lembro-me que quando entrei no curso uma menina foi até nossa sala e nos explicou um pouco sobre horas rac e sobre o curso, mas que na verdade não valeu de nada. Sinceramente, acho que foi só para fazer uma presença, só para dizer que se preocupam com os novos alunos... ok, mas e os veteranos? Será que eles não têm dúvidas?

Essa foi a primeira e a última vez que alguém me esclareceu algo na Estácio, depois disso, só encontrei descaso por parte dos funcionários.

Todas as vezes que estive na secretaria saí de lá insatisfeita, não só pelo fato de eles não saberem explicar nada, mas também pela "organização e cortesia" de tal lugar. Assuntos como horas / rac, estágio e colação de grau são desconhecidos pelos funcionários que estão naquele local justamente para "tirar" todas as nossas dúvidas. Parece brincadeira.

Há vários casos que poderia citar, como quando falta um professor e não somos avisados, turmas que fecham e abrem e nós nem ficamos sabendo etc, mas o caso que gostaria de dar destaque aqui foi o que aconteceu comigo.

No final do semestre passado, como era o meu último período fui até a secretaria para saber sobre minha colação de grau. Foi quando tive uma surpresa! A pessoa que me atendeu disse: - Você não viu o papel no mural? Se o seu nome não estiver lá é porque não irá colar grau.

O único problema é que o tal quadro estava escondido em um corredor que ninguém passa e ninguém me disse que eu deveria avisar na secretaria que iria colar grau. Será que eles não têm esse controle? Depois de muita confusão consegui inserir meu nome na lista de formandos, mas meu desespero não parou por aí. Para me precaver de qualquer susto eu perguntei para um funcionário da secretaria (em julho) até quando eu poderia entregar minhas horas rac, pois estava na pendência de 22 horas e o indivíduo me respondeu que eu poderia entregar antes de colar grau, ou seja, isso quer dizer que eu poderia entregar até um dia antes da colação de grau, certo?

Lógico que não iria entregar uma semana antes de me formar, mas como viajei, optei por entregar as horas restantes quando voltasse.

Pois bem, voltando de viagem fui até a Estácio entregar minhas horas e, não conseguindo lançá-las no meu computador pedi para a funcionária inclui-las para mim, mas, com a maior satisfação da vida ele me mandou ir até o 2º andar para incluir essas horas no computador e depois voltar.
Fiz tudo o que ela pediu e depois de aceitar minhas horas em seu computador ela me disse que eu não poderia colar grau junto com a minha turma, pois minhas horas não seriam aceitas até minha formatura! Conclusão: terei que esperar até outubro para colar grau sozinha.

Posso até não estar certa já que tive três anos para entregar minhas horas, mas pensei que estivesse agindo certo, pois foi assim que me informaram.
Hoje (18/08/2008) seria o dia da minha colação. Estou triste por não poder dividir um momento de alegria com meu amigos e meus familiares, mas no fundo estou dando graças a Deus de me ver livre da Estácio.

Erika de Lima Pinto Marra

Estácio: desrespeito total com alunos

A seguir o relato escandalizante de uma colega, estudante de Psicologia - campus Méier, acerca dos problemas com a Universidade Estácio de Sá, em e-mail enviado no dia 17 de agosto de 2008.

Penso que deveríamos unir o maior número possível de alunos, de diferentes cursos (principalmente, Direito) para nos defendermos dos abusos da Unesa, com uma mobilização consciente e organizada amparada em nossos direitos de consumidor.

Abraços,
Ricardo Riso

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Olá Ricardo,
Meu nome é Natividade Santos e sou aluna do curso de Psicologia do campus Méier-Millôr.O seu e-mail chegou até mim, talvez porque assim como vc, vivo encabeçando e-mails para reclamar os nossos direitos.
Já enviei e-mail para o Mec e eles responderam dizendo não poder fazer nada e me mandaram entrar em contato com o órgão responsável pelo ensino superior no Rio. Meus profs e coordenadores vivem nos aconselhando a entrar no PROCON, pois o que eles estão fazendo conosco é ilegal. Já contatamos advogados e os mesmos nos disseram que qto a mudança de campus, é legal o que a Estácio fez, mas quanto ao demais, é um total desrespeito.
Não sei quanto ao curso de Letras, mas quanto ao curso Psi, a coisa começou a dar errado desde que mandaram embora nosso coordenador e com ele, um grupo de professores com a alegação de que os mesmos tinham cargo de coordenador em outras instituições de nível superior. Isso começou naquela época em que acabaram com as coordenações. Tínhamos a melhor equipe de professores de todos os campi e muitos são referências na área de saúde ou psi no RJ. Hoje temos poucos bons e os que estão sendo contratados são amigos do diretor do curso, e sinceramente, deixam muiiiiito a desejar. Sou professora e acho que devido a isso, sou muito exigente. Gosto de ter aula e não de fingir.
E sem falar nas matérias que abrem e fecham na mesma semana, nos obrigando a fazer inúmeras grades diferentes, e muitas vezes cursar a matéria em outros campi. Numa conversa com a Sra. Eliane Hipólito, deixei bem claro a ela, que quando escolhi o campus Méier turno manhã para fazer meu curso, não tinha a mínima intenção de estudar na Barra, no R9 ou no Rebouças, e muito menos à noite ou à tarde. Me recuso a ir para outros campi, até porque eu ia a pé da minha casa ao campus (agora terei que pegar ônibus, o que não fazia parte dos meus gastos), mas para me formar dentro do prazo, atualmente estudo manhã, tarde e noite.
E não vamos nos esquecer de que os cursos que ainda estão tendo aulas à noite no Millôr, são os cursos que terão aulas no anexo (Rua Venceslau, Colégio Nota Dez) e isso a Estácio não está informando. Ou seja, amanhã, segunda irei para o Millôr à tarde e para o Méier à noite. Terça tenho estágio no SPA(Norteshopping),quarta manhã Millôr e noite Méier..Que maravilha!!!

Infelizmente a Estácio só nos vê como dinheiro. Somos clientes, e como clientes temos direitos!! Um amigo meu que cursava Informática no Méier foi convidado a escolher qual o campus gostaria de ir: Nova América, Praça Onze, Madureira, ele escolheu P. Onze pois está fazendo projeto final e seu grupo para lá foi. Ele mora aqui no Engenho Novo. A turma dele decidiu que ao terminar o curso no próximo semestre entrará na justiça por perdas e danos.
Fico por aqui e conte comigo.
Abraços,
Nati Santos

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Universidade Estácio de Sá - guerra declarada

Diante dos últimos acontecimentos no obscuro processo de transferência de uma unidade para a outra, a saber: do Méier para o campus Millôr Fernandes, várias barbaridades são feitas pela Universidade Estácio de Sá. Relato alguns casos no texto abaixo (email enviado à Instituição hoje, dia 13 de agosto de 2008), que foi enviado para a gerente acadêmica do campus Méier, Ministério da Educação, seção de cartas de jornais como O dia, Jornal do Brasil, Extra, e colunistas como Gilberto Dimenstein, Fausto Wolff entre outros.

Torço para que o debate a respeito da qualidade de ensino das instituições privadas corra por aí....

Abraços indignados de alguém que ainda sonha com a Educação neste país.
Ricardo Riso


Este e-mail surge em razão da minha revolta com o atual processo de transferência de campus, entre as unidades Méier e Millôr Fernandes, demonstrando o descaso e o desrespeito com os alunos do curso de Letras/Noite, que atingiu o meu limite de tolerância ontem à noite – 12 de agosto de 2008. Os fatos deploráveis serão relatados a seguir.

Cheguei às 19h para a aula de Metodologia Científica com o Prof. Marcus Tadeu, que começaria às 19h40. Às 20h, eu e mais três colegas descemos à secretaria de cursos do 2º andar e fomos "informados" que a aula estava sendo dada no campus Millôr Fernandes. Ficamos sabendo que parte da turma havia sido avisada e outros, não. A mim, foi dito que ligaram para a minha casa (2577-3555, o telefone está correto no SIA) e não havia ninguém. O que é a mais descarada mentira! Moro com minha avó de oitenta anos e duas enfermeiras revezam-se 24 horas. Ontem, nem ela nem a enfermeira saíram de casa. A outra justificativa dada pela funcionária foi que ligaram para o meu celular (8639-1186, o celular está correto no SIA), mas dava a mensagem que o mesmo estava desligado. Outra mentira, pois meu celular permaneceu o dia inteiro ligado.

