quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Vera Duarte - Preces e Súplicas ou os Cânticos da Desesperança

Vera Duarte - Preces e Súplicas ou os Cânticos da Desesperança

Ricardo Riso
Texto publicado no semanário cabo-verdiano A Nação, nº 155, 19/08/2010, p. 18.

Em "Preces e Súplicas ou os Cânticos da Desesperança" (Lisboa: Instituto Piaget, 2005), Vera Duarte reafirma sua postura irredutível em prol dos direitos humanos, da mulher e contra toda e qualquer forma de opressão aos desfavorecidos não só da África, mas de todos os países. Trata-se de uma poesia que pretende atingir "todos os que lutam por um mundo de maior justiça e melhor humanidade".

Nascida no Mindelo, ilha de São Vicente, Vera Duarte é juíza desembargadora e foi ministra da Educação. Dentre os prêmios literários, destacam-se Tchicaya U Tam'si de Poesia Africana 2001 e o SONANGOL 2003 pelo romance "A Candidata". Publicou em poesia "Amanhã Amadrugada" e "O Arquipélago da Paixão", entre outros artigos e ensaios.

Com apresentação de Carmen Lúcia T. R. Secco e prefácio de Estela Pinto Ribeiro Lamas, "Preces e Súplicas..." começa com as Súplicas diante "da impotência tamanha" causada pela caótica situação africana: "há homens que não têm água/ há homens que não têm luz/ há homens que não têm casa/ há homens que não têm nada". A seguir, a trajetória de exploração da África, "então vieram caravelas/ trazendo homens de cor estranha/ (e estranhos pensamentos)". No colonialismo a ganância visa o rico solo: "ouro diamante petróleo/(...) cada vez mais queriam possuir teus bens". Até que os tempos mudam, "o vento da revolução/ soprou forte sobre o mundo", e com a independência "cantaremos hinos de súplicas e esperança".

Após as Súplicas, chega-se às Preces. A “Prece Primeira” homenageia o poeta português Eugénio de Andrade e metaforicamente usa a rosa deste e a rosa mirabílica, referência à antologia “Mirabilis – de veias ao sol”: "Em África cresce uma rosa/ É a rosa mirabílica/ Flor de poesia/ uma rosa entre cadáveres".

Na “Prece Segunda” as 7 cabeças de hidra e os 7 pecados originais são atualizados: "a guerra/ a tirania/ a corrupção/ a má governação/ a sida/ a estupidez/ a indiferença". Contra os líderes inescrupulosos, a certeza de agir: "É este o ano/ O dia, o século/ E o milénio" e vislumbrar um futuro digno: "É a esperança que tem que nascer/ É a esperança que vai renascer".

A “Prece Terceira” mostra as utopias destruídas e os sonhos conspurcados perante a ambição desmedida. Todavia, ainda há espaço para o "holocausto redentor": "É preciso uma fé/ Que mova montanhas/ E um holocausto redentor/ Que devolva os homens/ Aos ideais".

A “Prece Quarta” é dedicada a todos que não têm voz nas "Canaãs inacessíveis". Em "titanesca revolta", queixa-se: "Oiçam a minha voz/ Oiçam a minha cólera". A Prece seguinte acompanha o sentimento universal.

A indignação revela-se na “Prece Sexta” ao mostrar as condições subumanas impostas às crianças, que são "Compradas/ Vendidas/ Violadas/ Abusadas/ Exploradas/ Maltratadas/ Seviciadas". A última Prece refere-se à Gorée, ilha senegalesa de onde saíam os escravos na época do tráfico negreiro, e o eu lírico procura "reinventar o outro futuro/ antes que seja este passado".

Depois das Preces, os poemas dedicados à mulher. Exige-se uma nova postura: "Desperta-te mulher!/ Larga toda essa miséria/ e vem lutar pela verdadeira mulher" e, assim, encontrar a "Mulher d'hoje", de "Tempos novos/ ideais recuperados/ brilho no ar e transparência em tudo/ serão espelho/ onde se refletirá/ a imagem/ diferente e subversiva/ da mulher de hoje/ a ganhar forma/ a ganhar corpo/ a crescer/ a viver".

Ao fim, um cântico final e redentor celebra a poesia e a união dos homens contra a opressão: "E esconjuraremos juntos/ As desgraças do/ Tempo que passa/ Gloriosamente recusando/ A sorte/ A morte/ E todos os sacrilégios".

Ao utilizar alegorias bíblicas, Vera Duarte expõe suas preocupações sociais em "Preces e Súplicas ou os Cânticos da Desesperança". Na infatigável defesa dos direitos humanos depreendemos a "holística comunhão" em um futuro possível, de quem ama demasiadamente "a humanidade/ para assistir/ indiferente/ às várias hecatombes/ que sacodem/ o nosso cotidiano".

