quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Jornal A NAÇÃO (Cabo Verde) 122 - 31/12/2009 - resenha "Praianas" de José Luis Hopffer C. Almada





José Luís Hopffer C. Almada - Praianas


Por Ricardo Riso


Neste ano foi lançado “Praianas – Revisitações do Tempo e da Cidade”, livro de poesia de José Luis Hopffer C. Almada, publicado pela Spleen Edições, com visceral capa de Abraão Vicente e um posfácio muito bem elaborado por Rui Guilherme Gabriel, assim como foram as análises de Inocencia Mata e Maria Armandina Maia à 2a. edição da “Assomada Nocturna” e ao artigo de Mario Fonseca referente à sua 1a. edição. Todo esse esmero crítico valoriza o vigor da formulação poética de José Luis e demarca a pertinência da sua produção para a literatura cabo-verdiana contemporânea, além da reconhecida contribuição na área de crítica literária.

Em “Praianas”, o autor retoma seus heterônimos para reunir poemas sobre a Cidade da Praia e inclui-se na vasta lista de poetas que se inspiram na cidade, tais como Arménio Vieira, Jorge Carlos Fonseca e Filinto Elísio. Estão representados, com seus olhares diversificados e diferenciadas características, NZé di Sant’ y Agu (o mais telúrico, vinculado às ilhas e à cultura de Cabo Verde) autor do longo e épico poema narrativo “Praianas” (recomenda-se as considerações de Rui Guilherme acerca de gênero) e de “Historicidades”; “Poeticidades”, de Alma Dofer Catarino (o que se pretende lírico e existencialista); e “Noiticidades”, de Erasmo Cabral de Almada (a faceta voraz e crítica) que encerra o livro; alguns deles acompanham a criação poética de José Luis desde o final dos anos 1970.

A ironia e o olhar corrosivo e amargo diante da situação atual da Praia e do país revelam-se nos poemas dedicados a Erasmo Cabral de Almada, principalmente em “Cidade VI”: “A nossa cidade está de nojo pelos sobreviventes da cidade” (p. 115). Enquanto Alma Dofer Catarino comparece com lirismo e elegante ironia inferidos na homenagem a Arménio Vieira, em “O desterro do poeta”, ao mencionar o incômodo causado não só pela sua poesia, mas também pela sua presença: “Dizem/ consumias demasiado café (...) Por isso/ instaram-te a mudar/ o teu indeclinável percurso/ de todos os dias/ e proibiram-te de consumir café” (p. 103-105).

Todavia, o engrandecimento deste livro se dá nos poemas de NZé di Sant’ y Agu. O seu apego ao chão de Cabo Verde e a constante rememoração do passado histórico estimulam o poema “Monte-Agarro” (p.95), integrante de “Historicidades”, a celebrar os heróis da revolta de 1835: Gervásio, Narciso e Domingos. Mas é na retomada e no aprofundamento de características das duas “Assomadas Nocturnas” que o longo poema “Praianas” se destaca. Estão lá a evocação, a anáfora, o uso constante da adjetivação e do gerúndio, o discurso metafórico, a enumeração incansável de pessoas, lugares e fatos e a reconstituição do passado pela memória individual (biográfica) e coletiva (histórica).

Na 1a. parte do poema, temos a chegada dos meninos à Praia com suas “almas ávidas das luzes da cidade” (p. 18), o duro aprendizado na urbe, a solidão, a iniciação sexual até o amadurecimento da consciência política e do momento histórico em que viviam, “da multidão libertando os medos seculares” (p. 49). Na 2a. parte, reduz-se a saga dos meninos e enfatiza-se a luta pela libertação em Cabo Verde e Guiné ao recorrer aos participantes do PAIGC, aos anônimos contrários ao colonialismo e aos presos políticos, assim como os combates pela África e a mobilização pela diáspora. Pertinente e bela a participação descrita dos “poetas pastores da noite” (p. 61), “versados na arte poética de intervenção social (...) dotados na ciência da revolta e do inconformismo (...) da palavra contestatária detonadora de ânimos novos” (p. 58).

Este “Praianas” consagra a maturidade poética de José Luis Hopffer C. Almada, seu apuro estético e formal, a incessante e incansável lapidação da palavra. Através da revisitação constante ao passado e valendo-se da sensibilidade à flor da pele na recriação literária, Hopffer Almada presta sua contribuição ao reencenar em uma tessitura poética comovente a história e a cultura de Cabo Verde.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Feliz 2010



Por um ano novo

mais solidário, generoso,
delicado e justo...


Feliz 2010!
Ricardo Riso

IMAGEM: Ver com o olhar dos amantes, para além dos vários firmamentos (ao casal Estrelinho e Infelizmina) - (conto "O cego Estrelinho", série "Imagens Abensonhadas" - livre interpretação dos contos de Estórias Abensonhadas, do escritor moçambicano Mia Couto) - aquarela s/papel de Ricardo Riso - 40,2 x 30,3 cm - 30/04/2009.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Cabo Verde no Provocações (TV Cultura)

Um ótimo presente de Natal será o programa Provocações (TV Cultura) de Antonio Abujamra dedicado a Cabo Verde, sexta (dia 25), às 22h. Os entrevistados serão Cesária Évora, a jornalista Soraia de Deus, o ator Habib Dembélé e o amigo João Branco, diretor teatral do Grupo de Teatro do Centro Cultural Português/IC-Cabo Verde.

Abraços e bom Natal!
Ricardo Riso

Provocações especial!
Abujamra visita Cabo Verde – África

Cabo Verde é redescoberta por Antonio Abujamra em setembro de 2009.

Abu foi convidado para participar do Mindelact (criado em 1995), que é um dos festivais teatrais mais importantes do hemisfério sul, na cidade de Mindelo, que fica na ilha de São Vicente, uma das 10 que compõe o país.

O nosso entrevistador apresentou o espetáculo “Começar a Terminar” e estava muito bem acompanhado por companhias de Angola, Espanha, Portugal, Mali, França, Bélgica, Republica Checa, Moçambique e França – cujo representante era o grupo de Peter Brook – e do próprio Cabo Verde.

A música de lá é sinônimo de Cesária Évora. Foi ela quem divulgou gêneros musicais como a morna, o funaná e a coladera. Trechos do show que apresentou no Heineken Festival, aqui no Brasil, transmitido pela TV Cultura, serão utilizados no programa.

A cantora abre as portas de sua casa para uma agradável entrevista, onde a cantora fala sobre a carreira, Cabo Verde e a vida.

Além de Cesaria, Abu provoca o ator Habib Dambélé, que também se apresentou no festival; a jornalista Soraia de Deus e o diretor artístico do Mindelact João Branco.

Conheça a magia de Cabo Verde - ÁFRICA !


Convidados:
Cesaria Evora - Cantora de Cabo Verde
João Branco - Diretor artístico do festival Mindelact
Soraia de Deus - Jornalista
Habib Dembélé – Ator

QUANDO:
sexta, 22H00
Reapresentação: madrugada de quinta para sexta, às 01H30.

Fonte: informação passada pela amiga Denise Guerra, do blog Afrocorporeidade. O texto foi retirado do site da tv Cultura - http://www2.tvcultura.com.br/provocacoes/programa.asp?progid=443&tipo=novo

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Feliz Natal!


Desejo um feliz Natal para todos!
Ricardo Riso


Daquela que se foi... (série Sobre a Delicadeza Perdida)
aquarela s/papel - 15 x 10 cm
Ricardo Riso

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Jornal A Nação (Cabo Verde) n. 120 - 17/12/2009 - coluna Ricardo Riso




Para quem quiser receber a versão pdf desta e das futuras edições do jornal A Nação, basta deixar o e-mail para contato neste post ou em qualquer outro do blog, ou enviar e-mail para risoatelie@gmail.com solicitando o jornal.
Abraços,
Ricardo Riso


Passaportes de Abraão Vicente renovam tema caro à literatura: a emigração


Ricardo Riso


A insularidade de Cabo Verde impôs ao ilhéu os dilemas “querer ficar e ter que partir” e “ter que partir e querer ficar” em razão das condições adversas do arquipélago ou a situações políticas, como o colonialismo português e as desigualdades econômicas que a independência não conseguiu resolver. Ou seja, emigrar é parte da cultura de Cabo Verde.

A evasão e a emigração são disseminadas na literatura. A geração da Claridade (1936), marco da cabo-verdianidade, foi acusada de evasiva por seus pares nas décadas seguintes.

Entre os claridosos havia o sentimento nacional independente a Portugal a partir da evasão e do sonho, como no “Poema de quem ficou” de Manuel Lopes:

Eu não te quero mal / por esse orgulho que tu trazes; / porque este ar de triunfo iluminado / com que voltas...(...)
...Que teu irmão que ficou / sonhou coisas maiores ainda, / mais belas que aquelas que conheceste... (...)
que nunca viram teus olhos / no mundo que percorreste...

Nos anos 1940, a revista Certeza (1944) explicita o absurdo do colonialismo. Nos 1960, as guerras coloniais levariam à independência.



A crescente revolta e a nova relação com o mar são retratadas por Ovídio Martins em “Unidos Venceremos”:

Estendemos as mãos / desesperadamente estendemos as mãos / por sobre o mar
As ondas não são muros / são laços / de sargaços / que servirão de leite / à grande madrugada (...)

Após a independência, a antologia Mirabilis – de veias ao sol marca a ruptura da literatura com os dilemas do ilhéu. No prefácio, José Luís Hopffer Almada afirma que:

Fustigada pelos ventos (da incompreensão!), pelo sol (da hipocrisia!), pelos tempos vários do mau tempo literário (...) No deserto, cresce a geração mirabílica (...) Mirabilis – de veias ao sol. Geração mirabílica indagando o sol. (...) Uma única rosa é a Mirabilis, e dela queda um sol de sangue. O sol da poesia mirabílica.

