quinta-feira, 30 de abril de 2009

Construindo Germano Almeida - A Consciência da Desconstrução (livro)

O objectivo deste estudo prende-se com a elaboração de uma síntese de algumas abordagens possíveis à obra do escritor cabo-verdiano Germano Almeida. A ideia que o guia baseia-se na possibilidade de integração de várias áreas teóricas de estudo – da literária à psico-analítica, culminando nas ciências naturais e cognitivas – de molde a alcançar uma nova e holística visão do texto almeidiano em conjunção com o mundo que o rodeia. O espaço literário que enforma o texto almeidiano insere-se antes de mais na ânsia da criação de uma literatura nacional. No entanto, este desejo de uma linguagem que seja espelho narcísico da nação espraia-se bem para além de si, para outros espaços afirmativos onde o contexto social e político se enquadra com humor e ironia. A obra de Germano Almeida denota, portanto, uma preocupação formal específica do Autor. O modo como a obra se estrutura e organiza na sua globalidade é característica fundamental dos textos e será o que vai permitir visionar uma mistura inovadora face ao espaço literário que a precede, e que o próprio Germano Almeida se encarrega de desmistificar, mas, acima de tudo, face ao contexto presente onde a obra se insere.


PAULA GÂNDARA, Doutorada em Estudos Luso-Africanos pela Universidade de Massachusetts, Amherts, EUA, é autora de uma vasta e diversificada obra literária (ensaio, poesia e conto), que se encontra publicada no Brasil, em Portugal e nos Estados Unidos, e de que se destaca Horas de Língua (poesia), o seu livro mais recente. Professora de Estudos Lusófonos na Universidade de Miami desde 2003, tem dedicado o seu trabalho de investigação à análise das literaturas africanas de expressão portuguesa. Daí este ensaio, resultado da sua tese de Doutoramento.

Autora: Paula Gândara
Editor: Editora Vega
Ano de edição: 2008

Fonte: http://livroditera.blogspot.com/

terça-feira, 28 de abril de 2009

Campo de concentração do Tarrafal abre as portas para Simpósio internacional

28-04-09
O antigo campo de concentração do Tarrafal, ilha de Santiago, reabre hoje, simbolicamente, as suas portas para receber um simpósio internacional. Além de historiadores e investigadores, participam no evento antigos presos políticos de Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau e Portugal. Juntos vão assinalar os 35 anos em que os então presos políticos aí colocados foram postos em liberdade.
A Fundação Amílcar Cabral, em parceria com os ministérios da Cultura de Cabo Verde e Angola, é a promotora do evento, que se prolonga até sexta-feira. A abertura do encontro será presidida pelo primeiro-ministro, José Maria Neves, e o encerramento, na sexta-feira, estará a cargo do presidente Pedro Pires, que também patrocina o simpósio. Um outro participante ilustre é o ex-presidente de Portugal, Mário Soares, .
Os promotores do simpósio pretendem, com esta reunião internacional, recolher testemunhos e documentos relativos à existência e ao funcionamento do presídio do Tarrafal e apresentar e discutir um projecto museológico transnacional para o futuro deste monumento histórico comum dos PALOP e Portugal.
Os organizadores pretendem, igualmente, que o simpósio seja um espaço de reflexão e debate em torno do legado histórico, de valores e ideais humanistas e inspiradores para as gerações vindouras. Nos quatro dias do simpósio, serão debatidos temas como "A Geração da Utopia e o Dever da Memória", "Os Ideais, Princípios e Cidadania" e " Os Direitos Humanos nas Novas Sociedades Democráticas em África".
O campo de concentração foi criado pelo regime fascista português em Abril de 1936, sob o nome de Colónia Penal do Tarrafal e mais tarde, a partir de 1962, como Campo de Trabalho de Chão Bom. Primeiro para receber antifascistas portugueses e no fim os combatentes das antigas colónias africanas.
Conhecido como o “campo de morte lenta”, esta prisão visava aniquilar física e psicologicamente os opositores ao regime de Salazar, colocando-os longe dos olhares do Mundo, em condições desumanas de cativeiro, maus-tratos e insalubridade.
Durante os cerca de trinta anos em que funcionou, estiveram no campo acima de 500 presos políticos, muitos dos quais ali morreram. Os últimos presos foram postos em liberdade a 1 de Maio de 1974, depois da queda do regime fascista em Portugal, na sequência do golpe de Estado de 25 de Abril daquele ano.

Blog Ucrânia-Moçambique-Brasil

Dica de um interessante blog do JNW, amigo virtual moçambicano-ucraniano:

http://ucrania-mozambique.blogspot.com/

Seu post mais recente relembra o acidente nuclear de Chornobyl (a grafia Chernobyl é em russo, segundo ele). É revoltante e chocante! Além disso, há vários outros posts acerca da cultura ucraniana e suas relações com Moçambique e Brasil.

Abraços,
Ricardo Riso

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Roberto Chichorro - “Sonhos d’Agora e também d’Outros tempos” (exposição)

Imagem retirada de http://www.bci.co.mz/

Roberto Chichorro : Sonhos de ontem e de hoje na magia das cores e tintas

Fonte: http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2009/04/roberto-chichorro-sonhos-de-ontem-e-de-hoje-na-magia-das-cores-e-tintas.html

ROBERTO Chichorro está em Maputo. Para uma exposição individual. A sua exposição é uma retrospectiva. Da sua vida artística, que roça os cinquenta anos, social e como cidadão. A exposição amanhã, no Espaço Joaquim Chissano, e estará patente até 8 de Maio. Há 17 anos que o artista não vem expor em Moçambique e para a sua primeira retrospectiva seleccionou um conjunto de 70 trabalhos. Mais de metade pertencentes à sua colecção particular e que não serão comercializadas.

Maputo, Quarta-Feira, 22 de Abril de 2009:: Notícias
A concepção e a ideia de fazer a exposição em Moçambique tiveram que ver com a vontade que Chichorro tinha de fazer a primeira retrospectiva da sua vida. Ele fazia questão que a primeira retrospectiva fosse na sua terra.

E a realização desta exposição em Moçambique começou em conversas informais em casa dele e em festas de inauguração de outras exposições em Portugal. Um dos dinamizadores da iniciativa foi Embaixador de Moçambique em Portugal, Miguel M’Kaima.

Miguel M’kaima alavancou a ideia e convidou formalmente Roberto Chichorro para vir expor em Moçambique, ao mesmo tempo que iniciou os contactos que permitiram a Chichorro, mais João Maria Lopes – amigo do pintor há mais de 30 anos – obter o financiamento suficiente para esta deslocação a Maputo.

Posteriormente, fez-se a selecção das obras que era possível trazer para Moçambique.

Dentro da sua obra e do seu espólio, que é muito grande, não se afigurava fácil trazer um número de obras que não fosse enorme mas que constituísse uma mostra das diferentes fases do seu trabalho artístico. Neste sentido, foram escolhidas obras dos últimos quarenta anos.