Duas questões que gostaria de saber: recebo e-mails, ou melhor dizendo spams, quase que diários da Universidade Estácio de Sá vendendo seus cursos e palestras de ilusão. Quando era uma informação relevante que me interessava diretamente, a Instituição se mostrou incapaz em me comunicar. Por que não fui informado por e-mail? Por que todas as vezes que acesso o SIA sou lembrado a manter os meus dados cadastrais atualizados? Será que eles só servem para cobranças financeiras? A segunda pergunta: por que não foi colocado o aviso da transferência de campus na porta da sala de aula? Era o mínimo que a Instituição poderia fazer, pois sabia que parte da turma não estava ciente da mudança de campus. Este tipo de aviso é utilizado quando há ausência de professor, ou seja, uma norma da Instituição. Creio que neste último exemplo, fica escancarado o desrespeito aos alunos.

Saí do Méier, peguei um ônibus sem saber para qual sala de aula eu iria. Outro absurdo! Ao chegar na secretaria do Millôr Fernandes, perguntei ao rapaz da Recepção qual seria a sala de Metodologia Científica para os alunos despejados (é assim que me sinto!) do campus Méier. Como desconhecia o ocorrido, dirigiu-se aos outros funcionários. A resposta dada: sala 302. Fui à sala, estava escura, sem nenhum aluno e professor. Por sorte, há um balcão de informações ao lado desta sala. Nervoso, e com razão, perguntei ao funcionário que ali se encontrava que me deu a informação correta, sala 303. Entrei às 20h30 para uma aula que se encerraria às 21h. Imagine a minha expressão de satisfação. Só para lembrar, estava na faculdade desde às 19h.

Outro detalhe a respeito desta aula. No Méier, a turma não deveria ter vinte alunos, no máximo 25, entre os cursos de Letras e Pedagogia. No novo campus, a sala estava lotada, algo entre 40 a 50 alunos de diversos cursos.

Para minha infelicidade, o drama não havia terminado, pois ainda teria aula de Educação Especial às 21h. A princípio, fomos informados que a aula seria no Millôr Fernandes, porém ficamos sabendo que a aula seria no campus Méier. Como não possuo a faculdade de me tele-transportar, peguei outro ônibus (ficarei com o prejuízo das passagens?) e mais um atraso para a aula seguinte. Chegada: 21h30.

Aproveito o ensejo, para outras pertinentes questões.

Hoje, quarta-feira, tenho aula de Filologia Portuguesa de 19h40 às 21h. A aula será no Méier ou no Millôr Fernandes? Na quinta-feira, aula de Português V. A aula será no Méier ou no Millôr Fernandes? Na sexta-feira, aula (?????) de Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa? A aula será no Méier ou no Millôr Fernandes? Na segunda-feira, aulas de Estágios I e III? Serão no Méier ou no Millôr Fernandes? Na terça que vem, já sei que Metodologia Científica será no Millôr Fernandes, mas e Educação Especial? Em qual campus será?

Outro absurdo ocorrido no decorrer do fatídico processo de transferência de campus, relaciona-se ao fechamento da biblioteca. Como pode uma universidade funcionar sem uma biblioteca? Embora já saiba, há tempos, que a Universidade Estácio de Sá é um simulacro, jamais imaginei que fosse vivenciar tal situação. E o pior: estou impossibilitado de realizar empréstimo de livros no Millôr Fernandes. Entretanto, em Metodologia Científica e em Português V, os professores indicaram dois livros para leitura que constam no acervo da nossa biblioteca, a saber, "Convite à filosofia" da Marilena Chauí e "Lições de português pela análise sintática", de Evanildo Bechara. Espero que este problema seja resolvido imediatamente.

As aulas iniciaram no dia 23 de julho, mas em Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa até o momento não tive aula. Estive presente nos dias 25/07, 01/08 e 08/08 e voltei para casa frustrado com a ausência de professor. Fato parecido ocorreu em Filologia Portuguesa. Também estive presente nos dias 23 e 30/07, mas não havia professor.

Além do prejuízo acadêmico (as aulas serão repostas?) e moral, há o prejuízo financeiro. Seria justo que a Universidade Estácio de Sá fizesse o reembolso das minhas passagens ida/volta dos dias 23, 25 e 30/07 e 01, 08 e 09/08 do corrente ano. Seria justo, também, que a Universidade Estácio de Sá fizesse o reembolso das aulas não ministradas até o momento, principalmente de Lingüística Aplicada ao Ensino de Língua Portuguesa, que foi cobrada no meu boleto bancário. Caso contrário, procurarei os meus direitos na Justiça.

Entristece-me os rumos que a Universidade Estácio de Sá preferiu seguir e ser obrigado a fazer este e-mail. Sou uma pessoa que ainda acredita em sonhos, logo, não posso aceitar com passividade o descaso e desrespeito comigo e com os alunos, os professores, meus futuros colegas de profissão, e, principalmente, com a Educação.



Atenciosamente,
Ricardo Silva Ramos de Souza
Matrícula: 200102479431

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

E. Bonavena e Pablo Picasso: uma comparação

Um ‘grito abafado’ por ‘ovos metálicos que explodem’: a influência nefasta da guerra na poesia de E. Bonavena e na pintura de Pablo Picasso

Os tempos de guerra demonstram as piores facetas da irracionalidade humana envolvida em uma crueldade desmedida, que dissemina o ódio entre os homens de nações diversas ou em lutas fratricidas. Essas ações geralmente ocultam interesses políticos e econômicos alimentados pelos líderes nacionais, motivados pela incomensurável ganância e total desprezo pela vida das pessoas comuns, cujo desespero é sentido em um cotidiano de caos em períodos de conflitos com curta ou longa duração. Infelizmente, esses desarranjos, independentes do tempo, deixam marcas indeléveis na existência daqueles que os presenciam.

Por outro lado, são nesses tristes momentos da história da Humanidade que o artista surge para revigorar e realimentar a crença na condição humana, apresentando obras que denunciam os terríveis acontecimentos vivenciados pelos seus pares e apontam novos caminhos para a reconstrução da harmonia entre os homens, reconduzindo-os das trevas à luz. O múltiplo e prolífico artista plástico Pablo Diego José Francisco de Paulo Juan Nepomuceno Cipriano de la Santíssima Trindad Ruiz Picasso, considerado por boa parte da crítica especializada como o principal nome das artes no século XX, e o poeta e ensaísta angolano E. Bonavena compartilham do justo sentimento em crer na força solidária do homem para superar as atrocidades causadas por sangrentos conflitos, que tentam destroçar a sensibilidade do ser.

Embora vários nomes representativos do modernismo europeu tenham migrado para os Estados Unidos com o início da Segunda Grande Guerra, Picasso permaneceu na Europa durante todo o conflito. Legou à Humanidade diversas obras detentoras de um expressionismo exorbitante e agrupadas sob a alcunha “Anos de Guerra” (War Years – 1937/1945), sendo o ápice desta fase o mural “Guernica”, realizado em 1937, que será objeto de análise. Enquanto E. Bonavena, pseudônimo literário de Nelson Pestana, em seu livro de poesia “Os limites da luz”, brinda-nos com poemas produzidos na diáspora européia carregados em reminiscências, sonhos e erotismo para propalar o extravio das esperanças angolanas, mediante a barbárie de tantos anos de guerra civil no pós-independência. Restando ao eu lírico, enunciar sendas da utopia que são percorridas e refeitas com persistência pelo poder libertário do Verbo.

Nascido em 26 de fevereiro de 1955, em Luanda, E. Bonavena publicou em poesia “Ulcerado em míngua luz” (1987) e “Os limites da luz” (Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2003), que será analisado neste texto.

