terça-feira, 30 de setembro de 2008

Luíz Horácio apresenta Arena Literária

Meu amigo Luíz Horácio agitando longe demais das capitais:

Novo evento literário, produzido pelo jornal Vaia, estréia em Outubro. "Arena Literária" consistirá de uma entrevista aberta, a ser realizada pelo escritor, crítico literário e professor de literatura, *Luíz Horácio*, com um (a) escritor (a) convidado (a) para debater literatura e produção literária.

A partir de uma pergunta inicial - sobre obra e leituras literárias -, o (a) escritor (a) convidado (a) fala sobre trabalhos de escrita, leituras, influências literárias, importância da leitura na vida das pessoas, mercado editorial, oficinas literárias e outros assuntos afins à literatura.

A primeira edição do evento será no dia *17 de Outubro, às 19hs, no Teatro de Arena*, e contará com a participação de *Marcelo Backes*, escritor, tradutor, professor e crítico literário. Backes é autor de "A arte do combate" (Boitempo, 2003), uma espécie de história da literatura alemã, de "Estilhaços" (Record, 2006), uma coletânea de aforismos, epigramas e esboços novelescos em forma de glossário, e de "maisquememória" (Record, 2007), um
romance de viagens, de recorte picaresco.

SERVIÇO:

*ARENA LITERÁRIA*
Luíz Horácio entrevista Marcelo Backes
Dia 17 de outubro, 19hs
Teatro de Arena (av. Borges de Medeiros, 8350
Entrada franca
Produção/realização: Jornal Vaia. Informações: jornalvaia@gmail.com ou (51)9892-3603
Apoio: Teatro de Arena, www.artistasgauchos.com.br, editora Fábrica de Leitura

IX ALADAAB – breves considerações


Inscrevi-me no congresso IX ALADAAB – Sociedade Civil Global: Encontros e Desencontros, ocorrido na Universidade Candido Mendes/RJ entre os dias 25 e 27 deste mês.

No primeiro dia do congresso, só pude participar durante a parte da manhã e fui para o grupo de trabalho “Ensino de História da África e do Negro no Brasil”, coordenado pela Profa. Monica Lima, porém, naquele dia, a mediação ficou por conta da Profa. Carla Lopes. Nas comunicações apresentadas, ficou evidente a dificuldade em implementar projetos para a Lei 10.639, tais como a falta de recursos, carência de material didático, preconceito, resistência por parte da escola e professores entre outros, que são, por outro lado, barreiras suplantadas com esforço, dedicação, criatividade e muito trabalho por parte daqueles que se propõem a desenvolver um projeto. No geral, gostei do que vi, principalmente pela garra dos colegas que partem praticamente do zero, elaboram seus trabalhos e os aprimoram no decorrer do processo revendo conceitos e buscando alternativas. Parabéns a todos!

No dia seguinte, fui para o grupo de trabalho organizado pela Profa. Dra. Rita Chaves, “As Literaturas Africanas na Contemporaneidade”. Revi a querida Profa. Dra. Simone Caputo Gomes, que tantas vezes me ajudou nos assuntos referentes à literatura e artes plásticas cabo-verdianas, a sempre sorridente Rita Chaves, e conheci a colega da USP, Érica Antunes Pereira, freqüentadora daqui do blog, que participa de várias comunidades no Orkut sobre as Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Sobre os trabalhos apresentados, fiquei impressionado com o altíssimo nível dos mesmos, com menção especial para o panorama dado pela Simone Caputo a respeito da produção literária cabo-verdiana no pós-independência, com a excelência costumeira.

Simone Caputo ainda anunciou a “Semana de Cabo Verde”, que acontecerá de 25 a 28 de novembro na USP. Com a presença de José Luís Hopffer Almada, Filinto Elísio, Corsino Fortes, Kiki Lima e outros. Em breve, maiores detalhes serão noticiados aqui no blog deste importante evento para a ampliação dos estudos cabo-verdianos no Brasil. E estarei lá!

À tarde, dei uma passada no grupo de trabalho “Angola, Cabo Verde e Moçambique: as Literaturas e as Artes”, coordenado pela Profa. Dra. Carmen Lucia Tindó Secco. Tive o prazer em revê-la e ouvi três belas comunicações que trilhavam a linha tênue entre a Literatura e a História, sendo que duas envolviam a obra de José Saramago em comparação com os angolanos Pepetela e Boaventura Cardoso, e a outra investigava a história angolana através do romance “O vendedor de passados” de José Eduardo Agualusa.

Depois disso, tive a felicidade em encontrar três colegas, Denise, Carlinhos “Doutor” e Cristina, que formaram comigo a primeira turma da pós-graduação África/Brasil: laços e diferenças, da Universidade Castelo Branco. Deu para matar a saudade!

Ao final do evento, fiquei com uma ótima impressão do que participei e destaco a excelência dos trabalhos apresentados, a oportunidade de reencontrar pessoas que estimo, conhecer novos colegas e ampliar os contatos na área. Valeu!

Ricardo Riso

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O desafio do escombro - nação, identidades e pós-colonialismo na literatura da Guiné-Bissau


O DESAFIO DO ESCOMBRO
NAÇÃO, IDENTIDADES E PÓS-COLONIALISMO
NA LITERATURA DA GUINÉ-BISSAU

MOEMA PARENTE AUGEL
Garamond Universitária
2007

LITERATURA AFRICANA, TEORIA E CRÍTICA LITERÁRIA
*Informações gentilmente cedidas pela Profa. Dra. Moema Parente Augel, em e-mail do dia 25/09/2006.

Moema Parente Augel nos presenteia, agora, com seu belo e consistente ensaio O desafio do escombro: nação, identidades e pós-colonialismo na literatura da Guiné Bissau, na origem sua tese de doutoramento. Desde o título, a autora nos leva a nós, seus leitores, a ler, conforme nos ensina Barthes, “levantando a cabeça”, para, cúmplices de seu gesto crítico, desafiarmos os próprios escombros com os quais, como sujeitos culturais de países ditos periféricos, temos de nos confrontar a cada passo.
Muito embora o objeto do olhar de Moema seja a literatura da Guiné Bissau, literatura esta sobre a qual, de modo lúcido e percuciente, se debruça desde suas primeiras manifestações até a contemporaneidade, percebe-se que a obra ultrapassa seu próprio objeto, ao se fazer um espaço de reflexão sobre três questões básicas que mobilizam a todos nós, ou seja: “nação, identidades e pós-colonialismo”. Por esse motivo, o ensaio vai além de seu objetivo primeiro – muito importante, aliás, já que há poucas obras sobre a literatura guineense – para alargar-se e nos ajudar a entender melhor as questões mais cruciais de nosso tempo, marcado pela globalização e pela pulsão neoliberalizante, ambas instrumentos impositivos que achatam as diferenças e reforçam as hegemonias ainda hoje infelizmente vigentes. Somos levados, pela voz crítica da estudiosa, a repensar como se faz doloroso o adiamento dos sonhos e como continua a fazer sentido a luta por reforçarmos as nossas faces identitárias, mesmo que seja no espaço da obra literária, seguindo o exemplo dos escritores cujas obras são por ela lidas e analisadas de modo apaixonado, sem que se abandone o rigor científico.
Percorrendo O desafio do escombro, vemos surgir, frente aos nossos olhos, a Guiné Bissau, rasurando-se o desconhecimento de muitos de nós sobre essa nação africana, nossa irmã na frátria da língua portuguesa. Deparamo-nos, assim, com a geografia física e humana do país, surpreendida nos traços que a definem; nos sujeitos humanos que a compõem; nas estórias, cantos e contos que habitam o imaginário dos seus povos resgatados em sua multiplicidade lingüística e cultural de base. Tudo se projeta no espelho do texto crítico, pela leitura cúmplice, rigorosa e apaixonada de Moema Parente Augel, que tenta, por ela, leitura, como propõe Schneider, “recobrir o mais possível a escritura” que a mobiliza. Com certeza a Guiné Bissau lhe agradecerá por seu gesto amoroso e solidário e o leitor atento também a ela agradecerá por lhe propiciar o reconhecimento de seu próprio jogo especular identitário.
Laura Cavalcante Padilha

Moema Parente Augel
O DESAFIO DO ESCOMBRO. Nação, identidades, pós-colonialismo na literatura da Guiné-Bissau. Rio de Janeiro: Garamond, 2007, 422 p.

O DESAFIO DO ESCOMBRO é um estudo pioneiro de Moema Parente Augel que trata da literatura contemporânea da Guiné-Bissau, numa abordagem plural à luz dos Estudos Culturais, cruzando conhecimentos e questionamentos sobre ancestralidades, identidades e resistências culturais às velhas e novas formas de colonialismo. A autora, neste ensaio lúcido e consistente, acompanha os diversos momentos da poesia e da prosa guineenses, enquanto espaço de projeção identitária, detectando o papel que assumem seus escritores que, desconstruindo a história hegemônica, se empenham na afirmação da nacionalidade, através das representações simbólicas que fazem a singularidade dessa literatura quase desconhecida, mesmo do público de língua portuguesa.

A conjuntura literária da Guiné-Bissau dos anos 90 em diante é decididamente marcada pela força da dicção de Abdulai Sila e o tratamento do inverso em Mistida; pela recuperação da memória ancestral no cantopoema de Odete Semedo No fundo do canto; pelo acerto de contas de Filinto de Barros com os “Comandantes” e a visão dos esquecidos em Kikia Matcho; pelo riso irônico, divertido e participante das crônicas de Carlos Lopes em Corte Geral, assim como pela multifacetada busca identitária e pela afirmação da diferença nos poemas de Tony Tcheka, Félix Sigá, Huco Monteiro, Respício Nuno, entre outros.

Moema Parente Augel, em O DESAFIO DO ESCOMBRO, analisa e apresenta esses autores e seus textos descolonizados, onde os ecos da opressão colonial e seus prolongamentos transparecem no tecido literário, interligando as práticas de resistência e recuperação da história à arquitetação do futuro. A obra ressalta como esses escritores partem dos destroços de uma utopia em ruínas, promovendo o ressarcimento da auto-estima e do respeito; lutam contra a anulação cultural do acervo simbólico tradicional e a homogeneização redutora das diferenças que constituem a especificidade guineense; apontam pistas para a revivência do espírito identitário da comunidade nacional. Elevando suas vozes testemunhais, reabilitam a história dos vencidos e plasmam, com seus textos, a representação simbólica de uma comunidade de destino, de história e de cultura: a Guiné-Bissau;

Nota sobre a autora:
Moema Parente Augel é Licenciada em Letras pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), Mestra em Ciências Humanas pela mesma Universidade e Doutora em Literaturas Africanas pela Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Radicada na Alemanha, foi professora de Português e Cultura Brasileira nas Universidades de Bielefeld e Hamburgo, encontrando-se aposentada desde 2006. Dedica-se há décadas à literatura afrobrasileira e à literatura guineense. Tendo vivido na Guiné-Bissau entre 1992 e 1998, vem publicando uma série de estudos a respeito, destacando-se a Nova Literatura da Guiné-Bissau ((Bissau: INEP, 1998, 466 p.). Outras publicações: Ora di kanta tchiga. José Carlos Schwarz e o Cobiana Djazz (1997); Schwarze Prosa. Prosa Negra. Afrobrasilianische Erzählungen der Gegenwart. (1992); Schwarze Poesie. Poesia Negra. Afrobrasilianische Dichtung der Gegenwart (1988, 1988².); Visitantes estrangeiros na Bahia oitocentista (1980).