Nessa linha, Euricles Rodrigues escancara o rompimento com o passado literário em “Revolução-evolução”:

Viola a tua tradição / enterra a tua paranóia marítima secular / renega a tua estreita visão interior
E busca / novas formas / novas artes / novos engenhos / nova mente
De / cortar as amarras da estagnação / engravidar a terra de novo sangue / estabelecer nova aliança com o mar

A emigração hoje

É notório o elevado número de emigrantes cabo-verdianos pelo mundo. Porém a xenofobia dificulta o deslocamento de estrangeiros, que se arriscam em embarcações precárias.

Por outro lado, Cabo Verde recebe barcos ilegais africanos impedidos de chegar à Europa, o que gera transtornos ao país, sem estrutura para abrigá-los.

Essa situação denuncia o fracasso do neoliberalismo, em que países do 1o. mundo ignoram a situação caótica da África, em boa parte causada pelas pressões econômicas externas.

Os passaportes de Vicente

Nascido na ilha de Santiago em 1980, Abraão Vicente é autor do blog - http://abraaovicenti.blogspot.com -, com diversas séries expostas que surpreendem pela variedade das técnicas. Diversidade que demonstra segurança, conhecimento e ousadia.

Em duas séries, “Retratos” e “Passports Frames”, Vicente apropria-se de passaportes, objeto de desejo do cabo-verdiano, e cria inquietantes obras. Mas, atento ao momento adverso, recorre a um verso dos Rolling Stones: you can’t always get what you want.

Ao despedaçar o passaporte com pinceladas agressivas, figuras fragmentadas e textos caóticos, Vicente denuncia o desespero de quem quer emigrar. Desfigurando-o, mostra, pela impessoalidade das figuras despedaçadas, o cidadão comum que quer sair para um futuro incerto. O dilaceramento do documento, metáfora da dificuldade de alcançar o sonho, a saída do país.

Inquietação e multiplicidade na escolha dos meios deslocam o observador da passividade da contemplação. Abraão Vicente é um artista em sintonia com as questões do seu tempo ao renovar e não se omitir em denunciar as novas vertentes de um tema que atravessa a literatura cabo-verdiana: a emigração.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Mário Fonseca será homenageado na Associação Caboverdeana de Lisboa

CONVITE

A Associação Caboverdeana de Lisboa vai homenagear o cidadão e poeta de grande envergadura, Mário Fonseca, no próximo dia 17 de Dezembro, pelas 18,30 horas, na sua Sede (sita na Rua Duque de Palmela, Nº 2, oitavo andar) com o seguinte programa: :

-Testemunhos sobre a vida de Mário Fonseca por Maria Margarida Mascarenhas e José Eduardo Cunha;

-Abordagens da obra literária de Mário Fonseca por Elsa Rodrigues dos Santos e José Luís Hopffer Almada:

-Projecção de um vídeo de Mito Elias sobre Mário Fonseca;

-Recital baseado na obra poética de Mário Fonseca.

- Mini-Feira do Livro Cabo-verdiano


Fonte: e-mail gentilmente enviado por José Luís Hopffer Almada em 15 de dezembro de 2009.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Jornais africanos na Revista África e Africanidades

Prezados,

Contribuindo para a disseminação de informações sobre o continente africano, a Revista África e Africanidades está disponibilizando em seu site links diretos (muitos traduzidos para o português) para 205 jornais de diversos países do continente.

Os links estão sendo inseridos de forma gradual, mas o objetivo da revista é incorporar à página links de jornais de todos os países africanos.

Vale à pena conferir no endereço www.africaeafricanidades.com


Att.

Nágila Oliveira dos Santos
Diretora / Editora

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Revista África e Africanidades - chamada para artigos 8ª edição

A Revista África e Africanidades, periódico on-line (www.africaeafricanidades.com) com publicação trimestral (ISBN 1983-2354), recebe até o próximo dia 10 de janeiro artigos, resenhas, relatórios de pesquisa para avaliação e publicação em sua 8ª Edição (fevereiro/ 2010).
Tendo como missão a divulgação de estudos relativos às temáticas africanas, afro-brasileiras e afro-latinas, o subsídio de práticas pedagógicas e formação continuada de professores da Educação Básica, a Revista África e Africanidades tem como principais linhas de estudo:

-Estudos africanos: pesquisa e divulgação
-A cultura afro-brasileira em seus diversos desdobramentos;
-Literatura, mito e memória;
-Educação, formação de professores e relações étnico-raciais;
-Desenvolvimento econômico social e discriminação;
-Corpo, gênero e sexualidade;
-Teoria social e estudos raciais;
-Questões negras na educação;
-Comunicação, mídia e representações: produção, sentidos e veiculação da imagem do negro;
-Os movimentos sociais negros brasileiros: do pós-abolição à contemporaneidade;
-Relações raciais em discursos midiáticos e literários;
-Trajetórias e estratégias de ascensão social de afro-descendentes;
-Territórios e o patrimônio material e imaterial;
-Territórios, religiões e culturas negras;
-A África na sala de aula: questionamentos e estratégias;
-A literatura africana para jovens e crianças;
-Ritmos da Identidade: música, territorialidade e corporalidade
-Literatura, História e Artes: entrelaçamentos possíveis;
-Estudos de narrativa: tendências contemporâneas;
-Afrodescendências e africanidades nas artes no Brasil;
-Direitos Humanos e população negra;
-O comparativismo literári: interdisciplinaridade e hibridismo;
-Tradições orais;
-Religiosidade;
-Juventude e identidades;
-Luta e resistência em espaços urbanos e rurais;
-Saúde da população negra;
-Preservação do patrimônio histórico, artístico e cultural;
-Políticas de ação afirmativas no Brasil e no exterior: avaliações e perspectivas;
-Participação e representação política;
-Identidades e trajetórias socais;
-Educação: mudanças, desafios e novas perspectivas;
-Mercado de trabalho;
-Racismo institucional.

Veja as normas para envio de trabalhos em www.africaeafricanidades.com/normas

Cabe ressaltar que todos os trabalhos publicados em nosso periódico passam a participar da seleção para composição da Coletânea Cadernos África e Africanidades, versão impressa organizada por temáticas diversas, atualmente distribuída em 7 volumes, a saber:

Cadernos África e Africanidades 1: Literaturas Africanas e Afro-Brasileiras;
Cadernos África e Africanidades 2: Mulheres Negras;
Cadernos África e Africanidades 3: Memória, Tradição e Oralidade;
Cadernos África e Africanidades 4: Educação e Relações Étnicorraciais;
Cadernos África e Africanidades 5: História;
Cadernos África e Africanidades 6: Religiosidade, Identidade e Resistência
Cadernos África e Africanidades 7: Política Educacional

Os volumes acima podem ser adquiridos em nossa livraria virtual

Conheça mais o nosso trabalho em www.africaeafricanidades.com e ajude na divulgação do mesmo.

Att
Nágila Oliveira dos Santos
Diretora / Editora

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Andrade – craque dentro das quatro linhas, craque como técnico-estrategista, orgulho afrodescendente

por Ricardo Riso

Um aspecto importante do jogo em que o Flamengo pode se tornar campeão brasileiro não vem sendo abordado pelos grandes meios de comunicação e que poderia motivar as complicadas relações étnicorraciais na sociedade brasileira: trata-se do técnico rubro-negro Andrade, que poderá se tornar o primeiro técnico negro a ser campeão do principal torneio nacional. E por uma feliz coincidência, o jogo decisivo será no Maracanã, cujo nome oficial é o do autor do histórico livro “O negro no futebol brasileiro” (1947), Mário Filho, irmão de Nelson Rodrigues. Filho, em seu trabalho pioneiro, aponta as discriminações sofridas pelo negro para ser aceito no meio do futebol.

O negro no futebol brasileiro só aparece com destaque como jogador. Foi assim desde que o ludopédio se instalou em nossas terras ao final do século XIX. De esporte de elite proibido aos negros, foi se popularizando entre as classes populares e, somente em 1923, que um clube abriu as portas para jogadores negros: o Vasco da Gama. Aos poucos, os afrodescendentes foram ocupando os espaços nos clubes e na seleção brasileira, mas o jogador tinha que seguir a máxima de que “não basta ser bom, é preciso ser o melhor” para ser aceito.

Talvez o período em que o racismo tenha sido escancarado no futebol tenha acontecido na derrota para o Uruguai, na final da Copa de 1950, no supracitado Maracanã. Naquela ocasião, o jogador Bigode e o goleiro Barbosa foram acusados como os responsáveis pela derrota brasileira por não conseguirem impedir o atacante Ghighia de marcar o gol da vitória. Esse acontecimento motivou a imprensa e parte da sociedade a exigir que negros e mestiços não fossem mais convocados para a seleção. Uma profunda bobagem, pois, passados oito anos, o Brasil seria campeão do mundo na Suécia com o mestiço e genial Garrincha e os negros Pelé (que se tornaria o Rei do Futebol) e Didi. Este, eleito o melhor jogador da competição.

Entretanto, a discriminação não poupou seus esforços. Barbosa sempre foi lembrado por sua falha e, em 1993, o ex-goleiro, já um senhor, talvez tenha sofrido a sua maior humilhação. Ele quis visitar os jogadores da seleção que estavam concentrados para um jogo das eliminatórias da Copa de 1994, mas foi proibido de entrar no hotel. Muitos goleiros negros sofreram com essa “maldição”, tanto que a seleção brasileira só voltou a ter um arqueiro afrodescendente com Dida na Copa de 2006.