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Tzvetan Todorov - A Literatura em perigo (excerto)

As abnegadas palavras de Tzvetan Todorov traduzem o amor e a importância da Literatura para nossas vidas. Compartilho o belo excerto abaixo do seu grandioso ensaio "A Literatura em perigo".
Ricardo Riso

“Hoje, se me pergunto por que amo a literatura, a resposta que me vem espontaneamente à cabeça é: porque ela me ajuda a viver. Não é mais o caso de pedir a ela, como ocorria na adolescência, que me preservasse das feridas que eu poderia sofrer nos encontros com pessoas reais; em lugar de excluir as experiências vividas, ela me faz descobrir mundos que se colocam em continuidade com essas experiências e me permite melhor compreendê-las. Não creio ser o único a vê-la assim. Mais densa e mais eloquente que a vida cotidiana, mas não radicalmente diferente, a literatura amplia o nosso universo, incita-nos a imaginar outras maneiras de concebê-lo e organizá-lo. Somos todos feitos do que os outros seres humanos nos dão: primeiro nossos pais, depois aqueles que nos cercam; a literatura abre ao infinito essa possibilidade de interação com os outros e, por isso, nos enriquece infinitamente. Ela nos proporciona sensações insubstituíveis que fazem o mundo real se tornar mais pleno de sentido e mais belo. Longe de ser um simples entretenimento, uma distração reservada às pessoas educadas, ela permite que cada um responda melhor à sua vocação de ser humano.”

(TODOROV, Tzvetan. A Literatura em perigo. Rio de Janeiro: Difel, 2010. p. 23-24)

3o. Encontro de Escritores Moçambicanos na Diáspora - Portugal


Fonte: e-mail gentilmente enviado pelo escritor Filinto Elísio em 18/08/2010

PESSOA – a revista que fala a sua língua

Nova revista literária, a PESSOA – a revista que fala a sua língua. Dentre vários textos, encontram-se inéditos do angolano João Melo e do moçambicano Luís Carlos Patraquim.


Vale a visita.

Abraços,
Ricardo Riso

domingo, 15 de agosto de 2010

João Melo, João Maimona e Marta Santos na UFRJ

MESA-REDONDA COM POETAS E ESCRITORES DE ANGOLA

JOÃO MAIMONA,

JOÃO MELO,

MARTA SANTOS (nova escritora de literatura infanto-juvenil)


Dia 19 de agosto (quinta-feira), das 10 horas às 12:30,
Faculdade de Letras/UFRJ- Fundão, sala D220.

Fonte: e-mail enviado pela colega Iara A. Rodrigues em 15 de agosto de 2010.

sábado, 14 de agosto de 2010

Consciência Negra em Cartaz


Consciência Negra promove a produção de cartazes


A campanha Consciência Negra em Cartaz, criada pela secretaria de Estado da cultura de São Paulo convida toda população a participar na criação de cartazes sobre o tema, que serão expostos no site oficial.

A pergunta-tema “O que é Consciência Negra para você” serve de inspiração para a confecção livre do cartaz, que pode conter somente palavras ou palavras e imagens. Mostre para o Brasil sua visão sobre Consciência Negra. Os participantes também poderão criar uma frase sobre sua visão do tema, que ficará visível no site.

Visite o site da campanha www.consciencianegra.com.br para ler o regulamento e participar. Os 50 cartazes selecionados pela curadoria ficarão expostos na semana da Consciência Negra.

Acompanhe a “Consciência Negra em Cartaz” no Twitter pelo http://www.twitter.com/conscienciasp

Fonte: e-mail gentilmente enviado pela Assessoria de Imprensa Consciência Negra em Cartaz, representada pelo sr. Ubiratan Vaz

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sonhos não envelhecem de luto: Ruy Duarte de Carvalho

Morreu o escritor angolano Ruy Duarte de Carvalho
Ruy Duarte de Carvalho formou-se em antropologia e obteve o doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris.
Da Redação
Luanda – O escritor, antropólogo e cineasta angolano Ruy Duarte de Carvalho morreu, quinta-feira (12), em Swakopmund, na Namíbia, aos 69 anos.

Depois de ter lançado a sua primeira obra literária em 1972, o escritor publicou mais de 15 títulos, mas áreas da poesia, ficção, e ensaio.

Ruy Duarte de Carvalho formou-se em antropologia e obteve o doutorado pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris. Exerceu a actividade de professor em várias universidades de Luanda e foi professor convidado na Universidade de Coimbra (Portugal) e na Universidade de São Paulo (Brasil).