“Trouxemos coisas dos anos 70/80/90 e 2000, fazendo uma incidência maior daquilo que é a fase dele mais representativa, se calhar de uma forma mais espiritual para ele, que é a pintura dos anos 80. Depois a fase do ano 2000 que, no meu entender, está muito bem representada. Nós trouxemos algumas obras cuja dimensão é grande, mas que me parecem obras muito significativas e foi por isso que as trouxemos”, diz João Maria Lopes.

No conjunto das 70 obras foram trazidas ainda alguns trabalhos que são dos anos 70/80 e que deixam bem patente a sua evolução desde que há mais de 30 anos saiu de Moçambique.

“Ele foi para outro sítio, mas, para ele, Moçambique é um bem. Ele é a pessoa que eu conheço que vivendo num país estrangeiro mais ligação tem à terra dele. E isso está aqui bem patente”, diz Lopes.

E esta retrospectiva, nas dimensões em que está, é, na perspectiva de João Maria Lopes, a realização de um sonho que ele tinha e que é de anos, trazendo a obra dele por completo para que seja vista aqui em Moçambique.

Vieram ainda algumas obras, mas poucas, que ele fez, por brincadeira, uma vez que ele costuma dizer que não é escultor, ele é pintor, mas que, a pedido do seu amigo João Lopes, trouxe. São três esculturas em bronze e mármore e três em cerâmica com motivos diferentes. São obras que ele fez numa fase da vida em que ao lado de amigos lhe apeteceu tentar a escultura. “Nunca fez obras de esculturas no verdadeiro sentido da palavra. Considera-se um pintor e não mais do que isso. E ele é mesmo”.

João Maria Lopes foi quem desenhou o catálogo. Ele vai ser vendido e o valor reverterá a favor de uma instituição social. O catálogo, muito bem conseguido, é acompanhado por textos da autoria de personalidades como Calane da Silva, Mia Couto, Luís Carlos Patraquim, Licínio de Azevedo. Tem também um texto do próprio Roberto Chichorro.

Trabalhou ainda ao longo da preparação da exposição com Chichorro, para além da totalidade de quadros que compõem a exposição.

“Nós somos tão amigos que estas coisas funcionam sempre, porque nos damos tão bem e eu gosto da obra, e, portanto, quando tenho que fazer alguma coisa a este nível gráfico para ele é sempre um prazer”.

Perguntamos a João Lopes como é que ele interpretava Roberto Chichorro como cidadão e artista, ao que nos respondeu: “Eu não tenho muito jeito para fazer aqueles deslumbrantes que muita gente faz, mas eu diria que Chichorro é o cidadão que as pessoas deveriam ser. Não sei se este é conceito e serve, mas todas as pessoas deveriam ser como Roberto Chichorro porque são honestas, boas e porque são livres de cabeça que é uma coisa que eu acho fundamental. E como artista fora da terra, Chichorro é uma pessoa que nunca conseguiu perder a ligação à terra, e viveu em países tão diferentes como Portugal e Espanha e Itália. E, portanto, colhendo técnicas e formas de pintar em países distintos, com culturas completamente diferentes ele nunca perdeu a linha orientadora daquilo que é a criação dele”.


PINCÉIS A DANÇAR

Maputo, Quarta-Feira, 22 de Abril de 2009:: Notícias

A obra de Chichorro é muito atravessada pelos sons, com muita musicalidade. Para quem repara a sua obra sente isso. A presença da multiplicidade de cores e formas e que nos remetem para a dimensão da musicalidade.

Quando uma vez escreveu sobre a sua pintura, João Lopes disse que ele pintava com som e música. Fala-se sempre das cores da pintura dele. Dos vermelhos, dos azuis… e Lopes diz ver tudo isso como música. São tonalidades musicais. “A pintura dele chamei-lhe um dia que eram pincéis a dançar”.

ESCULTURAS ENTRE PINCÉIS

No festival de cores e tintas estão presentes seis obras escultóricas. Três são feitas de bronze e mármore e as outras em cerâmica.

João Lopes conta que, o sentido profissional com que faz a pintura, permitiu-lhe também fazer boas obras de escultura. Ele as trabalhou com um artístico forte e que são produto de uma troca de “galhardetes” com um amigo dele, que era um escultor espanhol já falecido. Na altura, Chichorro fez duas a três esculturas e o artista espanhol pintou também o mesmo número de telas.

“Eu acho que isto são obras verdadeiramente de Chichorro e é por isso que fiz alguma pressão para que ele as trouxesse”, conta.

Há ainda um conjunto de obras de uma fase em que Chichorro desenhava muito em tinta de china, no princípio dos anos 90, e que, para além de serem bastante significativos, são tecnicamente bem conseguidos.

Ao longo das 70 obras encontramos basicamente acrílico sobre tela, aguarelas sobre papel e ainda obras em tintas de china.

Chichorro apresenta-nos ainda duas serigrafias, das poucas que tem.

As serigrafias abrem uma possibilidade para as pessoas terem o visual de um quadro de um pintor, mas, em termos, artísticos e patrimoniais não é o mesmo que ter um original. Contudo, as serigrafias presentes são as mais significativas para ele.

Por Francisco Manjate

domingo, 26 de abril de 2009

África e Africanidades - novos acessos para artigos

Prezados,

Devido a reformulações internas no site da Revista África e Africanidades - http://www.africaeafricanidades.com/ - e de seu provedor, o novo endereço para acesso aos meus artigos, resenhas e colunas são:

1ª Edição:
Odete Costa Semedo - No fundo do canto
http://www.africaeafricanidades.com/Documentos/Odete_%20Costa%20_Semedo.pdf

2ª Edição:
‘A insustentável e dramática poesia dos direitos humanos’ em "Preces e Súplicas ou os Cânticos da Desesperança", de Vera Duarte http://www.africaeafricanidades.com/Documentos/A_insustentavel_e_dramatica_poesia_dos_direitos_humanos.pdf

3ª Edição:
Conceição Lima – O Útero da Casa http://www.africaeafricanidades.com/Documentos/Conceicao_Lima_O_utero_da_casa.pdf

A pintura de Malangatana Valente
http://www.africaeafricanidades.com/Documentos/Conceicao_Lima_O_utero_da_casa.pdf

4ª Edição:
Sopinha de Alfabeto – ironia nas artes cabo-verdianas http://www.africaeafricanidades.com/documentos/Sopinha_de_Alfabeto.pdf

Abraços,
Ricardo Riso

Blog agora com Tradutor

Caríssimos,
procurando expandir o acesso ao blog, coloquei na semana passada o tradutor oferecido pelo Google que disponibiliza a tradução completa do blog para trinta e cinco línguas. Ele se encontra no lado direito do blog.
Abraços,
Ricardo Riso

sábado, 25 de abril de 2009

Revista Teia Literária - chamada de trabalho p/publicação

O terceiro número da Teia Literária tem como tema:

MEMÓRIA, IMAGINÁRIO E IDENTIDADE CULTURAL

Será gratificante contar com as suas participações no próximo número da revista com um artigo ou uma resenha no âmbito das literaturas de língua portuguesa (Brasil – Portugal – África). O texto não precisa ser inédito.