MOEMA PARENTE AUGEL
O DESAFIO DO ESCOMBRO - NAÇÃO, IDENTIDADES e PÓS-COLONIALISMO NA LITERATURA DA GUINÉ-BISSAU

RESUMO

AUGEL, Moema Parente. O desafio do escombro: nação, identidades, pós-colonialismo na literatura da Guiné-Bissau. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2007.

A busca identitária na África como nas Américas, se quiser escapar da autocolonização, terá forçosamente que encontrar definições face ao violento processo de anulação das diferenças e das especificidades culturais vivenciadas pelos novos estados.
Os autores guineenses, com seus textos descolonizados, a partir tanto da recuperação da memória ancestral pelo jogo intertextual com as tradições, quanto pela desconstrução e reterritorialização da herança colonial prolongada pelo neocolonialismo e pelo autocolonialismo, representam uma resposta e uma reação, no nível da fabulação e da apropriação simbólica, à dependência dos parâmetros ocidentais e hegemônicos.

A literatura guineense oferece fecundos elementos para uma reflexão sobre a identidade nacional e acerca de como o discurso estético-literário nos contempla com construções de significados de nacionalidade que substituem, ou podem pelo menos substituir, a falência (e a falácia) do discurso ufanista, autocelebrante do poder autoritário, ainda ancorado nas glórias das lutas libertárias.
A força da dicção de Abdulai Sila em Mistida, o brado de Odete Semedo em No fundo do canto, o acerto de contas de Filinto de Barros em Kikia Matcho, as crônicas divertidas e irônicas de Carlos Lopes, assim como os poemas de Huco Monteiro, Respício Nuno, Félix Sigá ou Tony Tcheka, entre outros, marcam a conjuntura literária da Guiné-Bissau dos anos 90 em diante e mudam os contornos da figuração da identidade nacional, neste momento em que as promessas já nada dizem nem nada representam.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Igualdade das relações étnico-raciais na escola


A publicação aborda os resultados da Consulta Étnico-racial, pesquisa realizada em São Paulo, Salvador e Belo Horizonte junto a quinze escolas de educação infantil e ensino fundamental das redes municipais de ensino sobre a implementação da lei 10.639/2003. A Lei estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em toda a educação básica. Participaram da pesquisa professores, coordenadores pedagógicos, diretores, funcionários e os pais, mães ou responsáveis pelos alunos.

Esta publicação foi uma produção da Ação Educativa, o CEERT – Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, o Ceafro, o Mieib – Movimento Interfórum de Educação Infantil do Brasil, o Núcleo de Relações Étnico-Raciais e de Gênero da Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, Editora Peirópolis, o Instituto C&A e a Save the Children UK.

Local: Kitabu Livraria Negra
Data: 25/09/2008
Horário: 19h30
Endereço: Rua Joaquim Silva, n. 17
Tel: 2252-0533

No dia do lançamento o livro será distribuído.


A Kitabu Livraria Negra está de cara nova, e você é nossa(o) convidada(o) para conhecer esta nova fase: com mais espaço, mais conforto e novo horário de funcionamento, abriremos todos os sábados das 11:00 às 16:00.

No próximo dia 25 de Setembro, vamos receber a autora Analu Silva Souza, para uma conversa e o lançamento do livro Igualdade das relações étnico-raciais na escola: Possibilidades e desafios para implementação da lei 10.639/03. No dia do lançamento o livro será distribuído gratuitamente.

Aguardamos vocês.

Saudações
Equipe Kitabu
Fonte: e-mail enviado pela Kitabu no dia 23/09, às 23h27.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Domingos Sodré, um sacerdote africano

DOMINGOS SODRÉ
UM SACERDOTE AFRICANO
- Escravidão, liberdade e candomblé na Bahia do século XIX
João José Reis

http://www.companhiadasletras.com.br/
Capa Mariana Newlands
Páginas 464
Formato 14,00 x 21,00 cm
Peso 0,541 kg
Acabamento Brochura
Lançamento 16/09/2008
ISBN 9788535912869
Preço R$ 58,00

O perfil de Domingo Sodré vem se somar a outros estudos biográficos de indivíduos que experimentaram a escravidão e depois conseguiram superá-la, como Rosa Egípcia, Chica da Silva, Caetana, Liberata etc. Retirados do anonimato, esses trajetos individuais permitem nova compreensão da sociedade brasileira oitocentista, crivada por tensões entre camadas sociais e códigos culturais distintos. Reinventando valores e práticas, africanos natos como Domingos funcionam como mediadores culturais no Brasil escravista: circulam entre o candomblé e o catolicismo, a medicina africana e a ocidental, a justiça dos pretos e a dos brancos. A condição de "feiticeiro" e adivinho confere a Domingos lugar social particular. Se, por um lado, é perseguido em razão de práticas "mágicas" consideradas perigosas, por outro, a posição de líder religioso permite-lhe barganhar algum espaço no mundo dos brancos.
Tomando a trajetória de Domingos como fio condutor, e cotejando-a com outros perfis e experiências, o livro traça um mapa complexo das relações sociais do Brasil do século XIX, em que violência, perseguição policial e desqualificação social de escravos e libertos combinam-se com compadrios e protecionismos de todo o tipo. Alianças perversas que, longe de contribuírem para diminuir distâncias sociais, reforçam-nas.

V Seminário Educação e população negra: fundamentos para a educação das relações étnico-raciais

Universidade Federal Fluminense
Faculdade de Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação
Programa de Educação sobre o Negro na Sociedade Brasileira - PENESB

V Seminário Educação e população negra: fundamentos para a educação das relações étnico-raciais


01 a 04 de dezembro de 2008

Local: Faculdade de Educação
Niterói – Rio de Janeiro

Penesb: Tel.fax (21) 2629-2686/2687



Programação
Dia 01/12 – Segunda feira


Local: Teatro da UFF – Rua Miguel de Frias, nº 9, Icaraí - Niterói-RJ
15h às 17h: Inscrições e entrega de material.
18h: Abertura solene.
19h: Conferência de Abertura.
Local: Teatro da UFF – Reitoria.
Conferencista: Prof. Dr. Kabengele Munanga – USP.

Dia 02/12 - Terça feira

9h às 12h: Conferência: Desafiando o racismo na vida cotidiana e no movimento negro.
Local: Auditório Florestan Fernandes – Faculdade de Educação
Profª. Philomena Essed, PHD. – USA. Antioch University
Prof.Dr.Carlos Benedito Rodrigues da Silva-UFMA
Coordenadoras:Profª Drª Maria Alice Resende – UERJ.
Profª Inti Maya Soeterik – Amsterdam University.

14h às 17h: Mini-Cursos.
17h às 19h: Apresentação de Pôster e Lançamentos de livros

19h às 22h - Mesa Redonda: Diáspora Africana.
Local: Auditório Florestan Fernandes – Faculdade de Educação.
Prof. Dr. Julio César Tavares – UFF.
Prof. Dr. Jacques D’Adesky – UCAM.
Coordenador/Debatedor: Prof.Dr. Marcelo Pinto – UFF( a confirmar)

Dia 03/12 - Quarta feira

9h às 12h: Mesa Redonda: Arte, Literatura e Educação em uma perspectiva afro brasileira.
Local: Auditório Florestan Fernandes – Faculdade de Educação
Profª. Drª Márcia Maria de Jesus Pessanha – UFF
Prof. Roberto Canduru – UERJ
Profª. Maria da Conceição Evaristo de Brito – UFF
Coordenador: Profª. Dr. Roberto Carlos da Silva Borges (CEFET/RJ)

14h às 17h: Mini-Cursos.
17h às 19h: Apresentação de Pôster e Lançamentos de livros
19h às 22h: Mesa Redonda: Classificação Etnico-racial e políticas públicas
Local: Auditório Florestan Fernandes – Faculdade de Educação.
Profª Dra. Moema de Poli Teixeira - IBGE/UFF
Prof.Dr. Kaizô Iwakami Beltrão - IBGE
Prof. Dr. José Luiz Petruccelli - IBGE
Coordenador: Prof. Dr. Paulo Cesar Carrano - UFF.

Dia 04/12 – Quinta feira

9h às 12h: Mesa Redonda: Imagens do negro e educação
Local: Auditório Florestan Fernandes – Faculdade de Educação.
Profª. Drª. Maria Lucia Rodrigues Muller - UFMT
Dr. Joel Zito Araujo – Cineasta
Prof.Dr. Celso Luiz Prudente-USP
Coordenadora: Profª Drª Ligia Segala – UFF (a confirmar)

14h às 17h: Mesa Redonda: Teoria Social e Relações Raciais.
Local: Auditório Florestan Fernandes – Faculdade de Educação.
Prof. Dr. Antonio Sérgio Alfredo Guimarães – USP.
Profª. Dra. Giralda Seyferth – UFRJ (a confirmar)
Profª Denise Ferreira de Silva PhD. – Califórnia University (a confirmar)
Coordenadora: Profª. Drª. Marília Salles Falci Medeiros - UFF

18h às 21h: Grupos de Trabalho:
Local: Faculdade de Educação

Inscrições
As inscrições podem ser feitas:
Pela Internet, acessando o site: www.uff.br/penesb, enviando por fax ou correio a cópia do comprovante de depósito pago junto com a ficha de inscrição preenchida.
Pelo correio no endereço: Faculdade de Educação Penesb/UFF - Rua Visconde do Rio Branco 882 – Campus do Gragoatá –– Bloco D – sala 509 – São Domingos – Niterói RJ - CEP 24020-200.
Pessoalmente no Penesb.