O poeta enquadra-se na “geração das incertezas” da literatura angolana surgida na década de 1980, como definiu o crítico literário e também poeta, Luís Kandjimbo (SECCO, 2006, p. 94). Tal geração é posterior a “geração do silêncio” dos anos 1970, reveladora de nomes como David Mestre, Arlindo Barbeitos e Ruy Duarte de Carvalho. Essa geração era

“voltada para a redescoberta ética e estética da palavra poética (...), tendo-se caracterizado pela consciência crítica em relação ao ato de escrever (...). O poema passou a ser, desse modo, o lugar de encontro do poeta consigo mesmo, o local, portanto, da descoberta existencial, política e literária. Nesse sentido, deu passagem à poética dos anos 1980, que radicalizou, em vários aspectos, as conquistas estéticas da década de 1970, diferenciando-se dela, contudo, por não adotar a práxis do silêncio.” (SECCO, 2006, p. 93-94)

A década de 1980 representa o período de desilusão com a utopia revolucionária de um país independente, causada, dentre outros fatores, pela guerra civil iniciada em 1977, entre MPLA (Movimento Popular pela Libertação de Angola, o principal partido na luta contra o colonialismo e liderado pelo poeta Agostinho Neto) e a UNITA (União Nacional para a Libertação Total de Angola, oposicionista e sob o comando de Jonas Savimbi, apoiado pela África do Sul e contrário ao regime socialista imposto em Angola). Com isso, o desencanto, que se estende aos poetas revelados nos anos 1990, leva a poesia a ter,

“como traço marcante, a temática da decepção e da angústia diante da situação de Angola, que ainda não resolveu completamente a questão da fome e da miséria. As dúvidas em relação ao futuro interceptam as possibilidades entreabertas pelos ideais libertários dos anos 60, e a poesia se interioriza, não se atendo explicitamente às questões sociais”. (SECCO, 2006, p. 94)

A Brigada Jovem da Literatura (BJL) criada na cidade de Luanda, em 1980, aparece para lançar nomes da nova geração. Segundo o poeta Lopito Feijóo, “foi a maneira como os jovens encontraram (...) de se organizarem para traçarem linhas comuns e partirem para uma carreira literária, ao mesmo tempo que, também, uma homenagem ao poeta Agostinho Neto” (LEITE, 2006, p. 45). E. Bonavena começa a se destacar no universo literário angolano com a publicação da revista “Archote”, uma dissidência da BJL, em 1986. Ao dar continuidade a esse processo, como explica a ensaísta e poeta moçambicana Ana Mafalda Leite, E. Bonavena

“critica o caráter institucional das Brigadas, cujo nome aliás denuncia um certo arregimentar dos criadores em torno de um programa político, mais do que uma opção verdadeiramente literária, e a forma como estes grupos estavam ligados ao poder, nomeadamente por fazerem parte da Juventude do Partido” (LEITE, 2006, p. 45)

Em “Os limites da luz”, E. Bonavena apresenta-nos um conjunto de vinte e um poemas divididos em três partes rigorosomente iguais, nas quais nos deparamos com referências aos tempos de outrora, motivados por um eu lírico distante de sua terra natal. Na Europa, o eu lírico enunciador recorre aos sonhos para refletir sobre os erros do passado cometidos pelas lideranças políticas e denunciar a situação de desesperança em que o país se encontra. Além disso, busca em seus versos os amores do passado para o seu refúgio tranqüilizador, valendo-se de poemas carregados em erotismo.

A intensa decepção é sentida logo na epígrafe do livro, pois “somente os traidores, mesmo fazendo história,/ estarão ausentes desta memória/ leve” (BONAVENA, 2003, p. 7). O desalento com o caos vivenciado por tantos anos de guerra, somente encerrada em 2002, faz com que o poeta, na distante cidade de Paris, recorde suas influências literárias da geração da histórica revista Mensagem – Agostinho Neto, António Jacinto e Viriato da Cruz –, e poetas portugueses, entre eles, Fernando Pessoa, Mário Sá-Carneiro e Almada Negreiros. Assim como os amigos, a presença do elemento primordial da natureza, a água, como recorrência das memórias primeiras, tendo como alegoria o rio Kwanza, símbolo de Angola. Além da constante presença dos rostos dos mortos durante o conflito, que tanto o atormentam e cobram a promessa “de um dia redimir/ a memória da pátria” (p. 12), pois “a memória, como forma de pensamento concreto e unitivo, é o impulso pioneiro e recorrente da atividade primeira” (BOSI, 1977, p. 152):

“Debruço-me
sobre as águas do rio
e ao tocar leve as vagas,
trago entre os dedos
fragmentos da minha vida
e a ressonância dos poetas
da Mensagem.

Falo de Viriato
Pessoa, Neto e Jacinto,
aos quais junto
Negreiros, Sá Carneiro e
os meus amigos. (...)

E me lembro das águas revoltas e escuras
Do Kwanza, sem pontes,
E com elas o rosto dos mortos
Que me dizem que tardo
em cumprir a promessa
que fizera no silêncio,
na Muxima de um dia redimir
A memória da pátria. (...)” (p.11-12)

A aflição com a presença constante dos mortos em sua mente no decorrer do longo poema: “Chatos!/ Que não me deixam/ Dormir” (p. 13), “E a persistência/ dos mortos./ Que teimam.” (p. 16), “Os mortos,/ Retornam e me lembram/ As promessas” (p. 18) é proporcional a quantidade absurda de angolanos exterminados durante o conflito, “os rostos/ que se multiplicam/ aos milhares” (p. 13), que tiveram suas vidas extirpadas na guerra fratricida, fazem o eu lírico dedicar “centenas de velas acesas/ aos nossos mortos e à Paz/ Das suas almas” (p. 16), o que aflora a sensação de impotência: “Apenas tenho entre as mãos,/ ‘A miséria do meu ser’/ Como diria Pessoa” (p. 19).

Os horrores da guerra são indiferentes na escolha de suas vítimas em uma tenebrosa “aritmética da morte”, que ceifa os jovens idealistas e tira o “sonho que lhes soprava a vida” (p. 24) demonstrado em um estudante revolucionário, Kimpwanza, “embalado pelo murmúrio da noite/ e uma bala transpassando-lhe/ a garganta” (p. 21); e, em Wandalinka, “percorrido por um vento frio,/ saraivou à altura do peito,/ medalhando para sempre” (p. 22) o professor primário. Os dois, crentes nas conquistas da revolução apesar das visões diferenciadas em política e religião convergiam na educação. Na conduta atroz dos que lutam na guerra, citamos alguns dos diversos exemplos dos quais o eu lírico se sente obrigado a revisitar:

“Assim,
acreditando na utilidade
desta aritmética da morte,
se finaram os meus amigos,
precoce e nobremente
mas sem construir
o sonho que lhes soprava a vida.

Apenas me legaram
este dever de memória!...” (p. 24)

Os sonhos esgarçados conduzem o eu lírico a recordar as origens do passado literário angolano com a procura do “futuro anterior” (p. 28), um futuro distante que parecia promissor. Além do papel fundamental das manifestações iniciais de identidade e esperança, contudo, ainda tímidas, na imprensa do país, em fins do século XIX:

“Falava alto
para sobrepor
e procurava o futuro
anterior, nas páginas amarelecidas
da imprensa oitocentista,
(...) dando rosto
aos meus sonhos, alimentados
pelo delírio azul do modernismo,
acariciados pela poesia
da identidade e da esperança.

