sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Malangatana Valente - poemas

Além de ser o principal nome da pintura moçambicana, Malangatana Valente também passa pela poesia.
Para conhecer a pintura de Malangatana, visite http://ricardoriso.blogspot.com/2007/07/estar-se-no-stio-como-moambicano-como.html
e a relação dele com o poeta moçambicano José Craveirinha, visite
http://ricardoriso.blogspot.com/2007/11/craveirinha-e-malangatana-comunicao.html

A seguir, alguns poemas deste multifacetado artista.

A coruja
A coruja agoira-me
e diz-me que nunca chegarei
além onde o desejo me leva
e assim evapora-se o sonho;

O tambor foi tocado
na noite densa do feitiço
enquanto Kokwana* Muhlonga
apitava o Kulungwana* mortal;

Na noite sem estrelas
dois gatos pretos iluminaram
a cabana da Kokwana Hehlise
que morreu depois dos gatos terem miado.

Eu lutando comigo só
é impossível vencer as ondas
que feitiçeiramente me esboçam
as corujas, gatos e tambores.

In Livro "Vinte e quatro poemas" de Malangatana Valente Ngwenya, edição do Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Lisboa, 1996 pag.35


A Mamã preocupada
Nos teus braços eu fiquei
quando me nasceste muito preocupada
quem estava aflita
naquela altura perigosa
com o receio de que Deus me vai levar?

Tudo em silêncio olhava
para ver se o parto corria bem
tudo lavava as mãos
para poder receber quem vinha dos Céus
e toda a mulher quieta e aflita

Mas quando afastei-me
do lugar em que me guardaste durante longo tempo
dei logo o primeiro respiro
tu gritaste logo de alegria
o primeiro beijo foi o da Avó

Que levou-me logo para o lugar
que me guardaram e é secreto
tudo foi proibido a entrar no meu quarto
porque tudo cheirava mal
e eu todo fresco, fresco
respirava finalmente dentro das minhas fraldas

Mas a Avó que se supunha doida
estava sempre ao meu lado
ver-me e rever-me sempre
porque as moscas vinham ter comigo
e os mosquitos inquietavam-me
Deus que revia-me também
era o amigo da minha Avó velhinha

In livro de Malangatana Valente NGWENYA "Vinte e quatro poemas", edição do ISPA, Portugal,página 24


Amor Verde
Porque o amor não é sempre verde
que bom quando verde é
nem quero que mudes de cor
ó amor verde, verde, verde
ele é tão bom, bom, bom

Na cama quando passei a primeira noite
senti-me feliz quando corria dentro dela
a lágrima que nos fez amigos infinitos
porque dela veio quem nos chama: Papá e Mamã
o nosso primeiro filho, tão lindo, lindo.

In Do livro "Malangatana - vinte e quatro poemas", edição do ISPA, Instituto Superior de Psicologia Aplicada-CRL, Lisboa, em 1996, o poema na página 32.


Pensar alto
Sim
às marrabentas
às danças rituais
que nas madrugadas
criam o frenesi
quando os tambores e as flautas entram a fanfarrar

fanfarrando até o vermelho da madrugada fazer o solo sangrar
em contraste com o verdurar das canções dos pássaros
sobre o já verduzido manto das mangueiras
dos cajueiros prenhes
para em Dezembro seus rebentos
dançarem como mulheres sensualíssimas
em cada ramo do cajual da minha terra
mas, sim ao orgasmo
das mafurreiras
repletas de chiricos
das rolas ciosas pela simbiose que só a natureza sabe oferecer

mas sim
ao som estridente do kulunguana
das donzelas no zig-zague dos ritos
quando as gazelas tão belas
não suportam mais quarenta graus à sombra dos canhueiros em flor

enquanto as oleiras da aldeia, desta grande aldeia Moçambique
amassam o barro dos rios
para o pote feito ser o depositário
de todo o íntimo desse Povo que se não cala disputando
ecoosamente com os tambores do meu ontem antigo.

http://kafekultura.blogspot.com/2007/06/valente-malangatana-pintura-poesia.html

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Ana Paula Tavares: A divisão do mundo

A angolana Ana Paula Tavares é apontada como a principal voz feminina nas literaturas africanas de língua portuguesa.