Forma de Pagamento:
Através de Guia de Recolhimento da União (GRU).
UG:153056 Gestão:15227
Código de recolhimento: 28830-6
Número de referência: 0250158285
Competência: 09/2008
Nome do Contribuinte:
CPF do Contribuinte:
A GRU poderá ser preenchida pela Internet através da pagina:
http://www.stn.fazenda.gov.br/siafi/index_GRU.asp ouhttp://www.uff.br/ – Link (GRU) e efetuar o pagamento em qualquer agência do Banco do Brasil

Inscrição de trabalhos: 08 de setembro a 8 de outubro/2008.
Divulgação dos resultados da seleção de trabalhos: 31/10/2008
Taxa de inscrição:
Categoria xxxxxxxxxxxxxxxxxAté 30/10/08 xAté 30/11/08xNo evento
Docente ensino superior xxxxxxR$ 60,00 xxxxR$ 70,00 xx R$ 80,00
Docente escola básica. xxxxxxxxR$ 30,00 xxx R$ 40,00 xxxR$ 50,00
Estudante de Graduação e Pós xR$ 30,00 xxxxR$ 35,00 xxxR$ 40,00
Estudante escola básica xxxxxx R$ 10,00 xxxxR$ 15,00 xxxR$ 20,00
Outros xxxxxxxxxxxxxxxxxxxR$ 40,00 xxxxR$ 45,00 xxxR$ 50,00

Eixos Temáticos para Inscrição de Trabalhos:
· Ensino Religioso na Educação Multirracial.
· Arte na Educação Escolar.
· Ação Afirmativa em Educação.
· A Implementação da Lei 10.639/03 nos diferentes graus de ensino.
· Gênero, Educação e Relações Raciais.
· Relações Raciais e Currículo.
· Relações Raciais e Desempenho Escolar.
· A questão racial na educação superior: currículo, acesso e permanência.
· Funk, Hip Hop e Educação.
· Cultura, Memória e Territorialidade.
· O negro na Historia da educação brasileira
· O negro na literatura.

Relação dos Mini-Cursos:

Dias: 02 e 03/12
Filosofia Griot na sala de aula
- Profª Perses Canellas e Profª Fernanda Thomaz
Negro e literatura - Profª Maria da Conceição Evaristo e Profª Fernanda Felisberto da Silva
África na sala de aula - Profª Monica Lima
Ser negro na história e sociedade brasileira - Profº José Barbosa S. Filho
Juventude negra - Observatório Jovem, Monica Sacramento e Priscila da Cunha Bastos
Religiosidade de matriz africana - Prof. Rogério Capelli
A Questão racial no ensino de geografia -
Profª Leomar Vazzoler e Profº Denílson Araújo de Oliveira
Educação Literária afrodescendente na Escola de Ensino Médio: Subsídios para a revisão de textos escolares - Prof. Murilo da Costa Ferreira
Ideologia, Educação e negritude -
Profª Maria Elena Viana Souza
Machado de Assis, Cruz e Sousa e Lima Barreto: intelectualidade negra na Cidade das Letras no século XIX - Prof. Roberto Carlos da Silva Borges e Profª Fátima Maria de Oliveira
A Questão racial na Educação Física - Profª Vilma de Pinho e Prof. Marcelo Siqueira
Contribuições africanas na língua portuguesa - Profa. Candida Soares da Costa
A Questão racial no ensino de Ciências - Profª Edinéa Jerônimo
Raça, Currículo e Práxis Pedagógica - Profª Márta Diniz Paulo

sábado, 20 de setembro de 2008

FLIPORTO 2008 - Trilhas da Diáspora: Literatura em África e América Latina

FLIPORTO 2008
Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas
Trilhas da Diáspora:
Literatura em África e América Latina
6 a 9 de novembro de 2008

http://www.fliporto.net/


PROGRAMAÇÃO LITERÁRIA

Entre oficinas, debates, mesas redondas e entrevistas, o encontro do leitor com o livro e seus autores.

Já confirmados:

Ana Paula Tavares, José Eduardo Agualusa, Marcelino dos Santos, Paulina Chiziane, Pepetela, Quincy Troupe, Wangari Maathai e os brasileiros Affonso Romano de Sant'Anna, Alberto da Costa e Silva, Ariano Suassuna e Thiago de Mello.

EM BREVE, PROGRAMAÇÃO COMPLETA!

"Na praia de Porto de Galinhas, antigo porto de escravos, nos dias 06 a 09 de novembro, dar-se-á o encontro/reencontro das etnias: escritores de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, debatendo temas de interesse comum com escritores brasileiros, hispano-americanos, autores portugueses e espanhóis estudiosos do pós-colonialismo, teóricos fundamentais contemporâneos dos estudos inter-étnicos e culturais. "

ANTÔNIO CAMPOS


BLOG:
http://blog.fliporto.net/

FLIPORTO 2008
http://www.fliporto.net/abertura.html

A terceira versão da FLIPORTO, realizada em setembro do ano passado, internacionalizou-se e transformou o Brasil em um pólo congregador dos países latino-americanos, treze deles fazendo-se representar através de vários de seus escritores: Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Nicarágua, Paraguai, Peru, Porto Rico, República Dominicana,Uruguai, Venezuela. Angola foi representada por Agualusa e a Galícia por Xosé Lois Garcia. Foram ao todo 135 participantes, sendo 40 estrangeiros (cinco deles radicados em Pernambuco), 40 escritores dos vários Estados e 55 pernambucanos.

Os homenageados foram: Frida Kahlo; que no ano passado completaria 100 anos de nascimento, Hermilo Borba Filho; Ariano Suassuna; Gabriel García Márquez; Moacyr Scliar; Gabriela Mistral; Carice Lispector; Nélida Piñon; Marcus Accioly; Abreu e Lima e José Olympio. Entre os muitos escritores, Antonio Torres, Antonio Carlos Secchin, Márcio Souza, Sábato Magaldi, Thiago de Mello, Vicente Franz Cecim (Brasil); Fabian Casas (Argentina); Armando Romero e Daleth Restrepo (Colômbia), Alex Pausides e Aitana Alberti (Cuba); Odi González (Peru), Francisco Ruiz Udiel (Nicarágua), Etnairis Rivera(Porto Rico), Rei Berroa (República Dominicana).

A escritora Nélida Piñon foi responsável pela apoteose da abertura: "toda a história humana pode estar dentro de uma frase feliz", afirmou. Primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras, ocupando hoje a cadeira de número 30, e uma das principais homenageadas da FLIPORTO, Nélida repartiu experiências de criação com o público. "Acredito que não se pode ser um escritor moderno sem ser arcaico. Precisamos de no mínimo cinco mil anos de inspiração", defendeu a escritora, reverenciando a importância e contribuição da história para a literatura. Confessa apaixonada pelos clássicos gregos como Homero (autor de Ilíada e Odisséia) e do filósofo Aristóteles, Nélida acredita que "a arte nasce do caos, da riqueza humana”. A apoteose do encerramento esteve a cargo de Ariano Suassuna, com uma extraordinária aula-espetáculo, causando delírio na multidão que se comprimia no grande auditório do Hotel Armação.

O Brasil literário estava distanciado do resto da América Latina, acredito que a FLIPORTO contribuiu para uma reaproximação. De uma maneira quase informal, possibilitamos uma aproximação entre os escritores com o público que participou ativamente dos painéis. Sempre buscando a troca de experiências, a curadoria organizou os painéis mesclando escritores brasileiros com estrangeiros para ressaltar a diversidade e estimular a troca de experiências. Se as duas versões iniciais da FLIPORTO colocaram a cidade de Porto de Galinhas no calendário cultural do Estado de Pernambuco, a terceira lhe deu um destaque entre os encontros literários nacionais e internacionais. A partir de uma conjugação de lastro acadêmico atualizado com a vitalidade da presença do autor e do livro, em painéis estruturados conforme motivações estéticas e ideológicas, foi construída uma plataforma leve, ágil, mas consistente e profunda, no trato da literatura. Um formato de evento especial que retrata a experiência intercultural e a partir dela fez evoluir as exposições e debates, palestras, recitais, entrevistas e leituras. Curiosas oficinas literárias, como a de poesia quéchua pelo peruano Odi Gonzales, chamaram a atenção do público para culturas ancestrais da América Latina, mostrando como a cultura maia, por exemplo, antecipou, em muitos séculos, a linguagem cifrada dos modernos computadores.

Agora, nos estendemos à África, com o tema TRILHAS DA DIÁSPORA: LITERATURA EM ÁFRICA E AMÉRICA LATINA. Iremos nos ater mais detalhadamente aos países de língua portuguesa, porém celebrando autores como a primeira mulher africana negra a receber o Prêmio Nobel da Paz, Wangari Maathai (Quênia, 2004) e o primeiro africano negro Prêmio Nobel de Literatura, Wole Soyinka (Nigéria,1986).

Um nome confirmado para o evento deste ano é o angolano José Eduardo Agualusa, que inclusive já residiu em Olinda, cidade que o inspirou a escrever o livro Nação crioula. O objetivo é reunir 40 nomes nacionais. Outro escritor angolano já confirmado é Artur Pestana, mais conhecido por Pepetela, que foi vencedor do Prêmio Camões pelo conjunto de sua obra e militante do Movimento Popular pela Libertação de Angola. Ele está sendo homenageado este ano ao lado do moçambicano Marcelino dos Santos, escritor e membro fundador da Frente de Libertação de Moçambique.

A FLIPORTO também presta homenagem ao poeta negro Cruz e Sousa, fundador do nosso simbolismo, aos 110 anos de sua passagem, bem como o poeta baiano Castro Alves, pelos 140 anos da apresentação pública de Tragédia no Mar, que viria a se chamar O Navio Negreiro (1868). Nesta versão também é homenageado o grande escritor Jorge Amado, pelos 70 anos de publicação na França de Jubiabá, vitória obtida após haverem sido queimadas, no ano anterior, as edições de O país do carnaval, Suor, Cacau, Mar Morto, Capitães de Areia e o próprio Jubiabá, por determinação da Sexta Região Militar.

A FLIPORTO 2008 presta, ainda, uma significativa homenagem ao centenário do poeta negro pernambucano Solano Trindade, bem como aos 120 anos da Abolição. Outro homenageado é Josué de Castro nos cem anos de nascimento, bem como Machado de Assis, no centenário de sua morte. Entre os hispano-americanos, estão lembrados o poeta peruano César Vallejo e a poetisa argentina Alfonsina Storni, ambos assinalando 70 anos de sua passagem.

Na praia de Porto de Galinhas, antigo porto de escravos, nos dias 06 a 09 de novembro, dar-se-á o encontro/reencontro das etnias: escritores de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, debatendo temas de interesse comum com escritores brasileiros, hispano-americanos, autores portugueses e espanhóis estudiosos do pós-colonialismo, teóricos fundamentais contemporâneos dos estudos inter-étnicos e culturais.

E dar-se-á a travessia do Atlântico, mas no sentido inverso ao dos navios negreiros que trouxeram ao nosso continente mais de 9 milhões de escravos, a partir dos primeiros anos do século XVI. Aos 120 anos da Abolição, celebraremos o significado da África no Brasil e na América Latina, nós, afro-brasileiros, afro-latinos, latino-americanos a congregar os vários desdobramentos da diáspora africana nestes tempos pós-coloniais. Conscientes de suas vastas raízes, sabedores que os próprios iberos colonizadores já traziam dentro de si o sangue norte-africano, após oito séculos em que eles dominaram a península.

A FLIPORTO acontece de forma descentralizada, com programações literária, social, infantil e gastronômica. Este ano, a festa amplia o leque de opções para os participantes ao incluir um circuito turístico-cultural e um circuito de artes visuais, com exposições de artes plásticas e de fotografia. Quem estiver à distância, poderá acompanhar as discussões através de uma TV e Rádio ao vivo através da Internet.

