Wanasema e Fliafro
Ricardo Riso
Resenha publicada no semanário cabo-verdiano A Nação, n. 249, de 7 de
junho de 2012, p. E5
A
virada de maio para junho deste ano rendeu boas discussões a respeito das
relações literatura negro-brasileira e literaturas africanas de língua
portuguesa no Rio de Janeiro, durante o evento 1º Wanasema – Festival
Internacional de Diálogos Artístico-Interculturais – encontro da literatura
negro-brasileira com a literatura moçambicana, e em Belo Horizonte com a FLIAFRO
2012 – Festa Literária de Expressões Indígenas, Africanas e Afro-brasileiras,
com o tema Leitura, Diversidade e Sustentabilidade Social.
O
Wanasema é um evento com idealização minha e da Drª Fernanda Felisberto (Kitabu
Livraria Negra) e tem como principal objetivo estabelecer a aproximação das
manifestações artísticas da cultura negro-brasileira com os países africanos e
demais países da diáspora africana, tendo a literatura como o principal
interlocutor dessas relações. Com a fundamental parceria do Renascença Clube, com
o pronto atendimento de seu presidente, Sr. José Evangelista de Oliveira, o
empenho da Srª Edilea Sylvério e da Srª Nanci Rosa, VP do Departamento Cultural
e Artístico do clube, e patrocínio do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos
do Negro-COMDEDINE, o Wanasema aconteceu no dia 23 de maio.
Pela
primeira vez em comitiva para um evento literário, a nova geração de escritores
moçambicanos foi representada por Aurélio Furdela, Lucílio Manjate e Sangare
Okapi; enquanto do Brasil marcaram presença os escritores Éle Semog e Helena
Theodoro, e o Dr. Henrique Freitas (UFBA) e a Drª Iris Amâncio (UFF/RJ e da Nandyala
– Livraria e Editora). Com duas mesas, uma sobre prosa e outra, poesia, as
mediações ficaram a cargo da Drª Fernanda Felisberto e deste que aqui escreve,
respectivamente. As restrições do mercado editorial hegemônico, a cansativa
repetição de autores afro-lusos publicados e alternativas para inserir escritores
negros africanos no mercado brasileiro, além do papel da lei 10.639/2003, que
obriga o ensino da cultura, história e literaturas africanas e afro-brasileiro
em toda a educação básica brasileira, e as relações entre Brasil e Moçambique
foram alguns dos pontos abordados pelos palestrantes obtendo excelente retorno
do público participante, que lotou a quadra do clube.
A FLIAFRO
2012 é uma festa organizada pela Nandyala Livraria e Editora, e teve mais de 70
palestrantes entre brasileiros e estrangeiros. Nesta edição, os escritores
Pedro Matos e Vera Duarte representaram Cabo Verde, sendo que ambos constam no
catálogo da editora, Matos com o livro de poesia “Midju de Fogo”, e Duarte
lançou durante a festa o premiado romance “A Candidata”, a sua estreia no
mercado brasileiro. Os dois integraram a mesa “Literatura Afro-Brasileira e
Literaturas Africanas: diálogos e desafios” ao lado dos escritores Waldemar
Euzébio, Aldrei Anunciação, Lia Vieira, Miriam Alves, Conceição Evaristo e
Cacique Kaun Poty. O bate-papo foi coordenado pelo são-tomense Abdelasay de
Sousa (Rádio UFMG) e participei como debatedor.
Devido
ao espaço restrito, mencionarei somente a participação dos cabo-verdianos. Vera
Duarte abordou a relação Brasil-Cabo Verde em três momentos assim determinados
por ela: 1º a dor, os escravos vindos de Cabo Verde para o Brasil; 2º a
assimilação, o modernismo brasileiro revolucionando a literatura cabo-verdiana;
e 3º o amor, a relação mútua de aproximação cultural Brasil-Cabo Verde na
contemporaneidade. Ao final de sua explanação, a autora recebeu aplausos
calorosos do público. Já Pedro Matos, também bastante aplaudido, falou do
desafio de escrever de uma forma simples e com cuidado estético para o público infanto-juvenil
brasileiro a partir de aspectos culturais de Cabo Verde até então
desconhecidos, e a preocupação de resgatar as memórias já dispersas da vida
rural da Ilha do Fogo.
Imensa
é a satisfação de acompanhar os laços culturais cada vez mais fortes entre
Brasil, Cabo Verde e países africanos. Na terça, 5 de junho, tem mais: o
lançamento de “A Candidata”, de Vera Duarte, na Kitabu Livraria Negra, no Rio de
Janeiro.
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