Contudo, o racismo não se apresenta apenas dentro das quatro linhas. Só encontramos negros ocupando funções menores como roupeiros e massagistas, ainda assim imprescindíveis, nos clubes, mas jamais postos de liderança. Entre dirigentes e presidentes não vemos afrodescendentes trabalhando nesses cargos nos principais times do país. Essa reflexão pode ser ampliada à presença negra entre árbitros e jornalistas esportivos. Por coincidência, mínima também.

Por isso, o momento atual de Andrade como técnico e a expectativa do título brasileiro força-nos a pensar e a discutir as relações étnicorraciais dentro do futebol, principalmente por sermos a “pátria de chuteiras”. Por conseguinte, as práticas no futebol refletem a nossa sociedade.

Para ser técnico é preciso que o pretendente possua algumas características como liderança, conhecimento tático e capacidade intelectual. Nenhuma delas é associada ao jogador negro que se vale de sua força física para compensar a inteligência reduzida e do dom natural para minimizar suas falhas táticas no esquema do time. Isso já serve como justificativa para que o ex-jogador negro seja incapaz para exercer a função de técnico, pois lhe faltaria a sapiência que um estrategista deveria ter. Ou seja, depreendemos que na mentalidade do futebol brasileiro permanecem os discursos positivistas do final do século XIX.

Entretanto, parece que Jorge Luís Andrade da Silva, o Andrade, quer mudar a história e mostrar que o afrodescendente é capaz sim, desde que tenha oportunidade de trabalhar. De 2004 para cá, Andrade já assumiu o clube como interino em três ocasiões e sempre entregou o time em situação melhor que quando entrou. Foi menosprezado por Cuca que chegou a colocá-lo para compor barreira em treinamentos e ouviu do atual goleiro Bruno, seu comandado, após uma discussão durante um treino que “ele poderia ter ganho tudo como jogador, mas como técnico ele não era ninguém”. Claro que Bruno foi execrado pela torcida e pela imprensa esportiva, indignados com o seu desrespeito a um ex-craque rubro-negro.

Como vemos, o Tromba, como era conhecido por seus companheiros no tempo de jogador, enfrentou situações desconfortáveis mas jamais veio a público reclamar por qualquer injustiça dentro do Flamengo. Sua resposta veio com o retrospecto da passagem atual pelo comando da equipe, em 2009 realiza seu melhor trabalho.


Até agora sua postura como técnico desde que foi efetivado pela diretoria, tem se caracterizado pela serenidade, controle emocional e humildade ao segurar a euforia dos jogadores e exaltar o trabalho do grupo; conhecimento tático ao buscar alternativas ofensivas e romper com o passado “retranqueiro” que dominou o Flamengo desde a passagem do técnico Joel Santana em 2007; educação e inteligência no trato com a imprensa não exibindo a truculência e a arrogância dos principais técnicos do Brasil, os “professores doutores” do futebol.

Além disso, Andrade é parte da história do Flamengo, exatamente no seu momento mais glorioso. Ele era o cabeça-de-área do time campeão do mundo liderado por Zico, o que o faz ter o carinho e o respeito da torcida. Enquanto jogador rubro-negro conquistou quatro títulos estaduais, quatro nacionais, uma libertadores e um mundial. Passou pelo rival Vasco da Gama e ganhou mais um brasileiro. Se a memória não me trair, Andrade é o jogador com o maior número de títulos nacionais desde que a CBF criou o campeonato brasileiro: cinco.

Na minha infância e adolescência ia muito aos jogos daquele grande time do Flamengo. Recordo-me que Andrade, ao início das partidas, sempre procurava enfiar a bola entre as pernas de seus marcadores (a famosa “caneta”), inflamando a torcida a empurrar o time para o ataque. E foi assim, de caneta em caneta que Andrade conseguiu romper o preconceito, se firmou como técnico e poderá viver mais um momento histórico no futebol caso seus comandados conquistem o título. Além disso, se tornará mais um motivo de orgulho para a população afrodescendente brasileira.

A NAÇÃO nº 118 - 03/12/2009 - Mário Fonseca resenhado por Ricardo Riso

Prezados (as),

na edição 118 do jornal cabo-verdiano A NAÇÃO - 03 de dezembro de 2009 - resenhei o livro Se a luz é para todos (Praia: Publicom, 1998) de Mário Fonseca. Foi uma maneira de homenagear o poeta, falecido recentemente, e que tive o prazer de conhecer em um congresso sobre cultura cabo-verdiana na Universidade de São Paulo em novembro de 2008 e constatar sua fala serena, sincera e combatente em defesa da literatura e da cultura de seu país.

Para quem quiser a versão digital do semanário, basta deixar seu e-mail em algum comentário neste ou em qualquer outra postagem deste blog, ou enviar e-mail para risoatelie@gmail.com solicitando o referido arquivo.

A seguir, a resenha publicada nesta edição.

Abraços,
Ricardo Riso



Mário Fonseca – a luz da liberdade em forma de poesia

O teórico brasileiro Alfredo Bosi em O ser e o tempo da poesia afirma que a poesia há muito não consegue integrar-se, feliz, nos discursos correntes da sociedade (BOSI, 1977, p. 143), o que ficou evidenciado com o predomínio do sistema capitalista e sua voracidade em concentrar a riqueza entre poucos. Caberia a uma determinada categoria de poetas, aproveitando a eloquência natural e o olhar visionário, o dever de denunciar as mazelas impostas às classes desfavorecidas.

Nascido na Ilha de Santiago, Mário Fonseca (1939-2009) no seu livro Se a luz é para todos (Praia: Publicom, 1998) expõe sua solidariedade e humanismo exacerbados. Ele pertencia a essa classe de homens que, parafraseando Aimé Cesaire, possuía uma “postulação irritada de fraternidade” (p. 166), e assim versa: talvez / não viva / a minha / própria vida. / Pouco importa. / Vivo / a que / os outros / terão. / Mesmo se / dentro / de séculos! (p.111).

A defesa intransigente dos desfavorecidos percorreu toda a trajetória poética de Fonseca. No histórico suplemento literário Seló (1962), inserido no jornal Notícias de Cabo Verde, o então jovem poeta confirmava sua posição e escancarava as crueldades sofridas pelos seus conterrâneos sob o jugo colonial português: Lá vão eles / Vedê-os! Vedê-nos! / (...) Estrangeiros na noite e na vida (p. 16-18).

Contrapondo-se à longa noite (metáfora do colonialismo) e às injustiças impostas pelo poder ao redor do mundo, sua poesia escora-se na iluminação do fazer poético para, em metáforas e imagens virulentas de intensa luz, demonstrar a crença na vitória contra a opressão, mesmo que para atingir seu objetivo se perca a vida: Luzes! Luzes! (...) Que venha o dia (...) / Afastai de mim a noite (...) / Dai-me luzes e matai-me! Matai-me mas ilumina-me / Ilumina-me / Afogado em luzes / morrerei sorrindo (p. 82-83).

Incondicional, revela as desigualdades sociais no mundo porque sou poeta para as cantar (p. 76), Fonseca vale-se de sua erudição literária para convocar poetas maiores da cultura ocidental, revolucionários tanto na literatura quanto em suas posições a favor dos excluídos. Por isso clama por Maiakovsky, Rimbaud, Garcia-Lorca, Whitman, Eluard, Keats, ora inseridos em versos, ora em epígrafes, e também para mostrar metapoeticamente que a poesia / sol verdadeiro do nosso sistema solar / passe ao combate (...) passe ao ataque contra as bandeiras / por demais desfraldadas / da fealdade / da estupidez / da estreiteza de longos dentes / com todas as armas / com todos os gumes / da rima / do ritmo / da melodia (...) é preciso / urgente / necessário (...) para que / de pólo a pólo / o animal humano / entoe enfim / (...) o primeiro canto verdadeiramente humano (p. 86-88).

Demasiadamente humano, realizando a poesia / no próprio corpo da vida (p. 89), o combatente sujeito lírico de Fonseca saúda grandes líderes como Lénine, Patrick Lumumba e Che Guevara (p. 89), e sua indignação não se esgota, não tem fronteiras: Caboverdianamente vos digo / Enquanto houver um só / Homem algemado – um só! / Enquanto houver um só / Grito sufocado – um só! / (...) Daqui da frente poética / Pleno do vosso grito ouvido / Aos meus versos guerrilheiros / À plena voz gritarei: ao ataque! (p. 90)

A universalização da sua luta faz a travessia do Atlântico, relembra líderes como Langston Hughes e W. Du Bois, atinge as Américas, Chorai negros da América (...) Do Norte / do Centro / do Sul (p.101), alcança a Ásia e o necessário pan-africanismo do poema Eis-me aqui África, ou seja, sua solidariedade expande-se por todo o globo: Vale é querer / com força lutar / com força viver / na terra / de todos / por todos semeada. (p. 107)

De quem dedicou a vida a combater os regimes opressores do mundo, e não foram poucos. Mário Fonseca legou à Humanidade uma obra consistente, coerente e bela. Uma poesia para enquanto houver um ser humano sofrendo injustiça jamais se calará, nunca ficará ultrapassada, sempre será recordada e cantada.
(Ricardo Riso)

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Revista África e Africanidades - 7a. edição

Prezados,

Com um pouco de atraso até tudo se resolver, mas a sétima edição da revista África e Africanidades – www.africaeafricanidades.com - está na web com a diversidade temática que a caracteriza.