Tudo dentro da perspectiva característica da FLIPORTO, que não vê a literatura como mero entretenimento, mas como fator educacional de formação humanística, de equilíbrio existencial por meio da imaginação, como parte arquetípica e ancestral da cultura, como princípio ético/estético a preencher o vazio e fortalecer no homem a coragem, a resistência, o gosto da beleza, a busca de si mesmo, a solidariedade e a alegria de, através do texto literário, comemorar o sonho e a magia de estar vivo, por entre a injustiça, o sofrimento e o absurdo.

ANTÔNIO CAMPOS

Setembro/2008

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fernando Kafukeno – o lirismo sublime da nova poesia angolana


Agradecimento especial à Professora Rosângela Freitas (UNESA), que me presenteou com o meu primeiro e solitário livro de Fernando Kafukeno.

A cada livro lançado, o angolano Fernando Kafukeno aprimora a sua verve poética calcada em lirismo, sinestesia, oralidade, erotismo, surrealismo e memória, surpreendendo seus leitores com imagens inusitadas que procuram resgatar a sensibilidade perdida em uma época crepuscular. Assim se apresentam os poemas de “Sublimação de Aresta” (Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2006, coleção Guaches da Vida nº 35).

Fernando Kafukeno nasceu em 18 de Novembro de 1962, na cidade de Luanda, capital de Angola. Lá, estudou e foi membro da Brigada Jovem de Literatura de Luanda. Seus primeiros poemas foram publicados no suplemento cultural do Jornal de Angola e seu primeiro livro de poesia foi “Boneca do Bê-Ó” (1993), seguido de “Na Máscara do Litoral” (1997), “Sobre o Grafite da Cera” (2000) e “Missangas! Kituta” (2000).

Kafukeno é contemporâneo dos poetas nascidos entre os anos de 1955 e 1965. Essa geração foi denominada como a “geração das incertezas” pelo também poeta e conceituado crítico literário angolano Luís Kandjimbo, em virtude de “na obra de todos eles, os temas mencionados emergem de uma profunda experiência geracional avassaladora e catastrófica, em que pesa a revolução, a guerra, a intolerância política” (SECCO, 2003, p. 189).

Ao radicalizar as propostas estéticas dos anos 1970 da “geração do silêncio” de Ruy Duarte de Carvalho, David Mestre e outros, a poesia angolana dos anos 1980/1990 abandona o cantalutismo até então predominante, diante das irrealizações políticas e sociais do país independente e das agruras e terror trazidos por uma violenta e duradoura guerra civil. Carmen Lucia Tindó Secco afirma que a nova geração apresenta um

“novo lirismo, reagindo a esse desencanto dominante no contexto social do país, abandona a utopia do nós coletivo e o engajamento revolucionário da poesia de combate. Funda uma poesis que dá vazão ao amor e às emoções individuais, assumindo um viés existencial e uma dicção universalista. Sob o signo de Eros, os poetas buscam exorcizar a morte e a dor. Operando uma revolução no âmago da linguagem, levam às últimas conseqüências a metaconsciência poética já praticada, desde os anos 70, por alguns dos poetas de Angola. (...) Ao suspender a prática cantalutista, lança na consciência dos leitores imagens do mundo mais humanas do que as tecidas pelas ideologias, desencadeando o desejo por uma vida mais autêntica e livre, pela qual vale a pena lutar” (SECCO, 2003, p. 189).

No início dos anos 1980 exerceu importante papel a Brigada Jovem de Literatura de Luanda, que motivou a criação de novas brigadas espalhadas por diversas cidades do país, como na Huíla e no Huambo. Nessas Brigadas, deparamo-nos com algumas características marcantes dos novos poetas assinaladas por Ana Mafalda Leite:

“As tendências de quase todos esses autores marcam-se pela procura de um rigor formal, aliado em maior ou menor grau a pesquisas temáticas, etno-antropológicas, lingüístico-regionais e ético-ideológicas. Oscilações entre a procura equilibrada de um nativismo universalizante, ou o encontro da casa própria aberta ao mundo. Procurando em simultâneo uma des(continuidade) com as gerações anteriores, verifica-se uma tentativa de balanço e compreensão da angolanidade na sua componente social e cultural, ao mesmo tempo que se tenta o desprendimento dos liames óbvios de sentido” (LEITE, 2006, p. 46).

É no campo da pesquisa lingüístico-regional que o livro “Sublimação de Aresta” de Fernando Kafukeno chama-nos a atenção. Leite recorre ao estudo de Salvato Trigo, “As literaturas africanas de expressão portuguesa – um fenômeno urbanístico”, para mencionar:

“a origem urbana dos textos das modernas literaturas africanas de língua portuguesa e o seu relativo isolamento da ruralidade. (...) A maioria dos escritores das literaturas africanas de língua portuguesa são assimilados, uma parte significativa de ascendência européia, quase todos de origem urbana, sem contacto directo com o campo, e não dominam, salvo raras excepções, as línguas africanas. Esse facto não é comum nos outros países africanos, onde a ligação com o ‘terroir’ se mantém desde a infância e os escritores geralmente são, pelo menos, bilíngües” (LEITE, 1998, p. 30).

Além do exposto acima, Leite considera o endurecimento da política salazarista, o desenvolvimento urbano, o início da guerra colonial nos anos 1960 e as guerras civis do pós-colonialismo “verifica-se que a relação das cidades com o mundo clânico e do interior, onde as tradições orais mais vivamente se mantêm, foi sendo cada vez mais perturbada e alterada” (LEITE, 1998, p. 31).

Com isso, inferimos o interesse dos escritores angolanos pelo falar dos musseques de Luanda. Dos representantes da angolanidade como António Cardoso ao jovem Ondjaki, passando pelo expoente máximo da subversão da língua portuguesa na literatura angolana, Luandino Vieira, constatamos que

“a oralidade é, à partida, uma relação em ‘segunda mão’, resultante, na maioria dos casos, não de uma experiência vivida, mas filtrada, apreendida, estudada. Mesmo a oralidade ‘mucéquica’, suburbana, para usar o termo de Salvato Trigo, é já parcialmente aculturada e híbrida, distante e diferente daquela que encontraríamos no campo” (LEITE, 1998, p. 31).

Os musseques reúnem pessoas de diversas regiões de Angola, de várias etnias, por isso convém utilizarmos o plural para “oralidade”, pois

“o plural serve-nos para significar o processo transformativo que a urbe provocou nas tradições rurais modelando-as e recriando-as. E usamo-lo ainda, para acrescentar outros elementos, provenientes de outras oralidades, de que a língua matriz é portadora na sua origem cultural. (...) O plural de ‘oralidades’ permite-nos (...) distinguir o modo de relacionamento dos escritores com a textualidade oral e com as línguas” (LEITE, 1998, p. 35).

A literatura angolana, assim como as demais literaturas africanas de língua portuguesa, apresenta uma especificidade em relação às outras literaturas africanas, pois, segundo Leite: “faz coexistir na maleabilidade da língua, o novo com o antigo, a escrita com a oralidade, numa harmonia híbrida, mais ou menos imparável, que os textos literários nos deixam fruir” (LEITE, 1998, p. 34).

Remetendo-nos ao que Roland Barthes afirmou em “Aula” a respeito do fascismo da língua, “pois o fascismo não é impedir de dizer, é obrigar a dizer” (BARTHES, 1977, p. 15). Para resolver esse impasse, Barthes propõe que a língua seja trapaceada através da arte, pois somente esta conseguirá quebrar o fascismo da língua:

“Só nos resta, por assim dizer, trapacear com a língua, trapacear a língua. Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura. (...) porque é no interior da língua que a língua deve ser combatida, desviada: não pela mensagem de que ela é instrumento, mas pelo jogo de palavras de que ela é teatro. Posso portanto dizer, indiferentemente: literatura, escritura ou texto. As forças de liberdade não dependem da pessoa civil, do engajamento político do escritor, (...) mas do trabalho de deslocamento que ele exerce sobre a língua.” (BARTHES, 1977, p. 16-17)

Trapacear a língua, subverter a sintaxe da língua portuguesa, contaminá-la com elementos das línguas nacionais angolanas, ou como salientou Édouard Glissant: “a questão sobre a escrita e a oralidade gera, nos dias de hoje, uma situação de angústia vivificante para o poeta, o escritor” (GLISSANT, 2005, p. 48). O angolano Fernando Kafukeno enquadra-se nessa angústia vivificante de fazer poesia em seus livros, pois percorre um caminho inovador nas letras angolanas que “se efetiva pela condensação metafórica e pelas metamorfoses gráficas de sua linguagem poética, onde texto, som e desenho se acumpliciam, numa permanente busca de corporização plástica e sonora da palavra, do verso e da estrofe” (SECCO, 2003, p. 191).

Na primeira parte de poemas de “Sublimação de Aresta”, intitulada Akualuanda, que em quimbundo quer dizer algo como natural de Luanda, apreendemos o mergulho na oralidade dos musseques reelaborados com criatividade pelo poeta. Utilizando metáforas inusitadas e surreais, em poemas, em sua maioria concisos, contaminados pelos falares das pessoas simples, Kafukeno “exacerba o exercício do aproveitamento das potencialidades intrínsecas da língua, primando, entretanto, por uma economia capaz de debastar o verbo poético de excessos” (SECCO, 2003, p. 190).

arreiou!... arreiou!...

aproveita agora
questou maluca

arreiou no
meu espelho
é cinquenta

aproveita agora
que tem
muito sol

arreiou!... arreiou
é dez no sumo

aproveita agora
questá chover

arreiou!... arreiou!...
é cem o balde

arreiou!... arreiou!...

compra agora
que tenho fome (p. 25)

No poema acima, depreendemos a feroz crítica social ao estado de penúria em que se encontram os angolanos e a revolução mostrou-se incapaz de solucionar os problemas sociais. Uma vendedora desespera-se com sua condição, e o eu lírico revisita um tema trabalho pela geração da Mensagem, geração responsável por sedimentar o sentimento de angolanidade nas letras, como no poema “Quitandeira” de Agostinho Neto:

(...) A quitandeira
que vende fruta
vende-se.

– Minha senhora
laranja, laranjinha boa!

Compra laranjas doces
compra-me também o amargo
desta tortura
da vida sem vida.

(...) Aí vão as laranjas
como eu me ofereci ao álcool
para me anestesiar
e me entreguei às religiões
para me insensibilizar
e me atordoei para viver.

Tudo tenho dado.

Até mesmo minha dor
e a poesia dos meus seios nus
entreguei-as aos poetas.

Agora vendo-me eu própria.
– Compra laranjas
minha senhora!
Leva-me para as quitandas da Vida
o meu preço é único:
– sangue.

Talvez vendendo-me
eu me possua.