Os trabalhos dos pós-graduandos (mestrandos e doutorandos) enviados dentro das normas dos pós-graduandos (mestrandos e doutorandos) enviados dentro das normas serão avaliados pela comissão de pareceristas da Revista. Os textos aprovados serão publicados mediante o preenchimento correto do TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO EM OBRA COLETIVA, enviado após a notificação da aprovação do texto para publicação. O simples envio dos trabalhos não garante as suas publicações. Os textos não serão devolvidos.

PRAZO PARA ENVIO DOS TEXTOS: até o dia 31 de maio de 2009.

Notificação dos trabalhos aprovados: até o dia 31 de julho de 2009.

Previsão do lançamento: outubro de 2009.

RECOMENDAÇÕES PARA PUBLICAÇÃO NA REVISTA TEIA LITERÁRIA 3

ARTIGOS
1. Os textos devem ter, aproximadamente, mínino de doze (12) e um máximo de dezessete (17) páginas.
2. Os trabalhos devem ser apresentados com título (caixa alta, centralizado), nome do autor (alinhado à direita), nota de rodapé especificando tipo de vínculo e instituição a que pertence, as notas devem ser no rodapé, resumos em português e inglês (entre 3 e 10 linhas), três (3) palavras-chave em português e inglês e referências bibliográficas.
3. Os trabalhos devem ter a seguinte formatação:
* Ø Digitação em Word (Microsoft ou Open Office), tamanho A5 (14,8cm x 21,0cm), fonte Times New Roman, corpo 10, espaço simples e justificado.
Ø Apresentar margens de 3,0cm (esquerda, direita, superior e inferior).
Ø Indicar o início de parágrafos e alíneas com recuo de 1,0cm.
Ø Citações com mais de três linhas deverão ser destacadas no texto, tipo Times New Roman, tamanho 8, espaço simples e com recuo de 1,0cm.
Ø Indicar as citações bibliográficas no corpo do texto, entre parênteses, com os seguintes dados: sobrenome do autor, ano da publicação e a página. (Exemplo: FERREIRA, 1976, p. 50-52).
Ø Usar itálico para termos estrangeiros e títulos de livros e periódicos.
Ø Conter, para destaques no texto corrido, sublinhas ou aspas duplas, não devendo ser utilizados, para esta finalidade, o negrito e a caixa alta.
Ø Não utilizar gráficos ou imagens.
5. Realizar a revisão do texto.

RESENHAS
1. Textos de publicações editadas nos últimos dois anos.
2. Número de páginas: até sete (7).
3. Apresentação da página de rosto:
Ø Nome do autor da resenha (alinhado à direita) e nota de rodapé especificando tipo de vínculo e instituição a que pertence.
Ø Referências bibliográficas da obra a ser resenhada com recuo de 2,0cm e alinhamento justificado. Exemplo:
MIA, Couto. Venenos de Deus, remédio do diabo: as incuráveis vidas de Vila Cacimba. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
4. Os textos devem ter a seguinte formatação:
Ø Digitação em Word (Microsoft ou Open Office), tamanho A5 (14,8cm x 21,0cm), fonte Times New Roman, corpo 10, espaço simples e justificado.
Ø Apresentar margens de 3,0cm (esquerda, direita, superior e inferior).
Ø Indicar o início de parágrafos e alíneas com recuo de 1,0cm.
Ø Indicar as citações bibliográficas no corpo do texto, entre parênteses, com os seguintes dados: sobrenome do autor, ano da publicação e a página. (Exemplo: FERREIRA, 1976, p. 50-52).
Ø Usar itálico para termos estrangeiros e títulos de livros e periódicos.
Ø Conter, para destaques no texto corrido, sublinhas ou aspas duplas, não devendo ser utilizados, para esta finalidade, o negrito e a caixa alta.
5. Realizar a revisão do texto.
Os trabalhos devem ser enviados para o e-mail: xrevistateialiterariax@hotmail.com e três cópias impressas para o endereço: Mem de Sá, 133 – Vila Municipal, Jundiaí - SP, CEP: 13201-097.

Organização:
Raquel Cristina dos Santos Pereira
Comissão de Pareceristas:
Ângela Beatriz Faria - UFRJ
Jorge Vicente Valentim - UFSCar
Raquel Cristina dos Santos Pereira - PUC-Rio

Aguardo as suas colaborações para o sucesso da terceira Teia Literária.

Um grande abraço,
Raquel.

Raquel Cristina dos Santos Pereira
Editora - TEIA LITERÁRIA
ISSN 1981-3767
www.teialiteraria.com
Fonte: e-mail recebido às 18h31 do dia 25/04/2009.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Tchalê Figueira - "O Mar", pinturas recentes

As pinturas abaixo, da série "O Mar", foram gentilmente enviadas pelo artista plástico cabo-verdiano Tchalê Figueira, no dia de hoje.

Ricardo Riso













Tchalê Figueira - A viagem (prosa)

Acabo de receber o texto e algumas imagens de pinturas recentes do artista plástico e escritor cabo-verdiano Tchalê Figueira. Segundo ele, trata-se de "um texto poético quase autobiográfico".

