terça-feira, 29 de setembro de 2009

“Voar na asa da poesia” – o singelo compromisso poético de Manecas Cândido

por Ricardo Riso

“A poesia é a meta dos meus desejos” (p. 11) versa o eu lírico em um dos poemas do livro “O sentido das metáforas” (Maputo: Fundac, 2007), estreia literária do jovem poeta moçambicano Manecas Cândido. Desse verso podemos esperar um escritor compromissado com o fazer poético, pois, os poetas permanecem “intactos e submissos ao fulgor tão óbvio da palavra” (p. 9), revelando as sensações adormecidas pelas pessoas comuns porque somente os poetas com sua sensibilidade exacerbada escutam “a música das folhas que o vento transmite” (p. 33).

O lirismo percorre os quarenta poemas d’“O sentido das metáforas”. Manecas Cândido, nascido a 1 de Julho de 1979, em Quelimane, província da Zambézia (1), é representante da novíssima geração da poesia moçambicana, representada por nomes como Domi Chirongo e Sangare Okapi, seguidores de uma vertente lírica, com o predomínio de uma poesia existencialista e universal. Na trajetória literária de Moçambique, a presença da voz lírica fez-se desde os tempos do colonialismo em nomes como os de Virgílio de Lemos, Fernando Couto, Glória de Santana, Noémia de Sousa e, principalmente, Rui Knopfli. Com a guerra colonial e a posterior independência, os poetas, com razão, comprometiam-se com as causas sociais coletivas e cantavam a bravura do povo moçambicano e as glórias de um novo país. Contudo, o pleno domínio das temáticas “de combate” anestesiou os sentidos dos poetas extraindo da poesia o que há de melhor em si: a sua liberdade.

Esse panorama começa a mudar na década de 1980 com os pioneiros livros de Luís Carlos Patraquim, “Monção”, e de Mia Couto, “Raiz de Orvalho”, que resgatam o lirismo e uma poesia de cariz existencial no meio literário moçambicano. Tais características solidificam-se com a chegada de Eduardo White e o seu “Amar sobre o Índico” (1984) e os poetas lançados pela revista “Charrua” (1984), entre eles Juvenal Bucuane, Hélder Mutéia, Pedro Chissano, comprometida em desvencilhar-se dos temas guerrilheiros da poesia engajada. Para isso, seus poetas procuravam novos caminhos formais, apuro estético, uma linguagem plural, diversificada e/ou erótica, que privilegiava a força das metáforas e os anseios intimistas do homem. Rita Chaves aponta para o título da revista como fator determinante e anunciador desta mudança: “O nome Charrua aponta para essa vinculação com a terra a ser revolvida para que se aumente a sua fertilidade”.

Essa busca por outros caminhos poéticos é acompanhada por um triste período de atrocidades no país. Os anos 1980/1990 foram impregnados pela violência desmedida e irracional da guerra civil que assolou Moçambique, mergulhando-o numa aguda crise econômica e deixando a população perplexa diante de tantas atrocidades. Cândido cresceu convivendo com esse trágico cenário, ao qual o sujeito lírico recorda com amargura: “Logo que nasci / deram-me presentes / de pobreza e um País / de angústias” (p. 35). Na infância foi obrigado a conviver com as tristes notícias do “furor da guerra” que “silenciava as crianças”, “onde todos os dias as flores / gotejavam sangue / de tanta dor e morte” (p. 35). Entretanto, apesar de “já cansado / de sonhar com tristezas / que habitam o dia-a-dia” (p, 34), o sujeito lírico não se entrega, recorre à poesia, “desvelando segredos dos meus tempos / abalado de angústias, fome, terror” (p. 45) para retratar e denunciar o tempo que lhe coube viver, pois, “mesmo que me intimidem / a poesia resistirá rigorosamente / à languidez do meu corpo” (p. 13), tempo este infestado, agora, não mais pelo monstro do colonialismo ou pela guerra fratricida, mas pela corrupção desenfreada dos dirigentes do país e das pressões externas do neoliberalismo.