– Compra laranjas! (NETO, 1986, p. 31-33)

Por outro lado, apesar de todas as agruras passadas pelos angolanos, em “Sublimação da Aresta” há a valorização das quitandeiras como presença genuína de identidade, do orgulho com a paisagem local e com os frutos da terra:

quando fores
ao mercado s. paulo
compra maboque

fruta docinha
da nossa terra

e terás de oferta
o sorriso pitanga
das kitandeiras

quando fores
ao mercado s. paulo

compra sape-sape

fruta saborosa
da nossa terra

e terás de oferta
aroma gajaja das
kitandeiras (p. 23)

A oralidade também se faz presente em poemas acerca das lembranças das brincadeiras da tenra idade, época de espontaneidade e vigor do falar híbrido nos musseques, metonimizados nos jogos infantis, como a cassambula, e nos conflitos entre os ndengues (meninos). Conflitos que fazem alusão aos tenebrosos anos de guerra fratricida ainda intensos na memória do poeta em razão dos poucos anos do seu fim, em 2002:

cassumbula!

– tá!
o som da
bofa

e a xandula
do avilo

no bucho (p. 11)

vais ver só:
(o gesto da
língua na palma
da mão mostrada
em seguida
ao adversário)

desforra marcada
– ninguém acode!...
exalta de ânimo
: a assistência

e a peleja evolui
entre cafriques
bassulas e quedas
à pescador

e os ndengues berram:
bilóóó!... bilóóó!... bilóóó!... (p. 19)


– abeçaite! – abeçaite! – abeçaite!
– arevista ninguém marevista!

os haveres do revistado
transitam de dono

– fala acum!
– acum!
– bate café!

o afrontado bate na mão
adversária cheia de areia

a peleja fulmina

– abeçaite! – abeçaite! – abeçaite!
– arevista ninguém marevista! (p. 18)

Em uma linguagem espiralada rememorando a infância e refazendo seus diálogos, o eu lírico apresenta um acalanto às cruéis pelejas dos caóticos tempos de guerra. Refazer as tradições esgarçadas, recriar poeticamente a oralidade angolana massacrada por séculos de opressão é o belo e fecundo exercício que se dispõe a poética de Fernando Kafukeno. Segundo Laura Cavalcante Padilha,

a oralidade é (...) o alicerce sobre o qual se construiu o edifício da cultura nacional angolana nos moldes como hoje se identifica. Praticá-la foi mais que uma arte: foi um grito de resistência e uma forma de auto-preservação dos referenciais autóctones, frente à esmagadora força do colonialismo português. (PADILHA, 1995, p. 17)

A força da palavra oral é utilizada pelo eu lírico kafukeniano para denunciar o crescimento urbano de Luanda, que modifica a paisagem tradicional, conseqüentemente, dissipa as tradições, fragilizadas por tantos anos de amarga repressão:

samba kimongua era
musseque com beiço de mar (...)

em samba kimongua o comboio
já não apita está estático embelezado
virou restaurante

samba kimongua de dia navega em barcos
de noite acende as luzes do mar

em samba kimongua chilreiam pássaros
nos jardins com sabor a piscina e charuto (p. 24)

O poema “estória.estória” é um dos grandes momentos do uso da oralidade em “Sublimação de Aresta”. Neste poema, há o início das estrofes com os versos “vou-vos pôr a estória que me contaram no tempo em que Luanda tinha”, chamando a atenção do ouvinte para o ensinamento do passado que será transmitido, há também a repetição do estribilho “estória. estória”. Sendo assim, visualizamos a ruptura do passado dos musseques, sendo engolidos pela sanha da modernidade, expelindo os rituais religiosos, a vegetação local com a urbanização, a mudança de comportamento das crianças.

vou-vos pôr a estória que me
contaram no tempo em que Luanda
tinha jimbondo e a makua comia-se
pouca com medo do mbumbi

estória. estória

vou-vos pôr a estória que me contaram
no tempo em que Luanda tinha mulembas

estória. estória

e nesse tempo Luanda era
cidade da baixa e do musseque
nos jimbondos e mulembas
que estavam nos musseques
fazia-se umbanda e uanga

estória. estória

vou-vos pôr a estória que me contaram
no tempo em que Luanda tinha
cajueiros pitangueiras maboqueiros
gajajeiras romãzeiras figueiras e macieiras da índia
e os ndengues do musseque jogavam bola de meia
e tomavam banho nas cacimbas

estória. estória

e os prédios e as vivendas estavam pouco a pouco
a entrar na barriga do musseque

vou-vos pôr a estória... (p. 26-27)

ou seja, depreendemos as lembranças de um tempo do outrora que resiste na memória do griot a cumprir o seu papel de transmitir a cultura local, que é reconstruída e reintroduzida na vida angolana contemporânea poeticamente pelo eu lírico kafukeniano. Nele, inferimos o resgate pelo caminho das letras da tradicional narrativa oral na tentativa de perpetuar essa forma de comunicação, conforme denunciou Walter Benjamin ao dizer que uma das características perversas da modernidade era a perda da narrativa oral. Com isso, vemos singelas imagens do passado descritas pelo eu lírico, transfigurado em griot, que refaz a participação do público ouvinte, agora, leitor, valendo-se do estribilho. Essa relação entre o griot e seus ouvintes é esclarecida por Laura Padilha:

Na festa do prazer coletivo da narração oral, entre os grupos iletrados africanos, é pela voz do contador, do griot, que se põe a circular a carga simbólica da cultura autóctone, permitindo-se a sua manutenção e contribuindo-se para que esta mesma cultura possa resistir ao impacto daquela outra que lhe foi imposta pelo dominador branco-europeu e que tem na letra a sua mais forte aliada. A milenar arte da oralidade difunde as vozes ancestrais, procura manter a lei do grupo, fazendo-se por isso, um exercício de sabedoria.
O contador e seus ouvintes são seres em interação para quem o dito cria a necessária cumplicidade e reitera que é preciso ser, na força da diferença, preservando-se, com isso, o vasto manancial do saber autóctone. Do ponto de vista da produção cultural, a arte de contar é uma prática ritualística, um ato de iniciação ao universo da africanidade, e tal prática e ato são, sobretudo, um gesto de prazer pelo qual o mundo real dá lugar ao momento meramente possível que, feito voz, desengrena a realidade e desata a fantasia. (PADILHA, 1995, p. 15)

A valorização da cultural tradicional de Luanda expressa-se sinestesicamente com as referências aos hábitos alimentares da população dos musseques, que já aparecia no poema “mercado s. paulo”, mas é re-elaborada em outros poemas com imagens surreais a recordar os angolanos dos costumes esgarçados da terra, como apreendemos nos dois exemplos abaixo:

mufete

lambula assada ao lume
carvão vegetal com escama
guelra e tripas

suco de limão
sal e gindungo na
gula do paladar (p. 13)

kitaba

ginguba torrada
com areia musseque
descasca
se
e

pisa
se no
pilão com gindungo

a gosto (p. 14)

A descrição da dieta alimentar dos musseques é corriqueira na literatura angolana, outro expoente da “Mensagem”, António Cardoso, no conto “Contratado” do livro “Baixa & Musseques” relata:

“Entretanto, a mulher colocara na esteira dos pratos de barro, um, com peixe seco em molho de água, óleo de palma, jindungo e sal, noutro, a fubá de bombo cozida que estivera a remexer no final da conversa, com todo o carinho como se a operação fosse preciosa” (CARDOSO, 1985, p. 199).

Para encerrar a primeira parte, dois poemas retratam as brincadeiras com os papagaios dos tempos de criança. Reminiscências da tenra idade, alegoria dos projetos inacabados da revolução angolana, incapazes de acabar com o abismo social da nação no pós-colonialismo, cuja a imagem dos papagaios sendo levados pelo vento e a corrida (ndengue) infrutífera dos meninos representam:

meu papagaiouééé!...
deu atum... deu atum... deu atum...

e os ndengues na berrida solidária
pelos becos do musseque olhando
o papagaio de papel que esvoaça

meu papagaiouééé!...
deu atum... deu atum... deu atum...

e os ndengues regressam suados
só com a imagem do
papagaio de papel a esvoaçar

meu papagaiouééé!...
deu atum... deu atum... deu atum... (p. 32)

Nos poemas da segunda parte, Malanje e canções II, o eu lírico kafukeniano invoca a força do elemento primordial da natureza, a água (que aparece em todo o livro), sendo representada pelos rios nacionais Malanje e Kinaxixi, e figuras mitológicas do mar como a Kianda, e históricas da resistência angolana como a Rainha Ginga e Ngola Kiluanje. De acordo com notas da edição do livro “Sagrada Esperança” de Agostinho Neto, aqui utilizado por nós, a primeira era uma “rainha corajosa e hábil que liderou a guerra de resistência contra o domínio português, durante mais de trinta anos” (NETO, 1986, p. 119), e viveu de 1581 a 1663. Enquanto Ngola Kiluanje foi “rei da região do Ndongo que em 1590 chefiou a primeira coligação, conduzindo o seu povo na luta de resistência ao colonialismo português até a sua morte em 1617” (NETO, 1986, p. 119).

Para celebrar o passado ancestral de resistência contra a colonização, três poemas são dedicados à Rainha Ginga e aqui citamos apenas um. O eu lírico inspira-se na força guerreira, na força do rio e no mito da Kianda para direcionar o presente na reconstrução nacional:

rainha

aí estás
de rosto severo

impondo o machado
e trajada de vestes

soberana

no kinaxixi
da nossa kianda

aí estás
de rosto severo

resplandecendo
força e poder aos
seres e aos astros (p. 40)

Em “malanje e guerra”, o universo onírico é convocado para libertar o eu lírico enunciador dos traumas da guerra, conduzindo-o de um tom crepuscular ao recomeço de um país que teve seus sonhos abortados:

a cidade tomava
a forma da noite

o sol caía no rio malanje
e incendiava o susto
da imaginação

o orvalho gotejava
fogo sobre cangandala

e as palancas negras
se abrigavam nas quedas
de monte condo

no xauande homens
decapitados e manietados

dos olhos da fuga
falavam com as imbambas

e sonhavam
o renascer da flora
e da fauna

no incêndio do sol
sobre o rio malanje (p. 35)

Na última parte do livro, “mar e aves”, os poemas são breves, compostos de metáforas insólitas e inusitadas. O uso corrente da sinestesia busca aguçar a sensibilidade esgarçada dos angolanos, valendo-se de um eu lírico surrealista que surpreende com imagens impactantes, desconexas e rápidas reapresentando a possibilidade de sonhar, como nos quatro poemas a seguir:

os mochos cantam
no tempo o som da puíta

os mochos no tempo
tocam o ngoma e vestem (p. 49)


surda a penumbra
habita o lago

da flora. a seca
surda colhe vales (p. 52)


máscara: olhos sem
riso e sem som

máscara: feitio de areia
nos lábios da fuga (p. 53)


eu oiço: as vozes
das janelas que não
falam: são janelas
de areia no vidro
do ar (p. 54)

As imagens insólitas, sombrias e fraturadas confundem os sentidos. A fragmentação do sonho angolano dilacerado pelos sangrentos conflitos é tratada crepuscularmente pelo eu lírico em “luar sem lobos”:

a insígnia
da noite

calça
me a tese
do mar

em retalhos (p. 57)