Em poesia publicou
Ritos de passagem, de 1985, O lago da lua, de 1999, Dizes-me coisas amargas como os frutos, de 2001, e Ex-votos, de 2003. Lançou dois livros de crônicas: O sangue da buganvília, de 1998 e A cabeça de Salomé, de 2004. A crônica transcrita abaixo é deste último, que reúne textos que foram publicados no jornal Público, de Lisboa, entre os anos de 1999 a 2002.

Sobre as crônicas de
A cabeça de Salomé, a professora Rita Chaves (USP) diz que o “tom dessa escrita que aproveita da crônica aquilo que melhor pode render o gênero. A leitura de cada uma levará a ver que a leveza que encontramos nos bons cronistas como Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, para citar apenas dois dos nossos melhores, manifesta-se nos textos de Ana Paula Tavares. A ela, a autora angolana associa a densidade ancorada no desejo de manter, pela via da palavra, a forte ligação que existe entre ela e o patrimônio cultural que a sua identidade propicia. É de dentro desse campo, onde consolidaram-se as suas mais poderosas experiências, que ela olha o mundo e procura trilhas que nos permitam partilhar esse universo de saberes e sabores que a sua linguagem guarda e espalha.” (1)


A divisão do mundo
“Caiu a noite
Chegou a hora da caça ao caracol”
Provérbio cabinda
Tal como outros valores culturais, o sistema dos provérbios assenta num património de conhecimento facilmente reconhecível pela comunidade, que o aprende integrado num sistema de ensino baseado no aproveitamento da singularidade do indivíduo, enquanto parte de um todo comunitário, onde a solidariedade é cultivada como dado adquirido a não perder.

A agilidade do espírito, adestrada num cotidiano que a estimula, é perfeitamente capaz de actualizar receitas antigas, modernizar a língua e tornar de uso comum um património que, de outra maneira, se perderia no imenso limbo do passado a descobrir em museus, fossilizado nos pressupostos que o tornaram vivo numa época histórica determinada.

Este domínio da linguagem, muito para lá da mera utilização da palavra, pertence a todos, constituindo uma arma de recurso à disposição, cujo papel no apaziguamento de tensões internas dos indivíduos e das sociedades já foi reconhecido.

Os provérbios, parte deste sistema gramatical onde a história, o conto e o pequeno apontamento de escárnio e maldizer também tomam lugar, sintetizam, de certa forma, maneiras de pensar e encarar o mundo, iludir o tempo e viver com justiça. Mesmo em tribunal, o recurso a esta forma de linguagem cifrada (mas que todos conhecem) é utilizado, por vezes, segundo um enquadramento tão particular que as partes em litígio se esquecem do verdadeiro motivo que ali as levou, para se entregarem ao exercício da palavra, puro gozo, ao delírio de descobrir o provérbio radical, que deixe sem palavras o lado opositor.

As mulheres fazem (faziam) desta arte um amplo recurso, escolhendo formas de enfeitar as tampas de madeira das suas panelas que, uma vez postas em relação especial no espaço fechado que lhes era destinado, serviam para uma troca de mensagens prontas para atingir o alvo, conscientes de que “coração, cabeça e estômago” são entidades sempre associadas por esta ordem ou pela inversa.

Assim, depressa descobriram a correspondência entre objecto visualizado e provérbio inscrito, fornecendo, com a comida preparada de forma esmerada, o resto da cadeia para a eficácia da mensagem.

A linguagem do amor ficou assim servida por um acréscimo de recursos, onde cartas esculpidas celebram e dão notícia de promessas e juramentos arrancados ao coração da madeira.

Deve-se esta arte (em certos locais completamente extinta) a uma consciência bem enraizada sobre a consistência da palavra: uma vez gravada e tornada pública, perdura muito para além das outras levadas pelo vento ou pelo canto do matindindi.

Tratava-se de uma avaliação, consciente da importância da cristalização na madeira do estado real dos sentimentos, de uma peculiar gestão do amor, na esperança de que a tradição, não sendo já o que era, nem sempre deixa de ser o que parece.