Na edição atual, na área de literatura, destaco o belo artigo de Rosidelma Fraga (UFGO) comparando aspectos literários entre Mia Couto e Manoel de Barros, a resenha de Anselmo Peres Alós sobre a antologia “As mãos dos pretos” organizada por Nelson Saúte e outra resenha, de Denise Guerra, acerca do clássico de Cecília Meirelles, “Batuque, samba e macumba: estudos de gestos e ritmos”. Eu compareço com uma resenha da antologia poética “Negroesia” do escritor e prof. Cuti.

Visitem nossa revista e ajudem a divulgá-la, por favor.

Abraços,
Ricardo



SUMÁRIO

ARTIGOS

O dionisíaco e o apolíneo na poética de Salgado Maranhão: o êxtase e o estático
Edimilson de Almeida Pereira e Fabrício Tavares de Moraes /Universidade Federal de Juiz de Fora

Colonização do Sertão da Bahia e Formação de Quilombos em Irará
Jucélia Bispo dos Santos / Faculdade Nobre de Feira de Santana.

O Regionalismo Literário: Um estudo de Os Flagelados do Vento Leste e de Vidas Secas
Eneile Santos Saraiva / Universidade Federal do Rio de Janeiro

Letramento Digital - O Caso Caiana dos Crioulos
Josivaldo Soares Ferreira, Anderson Victor Barbosa Cavalcante e Francinete Fernandes de Sousa / Universidade Estadual da Paraíba

Misericórdias Africanas No Século XVII: A Misericórdia de Massangano
Ingrid Silva de Oliveira / Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

(Re) enegrecimento feminizado: saberes e aprendizados no currículo invisível da comunidade remanescente quilombola de Helvécia - BA
Paulo de Tássio Borges da Silva / Faculdade do Noroeste de Minas

Mia Couto e Manoel de Barros: Uma efusão lírica e existencial nas figuras do Mendigo e Andarilho
Rosidelma Fraga / Universidade Federal de Goiás


RESENHAS

Batuque, samba e macumba: estudo de gesto e de ritmo (1926 – 1936), de Cecília Meireles
Denise Guerra / Secretaria Municiapal de Educação de Queimados

Histórias Lusófonas das Margens do Índico: As Mãos dos Pretos - Antologia do Conto Moçambicano
Anselmo Peres Alós / Instituto Superior de Ciência e Tecnologia de Moçambique


COLUNAS

Crítica Literária
Cuti – compromisso com a afirmação da consciência negra na poesia afro-brasileira
Ricardo Riso - Universidade Estácio de Sá

Finanças
Os sinais de riqueza nos afastam da prosperidade
Marcelo Fernando Theodoro

Psicologia
Juliano Moreira: Lembranças de um cientista negro
Ana Luiza dos Santos Julio / Centro Educacional Metodista do Sul e Pontificia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

Atitude Filosófica
Agbára Dúdú (Força Negra)
Luis Carlos Ferreira dos Santos / Universidade Federal da Bahia

ENTREVISTA
O poder da ancestralidade na musicalidade do cantor e compositor Tiganá Santana.
André Luiz dos S. Silva / Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

OPINIÃO
“O canto da Rainha”: a Bahia cantada na voz de Daniela Mercury
Ianá Souza Pereira / Universidade Federal da Bahia

domingo, 29 de novembro de 2009

Nelson Saúte e Ondjaki - crônicas no PNETLiteratura

Para quem quer conhecer crônicas recentes dos escritores Nelson Saúte (Moçambique) e Ondjaki (Angola), acesse o PNETLITERATURA - www.pnetliteratura.pt
Abraços,
Ricardo Riso

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pepetela e a elipse do herói, de Robson Dutra (MUDANÇA DE ENDEREÇO LANÇAMENTO LIVRO)


MUDANÇA DE ENDEREÇO

O coquetel de lançamento do livro Pepetela e a elipse do herói, de Robson Dutra, a ser realizado no dia 27 de novembro de 2009, das 16:30 às 20:00h, no SBACE, à Rua Senador Dantas, 19/601, centro, bem próximo ao local original.

O livro será apresentado pelas professoras doutoras Laura Padilha e Ângela Roberti.

Fonte: emai-l enviado pelo Prof. Dr. Robson Dutra em 25/11/2009.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Reflexões sobre a cultura Afro: história, consumo, identidade e tendências

ESPM-RJ debate sobre a cultura afro-brasileira - 12/11/2009

Rio de Janeiro, novembro de 2009. No próximo dia 26 de novembro, às 19h, a ESPM – RJ realiza um debate importante sobre a cultura africana no Brasil. O objetivo do encontro é refletir sobre a importância do resgate histórico, a preservação da identidade e a oferta de produtos e serviços voltados para a população afro-descendente dando início a uma pesquisa, qualitativa e quantitativa, em 2010.

Com o debate, a ESPM – RJ tem o intuito de analisar as ofertas do mercado, as estratégias de marketing criadas pelas empresas, percepção do consumidor, satisfação entre outros assuntos. Temos no Brasil, a cultura africana incorporada ao nosso dia-a-dia, mesclada a outras influênicas. O mercado por sua vez não tem atendido aos desejos de consumo.

Diante do início de crescimento da oferta para este público, o mercado passa a oferecer produtos diferenciados como cosméticos, maquiagens específicas, crescendo 26%, quando os convencionais tiveram uma expansão entre 6% e 11%. Já para setor de brinquedos, tiveram vendas acima das expectativas.

Além disso, eventos como a Copa do Mundo na África, a 3ª Edição do Festival Mundial das Artes Negras – Fesman, ambas agendadas para 2010, e o Dia da Consciência Negra, comemorado todo dia 20 de novembro são bons exemplos da importância de manifestações culturais que interferem sobretudo na educação brasileira e como a cultura é abordada nas escolas e universidades.

Com isso, além dos estudos de marketing, a ESPM – RJ pretende criar um banco de dados como referência para as empresas interessadas no mercado afro e contextualizar as pesquisas sobre as de oportunidades de oferta de produtos para este segmento.

Para este encontro foram convidados: Elisa Larkin Nascimento, doutora em psicologia pela Universidade de São Paulo e mestre em Direito e em Ciências Sociais pela Universidade de Nova York; Eliane Borges da Silva, chefe de Gabinete da Fundação Cultural Palmares/ Ministério da Cultura; João Bosco de Oliveira Borba, presidente da Associação Nacional dos Coletivos de Empresários e Empreendedores Afro-brasileiros; Ong’s 4E e Estimativa; Grupo de Cinema Afro-Carioca; Maurício Pestana, presidente do Conselho Editorial da revista Raça Brasil, membro do Conselho Executivo do Museu Afro Brasil e autor de diversas obras relacionadas à cultura afro; e representantes da empresa Niely: João Freitas, gerente de criação e Delane Azevedo, gerente da linha Permanente afro. O evento conta com o apoio da revista Raça, IPEAFRO, grupo de estudos Diasporando, Niely, Kiva cosméticos, editora Pallas e Livraria Kitabu.

Informações: Reflexões sobre a cultura Afro: história, consumo, identidade e tendências

Data: 26 de novembro de 2009, quinta-feira
Horário: 19h
Local: Rua do Rosário, 90 – Centro, Rio de Janeiro
Mais informações pelo telefone: (21) 2216-2002

Fonte: http://www.espm.br/ConhecaAESPM/AconteceNaESPM/Noticias/Pages/NoticiaExibir.aspx?noticiaId=1005

José Luís Tavares ganha pela 2ª vez o prêmio “Literatura para Todos” do MEC/Brasil

Mais um prêmio literário para o cabo-verdiano José Luís Tavares! Felicito-o por mais esta conquista aqui no Brasil!
Parabéns, José Luís Tavares!!
Ricardo Riso


Notícia publicada em destaque na Inforpress.cv
Date: Wed, 25 Nov 2009 15:40:04 +0400

Literatura: José Luíz Tavares galardoado pela segunda vez consecutiva no Brasil

Praia, 25 Nov. (Inforpress) – O poeta cabo-verdiano radicado em Portugal José Luiz Tavares foi galardoado pela segunda vez consecutiva com o prémio “Literatura para Todos” do Ministério da Educação do Brasil, soube a Inforpress.

O prémio, no valor de 10 mil reais (cerca de 423 contos), foi atribuído ao livro inédito “À bolina ao redor do natal” e será entregue durante a Conferência Internacional de Jovens e Adultos, que acontece em Belém do Pará, às portas da Amazónia, de 4 a 8 de Dezembro.

Em declarações à Agência Inforpress, a partir de Lisboa, o autor de “Lisbon Blues” disse que o livro agora premiado será publicado na Colecção Literatura para Todos, com uma tiragem de 300 mil exemplares.

De acordo com o galardoado, as publicações serão enviadas às entidades parceiras do Programa Brasil Alfabetizado, às escolas públicas que oferecem a modalidade EJA, às universidades da Rede de Formação de Alfabetização de Jovens e Adultos, aos núcleos de EJA das instituições de educação superior e às unidades prisionais, entre outros.

Recorde-se que Tavares recebeu esse mesmo prémio em 2008 pelo livro “Os secretos acrobatas”, que se encontra neste momento em processo de editoração.

Este prémio vem juntar-se ao prémio Pedro Cardoso, que lhe foi atribuído o mês passado pelo Ministério da Cultura de Cabo Verde, pelo livro inédito em língua caboverdiana intitulada “Tenpu di Dilubri”. Este prémio, no valor de mil e duzentos contos caboverdianos, é o prémio de maior dotação monetária no país.