Através do poder da palavra, a tessitura melancólica dos versos marca a trajetória esgarçada do país. Travestido em desencanto, o poema “quadro 30”, alegoricamente, representa os trinta anos da independência angolana e o percurso da euforia até a distopia com os rumos desencontrados durante o pós-colonialismo, agora mergulhado na inescrupulosa ordem neoliberal:

saibam que a bonança
esburacou este quadro
a sua tela já foi de argamassa
agora é papelão qualquer
captando audiência quando
apresenta o filme em que a
pintura sai da tela e viaja para lua (p. 48)

Testemunha ocular do conturbado processo de reconstrução da nação angolana, Fernando Kafukeno alegoriza o desespero diante dos pesadelos atuais, motivado pelo dilaceramento das propostas do país independente:

de tijolo e cimento
nasceste dei-te água e funge

e nada sei da tua nova miséria
ou do que te tolhe a alma

morri antes da notícia
dos cães no vidro do sítio (p. 50)

A situação vivenciada por Angola nas últimas três décadas faz com que o eu lírico recorra ao surrealismo e explore metáforas insólitas com seres e elementos cósmicos para despertar a sensibilidade perdida, esfacelada por tantos anos de angústia, medo e opressão:

agora vivo impregnado
sob o diálogo dos veleiros
é tão assustador e eu nem
sequer sei quando há de
terminar porém vejo neste

diálogo balas cor de rosa a
povoarem o céu do meu encanto
o sol também fala aos peixes
acerca da impregnação dos
veleiros na brisa do dia

é terrível viver sob a impregnação
do diálogo dos veleiros porque a lua
foge do mar e se refugia na fenda a
estrela escurece e o arco-íris imola
seres humanos no sangue da chuva (p. 47)

No caos estabelecido em Angola, a tessitura poética de Kafukeno pretende reagrupar os fios partidos, reconstruir os escombros deixados pela guerra. Ao criar imagens inusitadas, o poeta denuncia os caminhos dolorosos aos quais os ideais da revolução foram preteridos pela sanha de dirigentes corruptos de um tempo em suspensão:

o relógio destrói
a ausência

e se
debruça sobre

a colina do ponteiro (p. 59)

Ciente da condição catastrófica angolana “impregnada sob o diálogo dos veleiros” (p. 47), os ventos da oralidade presentes na poesia de Kafukeno conduzem-nos às arestas entre as palavras e a voz ancestral, ao poder surpreendente das metáforas na insistente vontade de sonhar, para escancarar a opressão, a cruel política excludente e as desigualdades sociais às quais o povo angolano está submetido. A poesia de Fernando Kafukeno atenta-se às mazelas do seu tempo, desmascara a miséria, a hipocrisia, o descaso e incomoda a classe dominante do país.

A “Sublimação de Aresta” aponta as novas sendas da poesia angolana e consolida o nome de Fernando Kafukeno como um dos seus dignos representantes.

Ricardo Riso


BIBLIOGRAFIA:
BARTHES, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 1977.

BENJAMIN, Walter. O narrador. In: Magia e Técnica, Arte e Política - Obras Escolhidas - Vol. 1. São Paulo: Brasiliense, 1996.

CARDOSO, António. Baixa & Musseques. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1985.

GLISSANT, Edouard. Introdução a uma poética da adversidade. Juiz de Fora: UFMG, 2005.

KAFUKENO, Fernando. Sublimação da Aresta. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 2006. Colecção Guaches da Vida, nº 35. 1 ed.

KANDJIMBO, Luís. Breve Panorâmica das Recentes Tendências da Poesia Angolana. In: Austral, Revista de Bordo da TAAG, nº 22, 1997, p. 27. Apud: SECCO, Carmen Lucia Tindó R. A haste e a ostra: uma poética da catástrofe e do sonho. In: A magia das letras africanas: ensaios escolhidos sobre as Literaturas de Angola e Moçambique e alguns outros diálogos. Rio de Janeiro: ABE Graph, 2003. p. 188-197.

LEITE, Ana Mafalda. Oralidades & Escrituras nas Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Lisboa: Colibri, 1998.

LEITE, Ana Mafalda. Poesia angolana: percursos (des)contínuos. In: Revista Poesia Sempre: Angola e Moçambique nº 23. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2006.

NETO, Agostinho. Sagrada Esperança. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1986.

PADILHA, Laura Cavalcante. Entre voz e letra: o lugar da ancestralidade na ficção angolana do século XX. Niterói: EDUFF, 1995.

SECCO, Carmen Lucia Tindó R. A haste e a ostra: uma poética da catástrofe e do sonho. In: A magia das letras africanas: ensaios escolhidos sobre as Literaturas de Angola e Moçambique e alguns outros diálogos. Rio de Janeiro: ABE Graph, 2003. p. 188-197.

TRIGO, Salvato. As literaturas africanas de expressão portuguesa – um fenômeno urbanístico. In: Ensaios de Literatura Comparada Afro-Luso-Brasileira. Lisboa: Vega, S/D. p. 53-60. Apud: LEITE, Ana Mafalda. Oralidades & Escrituras nas Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. Lisboa: Colibri, 1998.

FLAP RIO 2008

FLAP! Rio - Interferências - 20 e 21 de setembro - PUC/GÁVEA

Programação 2008
http://flaprj.wordpress.com/programacao-2008/

Data: 20 e 21 de setembro de 2008
Local: Marquês de São Vicente, 225, Gávea. Campus da PUC-Rio, Auditório del Castilho - 2º andar, Prédio RDC (Ed. Rio Datacentro)
Mapa: http://www.puc-rio.br/sobrepuc/campus/mapa/index.html
Horário: 14:00 às 19:00

Em sua terceira edição carioca, a FLAP! assume o tema INTERFERÊNCIAS.
Em dois dias - 20 e 21 de setembro - a PUC será o palco de 4 debates, 2 saraus e a exibição de dois curtas.
Abaixo confira a programação.

Inscreva-se para receber o Boletim da FLAP!Comunidade no Orkut

dia 20 de setembro
14h - Abertura
14h30 - Geração EspontâneaGeração Mimeógrafo, 00, 80, 90… Uma estratégia de venda ou um retrato, um instantâneo de um momento literário? Quem define, o que difere? Para situar ou para estigmatizar? São válidos esses rótulos?
Mediadora: Heloísa Buarque de Hollanda (editora da Aeroplano e professora da UFRJ)
Flávio Izhaki (escritor)
Miguel Conde (jornalista de literatura dO Globo)
Viviane Mosé (poeta)
16h20 – Sarau Movimento InVerso - Clauky SabaAdriana Monteiro de Barros / Betina Koop / Madame Kaos (juju hollanda, beatriz provasi e marcela giannini) / Marcella Maria / Priscila Andrade
16h50 – Empório de palavrasSebos, livrarias de bairro, virtuais, grandes redes. Produções artesanais vendidas em portas de teatro, e-books disponíveis em sites e blogs. Busdoors propagandeando – e vendendo! - o mais novo título de auto-ajuda. Quem é o leitor de literatura brasileira? Qual o caminho para os novos autores? Poesia não vai para as vitrines porque não vende ou não vende porque não vai para as vitrines?
Mediador: Tanussi Cardoso (poeta e editor)
Eucanaã Ferraz (poeta)
Claufe Rodrigues (poeta e jornalista)
João Emanuel Magalhães Pinto (editor da Guarda-Chuva)
Victor Paes (poeta e editor da Confraria do Vento)
18h40 – Exibição do curta ‘POR ACASO GULLAR‘, de Maria Rezende e Rodrigo Bittencourt
19h – Encerramento

dia 21 de setembro
14h - AberturaLeitura de Lorca
14h30 - Palavras nos meios: tecnologia e miscigenação.Vídeos, CD’S, blogs, sites colaborativos, compartilhamento na web.O diálogo da literatura entre mídias é uma evidente característica da produção contemporânea. Mas até que ponto os diferentes suportes interferem diretamente na escrita? De que maneira essa interação se torna positiva ou valoriza o texto que não se sustenta? Como está escrevendo a geração de escritores que utiliza a internet como principal ferramenta de publicação?
Mediador: Ramon Mello (escritor e jornalista)
Lucas Viriato (poeta e editor do jornal Plástico Bolha)
Olga Savary (poeta e tradutora)
Omar Salomão (poeta)
Rodrigo Bittencourt (poeta, compositor e cineasta)
16h20 – Sarau Castelinho do Flamengo - João Pedro RorizManoel Herculano (ator e escritor) / Marcelo Girard (jornalista e escritor) / João Pedro Roriz (ator e poeta)
16h50 - VanguardaArtistas de vanguarda protagonizaram movimentos marcantes como a Semana de Arte Moderna de 22 e a Poesia Concreta, rompendo com alguns padrões e características estéticas de sua época e re-significando outros. Mas, em 2008, o que é possível encontrar de novo? Ainda existe a possibilidade de vanguarda na literatura atual?
Mediador: Leandro Jardim (poeta e letrista)
Beatriz Resende (crítica literária)
Dado Amaral (poeta, ator e cineasta)
Paulo Henriques Britto (poeta, contista, tradutor e professor da PUC-Rio)
18h40 – Exibição de curta ‘PROCURANDO DRUMMOND‘, de Rodrigo Bittencourt
19h – Encerramento

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Corsino Fortes

Não há fonte que não beba da fronte deste homem (Corsino Fortes – poeta de Cabo Verde)

I

Nas rugas deste homem
Circulam
xxxxxxxxxxestradas de todos os pés que emigram
Quebram-se
xxxxxxxxxxvivas! as ondas de todas pátrias
Anulam-se
xxxxxxxxxxde perfil! as chinas de todas muralhas

Na mão bíblica
No humor bíblico deste homem
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxcrepitam de joelhos
Desertos & catedrais
Onde
xxxxxxxxxxxdeus & demónio
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxjogam
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxnoite e dia
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxa sua última cartada
E do pó da ilha à mó de pedra
xxxxxxxxxxxNão há relâmpago
Que não morda a nudez deste homem
xxxxxxxxxxxnudez de liberta!
Que a dor germina
XxxxxxxxxxxE o espaço exulta
E pela ogiva
Xxxxxxxxxxxogiva do olho
XxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxNão há poente
Que não seja
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxUma oração de sapiência

Sobre a face deste homem
xxxxxxxxxxo povo ergueu a praça pública
E os tambores transportam
Xxxxxxxxxxxo rosto deste homem
Até à boca das ribeiras
E ao redor
xxxxxxxxxxos vulcões respeitam
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxo silêncio deste homem


I I

Não há chuva
Que não lamba o osso de tal homem
À porta da ilha
XxxxxxxxxxxDiz o sal de toda a saliva
O sol ondula oceanos no sangue deste homem