Contudo, o sujeito lírico é persistente, não se entrega, procura o “inadiável sonho / de canto de esperança” (p. 11), crer no poder dos poetas para “buscar o que de melhor temos” (p. 11) e faz do espaço ilimitado proporcionado pelo universo onírico o local de permanência da utopia, da esperança, contrapondo-o às adversidades do cotidiano: “O sonho integra a vida / na qual lutamos determinados / sem que nada nos refute / os anseios e a esperança” (p. 31). Metapoeticamente, confia na poesia para auxiliar o retorno dos sonhos moçambicanos, pois, somente o poema possui a qualidade de recuperar “a lembrança que a memória / não é capaz de trazer” (p. 25), memória esgarçada e dilacerada por tantos anos de sofrimento.

O apego a sua terra moçambicana, “aqui vivo fiel / à minha terra” (p. 32), remete aos poemas de Eduardo White e Luís Carlos Patraquim, e em tempos distantes, aos de Rui Knopfli, que elegeram o norte do país, mais precisamente a ilha de Moçambique como lugar matricial. O sujeito lírico de Cândido reafirma a tradição lírica moçambicana: “O teu corpo é País das maravilhas, / belo e próspero, / é terra dos meus sonhos” e também perpassa pelo norte ao citar as peculiares esculturas da etnia Maconde: “O teu corpo, amor, o teu corpo / esculpido do pau-preto / espanta o silêncio dos meus olhos” (p. 46).

Do compromisso social ao uso constante da metapoética, o sujeito lírico de Manecas Cândido propõe uma viagem alada em “palavras luzentes” (p. 13), porque sabe que a função da poesia é percorrer “com palavras mais puras” (p. 38) novos firmamentos, criar novas cores para combater o discurso da ordem estabelecida, tirar da inércia os sentidos anestesiados por tantas angústias e sofrimentos. Por isso, a fé e o compromisso com o seu trabalho e com o seu povo em “escrever um poema / que te lembre sempre a minha voz / de profunda esperança” (p. 39).

Manecas Cândido com “O sentido das metáforas”, ganhou o Prémio Rui de Noronha Revelação 2005 – FUNDAC. Ao exaltar a poesia e a própria palavra, o poeta trilha um caminho ousado, sinuoso, que exige intenso rigor com a tessitura poética. Caminho corajoso que, aguardamos, seja prolífico, conforme afirmou o poeta Armando Artur ao prefaciar a obra: “para quem está disposto a expor-se a todos os riscos que a escrita oferece, quando o propósito é procurar ser um verdadeiro e incansável marceneiro da poesia, à maneira Knophliana”.

O meu destino é voar na asa da poesia.
E do meu voo, levar a mensagem
Com as cores de esperança
Que a terra clama.

E nas alturas, pintar o céu
Exaltando o sentido das metáforas,
A razão do meu destino.
(p. 43)

NOTA:
(1) Manecas Cândido nasceu a 1 de Julho de 1979, em Quelimane, província da Zambézia. É Bacharel em Biologia pela Universidade Pedagógica. É membro efectivo da AEMO e do Núcleo dos Escritores da Zambézia. Poeta, publicou O Sentido das Metáforas (2007). Colaborou, na Rádio Moçambique, na rubrica “Sugestão de Leitura” (2004). Tem poemas publicados nos jornais “Diário de Moçambique”, “Savana” e “notícias”, nalguns casos assinados sob o pseodónimo Lu-Mundime. É Prémio Revelação Rui de Noronha – FUNDAC (2005).
Fonte: sítio da AEMO - ASSOCIAÇÃO DOS ESCRITORES MOÇAMBICANOS, acessado em 29/09/2009, http://www.aemo.org.mz/aemo/quemsomos.htm
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CHAVES, Rita. Eduardo White: o sal da rebeldia sob ventos do Oriente na poesia moçambicana. In: SEPÚLVEDA, M. C. e SALGADO, M.T. África & Brasil: letras em laços. Rio de Janeiro: Atlântica, 2000. p. 137. APUD: SECCO, Carmen L. T. R. Paisagens, memórias e sonhos na poesia moçambicana contemporânea. In: A magia das letras africanas – ensaios escolhidos sobre as literaturas de Angola, Moçambique e alguns outros diálogos. Rio de Janeiro: ABE Graph Editora, 2003. pp. 280-305.