Das suas obras constam Vou lá visitar pastores (1999), sobre os Kuvale, sociedade pastoril do sudoeste de Angola; Chão de Oferta (1972); A Decisão da Idade (1976); Observação Directa (2000).

Na ficção assinou Os Papéis do Inglês (2000), Como se o mundo não tivesse Leste (1977) e Paisagens Propícias e Desmedida, obra com a qual venceu, em 2008, o Prémio Correntes d'Escritas. De 2003 é o livro Actas da Maianga – Dizer da(s) guerra(s) em Angola.

Estudou cinema em Londres e realizou diversos documentários sobre as populações do sul de Angola.

Para além da actividade literária, realizou as longas-metragens Nelisita: narrativas nyaneka (1982) e Moia: o recado das ilhas (1989).

Em 1989, Ruy de Carvalho recebeu o Prémio Nacional de Literatura e o seu "Desmedida Luanda, São Paulo, São Francisco e Volta, Crónicas do Brasil" (Livros Cotovia), recebeu também o Prémio Literário Casino da Póvoa, atribuído no âmbito do encontro Correntes d'Escritas na Póvoa de Varzim, em 2008.


 
Segue a 'autobiografia' que escreveu para o JL em 2005

Ruy Duarte de Carvalho
Se a habilidade autobiográfica que me é pedida visa situar aquilo que tenho escrito no espaço ultramarino português de ontem e lusófono de hoje, então o que me está a ser sugerido, de facto, é que entre no jogo e aceite essa colocação como eixo do que possa vir a ter para dizer. Assim : Em meados dos anos 50 do século passado desembarquei em Lisboa com uma bicicleta e uma caixa de tintas a óleo na bagagem. Eram preciosas prendas de que tinha conseguido não me separar, uma de aniversário e outra por ter feito o 2º ano do liceu, quando por decisão familiar fui remetido de Moçâmedes para fazer em Portugal, Santarém, num prazo de cinco anos, o curso de regente agrícola. Mas nem da bicicleta nem das tintas a óleo nunca mais voltei a fazer uso. Passei esses cinco anos na condição de aluno interno, a residir no próprio estabelecimento escolar, e tanto as tintas a óleo, que eram o reconhecimento dos meus mais evidentes talentos congénitos, como a bicicleta, que era uma adjectivação de gloriosas adolescências coloniais, foram sacrificadas à disciplina e ao programa da minha estadia em Portugal.Não estou, porém, é claro, a contar a estória pelo princípio. Quando de facto fui embarcado em Moçâmedes, eu estava também a ser remetido ao exacto local do meu nascimento biológico e de onde, mais cedo portanto, tinha vindo com a família, que entretanto emigrava, parar a Moçâmedes. O que me calhou assim na vida, de qualquer maneira, foi estar de volta a Angola com um curso médio já feito quando a maioria dos sujeitos angolanos da minha classe etária com recursos para estudar estava a ser, por sua vez, expedida para faculdades em Portugal e a ver-se colocada nos terrenos de uma placa giratória, dados os tempos que então corriam, capaz de os envolver em oportunas dinâmicas de esclarecimento ideológico, aprendizagem política, encaminhamento militante e eufóricas, redentoras e patrióticas opções juvenis de rumo para a vida.Pelo menos duas consequências maiores para o meu percurso biográfico terão resultado desta configuração das coisas: a primeira é que o lugar onde vim ao mundo sempre constituiu para mim, desde que me lembro a ruminar nas coisas, uma referência de exílio; a segunda é que tudo quanto pela vida fora se me foi revelando e determinando lugar no mundo, sempre acabou por ocorrer de maneira imediata, vivida, empírica, in vivo, a exigir, às vezes, e sem ser pela mão fosse do que ou de quem quer que fosse, opções e acções de vida ou de morte no pleno desenrolar dos acontecimentos. Elaborações e ruminações, teoria ajudando, foi quase sempre só depois.Não me lembro de ter vindo ao mundo, evidentemente, mas em compensação lembro-me muito bem de ter mudado inteiramente, tanto de alma como de pele, uma meia dúzia de vezes ao longo da vida. De que havia uma matriz geográfica e de enquadramento existencial que essa é que era a minha, dei conta aí pelos 12 anos a comer pão e com um ataque de soluços no meio do deserto de Moçâmedes, por alturas do Pico do Azevedo. Isso continua a vir-me sempre à ideia de cada vez que ainda por lá passo e se calhar é para isso mesmo que ando sempre a ver se passo por lá. E de que havia uma razão de Angola que colidia com a razão colonial portuguesa, disso dei definitivamente conta em condições muito brutais, com 19 anos e já a trabalhar como técnico responsável nas matas do Uíge, quando, em Março de 1961, eclodiu ali a sublevação nacionalista do norte.Sobrevivi à justa e a tempo de me refazer de tanta perplexidade e do quadro de horror geral em que me tinha visto envolvido, fruto quer da feroz insurgência quer da perversa e ainda mais feroz repressão à insurgência, quando a seguir, numa noite em Luanda, a atravessar as ruas da Baixa, houve quem me desse a saber, pela via de uns versos, de uma alma de Angola que vinha pronta sob medida para eu ajustar à razão de Angola que o pesadelo do Norte tinha acabado