Além desses prémios, o poeta do Tarrafal (menino di Txon Bon, como se auto-intitula) conquistou outros prestigiados prémios no estrangeiro e em Cabo Verde, tais como o Prémio revelação Cesário Verde, da Câmara municipal de Oeiras, em 1999, o prémio Mário António, da Fundação Calouste Gulbenkian, em 2004, o prémio Jorge Barbosa, da Associação dos Escritores Caboverdianos, em 2006, tendo ainda sido finalista do prémio Correntes d’Escritas/Casino da Póvoa, em 2005, e semi-finalista do prémio Portugal Telecom de Literatura no Brasil.

Recorde-se que além dos prémios, Tavares tem recebido largos encómios da crítica um pouco por todo o mundo da língua portuguesa, nomeadamente em Portugal e no Brasil, onde as suas obras já são objecto de teses de doutoramento.

Falando de outros projectos, José Luiz Tavares indicou que terá nas bancas ainda esta semana o álbum “Cidade do mais antigo nome”, que toma como objecto a Cidade Velha de Santiago, património cultural da humanidade, editado pela mais importante editora de poesia do mundo da língua portuguesa, a Assírio e Alvim de Lisboa.

À Inforpress, o escritor anunciou que em meados de Dezembro sairá uma nova edição, a terceira, de “Paraíso Apagado por um trovão”, desta vez bilingue (traduzida para caboverdiano pelo próprio poeta), corrigida e aumentada.

A edição será da novel editora, a Santiago edições, da universidade de Santiago.

Sempre na vanguarda, José Luiz Tavares assegurou à Agencia Cabo-verdiana de Informação que as obras em português estão escritas segundo o novo acordo ortográfico, que entrou em vigor em Cabo Verde no dia 1 de Outubro, como já acontecera com o livro anterior “Lisbon Blues” editado o ano passado no Brasil, e as em língua caboverdiana usando o alfabeto caboverdiano aprovado em Março pelo governo.

Tavares, nascido em Cabo Verde em 10 de Junho de 1967, mas residente em Portugal, onde estudou Literatura e Filosofia e onde escreve poesia, deverá estar em Cabo Verde em meados de Dezembro e finais de Janeiro para a apresentação dessas obras.

Inforpress/Fim

Fonte: e-mail enviado pelo poeta José Luís Tavares em 25/11/2009

Da palestra no 6º Festival de Teatro de Duque de Caxias

por Ricardo Riso

Aos componentes do CPTDC


Palestra "Ler para encenar: introdução às literaturas de Angola, Cabo Verde e Moçambique" durante o VI Festival de Teatro de Duque de Caxias, no SESC/D.Caxias, em 24/11/2009. À esquerda, Vanessa, integrante do CPTDC.

Fui convidado para apresentar as literaturas africanas de língua portuguesa no 6º Festival de Teatro de Duque de Caxias, organizado pelo Centro de Pesquisas Teatrais Duque de Caxias (CPTDC - www.cptdc.blogspot.com). Como não tinha ideia de que tipo de público encontraria, optei por me escorar em alguns cânones de Angola, Cabo Verde e Moçambique, tais como Agostinho Neto, José Craveirinha, Noémia de Sousa, Manuel Lopes e Jorge Barbosa. Depois, poderia comentar a produção contemporânea representada por nomes como João Tala e Sangare Okapi. Todos os textos com acompanhamento de obras dos artistas plásticos Roberto Chichorro, Tchalé Figueira, entre outros.

Por seu caráter introdutório, a palestra foi estruturada no contexto histórico em que os poemas foram realizados e na fundamental participação dos escritores nos processos de independência de cada país, como Agostinho Neto em Angola e José Craveirinha em Moçambique, figuras emblemáticas nos partidos políticos MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), respectivamente.

Foto do campo de concentração do Tarrafal (Cabo Verde) e poema Anti-evasão de Ovídio Martins, palestra "Ler para encenar: introdução às literaturas de Angola, Cabo Verde e Moçambique" durante o VI Festival de Teatro de Duque de Caxias, no SESC/D.Caxias, em 24/11/2009. À esquerda, Vanessa, integrante do CPT.

Apesar do público pequeno, talvez devido ao horário vespertino, a palestra apresentou bons resultados pois aguçou a curiosidade de várias pessoas vieram-me questionar aspectos históricos e dos textos literários desses países.

Pintura de Naguib na Palestra "Ler para encenar: introdução às literaturas de Angola, Cabo Verde e Moçambique" durante o VI Festival de Teatro de Duque de Caxias, no SESC/D.Caxias, em 24/11/2009. À esquerda, Vanessa, integrante do CPT.

Quero agradecer a maneira como fui recebido, celebrar o belo trabalho desenvolvido pelo Centro de Pesquisas Teatrais Duque de Caxias (CPTDC) e pela organização de um evento com nove dias de duração. Marca impressionante por causa das dificuldades em realizar um festival sem os apoios necessários, mas que se concretiza pelo empenho, disposição, persistência e amor dos integrantes do CPTDC ao Teatro.

Apresentando tela de Antonio Ole na palestra "Ler para encenar: introdução às literaturas de Angola, Cabo Verde e Moçambique" durante o VI Festival de Teatro de Duque de Caxias, no SESC/D.Caxias, em 24/11/2009.

Congratulo o Grupo Antiga Capital Federal que encenou a peça “Estou indo embora, não me peça para ficar; e depois que estiver ido não me peça para voltar” que trata com delicadeza a fragilidade dos relacionamentos humanos, da solidão imposta e da reestruturação emocional, mostrando que apesar das decepções que a vida coloca em nossos caminhos, o melhor é seguir em frente, fronte erguida e viver. Espetáculo sensível, singelo e universal, como nos melhores textos de Caio Fernando Abreu.

15ª PRIMAVERA DOS LIVROS - Rio de Janeiro - 26 a 29/11

15ª PRIMAVERA DOS LIVROS
Rio de Janeiro
A 15ª Primavera dos Livros acontece de 26 a 29 de novembro, e tem patrocínio da Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, tradicional parceira do evento.

Este ano, o tema do encontro dos editores independentes é a literatura de Cordel, em homenagem ao centenário de nascimento do poeta e cordelista cearense Patativa do Assaré. Realização da Libre-Liga Brasileira de Editoras, a Primavera dos Livros Rio de Janeiro 2009 vai ocupar o jardins do Museu da República, das 10h às 22h, com lançamentos, atividades para crianças, uma programação especial para professores e profissionais do mercado editorial, e venda de livros com até 40% de desconto. Em cerca de 90 estandes, os editores estarão presentes para trocar ideias com o público. A entrada é gratuita.

15ª Primavera dos Livros
26 a 29 de novembro de 2009 (dia 26, a partir das 18 horas)
Jardins do Museu da República
Rua do Catete, 153 - RJ
Das 10h às 22h
Entrada gratuita

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Da palestra no campus São Gonçalo-UNESA/RJ

Por Ricardo Riso


No dia 18 de novembro tive o prazer de retornar ao campus São Gonçalo da Universidade Estácio de Sá para ministrar uma nova palestra após quatro anos. Naquela ocasião fazia parte de um grupo chamado Roda de Leitura e falei sobre a obra do poeta e agitador cultural tropicalista Torquato Neto. Agora, atendendo ao gentil convite da Profa. Dra. Angela Rego participei do evento África muito além do Tarzã: desfazendo estereótipos, para apresentar as Literaturas Africanas de Língua Portuguesa.

A mesa, com mediação da Profa. Dra. Angela Rego, contou com a participação da Profa. Dra. Luciane Nunes que apresentou uma pertinente comunicação acerca da lei 10.639/2003 e a importância de uma nova postura do professor perante as questões africanas e afro-brasileiras em busca de uma sociedade plural, diversificada e igual. Para abrilhantar ainda mais sua fala, apresentou poemas de Agostinho Neto como Criar e Aspiração. Belos, simplesmente.

Profa. Dra. Luciane Nunes, Profa. Dra. Angela Rego e Ricardo Riso

Em nossa universidade, a disciplina literaturas africanas de língua portuguesa integra o currículo da graduação, porém não é mais presencial como foi na minha época. Entretanto, mesmo sendo uma disciplina on line, a força e o carisma dessas literaturas continuam a atrair diversos alunos como tive o prazer de constatar naquele campus, que preparam seus TCC’s e vislumbram um futuro curso de pós-graduação na área.

Devido ao conhecimento inicial de boa parte do público, decidi apresentar a produção literária de Angola, Cabo Verde e Moçambique surgida nas décadas de 1980, 1990 e 2000 com o intuito de mostrar autores pouco estudados por aqui como João Tala e José Luis Hopffer C. Almada, e nomes conhecidos como Mia Couto e Ondjaki. Além disso, procurei fazer comparações com as artes plásticas desses países, logo, também divulgando esses artistas, tais como Yonamine, Mito, Naguib e Tchalé Figueira.

Esse recorte deve-se ao fato de que, apesar das peculiaridades da produção contemporânea muito marcada pela distopia, não ficamos impedidos de abordar temas recorrentes à história dessas literaturas e como estes são revistos pelos escritores, como na questão da emigração em Cabo Verde e o viés irônico exposto por Arménio Vieira:

Era uma vez
Dois amigos a falar
E começaram pelo mar
A propósito do Suez (...)

- Não é por enjoar
Mas se nos calhar
Uma grande baleia?