SECCO, Carmen L. T. R. Paisagens, memórias e sonhos na poesia moçambicana contemporânea. In: A magia das letras africanas – ensaios escolhidos sobre as literaturas de Angola, Moçambique e alguns outros diálogos. Rio de Janeiro: ABE Graph Editora, 2003. pp. 280-305.

sábado, 26 de setembro de 2009

Mário Fonseca - 12/11/1939 - 25/09/2009

Faleceu, ontem, dia 25/09, na cidade da Praia, o poeta e ensaísta cabo-verdiano Mário Fonseca. Para melhores informações, acesse http://asemana.sapo.cv/spip.php?article45774&ak=1

Foi um dos maiores defensores da independência de Cabo Verde e da autonomia do continente africano, o que foi registrado em vários de seus poemas. Coerente, sonhador, batalhador, para ele o seu “espírito estava ocupado quase que exclusivamente a nível profundo a duas coisas: política e literatura”.

Que sua alma descanse em paz e à família minha sentidas condolências.

Ricardo Riso

PARA UM CANTO VERDADEIRAMENTE HUMANO

Antepassados imortais
imortal Maiakovsky
imortal Rimbaud
imortal Camões
imortal Keats
imortal Eluard
imortal Lorca
imortal Whitmann
e vós outros
inumeradas gargantas
de onde brotam
flamejantes dardos
da consciência humana
em assembleia
plenária
aberta
a todos os gritos
a todos os ventos
nós
herdeiros
pequenos
actuais
em assembleia
plenária
aberta
a todos os sonhos
de todos os homens
é preciso
urgente
necessário

que a poesia
sol verdadeiro do nosso sistema solar
passe ao combate

é preciso urgente necessário

que a poesia
tambor rítmico do mundo
passe ao ataque
contra as bandeiras
por demais desfraldadas
da fealdade
da estupidez
da estreiteza de longos dentes

com todas as armas
com todos os gumes
da rima
do ritmo
da melodia

com todas as granadas
da mente
do coração
dos nervos

é preciso
urgente
necessário

que a poesia
farol dardejante
no litoral minado
da fraternidade
passe ao ataque
ao ataque
ao ataque

paciente
ardente
contra
as contra-guerrilhas da exclusão
de ontem
de hoje
de fora
de dentro
do homem

é preciso urgente legítimo

que a poesia
passe ao ataque
brandindo as armas que com sangue forjastes
que com suor brandimos
na rude peleja
brandindo machados de percussão minuciosa
que decepem pela raiz
as fronteiras
por demais guardadas
da fealdade
da estupidez
da estreiteza
por onde se filtram
as quintas-colunas da separação
de ontem
de hoje
de fora
de dentro
do homem

que é preciso urgente legítimo
esmagar esmagar
para sempre esmagar
com todas as armas
com todos os gumes
da rima
do ritmo
da melodia
com todas as granadas
da mente
do coração
dos nervos

para que
de pólo a pólo
da terra ao sol
o animal humano
enfim liberto
das etiquetas
passaportes
diques
da separação
da exclusão
entoe enfim
no ar enfim lavado
o primeiro canto verdadeiramente humano

(FONSECA, Mário. Se a luz é para todos. Praia: Publicom, 1988. p. 85-88)

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

João Melo e Manuel Rui na UFF/RJ

Confirmado o encontro com os escritores Manuel Rui e João Melo na UFF, na próxima terça-feira, dia 22 de setembro, às 14h, sala 218-C, no Campus Gragoatá da UFF, bloco C.

