Da multiplicidade do caos surge a Arte em diferentes facetas, suportes, cores, formas, figuras zoomorfas, hieróglifos de um tempo ido, também nosso, muito nosso, pois fala, toca, sente o nosso hoje, expande o agora. Arte que pressiona o que sentimos, que questiona o que vemos, que nos conduz a vivenciar o Belo ali traduzido.
Impactar.
Arte para desolhar o nosso tempo, para, a partir do encanto-espanto, confrontar o texto da constituição da república moçambicana e mergulhar naquele ontem-hoje que se prolonga, fragmentado como algumas formas ali expostas.
Corrosão.
Karingawa ua karingawa, recorda o Velho Cravo, e assim a Arte propõe o ato de decifrar o passado para tentarmos compreender esse cotidiano de injustiças, de crianças maltratadas, entregues à própria sorte. Por isso, o artista interfere no espaço, suas instalações e sites specifics gritam, “gritos sem som”, mas que ensurdecem nosso olhar, massacram nossos sentidos.
Desestabilizar.
“Pediatras do impossível”, os carrinhos de bebês, “amo-te mamã, amo-te papá”, pássaros estirados... lembro Malangatana Valente que na crua e rude finita possibilidade de materiais para construir a série “Desenhos da Prisão” exortava de seu interior um exterior de mulheres e crianças entristecidas, mas unidas, fortes, esperançosas pelo fim da longa noite... noite que perdura em novas máscaras.
“O facto de não veres lágrimas nos meus olhos, não significar que não estou a chorar”. A recusa da inércia... inquieta-nos o artista.
Seguir.
E caminhamos na imensidão do azul como retirantes para longe da Dor e do Desespero em busca de um novo tempo, trilhando as reinvenções plásticas de Naguib Elias Abdula que benzem Esperanças de Beleza como sorrisos moçambicanizados tatuando nossas Almas.
(Tatuagens d’Alma. Exposição de Naguib até 04 nov. 2014, Museu Nacional de Arte, Av. Ho Chi Min, nº 1233, Maputo, Moçambique)
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