Na noite!, me encontrava
um pouco e voltava
a mim e
esperava de cócoras,
com certeza no futuro! (p. 28)

Entretanto, no poema seguinte o tempo futuro configura-se incerto, alegoria de um país trilhando o tortuoso caminho da reconstrução. Os versos apresentam características típicas de Angola, alertando os cidadãos para que se reúnam em torno dos valores nacionais reforçados pelo verbo “ter”, que ajudarão a apontar os caminhos para a reformulação da nação recém saída da guerra fratricida. Agora, se possível, sem interrupções:

“tenho palha,
barro seco e
um chão de milho
por lavrar! (...)

tenho sede
das paisagens da minha terra
e do bucólico dos rios
que as serpenteam (...)

esta felicidade intermitente,
de um sonho e um país
por refazer

tenho esperança
no futuro que se inscreve
incerto!” (p.30)

Enquanto isso, “Novembro Triste” é um poema de lamentação com a trajetória angolana no pós-independência. Após quase trinta anos, novembro, mês da independência, tornou-se amargurado, sem motivos para comemorações por causa da perda da euforia com o país liberto, as promessas não cumpridas pelos políticos e os problemas sociais não resolvidos deterioraram os sonhos:

“nos olhos correm as imagens
de um sonho vivo,
moldado a barro
misturado de sangue
para soletrar – tropeçando nas letras –
uma palavra triste como o país. (...)

encheram-nos os olhos
de novembro, das acácias
aos poetas, falando do sol
e os discursos prometeicos
dos políticos a fingir país
trouxeram flores murchas,
fogueiras apagadas,
meninos sarmentos,
o marasmo na pele dos ventres,
olhos comidos pelas moscas,
rostos mibangados pelo desespero
e o desencontro de Abel
contra Caim.

novembro virou triste.” (p.33-34)

Na segunda parte, O gesto sagital, o viés erótico associado à memória ganha corpo e dá a tônica na maioria dos poemas. No poema-título desta parte, o eu lírico vaga entre os descaminhos da história guiado pelo “reinventar do coração”, alegoria da reedificação do país:

“fecunda
uma saudade
remota
que faz de mim
pastor errante
entre ideias dispersas.

somente
o reinventar do coração:
com o barro da nossa cacimba
nos traz alento e alimento
para arar o estar
entre os heróis
sem nome,
que dão sentido
ao ser. (p.41-42)

Esperança e erotismo unem-se na reforma nacional com o fim da guerra civil. O tom sereno e lírico do poema substitui as agruras e violências do tempo que se findou. O poema encontra espaço para a renovação do amor, o telúrico e a esperança:

"Por agora,
deixa os sinos do teu corpo
tocarem todos,
deixa a vaga de vento
te levar para as portas do céu.

Poisa levemente os pés
na lã dos caminhos e
vai segura pela minha mão
que voltarás a amanhecer (...)

Os dias serão maduros
de azul, os cânticos de amor e pão.

Haverá mel nos lábios
e em todas as esquinas
estarei
à espera de ti!" (p. 45)

Maio foi o mês que estourou a guerra civil angolana, em 1977. O mês que ficou marcado por uma triste lembrança é retrabalhado pela reminiscência erótica do eu lírico, que recorre aos tempos pioneiros na escola “como quando repetíamos o abecedário”, à descoberta do amor “entre beijos ardentes” com o avançar da idade. Enuncia-se eroticamente a renovação do mês de maio com a saudosa lembrança de amores passados, alegoria do recomeço angolano:

“éramos três
eu, tu e o Sócrates
que se sentia triste
quando me via navegar,
de vela desfraldada,
entre as vagas e as tuas coxas,
sorriso largo, procurando
o mais do teu calor.

Maio
é sempre um tempo
de flores e de amores.

Deixa tocar os sinos
do teu corpo –
um após o outro – deixa
que o beijo te traga
aos umbrais da luz
e revive
este Maio, apaixonadamente!" (p.50)

Na última parte, o estilo predominante é o da poesia em prosa, e, no nosso entendimento, o momento maior do belo livro de E. Bonavena. Em “Lua Azul”, o eu lírico justifica o recorrente uso da combinação memória e erotismo: “Um corpo, é sempre uma chama, ardente e interior. Aquece e ilumina. Devolve à memória a seiva no seu sabor de origem” (p. 56).

Todavia, o eu lírico atenta-nos para o desespero do cotidiano angolano. De uma sociedade com valores invertidos, sob o domínio da violência desmedida e da corrupção desenfreada. Caos, distopia e chacinas passaram a ser situações rotineiras, infelizmente. Os “ovos metálicos que explodem”, alegoricamente, são as minas implantadas no solo do país durante a guerra, causando grande número de mutilados entre a população civil; enquanto “o grito abafado de luz” é o grito daqueles que não têm voz, filhos de uma pátria dividida por escusos interesses, à mercê de dirigentes inescrupulosos, os “monstros divinizados”:

“Tudo escorre! Na crista da onda, a loucura por excelência. Escorre este oceano de dor, o verdugo, o inocente, gatunos e vândalos, escorre a mentira nas línguas putrefactas, a ordem no canhão, o rancor, as lágrimas, a solidão, a exaltação do mal em medalhas de bronze da ignomínia, escorre a chacina no Bié. Escorrem na capital os dinheiros em bolsos sem fundo, as palavras em líricas gargantas cacarejantes no Huambo, a escuridão de ovos metálicos que explodem, a densidade, o grito abafado da luz.

Uma pátria sem rosto, de corpo dilacerado, se levanta sonâmbula entre os monstros divinizados que a dividem.” (p. 58-59)

Um “País de sal e luz” é denunciado no poema que desmascara os falsos profetas, com seus discursos persuasivos “usurpando a voz coletiva” (p. 67), que iludiram a nação angolana com os líderes e o desencanto com o fim das utopias:

“E em vez da vontade
contida no peito de
um país feito de verde,
leite e milho,
um país de sal e luz,

Houve gritos sufocados,
corpos mutilados,
sonhos adiados,
utopias perdidas:
a liberdade total,
moldada a barro e sangue
dos heróis e mártires da pátria,
decepada.” (p. 68)

Em a “Soberana brisa da navegação”, as lembranças eróticas da amada de outrora reaparecem ao lado da denúncia de esquecimento dos que lutaram bravamente para a libertação do país do jugo colonial português. O descrédito e a desolação dos angolanos com a situação nacional em incontestável caos social, é escancarado na metáfora da “noite nos olhos”:

“Porque em todos os mercados os corpos amanhecem com noite nos olhos. Na boca fruta sumarenta e doce, e da kianda e da memória, O tempo se esquece dos heróis e toda a fruta na kinda apodrece.

Por isto te falo dos reis derrotados como cinzas mornas da história, umas vezes triste outras gloriosa. Te digo dos escravistas de agora que nos deixam apenas uma pálida lembrança colada à pele da fome. E volto ao morno dos teus beijos para me salvar da loucura irremediável de te trazer ao fogo da genuína inquisição. Porque ninguém sabe onde me levam estas águas correndo sob a ponte. Talvez amanhã!” (p. 71-72)

É o desencanto e a angústia presentes na enunciação do poema, caracterizados pelo problema da fome, de líderes que mantêm as condições desumanas de parte da população, agora sob a opressão de um regime neoliberal excludente. O eu lírico recorre ao erótico libertador, à memória, e aos mitos, como a Kianda - deusa do mar -, a água como elemento primordial da natureza. Sendo que este, na esperança de conduzi-lo corretamente em um rumo incerto. Mas que necessita ser encontrado.


Guernica. óleo s/tela. 760 x 350 cm. 1937. Museu Reina Sofia


Em “Guernica outra vez”, o eu lírico dialoga com a grande tela de Pablo Picasso, “Guernica”, que se tornou um libelo de toda a Humanidade a qualquer forma de opressão. Com “Guernica”, Picasso escandaliza o mundo ao retratar o bárbaro ataque aéreo à pacata cidade espanhola, na região basca, numa perversa parceria entre a força aérea hitleriana, a Legião Condor, com o ditador Franco durante a guerra civil espanhola.