Fonte: E-mail gentilmente enviado pela Profa. Dra. Carmen Lucia Tindó Secco, em 20/09/2009.

Tchale Figueira - dois poemas

A seguir dois poemas gentilmente enviados pelo escritor e artista plástico cabo-verdiano Tchale Figueira, no dia 07/09/2009.


Hoje senti saudades dos meus amigos
Vivos e mortos…

Dos vivos, na sua solidão do momento, que só a um homem pertence.

Dos mortos, que na sua eterna solidão, deixaram no búzio da minha lembrança, palavras de amizade, sabedoria e conforto.

Meu barco, entre borrascas e inquietações, atravessando o oceano imenso da essência.

Hoje, senti saudades das minhas amantes perdidas, nuvens que atravessaram minha ilha, sabor a canela de um beijo perdido…

Hoje senti saudades, dos meus amigos vivos e mortos, e tu ao meu lado sentado, mais distante do que esta profunda saudade.


Tchalê


Foi com um lápis-lazúli igual aos teus olhos
Que escrevi os primeiros hieróglifos
Num templo redondo iluminado de estrelas

Desenhei o voar dos pássaros, barcos e oceanos,
E a musica eterna, companheira nas navegações do peito

Inventei a palavra para dizer amor

Altares a deuses que não simetrizam a pequenez
Dos homens perdidos neste imenso mar de galáxias.

O vento e as vagas, ninados pela força invisível dos átomos,
A terra na sua perpetua circundação flutuante…

Oh! Poetas!...

Festejemos com alegria a chegada dos recém-nascidos
Com vinhos que embelezam os nossos pensamentos leves,

Poesia simples na contemplação deste universo sem fim
Ilha do nosso peito, forte como um mar de beijos.

Enviai cartas de luz em papel fino de arroz as vossas
Mulheres leves; estas borboletas dos nossos dias
Que habitam a nocturna dança dos nossos desejos

Tchalê

Artemisa Ferreira - Desejos (livro)


Artemisa Ferreira, 24 anos de idade, Natural de Santa Catarina, mais concretamente da localidade de Boa Entrada Escola, Artemisa Ferreira encontra-se, neste momento, a fazer Mestrado em Tecnologias e Gestão de Sistemas de Informação no Instituto Politécnico de Viana do Castelo em Portugal, depois de ter concluído, no ano passado, a Licenciatura em Tecnologias da Informação e da Comunicação na Universidade Católica Portuguesa, pólo de Braga.