Artífices da palavra de madeira eram encarregues de a fazer falar de forma especial. Uma mulher visitava o artista e estabelecia com ele um convénio de curta duração. Em troca da partilha de sonhos e revelação de estórias íntimas da família, conseguia fazê-lo arrancar, do coração da floresta, a madeira com todos os nós necessários à elaboração do discurso.

Embalado pela palavra, o artista ia lavrando, na tampa de uma panela, um primeiro esboço de uma escrita iluminada, a gravação dos sons da alma em tom de confissão.

Por vezes, a consulta a um especialista de provérbios, sábio de todas as linguagens, era o último recurso para evitar repetições e pôr de pé um sistema do simbólico imparável a partir desse momento.


Ao que sei, esta linguagem anda hoje perdida: as pessoas vêem as imagens mas perderam a noção de conjunto. Com a desculpa de uma apressada realidade de plástico, ignora-se a floresta e escolhe-se o caminho mais curto. Entre o que se escreve e o que se lê, deixou de haver ligação. Regressou-se à verbalização e os conceitos esvaziaram-se em caricaturas da verdade.

As tampas que falam são recusadas em busca dos segredos, que, em boa verdade, hoje não são meus, nem teus, nem de quem os há de apanhar.

TAVARES, Ana Paula. A divisão do mundo. In: A cabeça de Salomé. Lisboa: Caminho, 2004. pp. 27-29.

(1) http://www.agenciacartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=13295

Dina Salústio: Tabus em saldo

Dina Salústio é uma conceituada voz da literatura feminina de Cabo Verde. Nascida em 1941, na Ilha de Santo Antão, em seus textos os dramas, anseios, desejos, medos da mulher cabo-verdiana ocupam posição de destaque. Entretanto, na escrita da autora os sentimentos femininos tornam-se universais, não se reduzem apenas à mulher de sua pátria, mas expandem-se a todas as mulheres do mundo.
Publicou, apenas para citar alguns, textos em poesia
(Mirabilis – veias ao sol), prosa (A louca do serrano), contos (Mornas eram as noites).

Tabus em saldo

Se tivesse nascido macho era um rapaz, mas como nasceu fêmea é mulher. As fêmeas são sempre mulheres. Mas mesmo mulheres, elas são de todos nós. Para serem protegidas. No entanto, porque já têm tudo para serem motivo de tudo, há outros de nós que as desejam para o folclore da fantasia e para o encobrimento ridículo e camuflado da irracionalidade do estar.

De repente – ou não terá sido assim tão de repente? – vamos aos esconderijos privados desta sociedade que dolorosamente ou não, recorre a proibições, enfatiza princípios, agrupa-os em tabus para a defesa mínima de um certo decoro, ou, dando uma de evoluídas, parcelas outras há, que embandeiradas na necessidade de se cortar de vez com a hipocrisia social, em nome do progresso e outros mais, arranham a ferida onde ela dói mais: as crianças e as adolescentes.

Não satisfaz mais a orquestrada exploração da candura das meninas européias, a sedução das orientais, a instrumentalização das americanas do sul e do norte. Não. É preciso vir para mais perto. Temos uma juventude tão bonita que há que se retirar os dividendos, transformando-as em objectos de gozo mais sofisticado, em produtos rentáveis. E por isso vamos, outros de nós, aos liceus, às escolas para as envolver em collants e transparências e expô-las em fotos aos instintos curiosos de outros.

O negócio rende. Cada espiadela vinte escudos, diz-se. Dois rebuçados ao fim e ao cabo. Barato como quase tudo em Cabo Verde. Barato como nós, a nossa autenticidade, as ambições, os sentires, o orgulho e a existência. Dois rebuçados: o custo de uma espiadela ao clandestino filmado das nossas crianças fêmeas.

A gargalhada forte de um grupo de meninas perturba-me de alegria, mas imediatamente olho para os lados com medo que algum fotógrafo, caçador de corpos, esteja por perto para um primeiro contacto.

Desisti de querer ver mais. É o que a maioria faz, por cobardia, vergonha e secretos desejos que as coisas ruins deixem de acontecer.

Para depois ficam a luta, a briga e a denúncia. E as consciências tranqüilizam-se com a promessa.

... À noite, na televisão, passou um filme sobre prostituição infantil, em várias nuances. Eram crianças americanas. Podiam ser caboverdianas.