Aqui compartilho com vocês.
Abraços,
Ricardo Riso

Biográfica viagem
Lá longe de aquilo que eu e o Mundo sabe é o vazio. A especulação das estrelas, as palavras. Sempre as palavras! A candeia e a bengala, o sustento do efémero, borboletas desfazendo em cinzas. Sementeira nos campos: Algumas perdidas pela secura da alma, outras iluminadas pelo incêndio do peito, tal mulher casa da primavera. Neste monte verde uma grinalda de névoa entra pelas minhas narinas, penso nos meus mortos que frios jazem em catedrais olvidados e, no meu eu, a luz herdada dos seus candelabros de sabedoria. Com meu cajado de plumas e um mar imenso de pensamentos a águia voa, meus pés descalços sentem a renda dos massa pés, modelando trilhos na ilha. Lembro-me dos teus ombros que beijo e torno a beijar cem vezes cem, ou equação infinita na tábua de ébano dos teus olhos. Borboletas, pássaros, flores, e meus dedos apontando uma lua coralina, que repousa entre os vales dos teus formosos seios. O quarto, a mesa onde divido o pão e escrevo. Invento palavras cortantes como a espada da morte, também o sabor a mel que corre na linha das minhas ideias. Colheitas armazenadas na electricidade do meu crânio iluminado, insectos coloridos com sangue, sobrevoando o lago das minhas incertezas. A casa febril arde, papoilas suspensas na seara, o invisível ar que respiro, a profundidade no oceano das palavras que sondo. Respirar de cavalo sem freio, a tristeza o amor e a morte, corrente marítima, veleiro navegando na borrasca, minha solidão sem beijos… Romarias e suor, repicam-se tambores nas ilhas. Santos por um dia pelas ruas caminham, dos seus sexos bátegas de chuva regando acácias com seus ramos de navalhas apontadas para a lua. O povo canta, a cortina da mingua num tocar de corpos desvanece no vermelho da terra e, ressuscitado por um segundo, Cristo com um panfleto de luz, grita aos homens: Amai uns aos outros, irmãos!... Igrejas. Mesquitas, sinagogas, templos iluminados, dogmas e mártires, artilheiros da fé, mentes flageladas pela cegueira do verbo: Meu corpo é meu templo, são beijos de libelinhas, pairando num regato de cantigas… Violinos, liras, harpas, violoncelos na rua dos tímpanos repousam – Os sentidos orquestram a harmonia do dialogo, e, sentado na raiz milenária de um dragoeiro, oiço o cristal da música embalando meu peito grande. Cintilam estrelas de branco veludo, neste universo sem fim… Violáceo poente, jardim dos meus olhos, quente vermelho, caminho leve, varanda nas pálpebras, minhas pestanas pintando oceanos, as cores, a luz, a sombra e o brilho. – Sem Luz!... Não há espaço nem tempo!... Passa um moscardo, regresso a infância bem longe… Foram tantas, mas algumas pelo caminho as perdi… Daguerreótipos depositados no armário das minhas lembranças: Singapura!... Trinta moedas, três maços de Chesterfield, meu coito triste, órfão do mundo, e, mais mar a fora, a ilha dos sonhos, paraíso perdido que a vida anseia. Rosa-dos-ventos, barco do corpo horizonte de tigres, homens – a – vista!... Será este meu porto seguro?... Teria que encontrar-te de novo, oh musa perdida!... Tu que comigo ao agro foste, escutar a fresca erva crescendo… Planície verde, ausência de espelhos, abominável objecto de vaidades múltiplas, imagem negra no pós Outono da vida, rugas no coração, homens na plástica, olhos rasgados orbitam sem brilho, a morte que nunca avisa quando vem jantar! … Bandeiras, estandartes, suásticas, soldados, guerreiros marchando, gritam ao tirano: Ave César! Morttituris ti Salutem … Bestas teleguiadas colocando ovos no útero do Mundo. Selvas ardendo, mães sem sorriso, águias apunhaladas no voo do Poeta! Mas, o Poeta, feito pássaro que renasce das cinzas inventa palavras, iluminam-se livros, estes templos sagrados de divina sabedoria… Mãos em chama, fogo da aurora, nasce a palavra, longos dias eternas noites… Ele, Sussurrando pergunta: São verdes os teus olhos, ou são azuis, como a fina linha do mar que vem dar a costa dos meus sonhos?... Oh salamandra dourada, fogueira viva, estrada escarlate! Minhas artérias são rios de sangue, palavras em meus lábios, cotovelos dobrados, rezo a beleza. Fénix renasce, música celestial, partitura divina, divino escuto Beethoven… ( Freude Godes Funkel aus Ellisium) movimento de batuta solar, música infinita… E eis que escrevo este poema aos meus amigos vivos e mortos. Mortos nas suas frias lápides, carrego-os no cadinho da vida… A vela cintila, uma brisa fugaz entra e sai pela janela das persianas verdes… A cor dos teus olhos não é?... Ou!... Serão azuis?... negros?... castanhos?... Amo-te com todas as cores mulher vindima, uva que etiliza meu veleiro de mastro firme. Sou capitão, marinheiro de velas soltas nas vagas do teu pão que como e ofereço-te a comer… Leite, manga, nuvens, crianças, lua, a imensidão do peito, ajoelhado beijo teus lábios em flor… Semente da terra, origem da vida, convexa prenhez, planta que nasce, festejamos a vida, com cavaquinhos e violões, a navalha que corta o fio, entre a mãe e a cria, primavera em brilho, sorrisos marfim, catedrais de ébano, bocas vermelhas, belos os seus rostos, rendas de Holanda, mesas coloridas, iguarias crioulas, manjares e bailes, papilas gustativas, o céu da boca, malagueta e melaço, cana – de – açúcar, o grogue que embriaga nossas alegrias, também as nossas tristezas… Pernas pintadas, pó de terreiros saracoteando, juventude firme, corpos de basalto, seus sexos cheirosos, coxas ritmadas em transe bailando, astros que queimam o circulo das saias, carcelas em fogo, suspiros na noite, lua bem clara, cama de amantes, tamarindo gemendo, flores no quintal, coito efémero, nada eterno, transita o tempo, La nave vá… Ofídia fria, inverno sem luz, os dias, as noites, manto de espinhos, sem água no poço o corpo morre, pálpebras exaustas, guerra dos homens, o frio mármore, almas cortadas, sangue inocente, borrem-se estrelas, lábios sem rega, sede de viver… Moedas que corrompem, de fel é a seiva, vida quebrada, peçonha no cálice, vinho corrompido, falsas abençoas, traqueia que rasga, afónica é a lira, velas e velórios, estrelas extintas, caule quebrado, dedos partidos, canetas ardendo, escritas sangrando, frios revólveres suicidando sonhos… A luz da vida, o dia que renasce!... Montanha curva, ventre de mulher, parto feliz, a vida, relâmpagos no céu, voam os dias, soltam-se amarras, nas veias o sangue, meu corpo nu, multiplicação de anjos, orações divinas, atiçam-se lareiras, meu cérebro descansa, a morte fica, para um outro dia… Desço a corrente num barco de seda, meus gestos, tuas mamas, teu cabelo azeviche, floresta de crinas, teus olhos que brilham, jardim dos sentidos, os sinos que tocam, torre ardendo, meu pénis duro, tua concha em flor, teu desejo molhado, minha língua solar, curvas na púbis, jardim de jasmim, mariposas e pétalas, teu profundo olhar que entoa música… Trompetes e tambores, violas de amor, polifonia alegre, montes castanhos, braços e dedos, palma das mãos, rezam-se terços, Cristo bailando, crianças no baile, pura inocência, coroa sem espinhos, ilhas vulcânicas, negro basalto, rosas do mar… Maria, Joana, Bia, Teresa, rebolam-se coxas num abrasado suor, frenesi musical, cursos de água, rostos de negros, índios e brancos, nascimento das ilhas, ancoradouros e portos, casa de marinheiros, desflora dores de santas, a sal, o azeite a cruz e os santos, bordéis nas esquinas, gemem-se janelas, canto de sereias, tatuagens carminas, capitães de Posídon, filhos do mundo, abandonaram-nos no mar, tanta saudade, nos dias renascemos para bem morrer… O rugir do mar, um leque de pranto, terra rasgada, lua serena, cantamos a desgraça, da sombreada vida, aves queimadas, tombam-se estrelas, neste céu sem fim, lágrimas e dor, dédalo sem êxito, labirinto oceânico, oh esperança!!!!!... Buda renasce, crio caminhos, biliões de lanternas, são pirilampos, lótus da vida, flores no trilho, ascendo da ilha até as estrelas, a visão do cosmos, meu universo, sou a candeia do meu caminho… Formam-se clarões, repicam-se sinos. Tocam-se tambores nos vales das ilha, colares de pássaros, flautas marítimas, pernas que brilham, seda é a derme, corpos de cristal, incenso de mulheres, fogueira eterna, cálice que aflui, sangue menstrual, fecunda roseira, mulher sagrada, lança e arado, meto a semente. Flor de espiga, milheiral no vento, peixes e pérolas, mãos dos teus braços, coluna vertebral, pose de rainha, electricidade no ar, horóscopo e oráculos, destinos escritos, infinitamente juntos, possibilidades possíveis, finito, perene, despedidas e encontros, a vida a morte. Naufrágios do mundo, a imensidão do mar… Aqui chegaram, novo mundo criaram…