Prefácio
Desejar da Poesia a Carne do Ser da Existência


Nas poéticas de Artemisa Ferreira, encontramos um turbilhão de desejos, que acabam por enformar um conflito de sentimentos. Entre a tristeza e a alegria, encontramos o desejo de amar. Entre as certezas e as incertezas, encontramos o desejo de lutar. Entre a distância e a presença, encontramos o desejo de partir. Entre lá e cá, mora a saudade. Um sentimento que ultrapassa o simples desejo de estar com alguém ou em lugar algum, querendo, antes de mais, ser alguém ou de algum lugar. Ser no sentido de mesclar o eu com o outro para conseguir um nós; o Barlavento e o Sotavento para ter Cabo Verde; a distância e a saudade para ter a presença ausente; o país e a diáspora para ter o mundo; a existência e coexistência para ter a sociedade; a palavra e a credibilidade para ter a confiança; o eu e o ego para ter o ser; o desejo e o Verbo para ter a poetisa. Nos poemas de Artemisa Ferreira, encontramos uma louca manifestação de amor. Um amor incondicional por um país que a viu nascer; um amor pela vida; um amor ao próximo; um amor pela carne, que se traduz no seu próprio desejo. Da vontade de partir para correr atrás de um sonho, encontramos dez ilhas, com duas mãos. Todos unidos pelo mesmo laço: unidos pelas duas mãos que fazem do cabo-verdiano um homem trabalhador. Poeticamente, Artemisa Ferreira constrói o percurso de um cabo-verdiano em movimento constante: um ser que anda de ilhas em ilhas. Chegando à diáspora, quer construir a sua própria ilha porque, na ilha nasceu, ali cresceu e na ilha quer viver. Um povo que vive com o mar: o mar que dá o sustento da família; o mar que indica o caminho da partida; o mar que simboliza a saudade; o mar que impede que se parta; um mar de contradições. Dá peixe para alimentar o corpo, mas, possibilitando a partida, deixa saudade para atormentar a alma. Proporciona belos momentos de lazer pelas praias ao sabor de frescas águas de coco, mas também oferece cenários de dúvidas e medo, querendo saber se a partida se reencontrará num regresso. Por isso, os poemas de Artemisa Ferreira procuram captar estes contrastes do mar e do mundo em que a alma e o corpo lutam para definir uma forma de existência.
Na vida e no amor, da guerra entre a alma e o corpo, Artemisa Ferreira existe. O corpo se estremece num suspiro ofegante, entre dentadas no pescoço e fôlegos sufocantes. A alma suspira... não de alívios, mas de tensão. Não estando o corpo parado, a alma acompanha-o nas suas loucuras.
Na sua existência poética, Artemisa Ferreira começa a sentir que os lábios se tocam; sem pedir licença, os seus beijos são roubados; num ímpeto e sem perdão, o seu sexo é invadido; sem piedade, apodera-se do seu corpo, do seu ego, da sua alma, do seu ser. Mas, não cai num abismo. Cai, sim, num desejo profundo, que invade uma escuridão do fim do mundo para tornar húmida a noite, como as paredes do quarto.
Corpos estendidos em cima da cama, somando o calor e o desejo. De secos a molhados, uma batalha entre os corpos. Para além da húmida noite rasgada, os corpos sentem a necessidade de ensaiar uma dança. Ele insaciável e ela ofegante, ouve-se gemidos, sente-se desejos. Gemidos que se estendem pelo horizonte... porque são de fúria... e de paixão. Ardente.
Provocante. Uma paixão que nasceu de um olhar captado pelos olhos de lírios. O seu coração, o vento colocou no peito dele. O seu corpo, aos braços dele. O seu grito, aos ouvidos dele. E assim, Artemisa Ferreira constrói o seu DESEJO.

Silvino Lopes Évora
Investigador na Universidade do Minho
Para conhecer os poemas de Artemisa Ferreira, visite o blog artemisaferreira2.blogspot.com
Fonte: e-mail gentilmente enviado pela autora no dia 16/09/2009.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Boaventura Cardoso - Mãe, Materno Mar (Lançamento Livro-RJ)


O Consulado Geral de Angola no Rio de Janeiro e o Setor de Literaturas Africanas (UFRJ) convidam para o lançamento da edição brasileira de

Mãe, Materno Mar,
romance do escritor angolano Boaventura Cardoso,

e dos ensaios literários A Alegórica "Mãe Materno Mar" Angolana, de Olimpia Maria dos Santos e Boaventura Cardoso: um (Re)Inventor de Palavras e Tradições, de Renata Sousa da Silva.

Dia 5 de setembro de 2009, sábado, das 14h às 16h, no
Espaço Cultural do Consulado Geral de Angola do Rio de Janeiro
Av. Presidente Wilson, 113 - Loja A- Centro - Rio de Janeiro

Fonte: e-mail gentilmente enviado pela Profa. Dra. Carmen Lucia Tindó Secco (UFRJ) em 03/09/2009.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

José Eduardo Agualusa - A Conjura (livro - edição brasileira)

