terça-feira, 1 de abril de 2008

Álvaro de Campos e Dina Salústio

A ausência de autocrítica e a dissimulação do comportamento humano nas relações sociais em Álvaro de Campos e Dina Salústio

RESUMO:
O presente texto procurará desenvolver questões sobre como a competição acirrada entre os homens na modernidade alterou o comportamento social, conduzindo-os a ocultar seus fracassos, medos e dúvidas, levando-os à criação de personagens artificiais para que prevalecessem perante o outro. Entretanto, essa escolha desencadeou uma vivência envolvida em ilusões, estimulou a concorrência, aumentou a hipocrisia, provocou o isolamento e motivou a ausência de autocrítica em uma era marcada pela supremacia do capital, como será analisado em “Poema em Linha Reta”, de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa), e no conto “Campeões de Qualquer Coisa”, de Dina Salústio.

O século XX apresentou importantes renovações nas literaturas de língua portuguesa. A primeira foi o surgimento de Fernado Pessoa e seus heterônimos, que o elevaram a ser um dos principais nomes de nossa língua em todos os tempos, ao lado, sem sombra de dúvidas, de Luís de Camões e Machado de Assis. O segundo momento foi a consolidação das literaturas dos países africanos de língua portuguesa, especificamente, para este texto, a cabo-verdiana, aqui representada por Dina Salústio.

O século passado ficou marcado pelo predomínio do capital, das leis de mercado, pelo acirramento da convivência entre os homens. A vitória do capitalismo, acompanhada de sua ideologia triunfalista baseadas na conquista e acúmulo de bens, estimulou a competitividade e conduziu-nos a um comportamento hostil com o outro. O filósofo Leandro Konder define da seguinte maneira esse momento:

“É uma ideologia que está ligada ao fato de a nossa sociedade ter sido organizada de tal maneira, que ela gira de modo cada vez mais exclusivo em torno do mercado, isto é, em torno de uma lógica calculista, competitiva, que é a lógica que tem resultado no crescimento da economia e também no aumento de todas as desigualdades sociais, de todas as exclusões mais perversas. Que incita os indivíduos a serem competitivos e que, a partir de um certo nível, os incita também a serem hipercompetitivos, isto é, solitários, infelizes e cruéis, desprovidos da possibilidade de viver mais intensamente a experiência da solidariedade humana.” (KONDER)

É em relação à hiper-competitividade entre os indivíduos e a quase exclusão de valores como a solidariedade que procuraremos escorar nossa análise, a partir do conto “Campeões de Qualquer Coisa”, de Dina Salústio, e de “Poema em Linha Reta”, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa.

Todavia, convém, primeiro, apresentar os autores que serão comentados.

Bernadina Oliveira Salústio nasceu em 1941 na ilha de Santo Antão, Cabo Verde. É, hoje, uma das principais representantes da literatura cabo-verdiana. Apesar da presença discreta, a literatura de autoria feminina pode ser considerada como o grande destaque do arquipélago, nas belas letras de Vera Duarte e Fernanda Bettencourt. Todas, lançadas no pós-independência, em 1975.

Dina Salústio autodenomina-se "uma mulher que escreve coisas" (Apud: Sepúlveda, 2000, p. 114), porém, é uma escritora multifacetada. Participou da antologia poética “Mirabilis – veias ao sol” (1991), que reuniu novos nomes preocupados em apresentarem estéticas inovadoras e temas universais para a literatura cabo-verdiana. Em romance, lançou “A louca do Serrano” (1998); como ensaísta publicou “Insularidade na literatura cabo-verdiana” (1998); e, em contos, “Mornas eram as noites” (1994), de onde foi extraído o conto aqui analisado, apenas para citarmos alguns trabalhos.