de me dar a entender. E a partir daí passei a invocar esse novo nascimento para ver se conseguia forjar algum sentido para a condição de órfão do império a que a vida, apercebi-me logo, me iria destinar.O máximo que então consegui, para actuar do lado em que passei desde então e até hoje a situar-me, foi que alguns mais-velhos da luta clandestina, durante uns tempos em que habitei Luanda, me atribuíssem mínimas tarefas menores, como dactilografar, para distribuição nos muceques, poemas de revolta de autoria anónima e de esclarecedora má qualidade, também. Mas depois foi uma data de gente presa e quando o instituto do café me colocou, a seguir, primeiro na Gabela e mais tarde em Calulo, perdi e nunca mais consegui restabelecer ligações políticas efectivas com a insurgência nacionalista. O máximo, outra vez, que consegui então, foi ser dado como persona non grata pela administração do Libolo e afastado dali junto com um padre basco e um médico português. Pouco para currículo político.Arranjei então outro emprego e mudei para a Catumbela, para dirigir a pecuária de uma grande empresa açucareira. E foi nessa condição que levei tal volta passados três anos de mim para mim e afundado a criar ovelhas no interior do imenso platô de Benguela, levei então tamanha volta que andei os três anos seguintes a derivar pelo mundo. Estive em Hamburgo, em Copenhaga e em Bruxelas sempre a ver se encontrava traços da insurgência nacionalista, mas quando finalmente consegui chegar a Argel para colocar-me à disposição da luta, ninguém ali me levou a sério, ou então desconfiaram, ou então voluntaristas como eu já lá tinham que chegasse e até nem sabiam o que é que lhes haviam de fazer. Foi depois de ver-me assim perante a evidência de que por ali também não ia dar, e de ter levado as coisas até onde podia, que acabei por encontrar-me um dia, no turbilhão da voragem de tanta viagem, a exercer funções de chefe de fabricação de cerveja em Lourenço Marques Maputo, e estive a seguir em Londres, com um dinheiro que pedi emprestado, a fazer um curso de realização de cinema e de televisão. Na sequência dessa volta toda é que acabei por passar a noite de 10 para 11 de Novembro de 1975 no município do Prenda, às zero horas, que foi uma hora zero, a filmar a bandeira portuguesa a ser arreada e a de Angola a subir ao mesmo tempo.Já nessa altura, quando foi da independência, tinha o primeiro livro de poesia publicado. Depois, de 75 até 81, fiz filmes para a televisão angolana e para o Instituto Angolano de Cinema, e andei durante uns tempos muito entretido a filmar por Angola toda e a pensar que seria bem acolhida essa minha peregrina intenção de dar Angola a conhecer aos próprios angolanos, meus compatriotas. Quando vi que afinal não dava mesmo para continuar a querer fazer cinema, nem aquele que eu queria nem aliás qualquer outro, escrevi um texto académico para juntar a um dos filmes que tinha feito no Sul e obtive com isso o diploma da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris, que me deu imediato acesso à condição de doutorando. Foi então o tempo da Samba e dos Axiluanda, de um fora de Luanda dentro de Luanda, e das teses. A partir de 87 passei a dar umas discretas e mal pagas aulas de Antropologia Social em Luanda e fui aproveitando sabáticas para aceitar convites e ir dar aulas também e consumir bibliotecas em Paris, Bordéus, São Paulo e Coimbra. E a partir de 92 arranjei maneira de ir estar, todos os anos, cinco meses com os pastores do Namibe. Decidi então passar a disponibilizar essa informação sem ter de escrever naquele tom da escrita académica ou de relatório, porque disso já tinha tido a minha dose. E foi assim que adoptei a maneira do Vou lá visitar pastores que depois me pôs na pista de uma meia-ficção em que venho insistindo nos últimos anos. E fui também deixando cada vez mais de escrever poemas tal e qual.Hoje continuo a não conseguir andar muito tempo por fora sem devolver-me ao murmúrio de Luanda à noite que sobe das traseiras da minha casa na Maianga, e sem continuar a dar de vez em quando um salto ao Sul, para visitar pastores. E julgo, chegado a esta altura da vida, não poder deixar de ter que entender que o mundo, por toda a parte e não só aqui, se urde e se produz recorrendo sempre, ou quase sempre, ao uso e ao abuso da boa-fé dos outros. Temo não conseguir nunca chegar, mesmo velhinho, a conformar-me com isso e a tornar-me no sujeito bem acabado, dissimulado, pirata, adaptável e finalmente adaptado que nunca, durante toda a vida, consegui ser. Mas acho que também aprendi, entretanto, a rir-me de mim mesmo, das minhas incompetências congénitas e do mau-feitio que neste mundo sou evidentemente o único a ter. E tem uns intervalos em que tudo parece ficar virginalmente vivável, bom e bonito, conforme pensa a onça quando, segundo Guimarães Rosa, não teme nada e vai, guiada só pela alma que tem.
Fonte: http://aeiou.visao.pt/morreu-ruy-duarte-de-carvalho=f569029