A CONJURA
José Eduardo Agualusa

Editora Gryphus

SINOPSE
Publicado originalmente em Portugal, o livro A Conjura ganha agora sua primeira edição brasileira. Em seis capítulos, a obra narra as histórias dos habitantes da velha cidade de São Paulo da Assunção de Luanda, entre os anos de 1880 e 1911. Em um contexto marcado por turbulentas transformações, essa colônia portuguesa era o destino de degredados, ladrões e assassinos da pior espécie. Nessa época, quando nas ruas de Luanda se cruzavam as tipoias dos nobres senhores africanos com as caravanas de escravos angolanos, e os condenados vindos do Reino de Portugal se entranhavam pelos matos em busca de fortuna, estórias se passaram que a História não guardou. Estórias de amores e prodígios que ainda sobrevivem em antigas canções. Estórias de personagens como o barbeiro Jerónimo Caninguili e a jovem Alice, cujas desventuras acompanhamos até o fatídico 16 de junho de 1911, dia da frustrada tentativa de tornar Angola independente de Portugal.

TÍTULO: A CONJURA
ISBN: 9788560610228
IDIOMA: Português (PT).
ENCADERNAÇÃO: Brochura Formato: 14 x 21 190 págs.
ANO EDIÇÃO: 2009
Fonte: http://www.travessa.com.br/A_CONJURA/artigo/775815be-3caf-453c-9b33-db046445771e


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Primeiro romance de José Eduardo Agualusa sai no Brasil após 20 anos

Bolívar Torres, JB Online

RIO - Dois tempos distintos unem e separam, com o Atlântico entre eles, a obra do escritor angolano José Eduardo Agualusa. Recém-lançado em Portugal, Barroco tropical, seu último romance, dá um pulo de 10 anos para vislumbrar uma Luanda em convulsão, num nem tão distante 2020. Deste lado do oceano, sua estreia na ficção, A conjura, escrita duas décadas atrás, chega hoje às livrarias do Rio, fazendo a trajetória inversa: volta 200 anos na história da mesma capital angolana para radiografar, entre 1880 e 1911, um período decisivo do seu passado colonial, marcado por um frustrado levante revolucionário. Mesmo com o abismo temporal, passado e futuro se completam com a mesma função. Em ambos os casos, o que interessa a Agualusa é decifrar a atualidade absurda de seu país.

– Escrevi A conjura como uma maneira de pensar o presente – comenta o autor, enquanto anda pelas ruas de Copacabana, onde está hospedado. – Isso era muito importante naquele momento, em que havia poucos estudos sobre o século 19 em Angola. Eu próprio passei a compreender melhor o país ao escrever o livro. Há divisões na sociedade que só podem ser explicadas ao se analisar o passado. A guerra civil foi mais um embate entre uma visão urbana e rural do que de ideologias de esquerda e direita. Ela opôs uma África profunda, presa à tradição rural, a uma África urbana. Claro que essas divisões já existiam no século 19.

Fato incomum para um escritor iniciante, A conjura é um romance histórico (assim como Nação crioula, sua quinta narrativa longa). Agualusa recria toda a agitação de um período de efervescência política de seu país. Como sempre, o autor traça uma galeria de retratos curiosos, que se agitam, numa espécie de histeria coletiva, dentro de um cenário em plena transformação. O sonho ainda é possível para a população pobre do bairro de Ingombotas, onde se instala, em meio a ladrões, assassinos e outros renegados de Portugal, o barbeiro benguelese Jerónimo Caninguili, um baixo e manco negro que, apesar da feiúra, logo conquista a população local. Fixado no fatídico 16 de junho de 1911, dia da primeira tentativa frustrada de obter a independência, o autor retrocede até às origens da data histórica, e é lá que encontra Caninguili e outros angolanos que organizam uma sociedade cospiradora, com o sonho de dar ao país desenvolvimento e tratamento digno aos excluídos.

– Relendo o livro depois de 20 anos, podemos dizer que este é um primeiro romance, com a ingenuidade de todo primeiro romance, mas também com algumas qualidades – confessa o autor. – E que já traz algumas das obsessões que trato em outros livros.