Era o primeiro dia do Ano Novo de 1992. A primeira noite.

SALÚSTIO, Dina. Tabus em saldo. In: Mornas eram as noites. Colecção Lusófona. Lisboa: Instituto Camões, 1999. pp. 32-33.

Dina Salústio: Liberdade Adiada

Dina Salústio é uma conceituada voz da literatura feminina de Cabo Verde. Nascida em 1941, na Ilha de Santo Antão, em seus textos os dramas, anseios, desejos, medos da mulher cabo-verdiana ocupam posição de destaque. Entretanto, na escrita da autora os sentimentos femininos tornam-se universais, não se reduzem apenas à mulher de sua pátria, mas expandem-se a todas as mulheres do mundo.Publicou, apenas para citar alguns, textos em poesia (Mirabilis – veias ao sol), prosa (A louca do serrano), contos (Mornas eram as noites).


Liberdade Adiada


Sentia-se cansada. A barriga, as pernas, a cabeça, o corpo todo era um enorme peso que lhe caía irremediavelmente em cima. Esperava que a qualquer momento o coração lhe perfurasse o peito, lhe rasgasse a blusa.

Como seria o coração?

Teria mesmo aquela forma bonita dos postais coloridos?

Seriam todos os corações do mesmo formato?

... Será que as dores deformam os corações?

Pensou em atirar a lata de água ao chão, esparramar-se no líquido, encharcar-se, fazer-se lama, confundir-se com aqueles caminhos que durante anos e mais anos lhe comiam a sola dos pés, lhe queimavam as veias, lhe roubavam as forças.

Imaginou os filhos que aguardavam e que já deviam estar acordados. Os filhos que ela odiava!

Aos vinte e três anos disseram-lhe que tinha o útero descaído. Bom seria que caísse de vez! Estava farta daquele bocado de si que ano após ano, enchia, inchava, desenchia, e lhe atirava para os braços e para os cuidados mais um pedacinho de gente.

Não. Não voltaria para casa.

O barranco olhava-a, boca aberta, num sorriso irresistível, convidando-a para o encontro final.

Conhecia aquele tipo de sorriso e não tinha boas recordações dos tempos que vinham depois. Mas um dia havia de o eternizar. E se fosse agora, no instante que madrugava? A lata e ela, para sempre, juntas no sorriso do barranco.

Gostava da sua lata de carregar água. Tratava-a bem. Às vezes, em momentos de raiva ou simplesmente indefinidos, areava-a uma, dez, mil vezes, até que ficava a luzir e a cólera, ou a indefinição se perdiam no brilho prateado. Com o fundo de madeira que tivera que lhe mandar colocar, quando começou a espirrar água e já não suportava uma torcida de farrapo, ficou mais pesada, mas não eram daí os seus tormentos.

Atirar-se-ia pelo barranco abaixo. Não perdia nada. Aliás nunca perdeu nada. Nunca teve nada para perder.

Disseram-lhe que tinha perdido a virgindade, mas nunca chegou a saber o que aquilo era.

À borda do barranco, com a lata de água à cabeça e a saia batida pelo vento, pensou nos filhos e levou as mãos ao peito.

O que tinha a ver os filhos com o coração? Os filhos... Como ela os amava, Nossenhor!

Apressou-se a ir ao encontro deles. O mais novito devia estar a chamar por ela.

Correu deixando o barranco e o sonho de liberdade para trás.

Quando a encontrei na praia, ela esperando a pesca, eu atrás de outros desejos, contou-me aquele pedaço da sua vida, em reposta ao meu comentário de como seria bom montar numa onda e partir rumo a outros destinos, a outros desertos, a outros natais.


SALÚSTIO, Dina. Liberdade adiada. In: Mornas eram as noites. Colecção Lusófona. Lisboa: Instituto Camões, 1999. pp. 7-8.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Luíz Horácio: Perciliana e o pássaro com alma de cão

Luiz Horácio é um grande amigo, estudou comigo no curso de Letras da Universidade Estácio de Sá. É crítico literário, escritor, roteirista de cinema e gaúcho. Lançou recentemente seu primeiro romance “Perciliana e o pássaro com alma de cão” (Editora Conex, 2006). Escreve para o jornal Rascunho (http://rascunho.rpc.com.br/index.php) e outros sites.
A seguir alguns poemas e uma crítica do romance.