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Buala - cultura contemporânea africana, Ricardo Riso (colaborador)

Prezados(as),

com muita felicidade e honrado, compartilho com todos os frequentadores do blog minha primeira colaboração para o prestigiado portal Buala - cultura contemporânea africana, na qual compareço com o artigo Sangare Okapi e a revisitação do corpo literário moçambicano em "Mesmos Barcos".

O portal Buala reúne textos de destacados nomes do teatro, dança, cinema, literatura e artes plásticas, sempre com a preocupação de divulgar o que se produz na arte contemporânea africana.

Recomendo a visita ao Buala, pois há uma gama fantástica de textos da melhor qualidade, e peço ajuda na divulgação.

Meus melhores cumprimentos,
Ricardo Riso

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

António de Névada – Esteira Cheia ou o Abismo das Coisas


António de Névada – Esteira Cheia ou o Abismo das Coisas
por Ricardo Riso
Resenha publicada no semanário A Nação Nº 153, de 05 a 11/08/2010, p. 16

 

Apetece a celebração quando se depara com uma poesia que transforma o ato da leitura em uma surpreendente e valorosa experiência. Passam-se os versos, passam-se as páginas e a mescla de interesse e inquietação apodera-se do leitor, ávido pelo que virá. Dessa maneira, entorpecido por um intenso labor criativo e ousado na depuração da palavra, a demonstrar maturidade plena em seu ofício, que se encerra a gratificante leitura de “Esteira Cheia ou o Abismo das Coisas”, do mindelense António de Névada.

Lançada em 1999, sob a chancela da editora Angelus Novus, “Esteira Cheia...” revela profundas indagações de natureza ontológica em longos poemas narrativos de pungente conotação épica. Particionada em três Canções (meditações, aguarelas do tempo e canto à semeadura) subdivididas por três cantos, precedidas por um Prelúdio (esteira cheia de sol) e finalizadas por um Coro (esteira cheia, ribeira da vida), esse épico, com acerto chamado de épica lírica por Osvaldo Silvestre e que o poeta denomina de drama ou polifonia poética, assemelha-se à estrutura da ópera, tendo a música como um referencial marcante aludido na epígrafe dedicada ao jazzista John Coltrane, por sinal, um artista também preocupado com as questões metafísicas, sendo exemplo maior o seu antológico álbum A Love Supreme.

Ressaltem-se as diferenciadas marcas intertextuais que abrilhantam a poesia de Névada, tais como as explicitadas pelo poeta e que valorizam a literatura de Cabo Verde, casos de João Vário, Timóteo Tio Tiofe e Corsino Fortes, a cultura popular cabo-verdiana e africana, nomes universais como Dante Alligheri e T. S. Elliot, e contemporâneos, caso de Nuno Júdice. Tantas referências são reconfiguradas pela pena criativa do poeta que realiza um mergulho angustiado no âmago do ser, atestado a seguir: “É sabido que o sofrimento/ e a carência são sombras/ que a árvore da vida/ projecta sobre as almas./ Mas como sarar a podridão do corpo,/ como colher da murchidão,/ se a dolência corroeu-nos o espírito,/ se o êxodo levou-nos o canto/ secou-nos o pranto?”(p. 12)

Na incessante busca pelo sentido de estar no mundo, posto que “sua alma cresce entre joios de desespero” (p. 17), “os versos medem a agonia/ e cavamos à procura da essência” (p. 27) em uma época desarranjada que apresenta imagens insólitas como “uma gola sem pescoço/ empunhando punhos de espanto” (p. 25). A poesia refere-se ao homem cabo-verdiano, à sua resistência e à sua “impropícia beatitude” (p. 29) “no chão putrefacto” (p. 31), o sujeito lírico solidariza-se com as dificuldades da vida do ilhéu, “caminhamos em busca do tempo”. Esse tempo que chega a ser quase que tangível, devido à artesania do poeta.