Identidade e memória

O leitor fiel de Agualusa reconhecerá a estrutura aleatória e movediça da maioria de seus livros. Entre as referidas obsessões, destacam-se as questões sobre identidade e memória, sempre presentes em sua obra.

– É normal que, num país jovem como Angola, a literatura, a música ou o cinema tragam este questionamento – diz o escritor. - Aconteceu o mesmo com o Brasil. À medida que o país vai se formando, a literatura reflete este questionamento. Mas o Brasil já é um país com mais estrutura. Em Angola, não temos bibliotecas num número desejável e a memória se perde facilmente. Há poucos jornais, também. Aliás, é o único país do mundo em que o jornalismo melhorou, já que antes era tão ruim que não poderia ter ficado pior.

Revelado por aqui depois da Flip de 2004 (quando foi elogiado por Caetano Veloso), Agualusa se diz um homem de três continentes, que se sente a vontade tanto no Brasil e em Angola quanto em Portugal. Para este filho de luso-brasileiros, a língua portuguesa é um terreno de experimentação multicultural, onde colonizador e colônia se atraem e se chocam na mesma sintaxe. A língua é fator de união, mas também de distinção. O autor não se furta em carregar seu texto de expressões locais, que ganham suas devidas traduções em notas de rodapé.

– O mais interessante é que a língua une a geografia e as influências diversas, mas se distigue por suas variantes – diz Agualusa, que morou por três anos no Recife. – Mas nem sempre essas particularidades se dão entre países. Há mais diferenças entre o português de Pernambuco e do Rio Grande do Sul do que entre o português do Rio e do Maranhão. O carioca acredita que o português falado aqui é o português que se fala no Brasil todo. Mas não é verdade. Aqui no Rio existe uma variante da língua portuguesa, em São Luis do Maranhão ou no Recife você terá outra.

As trocas culturais são essenciais para Agualusa, que reclama da falta de interesse dos brasileiros pela África, matriz de sua cultura popular. Enquanto Angola absorve até os dias de hoje a influência brasileira, sua pátria irmã vira as costas.

– Muito em função do tráfico de escravos, as relações entre Brasil e Angola eram diretas, sem intermediações com Portugal – analisa. – Angola teve vários governadores de origem brasileira. Vários padres eram formados no Recife. Famílias que ficaram ricas com o tráfico tinham casas no Brasil e Angola. Essa relação direta se perdeu com o fim do tráfico, mas a influência cultural do Brasil no país continua, na música, na literatura e nas telenovelas. Já o Brasil, ao contrário de Portugal, não tem o conhecimento dessa cultura que o moldou.

20:09 - 02/09/2009

Fonte: http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/09/02/e020927842.asp

Promoção Cultural A mbira da beira do rio Zambeze

Participe da promoção cultural A mbira da beira do rio Zambeze.
Envie duas dicas de passeios infantis em qualquer estado do Brasil para a Revista África e Africanidades e concorra ao livro A mbira da beira do rio Zambeze, de Décio Giotelle.




Buscamos principalmente dicas de passeios infantis que valorizem a história e cultura negra.

O resultado será divulgado no dia 20 de setembro. Veja como concorrer em www.africaeafricanidades.com


Cordialmente,
Nágila Oliveira dos Santos
Diretora / Editora

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Fragata de Morais - Blog do escritor angolano

Atendendo a gentil solicitação do escritor angolano Fragata de Morais, a seguir o endereço do seu blog:

http://www.literaturafragatademorais.blogspot.com

Trata-se de um excelente espaço para termos contato com sua obra. Fragata de Morais publicou Memórias de uma ilha (crônica), Inkuna Minha Terra (contos), Sumaúma (poesia), A Prece dos Mal Amados (romance), A sonhar se fez verdade, Jindunguices (contos - Prêmio Sagrada Esperança), A Seiva.