O ataque aconteceu em 26 de abril de 1937. A cidade foi bombardeada por quase três horas em um horário de grande movimento entre os agricultores da região. Estima-se que 40% da população foi morta ou gravemente ferida. Foi a primeira vez na história que uma cidade havia sido bombardeada. Segundo Perktold:

“o fato, por ter ocorrido antes dos horrores da Segunda Guerra Mundial, quando cenas dessa natureza passaram a ser banais e quase diárias, tornou-se emblemático. Com Franco, a humanidade ratificou o que já aprendera na Primeira Guerra Mundial: matar pode ser como algumas atividades capitalistas – por atacado.” (PERKTOLD, 2006, p. 6)

Picasso toma conhecimento do que acontece a Guernica na festa do 1o. de maio parisiense. Indignado com o brutal ataque aos seus conterrâneos, o artista, radicado em Paris há mais de trinta anos, fecha-se em seu ateliê e começa a elaborar o que seria uma de suas maiores obras, só comparável a “As mulheres de Avignon”, feita em 1907. “Guernica” marca também o início de um artista mais politizado, conduzindo-o aos ideais socialistas e ao expressionismo voraz que o acompanharia no decorrer da Grande Guerra.

A genialidade de Picasso em “Guernica”, está no fato de não retratar o bombardeio da cidade basca, mas de um grito. Grito desesperado de todos os elementos da tela, menos o touro. O crítico de arte Fernando Morais ao comentar a obra, esclarece que na tela há:

“Um grito calculado, que carrega atrás de si, ou consigo, uma rigorosa estrutura plástica. Não é a representação anedótica de um fato histórico, mas a sua reinvenção plástica, uma versão pessoal, na primeira pessoa. E, só por isso, ecoa ainda hoje como obra de arte e como denúncia dos bombardeios que continuam sendo feitos contra cidades, aldeias ou populações indefesas em todo o mundo. Comove por sua dimensão especificamente humana, isto é, política, e envolve por sua dimensão artística.

Na simbologia picassiana, o touro representa a força bruta, o mal, por oposição ao cavalo, que representa a inocência, o bem. Se o touro é o homem e o cavalo a mulher, na fase preparatória de Guernica o touro será o fascismo e o cavalo, o povo espanhol. (MORAIS, 1999, p. 22)

A importância de “Guernica” se dá por ser uma obra atemporal, porque “tudo ocorre no espaço fechado – um espaço doméstico. No espaço exíguo, (...) a destruição é maior e a extrema fragmentação e a aproximação de corpos de homens e animais aumenta consideravelmente a sensação de dor” (MORAIS, 1999, p. 22). Por valorizar aquilo que é humano, relacionamos a obra com a estupidez e a selvageria ocorridas entre a população angolana. De acordo com Perktold:

“O painel é dirigido ao gênero humano e transmite esperança. É, também, fruto da mistura de amor às vítimas e de ódio ao inimigo, de indignação, horror, medo, empatia e da compreensão interna percebida pelo artista espanhol da dificuldade que o homem tem para lidar com o seu semelhante e, por isso, paradoxalmente cheio de humanismo. Ele é o registro (...) a impedir que a carnificina seja esquecida. (...)

‘Guernica’ é, antes de tudo, uma manifestação profética do que o homem do século XX, com sua ciência e tecnologia, produziria nos anos seguintes: os mais devastadores artefatos de guerra e as piores idéias totalitárias, de direita e de esquerda.” (PERKTOLD, 2006, p. 6)

Incomoda na tela os gritos inaudíveis e as expressões agonizantes das figuras despedaçadas. Os gritos são de pessoas, animais, objetos e sensações. Todos, impotentes sob a devastação propiciada pelo homem, como invoca o poema de Picasso: “gritos de criança, gritos de mulheres, gritos de pássaros, gritos de flores e de pedras, gritos de camas e cadeiras, de potes, gritos de gatos, de papéis de odores” (MORAIS, 1999, p. 22). Apesar de todo o horror de um grito abafado, o painel apresenta uma lâmpada em sua parte superior, alegoria da ciência e da tecnologia, as mesmas que proporcionaram o desumano ataque serão utilizadas para conduzir o homem ao caminho da paz entre os escombros.

Como o mural feito por Picasso, que nos convida a uma nova forma de olhar a bestialidade humana, os versos de E. Bonavena demonstram a crueldade da realidade exposta de um conflito fratricida e duradouro.

Seguindo o conselho de Henry Matisse, Picasso convenceu-se a pintar o mural como uma “sinfonia monocromática”, o que é compartilhado por E. Bonavena que também não consegue visualizar as cores, no caso, o azul, alegoria do universo onírico, esperança e sonhos inexistentes na Angola dilacerada pela guerra:

"Se os meus olhos
fossem
os olhos de Picasso
estariam transbordantes
de azul,
mas não – não o são." (p. 61)

A desgastante situação de guerra entre seus pares, confunde e dispersa os sentidos do eu lírico que coloca em dúvida suas percepções, como nas divagações relatadas nos versos:

"E se o fossem,
Talvez,
não tivessem percebido
como a menina do Huambo
tem a perna
mais linda do mundo
que a outra se foi
por um dólar.

Talvez, os olhos
de Picasso
não teriam retido
o castanho-luz do seu olhar (...)

Talvez, ou simplesmente
o Bié
sairia da boca dos cavalos
de Guernica,
Outra vez!" (p. 61-62)

A reutilização e atualização de elementos da obra picassiana para a sangrenta realidade angolana são escancaradas, como na menina mutilada, denunciando o grave problema das minas implantadas por todo o país, causando até os dias atuais acidentes e mortes. Como em Bié, cidade próxima a Huambo, que sofreu violentos ataques no período da guerra, ao retomar o grito do cavalo de “Guernica” que passa a ser o “grito abafado” da população.

E. Bonavena encerra “Os Limites da Luz” com o poema dedicado ao amor de outrora e aos ideais não concretizados que perpassam por toda a obra:

Destas lágrimas não te digo porque as verti sem querer. Falar-te-ei da tristeza consciente, desta que alimento como talismã para me salvar da saudade. Deixei o sorriso exilado nos teus lábios. Contigo foram também os sonhos. Resta apenas a tua lembrança, como uma nódoa forte que jamais se vai separar do brim onde mora. (p. 73)

É, de acordo com Alfredo Bosi, no “reinventar imagens da unidade perdida, eis o modo que a poesia do mito e do sonho encontrou para resistir à dor das contradições que a consciência vigilante não pode deixar de ver” (BOSI, 1977, p. 155). Assim, o eu lírico “prisioneiro da saudade” assume o direito ao amor e à imaginação contra as agruras vivenciadas por décadas de uma guerra insana, que destruiu os sonhos por um país melhor. Sendo assim, o eu lírico refaz o passado pelos caminhos da palavra que trilha novos percursos para a poesia angolana do século XXI.

Pablo Picasso e E. Bonavena, vivenciaram, em momentos distintos, a bestialidade humana perante o seu semelhante. Em um século que presenciou a criação de sangrentas e avassaladoras armas de destruição, o século XXI que se inicia se espanta com a voracidade do neoliberalismo das nações dominantes, ao impor sua maneira política, econômica e cultural de agir, excluindo toda e qualquer forma de expressão e autonomia dos países periféricos.

Entretanto, artistas, como os dois analisados aqui, contribuem com seus pares ao denunciar a perversidade com que o poder trata os destinos das populações desfavorecidas. Picasso e E. Bonavena prestam suas colaborações à Humanidade ao fazer ouvir os gritos que suas obras eclodem em nós. Gritos contra a ganância, a estupidez e a violência exacerbada que marcaram e marcam os últimos tempos.

Pablo Picasso e E. Bonavena, dois artistas que renovam a esperança no homem, valorizam a condição humana em suas obras. Dois artistas que nos fazem enxergar a luz.

Ricardo Riso


BIBLIOGRAFIA:
BONAVENA, E. Os limites da luz. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2003.

BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, Universidade de São Paulo, 1977.

LEITE, Ana Mafalda. Poesia angolana: percursos (des)contínuos. In: Revista Poesia Sempre: Angola e Moçambique nº 23. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2006.

MORAIS, Frederico. Mitos e mitologias de Picasso. In: catálogo da exposição Picasso, Anos de Guerra 1937-1945. Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, de 27 de julho a 07 de setembro de 1999.

PERKTOLD, Carlos. Sinfonia monocromática. In: Jornal Estado de Minas. Caderno Pensar, p. 6, de 29 de abril de 2006.