A mulher possui papel preponderante em seus textos. Salústio acompanha de perto as questões que afligem a condição feminina em seu cotidiano. Embora tenha Cabo Verde como pano de fundo, sua narrativa procura movimentar-se entre o local e o universal, ou seja, ao falar da mulher cabo-verdiana, Dina atinge todas as mulheres do mundo. Essa preocupação com a mulher podemos constatar em declaração dada à Profa. Simone Caputo Gomes (USP), a respeito dos contos de “Mornas eram as noites”:

“necessidade de publicar as inúmeras histórias de mulheres, histórias de vida que passam por mim (...) Não são ficção, é cá um encontro que é verdade, um momento só (...) Não fiz uma seleção desses textos, só o primeiro foi intencional, para querer mostrar o meu reconhecimento a estas mulheres cabo-verdianas que trabalham duro, que fazem o trabalho da pedra, carregar água, trabalham a terra, que têm a obrigação de cuidar dos filhos, de acender o lume. Quis prestar homenagem a esta mulher (...) Falo das mulheres intelectuais, daquelas que não são intelectuais, daquelas que não têm nenhum meio de vida escrito, falo da prostituta, falo de todas as mulheres que me dão alguma coisa, e que eu tenho alguma coisa delas (...) Em Cabo Verde, quando nasce uma menina, ela já é uma mulher.” (Apud: Sepúlveda, 2000, p. 114)

Dentre os vários heterônimos que Fernando Pessoa criou, Álvaro de Campos é um dos mais importantes, junto com Alberto Caeiro e Ricardo Reis. Os três possuem biografia própria, estilos literários diferentes e produzem uma obra paralela a de Pessoa. Para o crítico e poeta Ferreira Gullar, os heterônimos:

“habitam Fernando Pessoa. Convivem com ele, discutem com ele, misturam sua voz à dele, o influenciam. São portanto parte de Fernando Pessoa e compõem a sua personalidade contraditória e multiforme. Que Pessoa projeta e realiza neles tendências e qualidades pessoais está dito na carta de 13 de janeiro de 1935 a Adolfo Casais Monteiro. Pessoa escreve: ‘E contudo —penso-o com tristeza— pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática, pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida.’” (GULLAR)

Gullar considera que, talvez, Álvaro de Campos:

“seja um heterônimo mais perto de Pessoa que os outros, mais perto da pessoa de Pessoa. Mesmo porque, como o cidadão Fernando Pessoa – ao contrário de Caeiro e Ricardo Reis – Álvaro de Campos é citadino, urbano, metropolitano, contemporâneo das usinas e da luz elétrica”. (GULLAR)

Campos é um entusiasta das inovações industriais e tecnológicas da virada do século XIX para o XX, o que o aproxima do movimento modernista conhecido como futurismo, idealizado pelo italiano Marinetti. Poeta moderno, “ligando-se à estética de vanguarda futurista, em sua poesia, é possível perceber as transformações do espaço social bem como o desenvolvimento da tecnologia”. (SILVA)

O encantamento e posterior desencanto com as mudanças tecnológicas, levou-o a se tornar um crítico feroz da modernidade. Suas conseqüências ao homem moderno e à sociedade burguesa mantêm a atualidade. Em sua fase final, seus poemas demonstram desapontamento com os rumos tomados pela sociedade industrial. Campos passa a ser um homem solitário e angustiado; descrente com a perda de valores e artificialidade das relações humanas, motivadas com o recrudescimento do capitalismo.

Um outro aspecto da personalidade de Álvaro de Campos associado a Fernando Pessoa, e, apontado por muitos críticos, inclusive Ferreira Gullar, é o homossexualismo. Gullar menciona que “por ser tão preso aos sentidos, ao corpo, é natural que nele (Álvaro de Campos) se manifeste o lado feminino de Pessoa, que Pessoa, por temor, reprime”. Como constatamos em carta a Adolfo Casais Monteiro,

“Se eu fosse mulher – na mulher os fenómenos histéricos rompem em ataques e coisas parecidas – cada poema de Álvaro de Campos (o mais histericamente histérico de mim) seria um alarme para a vizinhança. Mas sou homem - e nos homens a histeria assume principalmente aspectos mentais: assim tudo acaba em silêncio e poesia.” (PESSOA – Fernando Pessoa por ele mesmo)

Apresentações feitas, comentaremos, a seguir, as obras escolhidas.