Nas suas naus arribaram, ilhas vulcânicas, paleolítico repouso, a primeira missa, répteis e pássaros, baptizaram-nos com nomes que não advêm de Deus… mas sim dos homens, da sua memoria… A bíblia, a espada, pólvora e grilhetas, ninharias e missangas, homens esbeltos, negros e negras, belos como a noite, nocturno azeviche, sangue e chicote, úlceras e ultrajes, negreiros malditos, homens marcados, a ferro e fogo, nasceu do outro lado, o Novo Mundo, com: The Blues, el merengue, el uáuánko. Quato por oito, kumba lele, Xango Ogum, Yenmanjá, novo lado do mar, algodão em rama, Coton Club negro, crioulo é o Jazz, que nos vai libertando para renascermos… Mas… Com o destino, por aqui ficamos: Dermes brancas, rosas negras, melaço nos lábios, cor de mulato, peixe, feijão, milho e pilão, cavaquinho nos dedos, divinas mornas, este mar imenso que nos rodeia, festa das águas, se Deus quiser, meu penedo de Tântalo, sede secular, fonte amputada, língua murchada… Morremos e ressuscitamos nosso desespero… teimosamente aqui ficamos. Daqui zarparam naus e veleiros, barcos de pedra, arpoadores de cetáceos. Ondas gigantes, gentes remotas, filhos do fogo, dez ilhas secas sede sem fim… Xango, Tatanka, Cristo, Shalom, sou negro, índio, lusitano, hebreu, marinheiro das ilhas, num norte sul, cheiro a goiaba, delicioso carpo, orgasmo forte, filho colonial, carrego em mim, continentes e mundos… Querer ficar e ter que partir…

Penélope acena com seu lenço de pedra, lágrimas secas, dias rasgados, membros calcinados, exiladas almas, cartas que chegam, modas e moedas, epistolas de luto, luto e amor, matrimónio por fotos, procurações. Bodas em Lisboa, Boston e Paris, vistos de entrada, cartas de chamada, convocações. Censuradas cartas, Salazar voraz, Tarrafal farpado, frigideira queima, pulmões rasgados, ratazanas e rondas, camaradas delidos, carne de canhão, chumbo de indecência, irremediável loucura, círculo craniano, réptil milenar, nocturna demência, navalhas loucas, baionetas frias, fresca é a carne, heróis na peleja, mortos e medalhas, mataram e morreram, anos sem fim, há tempo para tudo, aqui no Mundo…

Em vagas frescas nasceu meu mar, lavei meu corpo, nasceram mundos, pão nas estrelas, abanico de chamas, signos e flores, monte de rosas, sexo balsâmico, paixão de viver, a hemoglobina quente, bíceps crescendo, luvas de água, mãos de pétalas, campo de folhas, bela é a vida, forte o amor, pássaro que voa, neste mar que canta… Minha viagem!... Lábios de tulipa ardem em meu corpo, película branca, neve do norte, rios gelados, torres néon, estrada do paraíso, relógios de água, mulheres loiras, polidos vasos, porcelanas de Delft, crinas de milho, triangulo solar, meu sexo ébrio, embriague de touro, planície verde, diques e riachos, humedecidas conchas, narciso mulato mornando na viola, canta as mulheres de Blanca Luna… Roterdão, as pontes, pernas bonitas, bicicletas girando, seios altivos, meu peito que rasga, nascem tulipas, aqui habito, vindo das ilhas, broca gelada, fura meus ossos, barcos à – vista, marinheiros sonhando, mornas e ninfas, faróis do porto, navegação exótica, vitrinas de sexo, gonorreis arcaicas, falos em delírio, desgraçada solidão, La petite mort…

Cargueiro na neblina, Oceano Pacífico, Singapura, China, livro de Mao, altifalantes ríspidos, uniformes azuis, individualidades perdidas, falsas doutrinas, num corcel de sangue, galopa a peleja, Vietname queimado, América murchando, Marte de espada, ceifa Saigão, heroína nas veias, filhos da noite, senhores das guerras, assassinos perversos, sorvem champanhe, em crânios de chumbo, contemplo as estrelas, oh miséria humana!...

Constelações de palmeiras, cruzeiro do sul, pescando pérolas, homens castanhos, Gauguin pintando, a luz é vida, na Austrália cantam, doces sábios, aborígenes da terra, telepatia forte, bumerangues voláteis, separando estrelas, trilhos da noite olhos felinos, canto nómadas, seus djederutus, musicando com seixos seus corpos bailam, oiros cabelos, narinas largas… vieram britânicos, raptaram seus filhos, violência e álcool, agonia de um povo, Sidney, Cairns, Adelaide, Pert, soltei amarras, segui o destino…

Quinze dias e quinze noites, vi o monte Fuji, beijei Bacho, lendo Haykus. Poesia breve, universo profundo, meu Zen budismo, a espiritualidade do ser, Yokohama ocidental, comboios cometas, trilhos chiando, peixe gigante, mito de sismos… juba de Einstein, MC2… Openheimer devasta com seu Litlle boy, duas cidades, a bomba atómica, cadáveres em pó, flautas de bambu, schaguaschy que chora, quimonos de seda, gueixas no chá, amendoeira e neve, pétalas perfeitas, mariposas azuis, levante solar, fim da estrada do Japão parti, termina aqui, a segunda viagem…
De contratos com a vida seguimos vivendo, pela sabedoria dos homens nos céus voei… Do Oriente para o Ocidente; Sir Isaac Newton e a gravidade. Macieira e maçã, que não é a de Adão, tão – pouco de Eva, mito de Ícaro, sonho dos homens, inatingíveis mundos, liberdade ou queda… Tokyo, Amsterdam, via Alasca, foi um milhão de dólares, conta a história, Ancorage na névoa, rios com salmões, saltam para a morte, seu renascimento; meu caminho na vida, linhas da mão, labirinto sem centro, a metafísica, penso no amor, existo, penso… Lua soberana, céu argentino, rosto de mulher, pálpebras rasgadas, branco cristal, nocturnos olhos, pestanas de seda, quimono florido, vénias e luvas, mãos de nuvens, papel de arroz, caligrafia zen, diploma lácteo, pólo norte níveo, Robert Perry frio, infinito silencio, a evolução dos homens, máquinas voadoras, meu avião no ar, sigo viagem, caixa veloz, perfurando sombras…

Mas tudo regressa, ao ponto de partida!...