Picasso. Coleção Gênios da Arte Vol. VI. Barueri: Girassol; Madri: Susaeta Ediciones, 2007. p. 70.

SECCO, Carmen Lucia Tindó. Sendas de sonho e beleza (algumas reflexões sobre a poesia angolana de hoje). In: CHAVES, Rita; MACEDO, Tânia (ORG). Marcas da diferença: as literaturas africanas de língua portuguesa. São Paulo: Alameda, 2006.








João Magalhães no Museu de Arte Moderna/RJ

Tive o prazer de ser aluno de João Magalhães na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, entre 2001 e 2004. Seu profundo conhecimento da História da Arte ocidental e diversas áreas do saber como a Filosofia e a Psicanálise, o olhar atento e inquietante às tendências da arte contemporânea, e a generosidade e incentivo aos seus alunos fizeram com que me tornasse admirador de sua pessoa.
Convido a todos para que visitem sua nova exposição, pura e simplesmente "Pintura", de um inexorável defensor da nobre arte de pintar.
João, suas orientações acompanham-me até hoje. Até a abertura da mostra!
Obrigado!
Ricardo Riso
JOÃO MAGALHÃES - Pintura
MAM-RJ
Abertura: 12 de agosto, terça-feira, 19h

Em cartaz: 13 de agosto a 05 de outubro 2008
terça a sexta, 12-18h
sábado, domingo e feriado, 12-19h


A beleza bruta da pintura de João Magalhães

João Magalhães tem uma relação rígida com a pintura. Ele considera suas telas "secas", no sentido de que faz o máximo para expor o essencial. A safra mais recente é basicamente preta. Magalhães não usa outras cores, que dividiriam a atenção do espectador e funcionaria como elemento de sedução desnecessário.

A individual do artista mineiro, radicado no Rio de Janeiro, reúne 23 telas, de médias e grandes dimensões, todas inéditas, feitas entre 2006 e 2008. Ele é daqueles fiéis à tinta sobre tela, desde que começou a expor em 1978, no Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM-RJ, onde ele volta a mostrar seu trabalho, exatos 30 anos depois.

"Haacke1", 2008, 200 x 300cm
Coleção Gilberto Chateaubriand

O crítico Frederico Morais escreveu, em 1995, que a pintura de Magalhães é "brutalista" e, nesse sentido, a compara com a escultura de Amilcar de Castro e de Ivens Machado. E justificou: "Não se trata de uma pintura dócil e amena, permeada por delicadezas de qualquer espécie - textuais, desenhísticas, cromáticas. Ao contrário, é uma pintura direta, contundente, quase agressiva na sua nudez expressiva". O artista confirma que sua atuação na tela é direta, rápida, ainda que a etapa anterior, a de cálculo, controle, conhecimento de história da arte, seja longa.

Morais alerta para não se confundir a pintura brutalista com "espontaneismo, improvisação ou velocidade de execução". Ele diz que é um brutalismo "às avessas" - um exercício de sofisticação, requinte e inteligência visual."

sem título, 2008, 195 x 145cm

Nesta exposição do MAM-RJ, todos os trabalhos falam de "possibilidades da pintura, usando os meios da própria pintura", diz o artista. Por exemplo: que pele é essa a da pintura? Duas das obras apresentam sua "pele" - camadas e camadas de tinta preta opaca - descolada do suporte e dobrada sobre a superfície do quadro.

Um grupo de pinturas tem o plano preenchido por linhas imprecisas verticais paralelas, que acompanham o limite do chassis. É, segundo João, não-composição com imprecisão.

sem título, 2008, 195 x 145cm

Outro conjunto é inspirado em artistas, como Hans Haacke, Monet e Pol Bury. A baixa qualidade de xerox em preto e branco, interessou Magalhães como imagens. Ele as escaneou, projetou-as sobre a tela e pintou, também, em preto e branco como o original [xerox]. No caso de Monet, o trabalho é "Nympheas", com as mesmas dimensões do original: 200 x 420 cm.

"Nympheas", 2008, 200 x 420cm

Há trabalhos que incorporam o erro que o artista faz ao usar o computador, que ele não domina: por exemplo, adotar bordas irregulares na tela, porque não conseguiu desenhá-las regulares no computador.

Gesto, 2008, 200 x 300cm

Em várias telas a pincelada é apenas visível. Mais uma vez, o pintor explica que elas são aparentes só para mostrar que é pintura e não para exibir gestualidade.

João Magalhães é Mestre em Linguagens Visuais pela EBA UFRJ, tendo como orientador Carlos Zílio. É professor de pintura da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e do curso de Artes da Universidade Estadual do RJ [UERJ]. Em 1995, ganhou o Prêmio Icatu das Artes, para uma temporada na Cité des Arts, em Paris, onde morou por um ano entre 1996-1997. Realizou uma individual na Cité International des Arts. Além de individuas no Rio, em São Paulo [Pinacoteca], Salvador e Belo Horizonte, Magalhães fez também mostra solo em Colônia, Alemanha, na galeria Olaf Clasen.

O artista tem obras nas coleções institucionais Fundação Nacional de Arte (FUNARTE), RJ * Escola Panamericana de Arte, SP * Museu de Arte Contemporânea do Paraná, Curitiba * Museu do Estado de Pernambuco, Recife * Museu de Arte Contemporânea de Campinas, SP * Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP * Casa de Cultura Laura Alvim, RJ * Museu de Arte Moderna (MAM) -Coleção Gilberto Chateaubriand, RJ * Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), RJ * Museu de Arte e Cultura - Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá * Universidade Federal Fluminense, Niterói * Universidade Federal de Juiz de Fora, MG * Cité des Arts, Paris * Museu de Arte Contemporânea (MAC), Niterói.

Acompanha a exposição um catálogo bilíngüe, português-inglês, com texto de apresentação de Reynaldo Roels, curador do MAM-RJ, e uma entrevista com o artista, feita por Carlos Zilio, Gloria Ferreira e Luiza Interlenghi.

Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Av Infante Dom Henrique 85
Parque do Flamengo - RJ
21 2240-4944
www.mamrio.org.br

ter a sex, 12h - 18h
sáb, dom e feriados, 12h - 19h
A bilheteria fecha 30 min antes do término do horário de visitação.

Ingresso
R$ 5,00 e R$ 2,00
Ingresso família aos domingos R$ 5,00

* Fonte: e-mail de divulgação do Universidarte, enviado em 07 de agosto de 2008.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

MESTRES DA LITERATURA HISPANO-AMERICANA

CASA DO SABER - LAGOA - RJ
Av. Epitácio Pessoa, 1164
Rio de Janeiro - RJ
CEP 22410-090

CURSO

MESTRES DA LITERATURA HISPANO-AMERICANA

Nélida Piñon

Uma abordagem da produção literária do continente latino-americano através de alguns de seus mestres, como Juan Rulfo e seu romance "Pedro Páramo"; Mário Vargas Llosa, com "El hablador"; Isabel Allende, com "A casa dos espíritos"; e Carlos Fuentes, com "A morte de Artemio Cruz". Esses romances, em conjunto, formam um painel alegórico e contundente da natureza cultural e antropológica do México urbano e rural; do Peru milenar e primitivo; do Chile que se debate entre o feitiço da adivinhação feminina como se estivéssemos em Delfos; e do horror das ditaduras contemporâneas. Juntos, ensejam que se enverede pela intimidade narrativa do século XX e pelas representações simbólicas ao alcance de suas brilhantes criações.

Início: 13 AGO
Duração: 4 encontros
Dias/horários: Quartas-Feiras, às 20h (13/08, 20/08, 27/08, 03/09)
Valor: R$ 140,00 na inscrição + 1 parcela de R$ 200,00


Os correntistas (pessoas físicas) do Banco Real têm 30% de desconto nos cursos do segundo semestre de 2008. Este desconto está limitado a um curso por correntista. Para obter o desconto, o pagamento do curso só poderá ser realizado com os cheques do Banco Real do próprio correntista.