No conto “Campeões de Qualquer Coisa”, a atitude masculina é redimensionada e reavaliada por um novo prisma, a partir de um homem que se considera normal e não aceita a disputa desenfreada, comum entre seus pares. No conto, uma narradora-personagem conversa com um indivíduo em uma festa. Mostra-o vários grupos presentes, identificando-os como “os campeões das anedotas estão ao fundo, ao lado, os campeões da política internacional, à esquerda os do futebol, os do sexo, debaixo do abacateiro, os do copo, junto ao bar (...)” (SALÚSTIO, 1999, p. 13). Porém, o personagem afirma que “não eras campeão em coisa nenhuma e nem sequer eras bom em qualquer coisa e que eras do tipo normal” (SALÚSTIO, 1999, p. 13).

Logo em sua primeira intervenção, o personagem assume sua condição: a de ser normal. Apreendemos que a normalidade é algo ruim, ser normal é não ser campeão, não ser competitivo, o que pode ser tachado como uma pessoa derrotada. E apesar de a narradora-personagem surpreender-se com a declaração, pois está acostumada com as histórias inventadas pelos homens, a postura do interlocutor a conduz à reflexão, questiona suas posições, contudo, ela insiste em enquadrá-lo em algum grupo e propõe-lhe que atue como os outros:

“Não havia tristeza nas tuas palavras e, como pensei que um homem normal o mínimo que se devia sentir era triste pela revelação e porque já havia percorrido vários grupos onde cada um era melhor que todos e estava com uma espécie de raiva concentrada, disse-te não te preocupes, pois há um campo onde não precisas provar nada. Vai para debaixo do abateiro. (...) Conta as tuas fantasias e os teus fantasmas. (...) Inventa situações, viagens e encontros, princesas e prostitutas, (...) Inventa. Inventa o mais que puderes. Faz como os outros. (...) Mente. Mente muito. E sobretudo exagera. Exagera até o impossível. Vá. Campeão é assim.” (SALÚSTIO, 1999, p. 13-14)

O personagem permanece convicto em sua posição, em uma linguagem ferina ironiza o comportamento masculino, expõe a imaturidade e arrogância dos homens, e o incômodo causado pelas declarações artificiais. Depreendemos que, além da ironia, percebemos um certo tom de tristeza com a hipocrisia de seus contemporâneos:

“Teimosamente disseste que não podias, que não querias fazer-te de atleta de façanhas tantas, porque eras adulto e há muito passaras os dezassete anos e que as tuas necessidades e os teus interesses eram outros e que as tuas fantasias eram as tuas parceiras e expô-las em público seria como veres-te ao avesso num grande écran. E acrescentaste que o ridículo te perturbava e, muito sério ajuntaste: o pior é que o ridículo de cada um de nós perturba a todos profundamente.” (SALÚSTIO, 1999, p. 14)

O personagem posiciona-se de forma diferenciada ao padrão comportamental masculino. Questiona a hipocrisia de uma vida em mentiras, as máscaras que os homens se vêm obrigados a criar, para sobressaírem em uma sociedade hiper-competitiva. Por possuir autocrítica e não se enquadrar na norma estabelecida, considera inadequadas tais atitudes. Por ser um observador arguto da sociedade em que vive, encontra dificuldade em se relacionar com pessoas falsas e imaturas. Ao comparar-se com os outros, revela-se diferente, e, com ironia, justifica-se:

“Ensinaram-nos que devíamos ser heróis de qualquer coisa. Exigem que façamos permanentemente exercícios de auto afirmação. Não nos educaram para corajosamente debatermos os nossos medos, falhas, hesitações, infernos. Apetrecharam-nos com o mito de super-machos e esperam que sejamos vencedores, fazendo-nos inimigos da própria maneira de estar, escamoteando a verdade, falseando as fronteiras. E porque somos apenas normais e temos vergonha da nossa normalidade, passamos o tempo todo a pensar numa roupagem que impressione. E vestimo-nos de atletas e mascaramo-nos de campeões, para, às escondidas, chorarmos a nossa simplicidade, a vulgaridade que enforma os nossos sentimentos íntimos. Não temos coragem para dizer não sou o melhor e não tenho que o ser, nem justificar-me da minha fragilidade. Entrar em competição com as minhas fantasias e as dos outros seria sinal de simples imaturidade e falta de respeito por mim próprio – prosseguiste descontraído, quase a rir.” (SALÚSTIO, 1999, p. 14-15)

Já Álvaro de Campos, na segunda década do século XX, denuncia a dissimulação dos homens no impactante e incomum primeiro verso do “Poema em Linha Reta”: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada”. E enfatiza o porquê de tal enunciação: “Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”.