Da impossibilidade da indiferença ao visualizar a abnegação do ilhéu ao cumprir seu dever em lavrar a terra seca, “as lágrimas humedecem os olhos./ Os elementos diluem-se no abismo das coisas” (p. 51), estupefato “sob o peso da angústia” (p. 49), “procurando a ancestralidade/ ou a linha da vida” (p. 44), o sujeito lírico divaga: “E não pensemos/ que o acto de questionar/ o melhor das coisas/ nos levará à grandeza” (p. 50). Ainda impressionado com a insistência do lavrador, “E o homem/ cultiva sobre a terra estéril,/ e sobre ela ajoelha-se/ para louvar ou possuir/ o dom dos deuses.” (p. 60), tanto que “a densidade das palavras/ não encontra/ o discurso necessário” (p. 62) e se questiona: “Será que cavamos a própria sepultura?” (p. 64)

Valendo-se de uma linguagem inovadora e culta, com metáforas arrojadas, forte presença telúrica, pertinentes indagações acerca da existência, “julgaremos o homem, sua essência,/ como quem julga a negação dos deuses,/ o infinito ou a irreferência dos deuses!” (p. 67-68), sobre o tempo e a verossimilhança, elevam o nome de António de Névada como legítimo representante da melhor poesia de Cabo Verde:

Ao recriar o desgaste, o atrito
entre a esperança e a desesperança,
estabelece-se a mais verossímil
das parábolas:
A vida! (p. 71)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Ondjaki - Quantas madrugadas tem a noite (livro)


Quantas madrugadas tem a noite
Ondjaki

A obra é o segundo romance de Ondjaki, dos expoentes da nova geração de escritores africanos, que também se dedica à poesia, ao teatro, aos contos e à literatura infantil. O autor, que já afirmou em entrevista que “frequentar livros é frequentar mundos”, conduz o leitor até Luanda, cenário das diversas histórias que constituem o romance. Povoada por personagens como o professor albino Jaí, o anão BurkinaFaçam e o protagonista AdolfoDido, a trama flerta com o fantástico ao mesmo tempo quem que traça um panorama atualizado da Luana pós-independência. Com temperadas doses de humor, farsa, drama, lirismo e violência, “Quantas madrugadas tem a noite” mantém o estilo presente em outras obras do autor, em que a oralidade permeia fortemente a narrativa, aproximando o leitor dos acontecimentos como se eles estivessem sendo contados entre amigos e entre muitas birras (cervejas). Um breve glossário ao fim do livro esclarece gírias e expressões regionais, que não atrapalham a fluência da leitura.

Editora Leya Brasil
Páginas: 200
ISBN: 9788562936258
1.ª edição: 2010-06-01

fonte: http://www.leya.com.br/catalogo/detalhes_produto.php?id=41894

Portanto... Pepetela (Tania Macêdo, Rita Chaves) - livro


Portanto... Pepetela
Tania Macêdo, Rita Chaves
ISBN: 978-85-7480-457-6



Este livro procura reduzir a distância que ainda separa a literatura brasileira da africana, trazendo uma série de artigos sobre Pepetela, um dos principais escritores angolanos. O trabalho divide-se em cinco partes: a primeira incide sobre a trajetória do autor, com o registro de alguns dos passos da sua vida e a criação de sua obra, completando-se com um quadro informativo sobre as edições e traduções de seus livros. Na segunda parte, é o autor que nos apresenta um pouco de si mesmo, captado o seu pensamento em entrevistas concedidas nos últimos anos. Na sequência, vem a voz de alguns de seus companheiros – de ofício, de luta, da utopia que, felizmente, foi além da sua geração. Nesses depoimentos transparecem outras dimensões de sua personalidade que o leitor de seus livros há de gostar de descobrir. Na quarta parte a obra de Pepetela é abordada por vários especialistas, professores e estudiosos do Brasil, de Portugal e de Moçambique. Finalmente, oferece-se uma listagem de dissertações de mestrado e teses de doutoramento que têm Pepetela como tema.