Oh cereal altivo! vertical & probo
Ainda ontem
xxxxxxxxxxantes do meio-dia
O vento punha velas na viola deste homem
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxHoje!
A viola
De tal dor é sumarenta
E projecta
xxxxxxxxxxsobre as almas
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxa seiva
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxDe uma árvore imensa
Oh oceanos! que ladram à boca das tabernas
Se o sangue deste homem
Xxxxxxxxxxxxxé tambor no coração da ilha
O coração deste homem
xxxxxxxxxxé corda no violão do mundo
E os joelhos
xxxxxxxxxxrodas que vão! hélices que sobem
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxcom ilhas no interior


I I I

Sombras sobre a colina Rosto sobre o povoado
Quando
xxxxxxxxxxpastor & gado jogam à cabra-cega
E chifres de sol
xxxxxxxxxxxxxxxprojectam
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxcidadelas no ocidente
O poente galopa a maré-alta
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxE ergue
"À taça da noite
Sobre as têmporas deste homem"
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxOh noite verde! oh noite violada
Que a noite não apague
A memória das cicatrizes
E cicatrizes de ontem
xxxxxxxxxxxxxxxxSejam
Sementes de hoje
Para sementeira E floresta de amanhã

Como Noé
As espécies conhecem
xxxxxxxxxxxxxxxxxxA sílaba E a substância deste homem
Não há milho
Que não ame o umbigo deste homem
Não há raiz
Que não rasgue a carne deste homem


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxE na fome pública deste homem
Cresce
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxa ave no voo E a gema na casca
Cresce
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxo cabo d'enxada E a cintura da terra
Cresce
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxa porta do sol E o alfabeto da pedra verde
Não há fonte
Que não beba da fronte de tal homem
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxQue
A erecção deste homem é redonda
E tem o peso da terra grávida


extraído de "A Cabeça Calva de Deus", a obra poética de Corsino Fortes, editada por Publicações D. Quixote, 2001.
Em <
http://www.breadmatters.org/BM/CF/Cor_For.html > acessado em 17 de setembro de 2008, às 00h58.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Carmen Tindó: lançamento do livro A Magia das Letras Africanas

A Quartet Editora e a Livraria do Museu da República convidam para o lançamento de A Magia das Letras Africanas, de Carmen Lucia Tindó R. Secco, dia 15 de outubro (quarta-feira), das 17h às 21:30, na Livraria do Museu da República, Rua do Catete, 153 - Rio de Janeiro - RJ.


IX Congresso ALADAA-B - Sociedade Civil Global: Encontros e Confrontos

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO DE HUMANIDADES
CENTRO DE ESTUDOS AFRO-ASIÁTICOS

IX Congresso ALADAA-B (Associação Latino-Americana de Estudos Africanos e Asiáticos no Brasil)
SOCIEDADE CIVIL GLOBAL: ENCONTROS E CONFRONTOS.
25, 26 e 27 de setembro de 2008


As questões colocadas pela globalização, nos últimos anos, têm acentuado a percepção de interdependência entre os Estados. O pós-Guerra Fria deu protagonismo para “novos temas” da agenda internacional: Meio Ambiente, Direitos Humanos e Desenvolvimento Sustentado. Estes foram prontamente reconhecidos como temas globais, por refletirem os interesses e preocupações da comunidade internacional como um todo, e não apenas de um ou outro Estado individualmente considerado. Ademais, por não ficarem circunscritos ou limitados à esfera doméstica dos Estados, esses temas demandavam uma crescente cooperação e coordenação dos atores no cenário internacional, de modo a permitir um efetivo tratamento dos mesmos. Foi nesse contexto que se organizou, por exemplo, a Década das Conferências da ONU nos anos de 1990.

Nessa nova conjuntura, além de se perceber a consagração do conceito de soberania compartilhada, para definir a disposição crescente dos Estados em assumir compromissos internacionais e eventualmente abrir mão de parcelas de sua soberania, outrora absoluta, verifica-se, igualmente, o avanço de atores que escapam aos aparelhos de estado nos diversos tabuleiros de negociação da política internacional. Esses atores tornam-se peça fundamental tanto na promoção dos temas entendidos como globais, quanto na sua própria implementação, pressionando os Estados a aderir a declarações, convenções, pactos ou tratados internacionais que regulamentem os novos temas.

No tocante aos desafios impostos pela globalização em seus aspectos econômicos, e a expansão das práticas que compõe o neoliberalismo, percebe-se, outrossim, a importância dos movimentos sociais transnacionais (ou globais), que se articulam como centros de resistência às políticas e propostas consideradas violentas, prejudiciais ou discriminatórias às de redes sociais, discriminatórias ou contra países periféricos. Assim, os movimentos sociais, particularmente os do Sul, têm contribuído de maneira original não só aos debates das idéias, mas também em ações concretas. Na África, por exemplo, aponta-se a criação de associações ligadas às problemáticas das migrações, dos direitos humanos, da fiscalização do governo, e na Ásia constata-se a presença de redes de excluídos que lutam para melhorar as suas condições precárias de vida. Na América Latina, os movimentos afro-diaspóricos têm-se fortalecido, contribuindo a fomentar o debate em torno da instauração de políticas públicas no âmbito do ensino superior assim como expandido a discussão em torno da necessária valorização de sua historia e cultura afro-americana.

No mundo contemporâneo, embora os confrontos estejam muito bem mapeados e acompanhados pela grande mídia, as possibilidades de encontros talvez estejam um tanto obscurecidas. Não acreditamos que elas estejam enfraquecidas, mas estrategicamente colocadas fora de foco. Nos encontros que estão sendo construídos na atualidade, um porvir menos cruel pode estar sendo delineado. A tarefa de criar mecanismos para a transformação consistente e positiva do real torna-se urgente, já que é na dimensão dos encontros que o novo pode emergir.

RELAÇÕES LITERÁRIAS INTERNACIONAIS II: Interseções e fricções entre fonias

http://www.institutodeletras.uerj.br/coloquio.html

LOCAL: UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) - INSTITUTO de LETRAS (SALÃO NOBRE)

DATA: 24, 25 e 26 de SETEMBRO de 2008.

HORÁRIO: 9h-12h30 e 14h-17h.

INFORMAÇÕES: coloquiorelinter@gmail.com

Veja a programação em
http://www.institutodeletras.uerj.br/programa.html


Os conjuntos de textos literários reunidos pelo uso de uma língua comum têm sido estudados a partir de pontos de vista extremamente variados que vêm sendo regularmente questionados e requestionados. A própria noção de língua comum é problematizada através da discussão das construções de eixos centro-periferia e de suas implicações políticas, sociais, econômicas, ideológicas e, principalmente, identitárias. Assim, categorias estabelecidas vêm sendo rediscutidas e reformuladas. Veja-se, por exemplo, as polêmicas em torno da noção de francofonia, as recusas em relação ao termo lusofonia e as alternâncias entre os conceitos de hispanidade e hispanismo.

O Colóquio “Relações literárias internacionais : lusofonia e francofonia”, ocorrido em julho de 2007, propôs a discussão das analogias e das dessemelhanças dos processos históricos de construção da lusofonia e da francofonia, a análise das políticas lingüísticas praticadas no âmbito desses dois conjuntos literários e a reflexão sobre as trocas políticas e culturais contemporâneas entre esses campos de saberes. Os resultados positivos dos trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores participantes apontaram para a pertinência do prosseguimento e aprofundamento das questões tratadas e para a ampliação do espectro de observação. Nesse sentido, em 2008, o Colóquio “Relações Literárias Internacionais : interseções e fricções entre fonias” busca investigar diferentes posicionamentos em relação ao uso de uma língua de escrita dentro dos conjuntos literários em língua francesa, portuguesa e espanhola em suas perspectivas históricas e contemporâneas e os fundamentos e implicações das práticas políticas lingüísticas e culturais desses três campos de saberes.

As comunicações serão apresentadas em português, francês ou espanhol.

O evento é gratuito e prevê um total de 18 horas de trabalhos. Os participantes que desejarem certificado deverão comparecer a, pelo menos, 75% das atividades. Para os que solicitarem certificado de participação será cobrada uma taxa de R$10,00 no ato da inscrição.

As inscrições poderão ser feitas no primeiro dia do Colóquio.

CINECUFA 2008

CINECUFA 2008 no Centro Cultural Banco do Brasil/RJ
09 a 21 de setembro de 2008
http://www.cinecufa.com.br/

Entrada Franca

Confira a programação em:
http://www.cinecufa.com.br/in.php?id=programacao


CINECUFA – O MUNDO NA LENTE DA FAVELA
http://www.cinecufa.com.br/in.php?id=release

Com intuito de valorizar as obras audiovisuais produzidas por cineastas de diferentes favelas do mundo, o Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro realiza a partir do dia 9 de setembro, com entrada franca, a segunda edição do CINECUFA. Organizado pela Central Única das Favelas as obras exibidas não abordam necessariamente o tema “favela” mas têm por trás das lentes o ponto de vista da periferia e de seus legítimos representantes.

Além dos filmes,o CINECUFA trás a tona questões importantes que serão discutidas em mesas de debate sempre às terças e quintas-feiras com destaque para a função social dos filmes, o mercado de trabalho e as novas mídias digitais.Nesses encontros, o público é convidado a pensar junto com personalidades cinematográficas, atores, representantes do movimento do cinema das periferias e outros formadores de opinião.

“ A proposta é incentivar essa nova ordem cultural e artística, favorecendo a atuação da periferia não somente como personagem à frente das câmeras, mas também como protagonista por trás delas”, ressalta uma das curadoras do evento, a rapper Nega Gizza.

Devido ao barateamento dos equipamentos audiovisuais, deu-se, nos últimos anos, uma intensa produção vinda das comunidades, que proporcionou mais acesso aos meios de produção audiovisual, mas ainda com locais restritos de exibição que atendam essa crescente demanda.

Em 2008, a segunda edição do CINECUFA vai apresentar na tela do CCBB filmes de periferias do mundo, como as da França, Itália, Cuba, Estados Unidos e do continente africano, entre outros. A partir da seleção dos filmes, a proposta é traçar um paralelo entre a diversidade e a peculiaridade deste segmento de produção, abordando diferentes temáticas através de ficções, documentários e animações, de curta, média e longa metragem um amplo panorama das obras cinematográficas das periferias ao redor do globo.

“No CINECUFA os cineastas das periferias encontram a oportunidade de exibir suas obras e percepções sobre variados assuntos. E o público que aprecia cinema tem um ponto de encontro para trocar idéias e se informar sobre o que está sendo produzido nos recantos menos privilegiados e pelos habitantes das camadas mais populacionais do planeta”, avalia o coordenador da Cufa, Anderson Quak.

Vale a pena ressaltar que o festival internacional CINECUFA, ao viabilizar essas exibições, também inicia um processo de incentivo para que outros projetos afins sejam realizados, tornando-se assim um referencial de movimentação de mercado. A Central Única das Favelas – CUFA – acredita que, através do CINECUFA, o fomento à construção de uma identidade que passe a atuar mais fortemente no mercado cinematográfico fará com que os realizadores dessa crescente vertente audiovisual se reconheçam como representantes de um novo movimento estético, social e político.