- No Suez? Que ideia!
Mas tomara que assim fosse.
Pois tosse,
Mas escuta:
Ora bom dia, dona Baleia!
Olá, companheiros de luta!
Querem ir de boleia?
(Som de piano. Cai o pano)
(VIEIRA, Arménio. Viagem, Rima & Fantasia. In: Poemas. Mindelo: Ilhéu Editora, s/d. p. 44-45)


ou no caso do jovem moçambicano Sangare Okapi, que revisita a tradição lírica da literatura de seu país em um belíssimo jogo intertextual ao prestar uma linda homenagem a dois dos seus maiores representantes, José Craveirinha e Luís Carlos Patraquim no poema Patraquimmiana:

Para J. C.
Não sei com que estranha miragem. Confesso.
Meu lírico cartomante das noitadas pela Mafalala!
Sim, agora que o medo já não puxa lustro na cidade. Velho Zé,
Livre e limpo da morte, regressas pelos carris da memória,
mãos aninhadas nos bolsos rotos. A mesma cartola preta,
Amarrada ao vento e um pássaro que já não cabe no verso
Preso no lembo da língua, desmentem o teu estatuto
De cidadão do futuro e regressas, velho Zé!
Nenhuma epopeia trazida dos escombros se levanta do rosto,
Nenhuma elegia brota do coração, nenhuma!
E regressas, velho Zé, poeta em todas as latitudes!...
(OKAPI, Sangare. Mesmos Barcos. Maputo: Associação dos Escritores Moçambicanos, 2007. p. 39)


Passports. obra de Abraão Vicente, em
http://abraaovicenti.blogspot.com/2007_01_01_archive.html

A inserção das artes plásticas motiva-se pela apropriação de objetos feita pelo cabo-verdiano Abraão Vicente na série Passports, pelos múltiplos meios utilizados pelos artistas aliando harmoniosamente técnicas tradicionais e meios tecnológicos como na obra do moçambicano Naguib e na instalação de Yonamine, que faz da fragmentação e da espacialidade caótica de elementos a maneira para demonstrar o desencanto com a política, presente em imagens de líderes comunistas como Fidel Castro, e o desarranjo do cotidiano angolano enfatizado na grafia errônea que dá título à obra, Phree Style.

Phree Style, instalação de Yonamine, http://www.artafrica.info/Image/Expo/expo_16_179.jpg

Para finalizar, agradeço a oportunidade dada pela Profa. Dra. Angela Rego para apresentar minha pesquisa, o prazer em compartilhar a mesa com a Profa. Dra. Luciene Nunes e, principalmente, agradecer ao carinho e à atenciosa acolhida do público presente.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Projeto Difusão Cultural dos Países Africanos de Língua Portuguesa

Projeto Difusão Cultural dos Países Africanos de Língua Portuguesa
Oficina Cultural Regional Cândido Portinari
Coordenação: Fatu Antunes

Homenagem a Leão Lopes

Novembro
24 - Ciclo de filmes seguido de debates com o roteirista e diretor Leão Lopes
15:00 h - Ilhéu de Contenda (Estúdios de Cinema de São Paulo)

19:00h - Mesa: Aspectos da Literatura de Cabo Verde (UNAERP)
Diana Toneto - Unaerp
Aparecidade Frigeri - Fafibe

21h30 - São Tomé, os últimos contratados (UNAERP)

25 - Cabo Verde: do verbo ao vídeo (Biblioteca Padre Euclides)

Maiores informações e inscrições:
(16) - 3625-6430/3625-6161


Fonte: e-mail enviado pela Profa. Dra. Norma Lima (UNESA) em 23/11/2009.

Filinto Elísio - Tácteis outrora (poema inédito)

tão de ti
esses dedos no zipper
e a curiosa geografia
de tua boca

e nos teus olhos
a janela
são vidros moídos
que gemem
corroídos também
além das braguilhas
são os adros
e a procissão de nós

(não digas a ninguém
que os Alpes
são deuses nevados)
soletrados ainda
de verbos arfantes
serás tu
por entre pernas

tuas mãos tantas
sequer as vejo

tácteis outrora...


poema inédito enviado por Filinto Elísio em 18/11/2009.

6º Festival Nacional de Teatro de Duque de Caxias, palestra Ricardo Riso


Acima a programação do 6º Festival Nacional de Teatro de Duque de Caxias, no qual ministrarei a palestra Ler para encenar: introdução às literaturas de Angola, Cabo Verde e Moçambique, terça-feira, dia 24/11, às 14h.
Ricardo Riso

Adinkra:sabedoria em símbolos africanos (livro)


Adinkra vem em boa hora destacar o universo filosófico e estético asante que se tornou patrimônio do país de Gana e que depois viajou ao outro lado do mundo. Ao reunirem os símbolos adinkra, os organizadores deste volume nos propiciaram um recurso exemplar que muito contribuirá para fertilizar o terreno da consciência sobre as cosmovisões da África continental e o seu significado para o Brasil e para as sociedades do hemisfério americano. Em português, inglês, francês e espanhol.

Livro de Elisa Larkin Nascimento Luiz Carlos Gá

Editora: Pallas

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Cuti - Torpedo (poema) p/o Dia da Consciência Negra

Para celebrar o Dia da Consciência Negra, um poema de Cuti para as consciências ainda aprisionadas.

Ricardo Riso


torpedo

irmão, quantos minutos por dia

a tua identidade negra toma sol

nesta prisão de segurança máxima?


e o racismo em lata

quantas vezes por dia é servida a ela

como hóstia?


irmão, tua identidade negra tem direito

na solitária

a alguma assistência médica?

ouvi rumores de que ela teve febre alta

na última semana

e espasmos

– uma quase overdose de brancura –

e fiquei preocupado.


irmão, diz à tua identidade negra

que eu lhe mando um celular

para comunicar seus gemidos

e seguem também

os melhores votos de pleno restabelecimento

e de muita paciência

para suportar tão prolongada pena

de reclusão.

diz ainda que continuamos lutando

contra os projetos de lei

que instauram a pena de morte racial

e que ela não tema

ser a primeira no corredor

da injeção letal.


irmão, sem querer te forçar a nada

quando puderes

permite à tua identidade negra

respirar, por entre as mínimas grades

dessa porta de aço

um pouco de ar fresco.


sei que a cela é monitorada

24 horas por dia.

contudo, diz a ela

que alguns exercícios devem ser feitos

para que não perca completamente

a ginga

depois de cada nova sessão de tortura.


irmão, espero que esta mensagem

alcance as tuas mãos.

o carcereiro que eu subornei para te levar o presente

me pareceu honesto

e com algumas sardas de solidariedade.

irmão, sei que é difícil sobreviver

neste silencioso inferno

por isso toma cuidado

com a técnica de se fingir de morto

porque muitos abusaram

e entraram em coma

fica esperto!

e não esquece o dia da rebelião

quando a ilusão deve ir pelos ares.


um grande abraço

deste teu irmão de presídio


assinado:

zumbi dos palmares


(CUTI. Negroesia - antologia poética. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2007. p. 92-94)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Jornal A Nação (Cabo Verde) No. 116 - Arménio Vieira resenhado por Ricardo Riso


Prezados(as),

As imagens a seguir são do jornal A NAÇÃO, de Cabo Verde, Nº116 DE 19 DE NOVEMBRO DE 2009. Nesta edição, na página 14, encontra-se minha resenha crítica: Arménio Vieira – o poeta que não se corrompe.
Para quem quiser conferir a versão em .pdf do jornal, basta deixar um recado em qualquer texto do blog ou enviar e-mail para risoatelie@gmail.com

Abraços,
Ricardo Riso

Arménio Vieira – o poeta que não se corrompe
Por Ricardo RisoA literatura de Cabo Verde recebeu um reconhecimento internacional que há muito lhe era devido com o merecido Prêmio Camões ao escritor Arménio Vieira, detentor de uma obra escassa, dispersa, multifacetada e de altíssima qualidade.

Escreveu quatro livros, dois de poemas, “Poemas” (trechos citados são deste livro) e “Mitografias, e dois romances, “O eleito do sol” e “No inferno”, além de textos publicados em revistas como "Fragmentos" e "Vértice", sobretudo, em Cabo Verde.

Vieira nasceu na Praia, ilha de Santiago, em 29/01/1941. Surgiu na geração dos anos 1960, tendo participado do histórico suplemento Seló (1962). Pelo seu envolvimento na luta de libertação amargou dois anos de clausura nas cadeias da PIDE. Talvez por isso a opção por um sujeito lírico transfigurado em “touro onírico”, irônico, irreverente, libertário, indignado com os desvios éticos de seus contemporâneos: “e lá no alto, rente ao tecto / fazer chichi na presunção / de tantas bestas juntas / santos beatos e jumentos” (p. 37).

O “poeta de vento sem tempo” se compara a um gato: “o espírito de um gato / é como o canto de um poeta / – não atende nem escuta / a ordem de ninguém” (p. 30). Compromissado com seus valores e com o fazer poético, versa: “ser poeta a sério / implica uma espécie de suicídio” (p. 106). Com isso, temos um ilimitado e criativo mundo: “é pela metaforização do discurso / que se salva o pensamento” (p. 9).

Sua poesia é de forte cariz existencial, metafísico e metapoético. Na década 1970, o cantalutismo predomina e o sujeito lírico indaga seus pares com questões de liberdade existencial, como em “Didáctica Inconseguida”: “ensino-te caminhos / que não passam pela porta de ninguém / e dizes que sou louco” (p. 59).

Rompimento estético assumido e a própria dificuldade do fazer poético é desnudada em “Canto final ou agonia de uma noite infecunda” em que “a flor desfeita / não embala o coração do poeta” (p. 69). Logo, imagens corrosivas ilustram a agonia de pertencer a um “tempo devassado por insectos cor de cinza / A voz suspensa e negada / cede a vez à letra amorfa / inscrita no silêncio / Com seu peso de chumbo e olvido / acaba o poema / e um ponto final selando tudo” (p. 70).