AULAS:
13 AGO 1. JUAN RULFO

20 AGO 2. MÁRIO VARGAS LLOSA

27 AGO 3. ISABEL ALLENDE

03 SET 4. CARLOS FUENTES


Ministrado por:
Nélida Piñon. Romancista, contista, ensaísta e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Foi catedrática da Universidade de Miami até 2003 e escritora visitante das Universidades de Harvard, Columbia, Georgetown e John Hopkins. Ao longo de sua carreira, recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais, entre eles o Príncipe de Asturias pelo conjunto da obra, em 2005. Recebeu o título de "Doctor Honoris Causa" de universidades como Poitiers, Santiago de Compostella e Montreal. É autora de mais de 20 livros publicados no Brasil e no exterior, entre eles o recém-lançado "Aprendiz de Homero".

Tel.: (21) 2227-2237 222-SABER
Horário de funcionamento: 11h às 20h

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Mimmo Paladino - Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

Mimmo Paladino
Por mamrio

Ópera Gráfica
07 ago - 07 set 2008


http://www.mamrio.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=146&Itemid=36

A exposição apresenta em uma ampla montagem no segundo andar do museu 30 obras do importante artista contemporâneo italiano, produzidas sobre papel em grande formato, em várias técnicas de gravura (água-forte, serigrafia, litografia e xilografia), no período de 1992 a 2003.

Paladino nasceu em Paduli (Benevento, Itália) em 1948, e hoje vive entre Paduli, Bolonha e Milão. Junto com Sandro Chia, Francesco Clemente, Enzo Cucchi e Nicola de Maria, Paladino protagonizou o movimento conhecido como transavanguarda italiana na década de 1980. Os artistas do movimento, reunidos ao redor da figura do crítico Achille Bonito Oliva, propunham um retorno à pintura em resposta ao que consideravam o esgotamento definitivo dos planos inovadores da vanguarda. Esses artistas encarnaram a mais significativa volta à pintura expressionista, como reação ao minimalismo e à arte conceitual dos anos 1970 e ao materialismo da arte povera.

Mimmo Paladino tem obras em grandes coleções públicas, como o MoMA e o Guggenheim de Nova York, e a Tate Gallery, em Londres. No Rio, fez mostra individual no l em 1992. Paladino, pesquisador de todas as técnicas artísticas, a partir de 1979 já se dedicava também à gravação nas modalidades: água-forte, água-tinta, linoleografia, xilografia, serigrafia e litografia. Ele expôs na Bienal de Veneza em 1980 e sua arte afirma-se internacionalmente e em caráter definitivo graças a uma exposição itinerante de desenhos em vários museus da Europa Central – de Kunsthalle em Basel, ao Museu Folkwang em Essen e ao Stedelijk Museum em Amsterdã. No mesmo período, em Nova York, duas exposições individuais, nas galerias Annina Nosei e Marian Goodman tornam seu trabalho conhecido também nos Estados Unidos. Nos primeiros anos da década de 1980 dá início às obras de escultura. Em 1982 participa da Bienal de Sidney e da Documenta 7 de Kassel.

Em 1983, expõe na mostra sobre a Transavanguarda na Fundaciò Joan Mirò de Barcelona, na exposição New Art na Tate Gallery de Londres e, no ano seguinte, Det Italienska Transavangardet na Lunds Konsthall de Estocolmo. Ao mesmo tempo é consagrada ao artista italiano uma importante exposição individual no Harbour Museum de Newport, Los Angeles, seguida em 1984 por outra ainda em individual no Musée Saint-Pierre/Art Contemporain de Lyon. No mesmo ano, Paladino expõe no espaço do An International Survey of Recent Painting and Sculpture no MoMA em Nova York; é convidado pelo Hirshhorn Museum and Sculpture Garden de Washington, participando em seguida da mostra Contemporary Italian Masters no Chicago Council of Fine Arts. Em em 1988 ocupa uma sala individual na Bienal de Veneza.

A obra de Paladino, desde os primeiros desenhos dos anos 1970 até suas telas e montagens atuais, conjuga elementos das vanguardas com atmosferas meridionais carregadas de conotações mágicas e ancestrais, onde aparecem figuras que se referem à tradição popular.

A arte de Paladino apresenta enfoque histórico, religioso, sensualidade e uma utilização constante de mistura de linguagens. Mas é a absoluta liberdade de leitura de suas obras o que o artista mais preza e que gera, para ele, “uma ambigüidade constante” em seu trabalho.

Para o curador da mostra, a “modernidade de sua obra reside no mistério, no nunca declarar explicitamente os conteúdos nem o caráter expressivo em que se posiciona, no não revelar o terreno no qual finca suas raízes inspiradoras. Porém, paradoxalmente, seu permanecer contemporâneo reside justamente na aparente inatualidade da sua obra que se posiciona, com toda certeza, no campo da ambigüidade, ou seja, com as características mais significativas da expressividade poética do nosso tempo”.


Texto do catálogo


No texto do catálogo da mostra, Enzo Di Martino observa que a xilografia constitui para Paladino “a linguagem incisória que, na sua crueza e essencialidade, manifesta mais claramente o seu mundo imaginário”.

Ele afirma também que não se pode deixar de mencionar a relação de Paladino com o papel. “Trata-se de uma relação inteiramente particular, empática, poderíamos assim dizer, onde o artista continua subtraindo da matéria sempre novos estímulos e inesperados impulsos de imaginação, mesmo quando esta já foi empregada, como no caso de velhas gravuras”. A inspiração pode às vezes surgir da própria matéria, branca e trabalhada à mão – como ocorre, por exemplo, no caso das “Carte siciliane” de 1998 – à qual o artista deu formas inesperadas (uma cabeça, uma flor, uma mão), colando depois por cima as coloridas incisões impressas sobre papel “china”.

O grande formato surge como uma questão no estudo da obra gráfica de Paladino – por exemplo nos “Continenti” e nos “Scudi” de 1999. Esta pode ser uma simples exigência expressiva, mas também a de proclamar a necessidade de encerrar o “relato” de uma outra forma inenarrável, ou talvez incutir solenidade e mistério às figuras, à “representação”.

Obras monumentais como o tríptico “Sirene – Vespero – Poeta Occidentale” de 1986, assemelham-se na realidade a “campos de batalha” nos quais exercitou-se não somente “a ambição expressiva” de Paladino, mas também toda a sua capacidade de dominar a matéria e os meios técnico-alquímicos à disposição.

As grandes telas nas quais o artista “contamina” todas as linguagens da gravura, utilizando simultaneamente a serigrafia, a litografia e a ponta seca, a água-forte e a xilografia, a água-tinta e aplicação de abrasivo carborundum, permitem a convivência pacífica destes procedimentos. A orientação de todas as devidas qualidades expressivas em proveito de resultados técnicos e formais possivelmente não possui paralelo nas experiências similares praticadas pela pesquisa artística contemporânea.

Um comportamento que não supõe a hierarquia das linguagens, e que permitiu ao artista dominar e apoderar-se de todos os procedimentos, da incisão do cobre ao desenho na pedra, da impressão sobre a seda à erosão direta do ácido no zinco, da aplicação de materiais ao entalhe na madeira e no linóleo.

Mimmo Paladino empenha-se, sobretudo em sua pesquisa, em “representar ele próprio”, a inatual complexidade do seu imaginário. Porém, suas metáforas figurativas representam um mundo no qual nos espelhamos e que nos pertence, nos obrigam a encarar o nosso interior, nos forçam a ouvir o silêncio que está dentro de nós.

A linguagem de Paladino é, portanto finalmente universal, persistente e duradoura, que se manifesta com clamor no notável e reconhecível signo de uma poesia pessoal imaginativa.

Curadoria Enzo Di Martino
Realização Istituto Italiano di Cultura do Rio de Janeiro e Embaixada da Itália no Brasil
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Estarei lá!
Ricardo Riso

domingo, 3 de agosto de 2008

Marcel Duchamp - Museu de Arte Moderna de São Paulo

A maior exposição realizada na América Latina sobre a obra de Marcel Duchamp - MARCEL DUCHAMP: uma obra que não é uma obra “de arte” - ficará exposta no Museu de Arte Moderna de São Paulo ( http://www.mam.org.br/ ) até o dia 21 de setembro de 2008.