Sumário
Pepetela, Entre Nós – Rita Chaves e Tania Macêdo

I. Pepetela: as Estórias na História
◦Cronologia
◦Bibliografia
II. Pepetela pela sua Voz (Fragmentos de Entrevistas)
◦Experiência e Vida
◦Guerrilha
◦Literatura
◦A Obra
◦Política
III. Pepetela por outras Vozes
◦Pepetela, Bem-vindo… – Dario de Melo
◦Reler Pepetela – Gabriela Antunes
◦Até Camões… – Henrique Abranches
◦Pepetela: A Dimensão do Renascimento – José Luís Mendonça
◦O Pepe – Júlio de Almeida
◦Pepetela – A Pestana Vigiando o Olhar – Mia Couto
◦Quarenta Anos de Amizade para Sessenta de Vida – Ndunduma Wé Lepi
◦Pepe – Orlando Senna
IV. Pepetela sob os Olhos de Tantos
◦Fatos de Vida, Feitos de Ficção (Yaka, de Pepetela: História, Mito e Símbolo) – Maria Aparecida Campos Brando Santilli
◦Janus-narrador em A Gloriosa Família de Pepetela, ou o Poder Profético da Palavra Narrativa – Ana Mafalda Leite
◦Mayombe: Um Romance contra Correntes – Rita Chaves
◦Muana Puó: Enigma e Metamorfose – Fernando J. B. Martinho
◦Na Curva Oblonga do Tempo, uma Alegórica Parábola… – Carmen Lucia Tindó Ribeiro Secco
◦Notas sobre a Utopia, em Pepetela – Benjamin Abdala Junior
◦O Desejo de Kianda: Crônica e Fabulação – Maria Thereza Abelha Alves
◦Pepetela: A Releitura da História entre Gestos de Reconstrução – Inocência Mata
◦Pepetela e a Sedução da Montagem Cinematográfica: Breves Recortes – Laura Cavalcante Padilha
◦O Homero Angolano – Lourenço do Rosário
◦As Aventuras de Ngunga: Nas Trilhas da Libertação – Maria do Carmo Sepúlveda Campos
◦Muana Puó: Uma Pequena Leitura da Máscara – Mário César Lugarinho
◦Mayombe: Angola entre o Passado e o Futuro – Marina Ruivo
◦A Corda: Um Convite ao Pensar… – Iris Maria da Costa Amâncio
◦A Revolta da Casa dos Ídolos: Renovação e Tradição – Antonio Hildebrando
◦Yaka: A Construção do Discurso Utópico – Vima Lia Martin
◦O Cão e os Caluandas: O Texto, o Leitor e o Mundo – Maria Teresa Salgado
◦Lueji: O Nascimento de um Império – Fernanda Cavacas
◦Luandando: Uma Cidade no Gerúndio – Érica Antunes
◦A Geração da Utopia: A Lição do Mar – Célia Regina Marinangelo
◦O Desejo de Kianda: Um Cântico de Liberdade – Tania Macêdo
◦Parábola do Cágado Velho: O Cágado Velho e o Pensador – Magdala França Vianna
◦ A Gloriosa Família: O Tempo dos Flamengos – Valéria Maria Borges Teixeira
◦A Montanha Mágica de Pepetela – Ana Luísa Ventura Vieira Pereira
◦Jaime Bunda, Agente Secreto: A Paródia do Mito – Rosangela Manhas Mantolvani
◦Jaime Bunda e a Morte do Americano: O Livro Policial é um Pretexto – Simone Caputo Gomes
◦Pepetela e a Predatória Arte de Narrar – Jorge Valentim
◦O Terrorista de Berkeley, Califórnia: Entre a Modernidade e a Barbárie – Sueli Saraiva
◦O Quase Fim do Mundo – Raquel Silva
◦Contos de Morte: Flashes para Escrever Angola – Lola Geraldes Xavier
V. Pepetela sobre/para o Escritor
◦Teses e Dissertações sobre a Obra de Pepetela nas Universidades Brasileiras

Autor: Rita Chaves
Biografia: Rita Chaves é professora e pesquisadora de literatura da Universidade de São Paulo.

Medidas: 12,5 x 20,5 cm - Páginas: 392 - Edição: 1ª - Ano: 2010 - Acabamento: Brochura
Fonte: http://www.atelie.com.br/shop/detalhe.php?id=522

Pós-Graduação em História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (UFJF)

História e Cultura Afro-Brasileira e Africana: Educação para as Relações Étnico-Raciais (Universidade Federal de Juiz de Fora)

EDITAL

Coordenação: Prof. Dr. Robert Daibert Júnior (Departamento de Ciência da Religião)
Vice-Coordenação: Prof. Dr. Edimilson de Almeida Pereira (Departamento de Letras)

e-mail: neab.reitoria@ufjf.edu.br

Inicio: 10 de setembro de 2010
Carga Horária:396 Vagas:40

Publico Alvo: Portadores de diploma de curso superior em Pedagogia ou Normal Superior ou Licenciatura Plena em qualquer área do conhecimento. Não serão homologadas as inscrições de candidatos que não comprovarem conclusão de curso superior em conformidade com as especificações acima citadas.