Uma característica marcante é o uso inventivo da metalinguagem, além do seu profundo conhecimento dos cânones literários ocidentais. O sujeito lírico apropria-se da literatura grega e dos mitos greco-latinos em imagens irônicas e inusitadas, como em “Fábula de Esopo”:

Um touro, ignorante de cabeça,
mas rijo de couro e carcaça,
quis ser elefante

Engoliu vento, inflou...
e já feito imenso balão
(de meter medo à selva e ao leão)
deu um estouro e tombou
(...)

(p. 33)


Apesar do existencialismo, encontra-se a denúncia das desigualdades de seu tempo: “o tempo que perdemos atrás dos mortos / sem nunca pensarmos nos mortos que somos” (p. 27). Revolta-se com a crueldade humana: “Na face / de certos homens / tanta vez / um retrato / a plena luz / de cão perfeito / e feroz / (até espanta / não ladrarem)” (p. 31), e beira o sarcasmo em “Caviar, champanhe & fantasia” ao citar a esplanada da Cidade da Praia que “seria um oásis magnífico e fresco (...) / teria um leite mais branco / e clientes catitas e empregadas bonitas / e baixaria para uma média razoável o número de pedintes / (...) e haveria por certo uma clínica ali perto / e remédios para tudo (até para os males sem cura)” (p. 46).

Vieira apresenta uma poesia atemporal, cabo-verdiana e universal, atenta e indignada aos problemas do cotidiano e das incoerências humanas, inquietante em suas indagações existenciais e experiências estéticas. Ela é irônica, sarcástica e corrosiva. Intensa criatividade nas ressignificações das mitologias greco-romanas, nas apropriações dos cânones literários ocidentais. Vieira é coerente e fiel a sua obra, conseguindo extrair de um mundo infestado por decepções e desconforto matéria para tecer uma poesia cuidadosa, sutil e bela. Arménio Vieira, um poeta que jamais se corrompeu!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A HISTÓRIA DA ÁFRICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA, de Rosa Margarida de Carvalho Rocha (livro)


A incansável Profa. Rosa Margarida de Carvalho Rocha lança mais um livro essencial para o professor da Educação Básica trabalhar com as temáticas exigidas pela Lei 10.639/03. Trata-se do A HISTÓRIA DA ÁFRICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA - Almanaque Pedagógico (referenciais para uma proposta de trabalho), publicado pela Nandyala - Livraria e Editora.

Para comprar e adaptar as propostas pedagógicas às suas aulas.

Ricardo Riso

Mestre Didi - A influência da religião afro-brasileira na obra escultórica do... (livro)


O livro faz uma rica análise do papel imprescindível que a religiosidade afro-brasileira desempenhou na produção artística desenvolvida pelo Mestre Didi. As esculturas são confeccionadas com contas, búzios, couro e hastes palmeira, inspiradas em mitos, lendas e objetos de culto aos orixás. Suas obras fazem parte do acervo do Museu Picasso, em Paris, do MAM de Salvador e do Rio de Janeiro, Museu Afro-Brasileiro em São Paulo, entre vários outros museus estrangeiros. Mestre Didi é artista plástico e sacerdote do culto de matriz africana na Bahia.

Livro de Jaime Sodré


Fonte: blog da Kitabu - livraria negra - http://kitabulivraria.wordpress.com/

Frantz Fanon - Pele Negra, Máscaras Brancas (livro)



A obra fala sobre a negação do racismo contra o negro na França e teve sua primeira edição, em português, em 1963. É um clássico do pensamento sobre a Diáspora Africana, do pensamento da descolonização, do pensamento psicológico, da teoria das ciências, da filosofia e da literatura caribenha O autor revela, ainda, como a ideologia que ignora a cor pode apoiar o racismo que nega – pensamento que causou grande turbulência nas décadas de 1960 e 1970. O livro aguça nosso senso crítico e é uma das mais importantes obras contemporâneas sobre o racismo e seus impactos.Fanon foi psiquiatra, escritor e ensaísta francês, nascido na Martinica. Ele é considerado o maior pensador do século XX relacionado a temas da descolonização e psicopatologia da colonização. Suas obras foram inspiradas nos movimentos de libertação anticoloniais por mais de quatro décadas.
Livro de Frantz FanonTradução de Renato da Silveira
Editora: EDUFBA

João Melo na Balada Literária (São Paulo)

DIA 19 DE NOVEMBRO 2009
19h00 – SESC Pinheiros
Rua Paes Leme, 195 - Pinheiros – Tel. 3095-9400

Um bate-papo com dois dos principais autores em língua portuguesa


MARCELO MOUTINHO [escritor carioca, organizador da antologia Dicionário Amoroso da Língua Portuguesa] conversa com JOÃO MELO [poeta, contista e jornalista angolano, vencedor do Grande Prêmio de Cultura e Artes de Angola 2009) e com JOSÉ LUÍS PEIXOTO [foto - nascido em Lisboa, escreveu, entre outros, o romance Cemitério de Pianos, com o qual é finalista do Prêmio Portugal Telecom 2009]

Fonte: http://baladaliteraria.zip.net/index.html

Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na UNESA

A disciplina de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa deixou de ser presencial para se tornar disciplina on line no curso de Letras da Universidade Estácio de Sá. Por si só, um absurdo! Portanto, os atuais alunos do curso no campus Millôr Fernandes, reivindicam o direito a debates presenciais.

Por causa dos incontáveis estereótipos e preconceitos que nossa sociedade possui acerca do continente africano, é normal que várias questões e dúvidas inquietantes incomodem os estudantes quando se deparam com os textos dos autores africanos. Por isso é justa a reivindicação dos alunos e os debates, necessários.

Aqui deixo o meu apoio nesta luta.

Ricardo Riso

domingo, 15 de novembro de 2009

Alcir Dias, pintura afro-brasileira

Por Ricardo Riso

Apesar da imensa parcela da população brasileira ser representada por negros e mestiços, a representação destes na arte brasileira sempre foi marginalizada e estereotipada. Temas que valorizem a cultura afro-brasileira e a própria figura do(a) negro(a) nunca foram muito presentes entre nossos artistas, principalmente entre os de vanguarda, com algumas raríssimas exceções, entre as quais, destaco Hélio Oiticica. Pode ser que isso explique pelo fato de ser mínima a participação de artistas de descendência afro-brasileira entre os vanguardistas, logo, estes, oriundos de uma elite branca, que estranhamente insiste em afirmar que não há racismo no país, não trabalha temas inspirados em nossas raízes afro e africanas.

Talvez, por isso, seja comum encontrarmos tais temas em artistas que representam a parcela excluída da população brasileira. Artistas conscientes de seu papel social, étnicorracial, portanto, sensíveis à defesa da cultura de seus pares. O artista plástico carioca Alcir Dias pertence a esse grupo de artistas que procura revelar que a cultura brasileira possui uma diversidade rica e negra, mas renegada pelos principais meios de comunicação e no circuito artístico contemporâneo de galerias e museus, inclusive.

Fiel à pintura, Alcir Dias retrata a imagem do homem e da mulher negros. Detentor de um olhar acurado, delicado e harmonioso, somos conduzidos por suas telas a um belo universo que mostra a exuberância da cultura negra, dos seus costumes, cotidiano e religiosidade de raiz ancestral africana e como se formou o amálgama da cultura afro-brasileira. Passear o nosso olhar sobre as pinturas elaboradas por Dias é navegar pelo mundo negro, por aquilo que ele tem de pungente, bonito e sedutor.
Zé Maria

Contudo, Alcir Dias jamais abandona a denúncia social perpetrada ao negro que já havia sofrido pelos séculos de escravidão, mas, que, infelizmente, os flagelos prolongam-se devido à permanência das condições desfavoráveis impostas nos dias atuais. Obra como “Zé Maria” desmascara o que há de mais vergonhoso em nossa sociedade: o descaso, a invisibilidade e a insensibilidade do menor abandonado, negro, em sua maioria. O traço firme de Dias escancara a incompreensível mazela social ao qual as crianças negras são obrigadas a viver. O fundo da tela em tons ocre e azul, com motivos geométricos mas sem maiores detalhes faz uma analogia com o menor abandonado, com o vazio de sua existência. O olhar melancólico do menino retratado pela sensível mão de Dias, atinge-nos com a voracidade de quem tem fome, de quem é incapaz de entender o mundo em que vive, que rejeita a sua condição de criança, que nega a sua dignidade e não lhe dá esperança. Contemplar o olhar triste de “Zé Maria” é inferir o quanto somos hipócritas ao sustentarmos essa repugnante insensibilidade.

Outro aspecto tratado com relevância na trajetória pictórica de Dias é a representação de elementos da religiosidade afro-brasileira, tratada com exuberância, respeito e dignidade ao retratar os orixás e toda simbologia que os compõe. Expressar a religiosidade afro é importante para demarcar o quanto nossa cultura é plural e o quanto é necessário o respeito ao outro, principalmente quando esse outro é negro. Daí a pertinência desses temas serem retratados nesses tempos em que a intolerância religiosa expande perigosas garras ao manifestar seu ódio contra as manifestações espirituais afro-brasileiras.
Oxalá

Bom, a obra de Alcir Dias presta um belo serviço à sociedade ao valorizar com maestria a cultura afro-brasileira. Dar a visibilidade e a dignidade que a ela é renegada por um perverso racismo que não assume a sua posição, que procura manter a população afro-descendente longe de oportunidades justas de vida e que faz o possível para menosprezar e, até proibir, as manifestações em favor das raízes afro e africanas. Entretanto, as pinturas de Alcir Dias representam a alegria e a beleza da cultura negra, além de apresentar a resistência que sempre a caracterizou. Suas pinturas são o frescor necessário às nossas vistas e levam-nos a manifestar o sincero sentimento que sai de dentro de nós: o sorriso de ser negro.
Obs: as imagens foram retiradas do site de Alcir Dias, http://www.adias13.webs.com

Kiusam de Oliveira - OMO-OBÁ, histórias de princesa (livro)

Fonte: e-mail gentilmente enviado por José Geraldo Neres em 15/11/2009.