Infelizmente, a curadoria da exposição não elaborou material especial para o site do MAM. Fato comum quando há uma grande retrospectiva de algum artista nas principais instituições do mundo. Basta acessarmos os belos trabalhos realizados pelo Museu do Brooklin, quando da fantástica retrospectiva de Jean-Michel Basquiat, Street to Studio: Jean-Michel Basquiat at Brooklin Museum ( http://www.brooklynmuseum.org/exhibitions/basquiat/street-to-studio/ ) , e a maior retrospectiva de Hélio Oiticica já realizada, chamada Hélio Oiticica – The body of colour ( http://www.tate.org.uk/modern/exhibitions/heliooiticica/default.shtm ) , na Tate.

Como vemos, perde-se uma ótima oportunidade em popularizar e romper os estereótipos acerca da obra de Duchamp e, conseqüentemente, da arte contemporânea.

A seguir, um texto que fiz na minha época de estudos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, a respeito dos ready-made de Marcel Duchamp.

Ricardo Riso


Marcel Duchamp, o indiferente

Falar sobre Marcel Duchamp é falar da obra que é a negação da noção de obra. Suas pinturas não eram imagens, mas uma reflexão sobre a imagem. Ele não procurava fazer a pintura-pintura, mas a pintura-idéia. Essa negação à pintura vinha do que ele chamava de sensações olfativa (terebentina) e retiniana (visual). Na negação ele incorporava o título da obra como fator determinante numa pintura, que pretendia ir além da pintura retiniana.

Duchamp não queria ficar preso a uma pintura manual e visual, ele queria ser um pintor de idéias. Com a inserção do texto, do verbo, busca a linguagem que é de ordem intelectual, sendo a melhor maneira de criar significados e, também, destruí-los em obras.

Devemos pensar na obra de Duchamp como a obra das idéias, na qual procurava reduzir as funções do objeto, atingir a questão da indiferença, quebrar a idéia de beleza, ou seja, uma beleza livre da noção de beleza. Agarrava-se às idéias e incorporava-as à ironia.

Duchamp dava tanta importância à linguagem que nos títulos de algumas obras procurava confrontar palavras com sons semelhantes, porém de sentidos diferentes e encontrar nelas uma ponte verbal, tudo com ironia associada à experiência plástica.

A respeito dos ready-made, cito o crítico Octavio Paz: "Os ready-made são objetos anônimos que o gesto gratuito do artista, pelo único fato de escolhê-los, converte em obra de arte. Ao mesmo tempo esse gesto dissolve a noção de obra. A contradição é a essência do ato; é o equivalente plástico do jogo das palavras: este destrói o significado, aquele a idéia de valor. Os ready-made não são antiarte, (...), mas a-rtísticos."1

Vemos que o seu interesse não é plástico, mas crítico ou filosófico. Então ele diz: "Seria estúpido discutir sobre a sua beleza ou feiúra, tanto porque estão mais além da beleza e da feiúra como porque não são obras, mas signos de interrogação ou de negação adiante das obras."2

Duchamp demonstra que o ready-made é uma crítica ao gosto e ànoção de obra de arte. Ele quer provar que o ready-made é uma crítica àquela idéia de arte retiniana, pois nesta arte os seus significados são, na verdade, insignificantes (impressões, sensações). Com o ready-made, ele quer a não-significação, a neutralidade, por isso o não há compromisso com o que é belo, bonito, agradável. O objeto tem que ser neutro.

Ele dizia que os ready-made não eram feitos com freqüência para não caírem na tentação do gosto. E é neste ponto, creio, que Duchamp e seus ready-made são equivocadamente interpretados.

Porque fora do seu contexto, os objetos perdem os seus significados, tendem ao vazio, e a ironia seria o grande aliado para manter a neutralidade buscada por Duchamp. Para o artista que quer criar um ready-made, é necessário manter um distanciamento em relação ao objeto que será um ready-made. O artista não deve escolhê-lo pelo gosto. O artista escolhe um objeto que tem um nome, logo, um significado. A partir daí, ele começa a jogar, como, por exemplo, um porta-garrafas sem garrafas. Ele quer tirar o objeto do seu significado, ele quer a negação de sua função.

Dessa forma, temos duas negações: a primeira, a noção de obra de arte e, a segunda seria a negação do objeto, tornando-o nulo, inútil. Por isso, o ready-made tem que ser neutro para poder virar obra. Reafirmo, é no conceito de ready-made que Duchamp é interpretado erroneamente porque obriga o artista a ser totalmente desinteressado pelo objeto que pretende sê-lo.

Para entendermos melhor, cito o próprio Duchamp: "O grande problema era o ato de escolher. Tinha que eleger um objeto sem que este me impressionasse e sem a menor intervenção, dentro do possível, de qualquer idéia ou propósito de deleite estético. Era necessário reduzir o meu gosto pessoal a zero. É dificílimo escolher um que não nos interesse absolutamente, e não só no dia em que o elegemos mas para sempre e que, por fim, não tenha a possibilidade de tornar-se algo belo, agradável ou feio."3

Portanto, é extremamente complicado pensarmos em criar algo em que a finalidade seja a não-contemplação, a indiferença. Duchamp chamava a isso de Beleza da Indiferença, ou seja, a liberdade.

Riso
29 de setembro de 2005

1. Paz, Octavio. Marcel Duchamp ou o castelo da pureza. Ed. Perspectiva. Pág. 23.

2. Paz, Octavio. Marcel Duchamp ou o castelo da pureza. Ed. Perspectiva. Pág. 23.

3. Paz, Octavio. Marcel Duchamp ou o castelo da pureza. Ed. Perspectiva. Pág. 29.
Nota:
Para quem quiser conhecer um pouco mais de Marcel Duchamp, clique no link abaixo da revista Bravo!
http://bravonline.abril.com.br/artes_duchamp.shtml

Filmes afro-brasileiro e africano - Casa da Gávea



"CAFUNDÓ"
Direção de Paulo Betti e Clovis Bueno
Ano: 2006
Duração: 101 minutos - Drama
Com palestra de JORGE MAUTNER

Sinopse:
Cafundó é inspirado em um personagem real saído das senzalas do século XIX. Um tropeiro, ex-escravo, deslumbrado com o mundo em transformação e desesperado para viver nele. Este choque leva-o ao fundo do poço. Derrotado, ele se abandona nos braços da inspiração, alucina-se, ilumina-se, é capaz de ver Deus. Uma visão em que se misturam a magia de suas raízes negras com a glória da civilização judaico-cristã. Sua missão é ajudar o próximo. Ele se crê capaz de curar, e acaba curando. O triunfo da loucura da fé. Sua morte, nos anos 40, transforma-o numa das lendas que formou a alma brasileira e, até hoje, nas lojas de produtos religiosos, encontramos sua imagem, O Preto Velho João de Camargo.

Terça-feira, 05 de agosto às 20 horas



Tesouros Africanos – Filmes do Mundo


Sinopse:
Wend Kuuni foi encontrado quase morto na selva quando criança e adotado por uma família. Apesar de ter sido aceito pela comunidade da aldeia, continua a ser tratado como um forasteiro. A vida em família decorre serena até o dia em que Poghnéré, sua irmã adotiva, fica gravemente doente. Wend Kuuni parte em busca de um curandeiro lendário para salvar sua irmã da morte. Sai então de sua aldeia adotiva e começa uma jornada de iniciação que o conduzirá rumo às próprias raízes.

"Buud Yam" (Burkina Faso)

Direção: Gaston Kaboré
Ano de lançamento: 1997
Gênero: Drama, História
Duração: 97 min.
Tipo: Longa-metragem / Colorido

Terça-feira, 19 de agosto


http://www.casadagavea.org.br/

Praça Santos Dumont, 116 sobrado - Gávea
CEP 22470-060 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: 21 2239-3511 / 21 2512-4862
E-mail: casadagavea@casadagavea.org.br