Curso: GRATUITO

Período de inscrição: 26/07/2010 a 06/08/2010

Local de Inscrição: Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora, sala Sky, primeiro andar, das 14h às 17:30h.)

Homologação das Inscrições: A homologação das inscrições será publicada no site www.ufjf.br/neab em 12 de agosto de 2010.

Prova: dia 14 / 08 / 2010 no anfiteatro do Instituto de Ciências Humanas (campus UFJF) das 08:30h às 12h. (consultar Bibliografia no ato da inscrição)

Processo seletivo:
1) Avaliação da carta de apresentação, entregue pelo candidato no ato da inscrição (caráter eliminatório).
2) Prova escrita (caráter eliminatório e classificatório).
3) Análise de currículo (classificatório).

Resultado: Os resultados serão divulgados no dia 28 de agosto de 2010, no site www.ufjf.br/neab

Período de Matrícula: de 30/08/2010 a 03/09/2010 em local a ser divulgado no site no momento da publicação do resultado.

Dias e horário de funcionamento do curso: às 6as-feiras das 18:30 h às 22:30 h e aos sábados das 08h às 12h e das 13h às 17h.

Documentos para inscrição:
■Cópia da carteira de identidade (RG)
■Cópia do CPF
■Cópia do Histórico Escolar da Graduação
■Cópia autenticada do Diploma de Graduação ou cópia autenticada da Declaração de Conclusão do Curso acompanhada de cópia autenticada do protocolo de solicitação do Diploma.
■Cópia autenticada da Certidão de Nascimento ou Casamento
■01 foto 3 x 4 recente
■Currículo vitae acompanhado de comprovantes
■Carta de apresentação redigida pelo próprio candidato conforme orientações divulgadas no edital disponível em www.ufjf.br/neab
 
Fonte: http://www.ufjf.br/propg/lato-sensu/humanas/historia-e-cultura-afro-brasileira-e-africana-educacao-para-as-relacoes-etnico-racias/

domingo, 1 de agosto de 2010

Tás a ver? Coletivo multimídia África-Brasil



Um novo portal que intenciona aproximar África - Brasil, chama-se Tás a ver? - coletivo multimídia África-Brasil.

O sítio é bonito e o seu conteúdo de excelente qualidade.

Recomendo a visita constante.

Abraços,
Ricardo Riso


Literacia - Africanidades (Ricardo Riso, colaborador)



Prezados,

com prazer inicio neste mês colaboração na seção Africanidades da Literacia - Revista de Cultura

A periodicidade será mensal e o primeiro artigo, sob o título Mirabilis – de veias ao sol, a produção literária contemporânea cabo-verdiana, traço um breve panorama de alguns dos escritores escritores publicados desde quando a antologia supracitada foi lançada.

A revista possui diversas seções e artigos de nomes consagrados, dentre outros, como do crítico literário e escritor Affonso Romano de Sant'anna e da Profa. Dra. Rita Chaves (USP).
 
Visitem quando for possível e ajudem na divulgação, por favor.
 
Abraços,
Ricardo Riso

Sete Ventos (Teatro - Sesc-Tijuca/RJ)


SETE VENTOS é um monólogo interpretado pela atriz Débora Almeida baseado em depoimentos de mulheres negras e Iansã, já cumpriu duas temporadas no Rio de Janeiro, sendo contemplado pelo Prêmio Myriam Muniz de Teatro e acaba de retornar de Salvador, onde foi apresentado no Teatro Vila Velha a convite da SEPROMI- Secretaria de Promoção da Igualdade do Estado da Bahia em comemoração pelo Dia da Mulher Negra Latino- Americana e Caribenha.

O espetáculo narra a trajetória da escritora Bárbara, filha de Iansã. Ela relembra junto ao público as histórias de mulheres negras que a influenciaram. Através dos relatos de Bárbara contamos a história da pessoa negra que tenta reconstruir a sua identidade através das contradições de seu cotidiano.

Entre as mulheres entrevistadas, contamos com Conceição Evaristo, Vanda Ferreira e Lucia Xavier, do Criola.

Débora Almeida é atriz, formada pela UNI- Rio, integrou o elenco da Cia dos Comuns durante 9 anos, participando dos espetáculo “A Roda do Mundo”, “Candaces- A Reconstrução do Fogo”, “Bakulo- Os Bem Lembrados”, dirigidos por Marcio Meireles, e “Silêncio”, dirigido por Hilton Cobra. No cinema participou dos filmes “Jogo de Cena”, de Eduardo Coutinho” e “Crimes de Ódio” de Patrícia Freitas.
 
Fonte: e-mail gentilmente enviado por Débora Almeida em 01/08/2010.