Agradecimento especial ao poetamigo Manecas Cândido por me ofertar este Moçambicanto e outras publicações da Associação dos Escritores Moçambicanos.
Minha singela homenagem a este 25 de junho de 2010, aos 35 anos de Moçambique independente.
Abaixo, poemas de Gulamo Khan do seu livro póstumo Moçambicanto. Para a concretização deste livro, houve a união de esforços e o trabalho cuidadoso na recolha e seleção de poemas dispersos e análises de originais realizadas por poetas consagrados de Moçambique, tais como Julio Navarro, José Craveirinha, Albino Magaia, Calane da Silva. A caprichosa edição ainda contou com ilustrações de dois nomes singulares das artes plásticas do país, Roberto Chichorro e Malangatana Valente. Além disso, ao final desta obra há uma bela mensagem da mãe do poeta para esta edição tão especial.
Gulamo Khan nasceu em Maputo a 11 de maio de 1952 e foi vítima do mesmo acidente aéreo que matou o Presidente Samora Machel em Mbuzini, a 19 de outubro de 1986.
Ricardo Riso
MOÇAMBICANTO I
céleres as águas
zambezeiam pela memória
das almadias do silêncio
nem o zumbido da cigarra
me entontece
nem o troar do tambor
me ensurdece
as vozes que são
sulcos das nossas esperanças
oh pátria
moçambiquero-te
neste alumbramento
e amar-te
devo-o à carne e ao nervo
deglutidos em revolta.
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Da enxada e do martelo
é o verso escrito na palma
da tua mão punho fechado
que na alavanca das horas
faz refulgir o aço
analfabetamente parido
Cavador maldito
pronto a decepar o tronco
deste imbondeiro tão paria
carcomido pelas talécuas
sugadoras do teu sangue
és o veneno da nhoca cuspideira
queimando as migalhas bélicas
postadas de cócoras no caminho
dos simples
assim altivo ergues o teu nome
num país ainda
de nadas e famélicos
desbravando os crápulas bem como os satanhocos.
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Sei da Pátria
o nome erguido
a estrela tatuada
no corpo do Índico
uma timbila
canção guerreira
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Zagaia forte e aguerrida
adeus malume
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MOÇAMBICANTO II
Havia a árvore
um embondeiro
uma azagaia enferrujando na terra
um murmúrio de casuarinas
namorando o mar
a palavra eram anos
micaias na frotne da angústia
silvo astral decapitado
corpo de mulher tatuado
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MOÇAMBICANTO III
Vem da polpa dos teus lábios
o sussurro amargo da lua cheia
sura doce em noite de cio
embebedados
Sei do corpo e do matope
a geografia da tua idade
Sei-te vegetal e fria
na geografia do canto
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MOÇAMBICANTO IV
Chegamos com o sol
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MOÇAMBICANTO V
Com a enxada
eu bem cantava
que a força telúrica
movia o Hino
inventávamos nomes
o alfabeto
e da guerrilha
e da espingarda fulgia o verso
calibrada a fome
(Pátria era nascer)
----x----
Cresço áureo como o imbondeiro
áspero e sou terra
elanguescente corpo cativo húmus
de mim a monotonia do xitende
galga ilhas e espraia em raiva
KHAN, Gulamo. Moçambicanto. Maputo: Associação dos Escritores Moçambicanos, 1990. p. 13-21
6 comentários:
Moçambicantando quero parabenizar aos irmãos e irmãs mocambicanos(as) pelo 25 de junho e agradecer por tudo que representam na nossa cultura! Ao invés de vuvuzelas, que soem as timbilas anunciando novos e melhores tempos aos irmãos de barco! Adorei Ricardo, obrigada por dividir estes lindos moçambicantos conosco!!! Zambi salve a áfrica!!!Bjs!
Denise, qual não foi a minha emoção ao receber este e mais nove livros, entre prosa, poesia e uma revista especial de 25 anos da Associação dos Escritores Moçambicanos, na véspera do dia de independência.
Esta edição do Gulamo Khan é especial para mim por todo o seu conteúdo histórico e pela beleza de um trabalho coletivo, agregador de diversos nomes consagrados das artes moçambicanas.
Estou muito feliz por ter este exemplar! Agradeço a generosidade do meu poetamigo, Manecas Cândido.
bjs!
uma verdadeira alegria poética este lugar de poemas que tanto aprecio!!
um forte abraço
Muito obrigado pela visita e comentário, ParadoXos!!
Volte sempre!!
Ja vi que os livros chegaram bem e que fez muito bom uso deles! Belo post. Um abraço, Fernanda
Prezada Fernanda, com muito prazer confiro a sua passagem por aqui.
Meu muitíssimo obrigado por ter sido a mensageira!!
Volte sempre!
Abração,
Ricardo Riso
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