Por Ricardo Riso
A habilidade narrativa de Maria Celestina Fernandes para os pequeninos confirma-se na singela história A Rainha Tartaruga, editada pela INALD no ano de 2008 e ilustrado por Abraão Eba. Já com vários títulos direcionados ao público infantil, Celestina Fernandes possui uma escrita envolvente e precisa que estimula o imaginário do pequeno leitor, para além de passar ensinamentos com leveza e ludicidade.
A história de A Rainha Tartaruga se passa em uma floresta liderada pelo rei Leão, reconhecido por sua liderança sapiente e extrema generosidade. Este organiza o casamento de sua filha com um leão de outra família. Com isso, ficamos conhecendo como é um casamento de acordo com os costumes tradicionais, tais como a data de cerimônia de entrega do alembamento (dote), as festividades que duram dias, os instrumentos musicais como o quissange e a marimba, a comida farta e a “bebida para todos os gostos, desde o maruvo de palmeira à quissângua”, assim como a longa duração das comemorações: cerca de um mês.
O momento de tensão acontece quando a jovem leoa engravida e na hora do parto passa por dificuldades terríveis. Diversas curandeiras de várias partes da floresta vêm socorrer a parturiente, mas sem sucesso. O rei Leão desespera-se, até que por último chega a humilde tartaruga. Valendo-se de “seus dons misteriosos” e conhecimento das plantas medicinais, ela consegue realizar o parto com sucesso e ainda salvar a vida da leoa.
A felicidade do rei Leão é desmedida e com o seu bom coração resolve oferecer o trono à tartaruga, “pois reconhecia nela humildade e sabedoria suficiente para bem desempenhar o cargo”. Diante da insistência do rei, a tartaruga não consegue recusar a proposta. Mesmo com a morte do rei, a tartaruga ainda comandou o reino por longos anos e foi respeitada por todos, vencendo a inveja e a resistência dos animais que não aceitavam a liderança de uma fêmea.
O domínio da narrativa apresentado por Maria Celestina Fernandes impressiona por ter a medida certa de didatismo para as crianças sem importuná-las com lições de moral, mas sim demonstrar que o bom caráter, a generosidade, a humildade e o respeito ao próximo devem compor o cidadão independente de sua origem social.
Apesar de ter um formato agradável, excelentes e simpáticas ilustrações com cores sóbrias de Abraão Eba, o único senão fica para a diagramação sem ousadia e por três páginas seguidas de texto, o que pode tornar a leitura exaustiva para os pequenos que estão iniciando suas aventuras literárias.
Maria Celestina Fernandes nasceu no Lubango, Angola, em 1945. É membro da União dos Escritores Angolanos e possui uma vasta obra voltada para o segmento infanto-juvenil, com destaque para As Amigas em Kalandula, vencedora do Prêmio Jardim do Livro Infantil – 2010. A autora tem livros em poesia, romances, crônicas e participações em coletâneas no seu país e no estrangeiro. Recebeu o diploma de Mérito do Ministério da Cultura em 2009.
A Rainha Tartaruga
de Maria Celestina Fernandes
Ilustrações de Abraão Eba
Luanda: INALD, Coleção Sol Nascente, 2008.
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