Roterdão meu templo, rezo as divinas, bicicletas voam, meu falo sulca, regresso a Ítaca, rosto bronzeado, labareda ardendo, I,am a sex machine; objecto sexual, Europa mulher, minha comcubina, sou bailarino leve, pétala no vento, furação coreográfico, bailando James Brown… I tis a mans mans World… divina tragédia… Visto de estadia, aborta aos três meses, barco ou fronteira, comboios de gado… Lisboa alerta, Salazar seu esqualo, capanga mor, Tarrafal demente, colecciona cérebros, misantropia perversa, esquadrões da morte, optei de novo, o caminho do mar…


Orenoco serpenteia, águas sem fim, aves coloridas… lembro-me de Simão; … não cirenaico do morto na cruz, mas de Bolívar, el Libertador… que em Santa Marta morreu, febril, seus sonhos, gasta utopia, vida e la muerte, del General, todos os dias morremos na cruz… Avançando na selva, cântico de xamanes escuto, tatuagens negras, bambus e flechas, pepitas douradas voando nas lâmpadas, urros de fantasmas, los conquistadores, sangue derramado, índios vestidos, gládio e livro, verbo de Deus, homens centauros, é a profecia, a pólvora e a cruz, Bartolomeu de las Casas… Meu barco acelera, contra a maré, minha água turva, Amazona queimada, morte e moedas, arquitectura efémera, em porto Ordaz, no Novo Mundo, cheguei… Circe é puta, Ulisses mareante, inverte-se o canto, Homero enxerga, Circe é índia, enfeitiçada por dólares, Ulisses fode… cama molhada, charco de esperma, curral de putas, azares da historia, Coca-Cola bebem, elixir dos deuses, lágrimas sem sal, abraços sem flores, beijos sem água, doces mentiras, o dia chega, benzeno nos tanques, cheira a veneno, passos perdidos, mar encrespado, sigo viagem, To the American deam, Filadélfia à vista!!!! Apertam atracas, minha nave chegou…

De amor fraterno provêm o nome, cidade antiga, Dionísio seu deus, antes da Americana, foi a primeira, o universo gira, nada é eterno, Filadélfia ontem, Filadélfia hoje, o novo império, a sua historia, a pequenez dos homens, grande é o tempo, metrópole fria, letreiros néon, dragões são carros escarrando asfalto, vadias em delírio querem chupar-me, Roosevelt por 100 dólares, usa peruca, narinas largas, o crak despacha, a Independence hall, a constituição, sino da liberdade, Poe meu poeta, corvo agourento fura meus olhos, deprimente é a neve, minha tristeza, imenso lamento, Poe delirando: Tudo acabou!!!! Tudo acabou!!!!... Digam que Edy já não existe… Constituição e liberdade, negros linchados… strange fruits nas árvores, white trash nos guetos, latinos na coca… América! América!... Ginsberg é poeta, Ginsberg gritando: América, América!... Quando vais enviar teus ovos a Índia????...

Triste nas brumas, Filadélfia ficou, rumamos para o norte, velas esticadas cristas nas quilhas, marinheiro na gávea, alto é o céu; arranha-céus fálicos, carros e trombetas, azafama de loucos crimes com arte, cidade de insónia, psiquiatras a quilos, cavalo sem freio, Time hear is mony!!!!! Estátua da liberdade, não liberta almas, Manahata, por 24 dólares, Nova Amsterdam, meus irmãos Lenape, rindo dos brancos, o Sol e a Terra, a nada pertencem, bastam 7 palmos quando a morte beijar… Wall srteet não para, cães pelejando salivam gás, Serra Leoa decepada diamantes com sangue… África fodida… New York – New York… Hudson seu rio, neblina e água, Harlem e Bronx furam-se veias, Hooper e as pinturas, que solidão!... Peguy Guggenheim na arte é poesia. Quens rainha, Miled Davis azul, a Kind of Blue; Central Park verde, respira-se vida, Nações Desunidas, guerras sem fim. Mata o forte, o fraco morre… esta nova Babilónia, foi berço de índios, de traqueias queimadas, água de fogo, negros no Soul, Vénus é rameira, Iam a sailor from Cape –Verde islands arquipélago seco, seco, mas Sabe… mas Sabe que Hollywood é tempo de partir, não vou para as ilhas, proibido regresso, fascismo espreita, terror e morte…Noite tenebrosa, grávida de punhais.
Nas vagas da vida avistei Europa, cansado do mar purguei o sal; pelas estradas caminhei, em Helvécia cheguei… Desenhando gentes, pássaros e nuvens, esposa, amizade, filhos e arte, amor pela arte, arte da vida, poesia sublime navegam os dias…

Regressei às ilhas, foram 15 longas luas, escutei o Cântico da manhã futura! …
Sou peregrino, nos trilhos do mundo, queda e ascensão, a vida é assim, alegria e tristezas, sigo o caminho, como poeta cantando, novos mundos criando, as divas do meu destino, ofereço a luz, meus 55 anos formosos, Monte Verde sagrado, neblina mística, suave frescura, minhas narinas amplas, oxigénio no cérebro, horizonte e utopias, a imensidão do mar… 15Km por 23, São Vicente flutua!... Suspensa no ar, a ilha flutua, pensamentos brotando, serenas jornadas, doce memória, sigo avante, a vida é bela, amo-vos mulheres, musas divinas, candeia altiva, lua celeste, alvorada em parto, razão de viver… vou adiar a morte, para um outro dia…
(Tchalê Figueira - abril/2009)

domingo, 5 de abril de 2009

Domi Chirongo, a nova literatura moçambicana

Domi Chirongo é um dos representantes da nova literatura moçambicana. Nasceu em 1975, ano da conquista da independência do país. Licenciado em Psicologia e Pedagogia, é membro do Sindicato Nacional dos Jornalistas (SNJ) e do Instituto de Comunicação Social da África Austral (MISA Moçambique).

Em literatura, Chirongo já publicou o romance “Um Pequeno XIDAMBANE Africano vítima das cheias”, seus poemas e contos encontram-se dispersos pela web. Além disso, o autor possui um blog onde encontramos vários poemas de sua autoria: http://www.domichirongo.blogspot.com/

Recebi de Domi Chirongo um conto e os poemas que seguem abaixo. O fortíssimo conto “Tiros ao alto” retrata o devastador cotidiano da guerra fratricida patrocinada criminosamente pela África do Sul e EUA que assolou Moçambique. De como a população de lugares ermos era atingida pela violência, obrigando-a viver em estado permanente de vigília e medo, mesmo durante as festas de final de ano. Enquanto a chegada deste sendo anunciada por tiros, metáfora de um conflito que se estenderia por longos anos, dilacerando os sonhos do povo moçambicano com as promessas não cumpridas com a independência, infelizmente.