Destaques da Programação

Internacionais:

Mon Hall (França) – Filme realizado por jovens moradores das periferias da França, oriundos do projeto desenvolvido pela OMJA. Curta vencedor do primeiro festival Generation Court, que evoca a vida cotidiana de um hall de um prédio, sua cidade, sua história, seus habitantes e suas anedotas. Sessão: 09/09 às 16:30h. Censura 12 anos.

Krudas (Cuba) – Documentário sobre uma dupla de cantoras de Rap lésbicas moradoras de Cuba. Sessão: 10/09 às 18:00h. Censura 12 anos.

Une Vie Bressie (França) – Mendy Essamba é um jovem africano, namorado da bela Zohra. O casal precisa enfrentar o preconceito da família de jovem, que não aceita o relacionamento dela com um negro. Sessão: 11/09 às 16:30h. Censura 12 anos.

Vozes da Bolívia (Bolívia / Brasil) - O documentário trata do tema do trabalho na Bolívia, um dos países mais pobres da América Latina, atravessado por freqüentes crises políticas ao longo da história, levantando questões como respeito aos direitos humanos e a democracia através da perspectiva de um país periférico dentro do atual mundo globalizado. Sessão: 11/09 às 18:00h. Censura 12 anos.

Vacanze Amare (Itália) – Um dia, em fevereiro, quatro pessoas desalojadas de Milan decidem sair para o mar, na esperança de se sentir melhor. O documentário retrata um dia nas férias, incidindo sobre os seus hábitos e as suas necessidades. Sessão: 12/09 às 18:00h. Censura 12 anos.

Faces of Food (EUA) – Explora as vidas de jovens que lutam para entender o que eles consomem, numa base diária, e como isso impacta seus corpos. Descubra o que você pode não saber sobre alimentação, e como você pode tomar medidas em direção a uma alimentação saudável. Sessão: 17/09 às 18:00h. Censura 12 anos.

Chronique de Tournage (França/Camarões) – Em dezembro de 2004, o jovem produtor - diretor Franco - Jude desembarcados em Camarões , apesar de ter muito pouco dinheiro, leva muita energia e vontade de iniciar a sua nova e longa filmagem. Filme intitulado une vie brisse. Sessão: 19/09 às 16:30h. Censura 12 anos.


Nacionais:

Comum de Dois (Bahia) – Moradores do bairro Castelo Branco, periferia da Bahia, documentam de forma audiovisual a chamada Heteronormatividade. Sessão: 10/09 às 19:30h. Censura 12 anos.

L.A.P.A (Rio de Janeiro) – Exibido pela primeira vez no circuito nacional durante o Cine Cufa. LAPA: Bairro boêmio do Rio de Janeiro, tradicional reduto de sambistas. Hoje é também, ponto de encontro de Mc’s e do Rap. L-A-P-A: um filme sobre o bairro da Lapa. Um filme sobre o Rap carioca. Sessão: 12/09 às 19:30h. Censura 12 anos.

Ele (Espírito Santo) – Animação. A trajetória de um dos maiores compositores da música brasileira, sua infância e histórias. Sessão: 13/09 às 19h. Censura 12 anos.

Marangmotxingmo Mïrang – Das Crianças Ikepeng Para O Mundo (Pernambuco) – Quatro crianças Ikpeng apresentam sua aldeia respondendo a vídeo-carta das crianças da Sierra Maestra, em Cuba. Com graça e leveza, elas mostram suas famílias, suas brincadeiras, suas festas, seu modo de vida. Sessão 14/09 às 17:30h. Censura 12 anos.

Povo Marcado (São Paulo) - Povo marcado é o nome de um programa de rádio produzido por detentas da cadeia pública de Votorantin / SP. O Documentário mostra esse projeto e a necessidade de oportunidades durante o cumprimento das penas Sessão: 18/09 às 16:30h. Censura 12 anos.

domingo, 14 de setembro de 2008

Ondjaki - oficina os caminhos do conto

Oficina: Os caminhos do conto – oficina de escrita criativa
25 setembro a 30 outubro
Ministrada por Ondjaki

Local:
POP – Pólo de Pensamento Contemporâneo
Rua Conde Afonso Celso, 103
Jardim Botânico, CEP 22461-060
Tel. (21) 2286-3299 e 2286-3682
contato@polodepensamento.com.br


A oficina abordará questões ligadas às inúmeras possibilidade de criação de um conto. Entre teoria e prática, serão abordados aspectos significativos da descrição e da narração. Personagens e ambientes. Da matéria às circunstâncias. O curso explorará as contingências bem como os elementos propulsionadores da criação do conto. Ficcionalidade, realidade e diversidade como elementos essenciais ao processo de escrita criativa. O lugar da música no universo do conto.


25 setembro
Introdução ao tema do conto curto. Apresentações e exercícios.

02 outubro
O conto curto. Escolhas e sensibilidades. Processos de coesão. Descrições: selecionar, ordenar, singularizar. Traços essenciais da descrição.

09 outubro
Motivações para o início/fim de um conto. Ponto de vista físico/afetivo. Descrição e personagens. Início do trabalho para a criação do conto. Obs: Visita de um(a) escritor(a) convidado(a).

16 outubro
Lugares e não-lugares. Narração: matérias e circunstâncias. Figurações, temas e funções. Abertura/desenvolvimento/clímax/conclusão: ou o inverso. Continuação de discussão e elaboração da criação do conto.

23 outubro
Aperfeiçoamento na revisão do conto: os cortes e os retoques. O conto como escultura delicada. O lugar da música na criação do conto. Obs: Visita de um(a) escritor(a) convidado(a).30 outubro Apresentação e comentários dos trabalhos finais.

Ondjaki é prosador e poeta angolano. Membro da União dos Escritores Angolanos, seus livros foram traduzidos para francês, espanhol, italiano, alemão, inglês. Entre outros, é autor de Os da minha rua (contos, 2007), Bom dia camaradas (romance, 2006), Quantas madrugadas tem a noite (romance, 2004), Momentos de aqui (contos, 2004), E se amanhã o medo (contos, 2004) e O assobiador (novela, 2002).

6 encontros, quintas-feiras: 19h30-21h30 Valor: R$ 420,00 50% na inscrição e o restante 30 dias após o início do curso

http://www.polodepensamento.com.br/sec_cursos_view.php?id=133


sexta-feira, 12 de setembro de 2008

O Aleijadinho - documentário

Para assistir ao documentário, clique em:

http://portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=4752&exib=6942

O Aleijadinho
Gênero Documentário
Diretor Joaquim Pedro de Andrade
Ano 1978
Duração 22 min
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Brasil
Um inventário da vida e da obra de Antônio Francisco Lisboa, o artista mais expressivo do Brasil colônia. Nascido em 1738 na antiga Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto (MG), cedo tornou-se conhecido pelas originais concepções técnicas e artística que introduziu em seu ofício de escultor. Além das obras realizadas em Ouro Preto, trabalhou também em Tiradentes, Congonhas do Campo, Sabará, Mariana e outras cidades vizinhas, mesmo acometido por uma doença que o deformou, mas que não o impediu de continuar sua obra monumental e comovente. Baseado em texto e roteiro de Lúcio Costa.

Ficha Técnica
Fotografia Pedro de Moraes
Empresa produtora Embrafilme
Narração Ferreira Gullar

Porta Curtas neste blog

O blog a partir de hoje é parceiro-exibidor do site Porta Curtas Petrobras - http://portacurtas.com.br .
Para a primeira exibição, uma animação com temática afro-brasileira chamada Yansan. Para assistir ao filme, clique no link abaixo:

http://portacurtas.com.br/pop_160.asp?cod=4839&exib=6942

Yansan
A sabedoria das tradições afro-brasileiras se encontra com a tecnologia da animação 3D nesse épico bem brasileiro.


Yansan
Gênero Animação, Conteúdo Adulto
Diretor Carlos Eduardo Nogueira
Elenco Milton Gonçalves
Ano 2006
Duração 18 min
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Brasil
Yansan e Xangô vieram juntos ao mundo. Um pertence ao outro. Eles morrerão no mesmo dia.
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Ficha Técnica
Produção Mayra Lucas Roteiro Ruggero Ruschioni, Carlos Eduardo Nogueira Som Direto Simone Alves Produção Executiva Paulo Boccato, Mayra Lucas Montagem Carlos Eduardo Nogueira Música Ruggero Ruschioni Produção Musical Ruggero Ruschioni

Prêmios
Melhor Animação no Festival Tudo sobre Mulheres 2006
Melhor Filme - Júri Popular no Festival Tudo sobre Mulheres 2006
Melhor Filme no Festival de Vitória 2006
Melhor Trilha Sonora no Festival de Vitória 2006
Prêmio Porta Curtas no Festival do Rio 2006
Melhor Curta no Goiânia Mostra Curtas 2006
Melhor Filme no Multivision - Festival Internacional de Animação de São Petesburgo 2006
Melhor Filme no Festival de Atibaia Internacional do Audiovisual 2007
Prêmio do Júri no St. Petersburg International Animation Festival 2006

Festivais
Anima Mundi 2006
Clerrmont-Ferrand Film Festival 2007
Festival Internacional de Curtas de São Paulo 2006

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

CINECLUBE ATLÂNTICO NEGRO

CINECLUBE ATLÂNTICO NEGRO
Aspectos da diáspora africana nas Américas narrados através do cinema e discutidos com o nosso público após as sessões

INAUGURAÇÃO NESTA SEXTA, DIA 12 DE SETEMBRO ÀS 19H NA ATLÂNTICA EDUCACIONAL. SESSÃO SEGUIDA DE DEBATE.
Avenida Mem de Sá, 252 – Centro, RJ (próximo a Pça. Da Cruz Vermelha)

DEVOÇÃO
Um filme de Sergio Sanz
Documentário, 85 min, 2008
Roteiro, direção e montagem: Sergio Sanz
página oficial do filme: http://www.devocao.com.br/index.htm

O teriam em comum Ogum, o primeiro dos Orixás, e Antônio, o bondoso santo casamenteiro? Convertido à força para a fé católica, o negro africano cultuava o orixá como se fosse santo, tudo apenas por uma questão de sobrevivência. Em Devoção, seu novo longa-metragem, Sergio Sanz aponta o grande mito religioso do Brasil: o do sincretismo, que tem sido entendido até hoje como uma mistura de diversas crenças heterogêneas.

O filme acompanha as celebrações católicas da festa de Santo Antônio e do Orixá Ogum, pontuando essas imagens com depoimentos de padres, pais-de-santo, devotos e pesquisadores.

Produtora: J. Sanz Produção Audiovisual
Produtores Associados: Bela Vista Cinema e Titânio Produções
Co-roteiro: Maria Helena Torres
Consultoria para candomblé: Raul Loddy

Distribuição: Rio Filmes

Produção, criação e curadoria
Clementino Junior



Parceria e Apoio Cultural
Atlântica Educacional

O Cineclube Atlântico Negro é filiado a ASCINE-RJ (Associação de Cineclube do Rio de Janeiro)