Apreendemos nos dois primeiros versos o tom amargo, irritado e decepcionado com os homens, sendo esta última característica a que perpassará por todo o poema.

Na estrofe seguinte, o sujeito-lírico aponta várias características que o tornam um ser humano desprezível: “irrespondivelmente parasita”, indesculpavelmente sujo”, “que tenho sofrido enxovalhos e calado” e “que tenho sofrido a angústida das pequenas coisas ridículas”. O sujeito-lírico é um ser desterritorializado, não encontra lugar no meio em que vive, não se ajusta aos parâmetros estabelecidos pela sociedade competitiva. Em sua crise existencial, despersonalizado e tratado com desdém pelos seus pares, conclui, melancólico: “Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo”.

A competição desenfreada força as pessoas à exibição pública, elas precisam se promover a todo instante, a arrogância ostentada perante o outro atinge níveis insuportáveis. Todos aparentam ser líderes, fortes e competentes, ou seja, são todos “príncipes”:

“Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...” (PESSOA)

O sujeito-lírico clama aos homens com incontestável irritação e, da ironia, parte para o sarcasmo. À beira do desespero, implora para que os homens sejam eles mesmos, que desçam do pedestal de mentiras em que se encontram e ajam como pessoas normais. Em uma sociedade desajustada como a vivenciada pelo sujeito-lírico, as pessoas vangloriam-se de seus atos violentos, porém são incapazes em admitir suas covardias. O poeta procura pessoas frágeis, falíveis. Pessoas comuns, humanizadas, solidárias com o próximo:

“Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! (...)
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?” (PESSOA)

Revoltado e magoado com os homens, ainda assim recorre à ironia, e pergunta: “Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?”. Há uma proposital discordância gramatical na oração, pois assim o sujeito-lírico enfatiza que não é ele que “é vil e errôneo”, mas, sim, o que as pessoas pensam dele. Na comparação, distancia-se dos outros, e o que seria prejudicial para ele é, na verdade, válido e de bom grado, porque afasta-se da conduta ignominiosa, da desumanidade reinante em um mundo de ilusões.

Até quando erram e resolvem comentar seus erros, os homens não assumem suas falhas, escoram-se na diminuição ou ocultam os fatos, tentam se proteger e, com isso, escapam da desmoralização:

“Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.” (PESSOA)

Na última estrofe, a pergunta surge ironicamente “Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?” e mostra o seu desajuste em relação ao mundo de seres perfeitos, logo ele que é “vil”. Em todo o poema, depreendemos que o sujeito-lírico se coloca como um ser acomodado com a imperfeição natural dos homens, que considera as qualidades e defeitos humanos como normais, que a vida é feita de altos e baixos, de derrotas e vitórias. Por isso, não aceita a exclusão social ao qual é submetido, da frieza e desprezo que as pessoas têm pelos que não são perfeitos, por aqueles que vivem uma vida real, não uma vida idealizada. E, principalmente, apresenta um erro crasso cometido pelas pessoas na modernidade: a ausência de autocrítica.