O desencanto com os rumos tomados pela pátria no pós-independência está presente nos poemas em prosa de Chirongo. Amargura, melancolia, decepção, revolta, são marcas de um eu-liríco inconformado com o meio em que vive e faz do espaço do poema lugar de denúncia e reflexão das mazelas que impedem o desenvolvimento do país. Por outro lado, o eu-lírico interioriza-se, refugia-se em um erotismo libertador em poemas dedicados à Mulher e ao Amor, buscando no caminho ilimitado das letras substituir as agruras de uma vida de intensas dificuldades sociais e econômicas. Em seu blog, os poemas trilham por este caminho.

A presença de um eu-lírico de cariz existencial é marcante na poesia moçambicana, encontrando ecos na história poética do país. Apesar do predomínio, necessário, no que se configurou chamara de “poesia de combate” da luta revolucionária nos anos 1960/1970 e o “cantalutismo” do país independente, apreendemos sua presença em poetas como Virgílio de Lemos, Rui Knopfli, Fernando Couto e o José Craveirinha dos poemas dedicados à Maria. Na contemporaneidade Luís Carlos Patraquim, Eduardo White, entre outros, demonstram e solidificam a rica diversidade estética da produção atual sem afastar-se das críticas a uma realidade excludente e cada vez mais desumanizada.

Domi Chirongo, como representante da nova geração, parece comprometido com essa poesia, uma poesia atenta e descontente, entretanto, que ainda acredita na força utópica do Verbo e da própria poesia. Que o autor continue o seu caminho, se aprimore. Domi Chirongo, um nome para ser olhado com atenção.

Ricardo Riso

* As informações biográficas do autor foram enviadas pelo próprio e retiradas dos endereços abaixo:
http://www.african-writing.com/six/domichirongo.htm
http://aladecuervo.net/logogrifo/0605/chirongo.html

TIROS AO ALTO*

Poucos dias depois do 24 de Dezembro. O grande dia da família! Era noite. Meu pai tinha ido a confraternização do partido. Meus irmãos mais velhos tinham ido a uma banga. Em casa estavam: a minha mãe, os meus dois irmãos que sigo e eu. Lá fora tudo estava calmo.

A cidade era pacata e pacífica. Fria para um clima tropical. Não havia semáforos. Nem tráfego que justificasse. Taxi não havia. Machimbombo muito menos. O prédio mais alto tinha quatro andares. Estava um pouco distante do centro da cidade. Não me recordo duma avenida transformada em prostíbulo. Não havia Universidade. Em escadas rolantes então, nunca se havia pensado. Telemóvel, nem se sonhava que existiria. Computador, nem se imaginava. Não havia televisão. Escutávamos muito pouco a rádio. Da guerra sabíamos através de testemunhos vivos. Os nossos mortos trazidos e os estranhos abatidos. Havia também os capturados. Apresentados nos julgamentos públicos. Que acabavam com numerosas chambocadas ao vivo. Depois do discurso de arrependimento. Não me ocorre na mente alguém que tivesse sido linchado em público. Lembro-me, porém, de pessoas contando cenas piores, de rapazes obrigados a manter relações sexuais com as progenitoras. De pais obrigados a pilar os seus próprios filhos. De pessoas cortadas os lábios, alegadamente para se rirem eternamente. De mães obrigadas a cortar o nariz e as orelhas dos seus irmãos. Outros até a processos mais complexos, como cortar os membros inferiores e superiores. Tudo era por causa da guerra. Guerra que tinha outras causas!

Naquele quadro, para mim era fácil desenhar o arrependimento. Descrever um sonho. Não sei porquê, nunca cheguei a presenciar uma sessão de fuzilamento. Talvés por ser criança! Também não cheguei a perguntar aos meus pais. Nem a ninguém. Acho que nunca me importei. Das pessoas que conheci naquele tempo, não me recordo de ninguém da minha idade que tivesse assistido a um fuzilamento. Porém, a toda a hora falàvamos disso e muito mais.

As notícias circulavam na cidade através da oratura. Foi nesse contexto que soubemos quem era o Ministro da Justiça, do Interior, da Educação e Cultura, entre outros. Foi nesse contexto que soubemos da história do homem cobra. Foi nesse contexto que passamos a conviver com várias outras histórias locais. Foi também nesse contexto que perdemos muitos acontecimentos internacionais e nacionais. Um dia ainda contarei o perdido!

Como vos ia dizendo, a noite já tinha caído. Estàvamos alguns membros da família nuclear em casa. Estàvamos a escassas horas para sair de um ano, quando o som dos tiros começou a penetrar nos nossos tímpanos. Nunca nos tinha acontecido algo igual.

Os sons eram intensos, profundos, melancólicos, amargos e sem mensagem. Não se escutava som de granadas nas proximidades das nossas grades. Nem distante delas. Acredito que era som de “espera-pouco” dos filmes russos, intercalado com o de Makarov. Ah! De certeza AKM estava lá. A minha arma preferida! – O meu pai ensinou-me a manejar antes de eu ter dez anos de idade. Passei a gostar dela, apesar de nunca ter atirado a alguém.

Aquele dia apetecia-me pegar a AKM, que meu pai escondia no guarda-fato. Mas não era eu que dirigia as operações. E ainda não era uma situação extrema.

Placamos como meu pai nos havia preparado. Meus irmãos começaram a dizer a minha mãe e a mim algumas palavras de ordem. Lembro-me de nos terem informado do tratamento que os rebeldes gostariam de ter e não aquele nome de bandidos que era comum na cidade. Os meus irmãos tinham apreendido muito do discurso de arrependimento aquando dos julgamentos públicos. Compreendi naquele momento que o saber não era da escola. Nem era da Igreja. Muito menos dos Ritos de Iniciação.

Em pouco tempo tivemos uma preparação urgente para caso de sermos capturados. Não me lembro de ter tido uma licção concisa e clara em toda a minha vida. Naquele dia não choramos. Estàvamos firmes e dispostos a viver. Os gritos e tiros continuaram até ao amanhecer. A comida da nossa grande ceia ninguém tocou. Os nossos batuques, nossas marimbas e guitarras ninguém mexeu.

De madrugada, só de madrugada, chegaram os nossos irmãos mais velhos e o meu pai. Todos estavam bem animados. Tínhamos entrado num novo ano! O governo tinha decretado a autorização de uso de algumas armas de fogo nos festejos da passagem de ano, e só nós não sabíamos.
Domi Chirongo

POEMAS


SEGUNDA REPÚBLICA
No meio de discursos gratuítos e infrutíferos. Fui odeiado e velipendiado por trocar os três mosquiteiros pelos três tenores. Sim, sem questionar o presente d’então, deixei-me abraçar pelos ventos vindos até mim. E com os braços musculosos também envolvi profundamente aquela música. Num exercício intensamente romântico... Sim, jamais esquecerei aquele cenário! Hoje, eis-me aqui desarrependido, despido de cobardia, pronto p’ra ser cuspido e fuzilado por todos incoformados, adeptos incondicionais da hipocrisia e cinismo deste sítio.