As informações a seguir foram retiradas do sítio da União dos Escritores Angolanos - http://www.uea-angola.org/bioquem.cfm?ID=30

Nome: Manuel FRAGATA DE MORAIS
Data Nascimento: 1941-11-16
Naturalidade: Uíge
Gênero Literário: Prosa

Manuel Augusto Fragata de Morais, de seu nome completo, nasceu na Província do Uíge. Seus primeiros escritos aparecerm na década de sessenta em Paris, onde igualmente frequentou a Universidade Internacional do Teatro, na qual trabalhou com André Louis Perinetti e Victor Garcia. (...)

Na Holanda, a convite do STAUT da Academia de Artes Dramáticas daquele país da União Europeia, escrever, realizou e encenou seus trabalhos pioneiros de teatro infantil, que levaram o nome genérico de ‘Gupia’ . Os mesmos foram apresentados no Holland Festival e no Berlin Kinder Und Jugendtheater, em 1971. No seu próprio grupo teatral, The Frist Company, realizou, encenou e actuou em “The Indian Wants the Bronx” de Israel Horowitz, “Fando e Lis” de Arrabal, bem como “The Hole”, “Agonies “ e “Sketches”, todos da sua autoria. (...)

Em 1972 – 75, frequentou a Nederlandse Film Akademie, produzindo para a televisão holandesa, documentários sobre Angola em 1974, bem como em 1975. Seus contos e poemas foram publicados em revista e jornais holandeses, estando incluídos em duas antologias, uma de escritores angolanos e outra de escritores de língua portuguesa. É cronista do Jornal de Angola, membro da União dos Jornalistas de Angola, membro da União dos Escritores Angolanos e Vice – Ministro da Educação e Cultura.

Sobre a sua obra Inkuna – Minha Terra, lançada em 1997, o conceituado escritor Angolano, Henrique Abranches, diz o seguinte: “Esta pequena obra do escritor Fragata de Morais constitui para mim uma leitura penosa de onde sai deprimido, não porque eu não conhecesse que a verdade está por trás de muitas das suas estórias, como todos nos que não andamos a dormir conhecemos tão bem. Mas ele soube ser doloroso por vezes ousadamente controverso, quase provocatório. A coragem que passa nalguns dos seus contos, como “Jogo de Xadrez”, ou as “Amizades”, tem traça de um combatente , de alguém que não quer ser derrotado, porque não acha justo, e embora não saiba triunfar, soube ver e sofrer com o que viu ( Martinha), é um bom exemplo, entregando ao leitor a batata quente...

África e Africanidades - Afro-Brasileiros: Construindo e Reconstruindo os Rumos da História

Prezados,

Em novembro será publicada a 7ª edição da Revista África e Africanidades, trazendo o especial Afro-Brasileiros: Construindo e Reconstruindo os Rumos da História, no qual homenageará personalidades negras de todo o Brasil, sendo estes anônimos ou famosos, mas que foram responsáveis a nível micro ou macro pela construção e reconstrução de nossa história. O objetivo é fomentar e divulgar a ação de personagens negros na História do nosso país nos mais diversos aspectos políticos, culturais, sociais dentre outros.

A homenagem também se constitui num importante espaço para a divulgação das histórias e atores locais deste vasto território que é o Brasil, com multiplas facetas, histórias, experiências e olhares.

A participação de docentes da Educação Básica será extremamente bem-vinda para a ampliação do debate e da troca de experiências pedagógicas.

As contribuições (podendo ser estas em forma de contos, prosa e versos) devem ser encaminhadas até o próximo dia 25 de setembro e o resultado da seleção será divulgado em 20 de outubro.
Resenhas e artigos acadêmicos deverão seguir as regras para publicação disponível em nosso site.

Para conhecer a Revista África e Africanidades acesse www.africaeafricanidades.com

Cordialmente,
Nágila Oliveira dos Santos
Diretora / Editora