Os dois textos têm em comum a reflexão da autocrítica, entretanto, os dois autores vão além da questão ao tratar da reflexão à falta de autocrítica dos outros. Novamente, recorro a Leandro Konder:

“acho que o que há de novo e o que há de mais original, mais forte no “Poema em linha recta” é o desdobramento da autocrítica, não mais numa crítica ao outro, mas uma crítica à falta de autocrítica dos outros. Quer dizer, acho que se pode enxergar nesse poema a revolta de alguém que se mostra efetivamente capaz de se interpelar a respeito do seu lado noturno, digamos. Discorre sobre o que ela tem de mais problemático, mais doloroso e mais fracassado, sobre sua própria vileza, e vê essa sua franqueza, essa sua coragem resvalar na muralha hipócrita de um sistema que está alicerçado em uma enfática autovalorização artificial, por parte das pessoas em geral.” (KONDER)

Percebemos que tanto Dina Salústio quanto Álvaro de Campos utilizam a ironia para escancarar uma sociedade dominada pela perversidade da competição capitalista, que despreza os incapazes e debocha dos fracos. Que estimula a dissimulação, a mentira, o egoísmo nas relações sociais. Os dois autores já são irônicos nos títulos das obras: “Poema em Linha Reta” é a metáfora do quanto é impossível se ter uma vida em linha reta, pois se formos traçar uma linha da vida ela será sinuosa, em curvas a simbolizar os altos e baixos da experiência humana; e “Campeões de Qualquer Coisa” denuncia a artificialidade das relações sociais. A franqueza e a coragem em admitirmos erros, são problemas que devem ser ocultados de qualquer maneira na época atual. Devemos mentir. Mentir para garantir o nosso lugar no mundo, mesmo que para isso tenhamos que inventar títulos ininterruptos, novos, melhores e maiores.

Os textos aqui apresentados tratam de dois seres despersonalizados diante da sociedade moderna, no mundo que lhes couber viver. São solitários e amargurados. Como são observadores perspicazes da época em que vivem, utilizam-se da ironia como elemento crítico da ordem estabelecida e procuram alcançar o riso incômodo do leitor. Subvertem a situação vigente, ao assumir o que é considerado grotesco por ela. Ao não se alinharem na disputa feroz entre os homens, estimulada pelo capitalismo, distanciam-se dos outros, são excluídos, ignorados e tratados como fracassados. Contudo, seus desejos passam pela vontade de conviver com pessoas que acertam e erram, perdem e ganham, ou seja, pessoas que são apenas homens.

Concluímos que há muito a aprender sobre nosso comportamento, a refletir sobre a ética distorcida da contemporaneidade, que valoriza aquilo que a pessoa não é em detrimento daquilo que realmente a pessoa é. Inferimos a despersonalização do ser em um mundo idealizado, ilusório e virtual. E os textos de Álvaro de Campos e Dina Salústio, o primeiro escrito no raiar do século XX e o segundo na derradeira década do mesmo, atentam-nos para as contradições e a degradação do ser humano em uma sociedade hipercompetitiva, como a vivenciada por nós no alvorecer do século XXI.



FONTES:
GOMES, Simone Caputo. Mulher com paisagem ao fundo: Dina Salústio apresenta Cabo Verde. In: SEPÚLVEDA, M. C. & SALGADO, M. T. (ORGs). África & Brasil: letras em laços. Rio de Janeiro: Atlântica, 2000.

GULLAR, Ferreira. Fernando Pessoa: a razão poética. Folha de São Paulo, Caderno Mais!, 10/11/1996. Acessado em 25/03/2008, em http://www.secrel.com.br/jpoesia/gular04.html

KONDER, Leandro. A questão da ideologia na ficção literária. Revista Semear nº 5. PUC/RJ. Acessado em 25/03/2008, em http://www.letras.puc-rio.br/Catedra/revista/5Sem_10.html

PESSOA, Fernando. Poema em Linha Reta. In: Fernando Pessoa - Obra Poética. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1972.

SALÚSTIO, Dina. Campeões de Qualquer Coisa. In: Mornas eram as noites. Colecção Lusófona. Lisboa: Camões, 1999, pp. 13-15.

SILVA, Wellington Augusto da. Álvaro de Campos: a moderna crítica da Modernidade. Revista Garrafa nº 8 – janeiro-abril/2006. Departamento de Ciência da Literatura da faculdade de Letras da UFRJ. Acessado em 26/03/2008, em http://www.ciencialit.letras.ufrj.br/garrafa8/al-wellingtonaugusto.html

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