PRESENTE
Assinando o nosso acordo de paz numa pátria dos outros, ninguém sabia deste presente e nem mesmo o ex-colono, admitindo mulheres no exército, imaginava o presente que se revela. Quem era eu filho? Quem era p’ra vaticinar as vidas armadilhadas nas esquinas diárias? Se realmente suspeitasse deste presente, teria substituído a metralhadora p’la caneta e papel higiénico. Quem sabe, talvés sairia menos sujo deste dinheiro presente.

RODA DE DANÇA
Antigamente fazíamos uma singela roda de gente. Em improviso entrava um a um dançando, tjambando. Ou um par. À imagem do ensaio, era substituído por outro par. Mais outro. Assim sucessivamente até a música terminar aplaudida por todos. Adolescentes lindos nós éramos! Antigamente a gente daqui era maravilhosa e simpática! Aqui era agradabelíssimo viver. Conviver. Beat estava a bater e muito bem! Hoje tudo mudou. A música baixou. Nossa face murchou. A roda parece machucada. Crianças, jovens, adultos, idosos, chacina na catedral de dança. Pneu p’ra abrandar o cheiro, petróleo p’ra acelerar o acto. Um casal linchado.


DORMIR ETERNO
O chão choramingão clamando, chamando por mim. Poeta silvestre. Declamador terrestre. Em cada desastre desta vida, abandonada por Deus e despida de toda moral conhecida! O chão choramingão, coercivo, chamando por mim, logo eu, bolas! Para um lugar incerto caminho. Não sei se correndo ou voando. Quem sabe gatinhando. Ou talvés rastejando para não ser rasteirado. Caminho. Não desejo caminhar, mas caminho.


ERRO HUMANO

Abra essa luminosa porta, amor. Deixa teu querido penetrar. Com jeito. P’ra desaguar o cansaço, brotado da jornada diária. Ingrata. Descompensada pelos berros do patrão. Salário desigual! Salafraio alimentando esta pobre cabeça desregularizada. Aliada natural do coração que te ama. Sofre meu corpo honesto. Erecto. Decidido. Determinado a felicidade até a exaustão. Abra a porta, porra! Esqueçamos os erros. Até mesmo os berros do patrão. Deixe-me aconchegado, amor.


LUSOAFINANDO

Quando axe atingiu o topo no Brasil, eu estava aqui sentado. Marrabentado até aos tímpanos. Com o pescoço saramingado, minguado pela pátria, via a via p’ra vila da felicidade transformar-se em sangue. Mas não era sangue. Era suor dos que ousaram desviajar em atmosferas virgens, mais puras que as maravilhosas ilhas nacionais. Outras até internacionais!


S/T
Estas são as cores do coração corajoso tropeçado em ti Pese embora ignores a essência delas Vale a pena chamar-te a razão Mais uma vez

O SIGNIFICADO
Atravessando a praça da Travessia do Zambeze, rapidamente o jardim, a heroína, o Hotel e o Museu te consomem. Mas por acaso saberás dizer quanto custa uma escrita desenraizada da realidade? Sabes, devias escutar a mescla de rimas ritmadas nas teclas d’alma que dão vigorosa vida ao coração. Oiça atentamente e terás o significado deste amor.


ÁGUIA D’OURO
Neste
galinheiro
águia
permaneço
preparado
p’ra amar.


S/T
Oásis do amor que hasteei em ti é um pêndulo. Guia-me na estrada vital, mais intelectual que qualquer bandeira.


TUA ...
Tua é a alma iluminando meus tristes caminhos. Não. Não posso ser inimigo dessa alma escondida em ti. Abre-te. É no teu corpo descoberto, onde encontro o indicador da felicidade. Por isso, sob o pretexto de combater o stress, tomei a forte decisão de entregar-te o meu coração.


* conto e poemas enviado por e-mail pelo autor às 5h42, dia 02 de abril de 2009.

Arco da Velha - blog de Tchalê Figueira

O amigo cabo-verdiano Tchalê Figueira acaba de me informar sobre o seu blog - http://tchale.blogspot.com/

Tchalê é escritor e artista plástico. Escreveu Ptolomeu e a sua viagem de circum-navegação e Solitário, além de crônicas, contos e poesias dispersas em jornais, antologias etc. Nas artes plásticas, sua obra é uma das mais consistentes do arquipélago. Em seu blog, temos contato com suas diversas facetas. Estão lá poemas, pinturas, contos e algumas reflexões sobre o país, as pessoas, a vida.

Recomendo a visita.

Abraços,
Ricardo Riso

sábado, 4 de abril de 2009

“GRIOTS” - I Colóquio de Culturas Africanas: Literatura, Linguagens, Memória, imaginário

“GRIOTS”
I Colóquio de Culturas Africanas:
[Literatura, Linguagens, Memória, imaginário]
Data: 25 a 27 de maio de 2009.
Horário: 9h às 12h
Local: Auditório do CCLH - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Mais Informações no Departamento de Letras
Fone 3215- 3282

Inscrições no site: www.ufrn.br/ufrn2/coloquioafricano

Apoio: UFRN, Núcleo Câmara Cascudo, Memorial Câmara Cascudo.
Realização: Departamento de Letras - UFRN
Fonte: e-mail enviado por Tania Lima, do Departamento de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

I Simpósio Brasil-África de Ensino Superior - UFPE

I Simpósio Brasil-África de Ensino Superior - UFPE

de 22 a 24 de abril de 2009

Local: Centro de Filosofia e Ciências Humanas e Centro de Educação - UFPE




Fonte: e-mail enviado pela colega Paula Santana às 15h05, dia 03 de abril de 2009.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

A kitabu Livraria Negra, a editora União de Escritores Angolanos – UEA e a autora convidam para o lançamento de:

O Espaço do Oprimido nas Literaturas de Língua Portuguesa do Século XX: Graciliano Ramos, Alves Redol e Castro Soromenho.

de Jurema Oliveira

Local: Kitabu Livraria Negra
Data: 07.04.2009
Horário: 19:00
End: Rua Joaquim Silva, N. 17, loja – Lapa – RJ
Tel: 2252-0533

Local: Kitabu Livraria Negra
Data: 07.04.2009
Horário: 19:00
End: Rua Joaquim Silva, N. 17, loja – Lapa – RJ
Tel: 2252-0533

Fonte: e-mail enviado pela Kitabu – Livraria Negra às 12h48 do dia 02/04/2009

quarta-feira, 1 de abril de 2009

África e Africanidades - 5ª edição (chamada para artigos)

Prezados,

o quinto número da revista acadêmica África e Africanidades (http://www.africaeafricanidades.com/) estará disponível no dia 01 de maio. Artigos ou resenhas devem ser enviados para avaliação até o dia 10 de abril. As normas para publicação encontram-se no site da revista.

Abraços,
Ricardo Riso
(Conselho Editorial - África e Africanidades)