A África muito além de Tarzã: desfazendo estereótipos (palestra Ricardo Riso - Univ. Estácio de Sá - São Gonçalo)


A África muito além de Tarzã: desfazendo estereótipos

Período: 16 a 19 de novembro de 2009
Horário: 19h/22h – Auditório campus São Gonçalo
Inscrições no SIA

Programação

16/11 – segunda-feira
Responsabilidade Social em benefício dos idosos do Lar Samaritano – SG (doação de biscoitos sem recheio).
“Memórias de velhos - identidade e cultura”: dramatização das estórias narradas pelos idosos do Lar Samaritano.
Homenagem aos idosos presentes com a participação de alunos de Letras (voz e violão).
Palestra: “Inclusão social do idoso: uma questão de responsabilidade social” – Profa. Mestra Geórgia Gomes Vicente (UNESA).

17/11 – terça-feira
Exibição do vídeo “Família Alcântara” e debate sobre “Oralidade e tradição cultural” com a Profa. Dra. Angela Cristina de Souza Rego (UNESA).

18/11 – quarta-feira
Mesa redonda: “Angola, Moçambique e Cabo Verde: uma breve comparação entre as literaturas e as artes plásticas” – participação: Ricardo Riso – artista plástico, pós-graduado em História, Cultura e Literaturas Africanas e Afrobrasileira e graduando do Curso de Letras da Universidade Estácio de Sá; Profa. Dra. Luciane Nunes (UNESA), Profa. Dra. Angela Cristina de Souza Rego (UNESA).

19/11 – quinta-feira
Palestra: “Perspectivas históricas para a África” – Prof. Dr. Maurício Bertola (UNESA)
Roda de Leitura: “África: Palavra e Imagem” com participação dos alunos do Curso de Letras. Sorteio de livros sobre a África e as Literaturas Africanas e de camisetas temáticas. Apresentação de músicas e imagens africanas.


Fonte: e-mail gentilmente enviado pela Profa. Dra. Angela Rego em 14/11/2009.

Tchalê Figueira - Sempre disse (poema)

Poesia não é dactilografia
Poesia é sentir a força do cosmos,
Deus (se ele existe) em cada folha, em cada ser,
O voar dos pássaros, os olhos de uma criança.

Casa do peito como um relógio
Batendo, aurora boreal magnética
Natureza em pleno movimento…

Escriturar versos, é enovelar verbos
Pura empolada de palavras
Pluma de asa quebrada
Exercício redigido sem alma.

Observa as estrelas do céu, poeta!
Cada linha de uma folha caída
De uma árvore em Outono,
As pedras deitadas num deserto
Beijadas pelo vento norte, música
Nos teus ouvidos cantando.

Sente a simplicidade complexa das coisas, poeta!...
O grande e o pequeno, deste universo
Infinito…

(Tchalê Figueira)

Fonte: poema enviado pelo escritor e artista plástico cabo-verdiano Tchalê Figueira em 14/11/2009

Pepetela e a elipse do herói, livro de Robson Dutra


O Consulado Geral de Angola no Rio de Janeiro, a União dos Escritores Angolanos e o autor têm o prazer de convidá-lo para o coquetel de lançamento do livro Pepetela e a elipse do herói, de Robson Dutra, a ser realizado no dia 27 de novembro de 2009, das 16:30 às 20:00h, no Espaço Cultural de Angola, à Avenida Rio Branco, 311, Rio de Janeiro.

O livro será apresentado pelas professoras doutoras Laura Padilha e Ângela Roberti.

Fonte: emai-l gentilmente enviado pelo Prof. Dr. Robson Dutra em 13/11/2009.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Filinto Elísio - Do conhecido Deus (poema)

Do conhecido Deus

a Rute Maria Chaves Pires

De repente, o homem sabe desmerecer
O Deus que conhece. Ao que, no escuro,
Em prece ou meditação lhe convirá ser
Horda pura, hora fugaz, trivial deidade.

Senão, ignaro flato seja, tão profano,
Quão de sábio, falseando ora de poeta,
Ora de profeta, sua palavra derramada
E crase, de soletrada sintaxe, acidental.

Haverá, no primeiro verbo, a dialéctica
De Epicuro e, em seu maldito sussurro,
As entrelinhas com que a metáfora se cose.

Nos demais verbos, como aos seus versos,
Assintomáticos uns, febris outros, em ardis
De frases feitas desse Deus que se conhece…


FILINTO ELÍSIO
(Expoemas e Textamentos)

Fonte: poema gentilmente enviado pelo poeta Filinto Elísio em 13/11/2009

Prosas sobre Prosa - Real Gabinete Português de Leitura


Fonte: e-mail gentilmente enviado pela Sra. Madalena Vaz-Pinto,Diretora do Centro de Estudos do Real Gabinete Português de Leitura.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Livros Nei Lopes e "Questão de Pele" - lançamento, debate e autógrafos


Fonte: e-mail gentilmente enviado por Carolina Casarin, da editora Língua Geral, em 11/11/2009.

África em Nós - exposição e lançamento de catálogo


Fonte: e-mail gentilmente enviado por Luana Antunes da Costa, da Assessoria de Cultura para Gêneros e Etnias, Secretaria de Estado da Cultura, Governo de São Paulo, em 11/11/2009

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

"Afrotranscendências" no Colégio Pedro II - Niterói (RJ) contou com palestra de Ricardo Riso

Folder do evento AFROTRANSCENDÊNCIAS: Política, História e Cultura, no Colégio Pedro II - Niterói, no qual ministrei a palestra Literaturas Africanas de Língua Portuguesa: memória, sonho, beleza e rebeldia, no dia 7/11/2009
No dia 7/11, sábado último, fui convidado para ministrar a palestra "Literaturas Africanas de Língua Portuguesa: Memória, Sonhos, Beleza e Rebeldia", encerrando o evento organizado pela Profa. Lívia Scheiner: "Afrotranscendências: Política, História, Cultura" no Colégio Pedro II - Niterói (RJ). O colégio funciona em uma antiga unidade do CIEP, o belo projeto educacional idealizado por Darcy Ribeiro no início dos anos 1980, mas que não se concretizou em sua plenitude. Infelizmente.



Compondo mesa com os professores Janete Santos Ribeiro e Rodrigo Pain durante o evento durante o evento AFROTRANSCENDÊNCIAS: Política, História e Cultura, no Pedro II - Niterói, dia 7/11/2009. O auditório estava lotado, infelizmente não tenho fotos para mostrar.

Nesse dia dividi a mesa com os professores Rodrigo Pain (CP II – Niterói) e Janete Santos Ribeiro (E. E. Henrique Lage), que debateram o pertinente tema “Cultura afro-brasileira e realidade escolar”.

O calor estava intenso, típico dia de verão no Rio de Janeiro O auditório estava lotado com alunos das 1ª e 2ª séries do Ensino Médio, por sinal, uma plateia atenciosa e interessada. Parabéns para vocês! Mas, infelizmente não poderei postar nenhuma foto da plateia porque as que tenho estão péssimas.



Apresentando o arquipélago de Cabo Verde durante a palestra Literaturas Africanas de Língua Portuguesa: memória, sonho, beleza e rebeldia, durante o evento durante o evento AFROTRANSCENDÊNCIAS: Política, História e Cultura, no Pedro II - Niterói, dia 7/11/2009.

Como seria uma palestra introdutória, escorei-me nos quatro momentos das literaturas africanas de língua portuguesa assim definidos por Manuel Ferreira para apresentar, de uma forma simples e abrangente, as letras de Angola, Cabo Verde e Moçambique. De Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe utilizei apenas poemas contemporâneos de Odete C. Semedo e Conceição Lima, respectivamente.



Apresentando pinturas do cabo-verdiano Kiki Lima durante a palestra Literaturas Africanas de Língua Portuguesa: memória, sonho, beleza e rebeldia, durante o evento durante o evento AFROTRANSCENDÊNCIAS: Política, História e Cultura, no Pedro II - Niterói, dia 7/11/2009.

Para tentar aguçar a curiosidade dos alunos, acrescentei fotos das capitais, paisagens, da população local dos países trabalhados e símbolos nacionais como a árvore embondeiro (nosso baobá). Nas letras, com prioridade para a poesia, levei textos, entre outros, de Agostinho Neto, Ondjaki e João Tala em Angola; Mia Couto, José Craveirinha, Rui Knopfli e Luís Carlos Patraquim (Moçambique); e Filinto Elísio, Ovídio Martins e Jorge Barbosa (Cabo Verde). Os textos sendo intercalados com obras de Antonio Olé (Angola), Malangatana e Roberto Chichorro (Moçambique), e Mito, Manuel Figueira e Abraão Vicente (Cabo Verde).

Lendo poema de Filinto Elísio durante a palestra Literaturas Africanas de Língua Portuguesa: memória, sonho, beleza e rebeldia, durante o evento durante o evento AFROTRANSCENDÊNCIAS: Política, História e Cultura, no Pedro II - Niterói, dia 7/11/2009.

O resultado foi excelente! Adorei ter participado do evento e ter tido a oportunidade de introduzir jovens nessas literaturas. Aqui deixo meu agradecimento aos alunos do Pedro II - Niterói, à Profa. Lívia Scheiner que foi bastante atenciosa desde o nosso primeiro contato e à Profa. Rosângela Freitas, também do Pedro II e minha professora na Estácio de Sá e foi a responsável por me levar ao evento. Meu muito obrigado!

Ricardo Riso