Escrevo porque sou um covarde, escrevo porque não sei amar, escrevo porque meus sonhos me acordam, escrevo porque a ausência me machuca, escrevo porque tenho medo da morte, escrevo porque aprendi a sofrer, escrevo porque detesto a palavra esperança e pra fugir da palavra lembrança, escrevo pra não voltar a ser criança, escrevo pro meu pai, escrevo pra uma mulher que eu vi criança, escrevo porque tenho medo de dormir sozinho com a luz apagada, escrevo pra poder acordar, escrevo pra aprender a amar, escrevo pra fugir, escrevo mesmo sabendo que não irão me respeitar.


BECOS E SAÍDAS
Por teimosia e covardia sobrevivo
enquanto a cidade transpira fumaça e medo
Insone, mal respira saturada de sons
Sangue filtrado na hemodiálise permanente
Das tvs a cabo e computadores
Sabor mudo e voz amarga
A cidade implora por socorro
Teme a jovialidade de seu mar
Feito louco escrevo mais um livro
Quem se atreverá a lhe falar de amor?



Mía soledad
nacio conmigo
traendo voracidad
miedo y prisa.
Cuando pensé
haberla olvidado
suyas alas gigantes
ya ensombreciam mi alma
Ahora
cuando todo que me gusta
me hace llorar
las horas
transbordan adioses
mientras los pájaros
llueven colores
yo te quiero
pero mía soledad
aconseja serenidad
no decirte “te amo”
pues la he perdido.



Aún así
El extraño
hombre envejecido
estaba solo,
dibujava
en la sombra
de la noche prisionera
su juventud,
apretando el dolor
contra
las ventanas cerradas.
Quisera
no haberle visto
más que las manos,
ojos del adiós,
como si fueram armas.
Ya no tenia
ningún interés
ya no lloraba
estaba solo
repitiendo aquella
indomable noche
aún así
amaba.

Com a alma de Veppo - Francisco Dalcol
Escritor gaúcho radicado no Rio lança livro em que faz referência ao contato que teve com o poeta Prado Veppo em Santa Maria.
Texto retirado de http://www.olobo.net/index.php?pg=colunistas&id=532

No livro Perciliana e o Pássaro com Alma de Cão, o leitor poderá ser surpreendido pelo nome de um personagem. Quem conhece um dos grandes nomes da literatura santa-mariense não escapará da dúvida que aparecerá na página 54: o menino Veppo guarda alguma relação com o escritor Prado Veppo (1932-1999)?

Não é por acaso que o escritor Luíz Horácio Rodrigues, 49 anos, resolveu dar ao personagem o nome do poeta e médico nascido em Porto Alegre e que adotou Santa Maria como lar familiar, profissional e inspirador. O autor de Perciliana e o Pássaro com Alma de Cão nasceu em Quaraí e hoje vive no Rio de Janeiro. Nos anos 70, passou por Santa Maria e acabou conhecendo o poeta que até hoje o acompanha nos rumos que sua vida ganha:

- Prado Veppo era meu professor de literatura no cursinho pré-vestibular em Santa Maria. A figura dele logo me chamou a atenção, por ser uma pessoa que se vestia de branco e ensinava com tanto amor. Mas era algo que eu não sabia definir. Eu gostava muito do jeito com que ele falava sobre literatura, com propriedade e simplicidade. Era o que eu queria ser - conta Horácio, cuja família vive hoje em Rosário do Sul.

Como aluno e professor, os dois nunca haviam tido maior contato. Até que, em um dia de 1977, Horácio passava pela Dr. Bozano e viu Prado Veppo caminhando.

- Fui correndo à Livraria do Globo e comprei o livro Espada de Flor, do Veppo. Saí e fui atrás para ele autografar. Até hoje guardo o exemplar - conta.

Além do personagem Veppo, obra traz a dedicatória que autor ganhou do poeta

O autógrafo também ganhou referência no mesmo capítulo em que é apresentado o personagem Veppo em Perciliana e o Pássaro com Alma de Cão. Na página 49, Santiago (pai de Veppo) ganha do pai Hildebrando um livro que havia conseguido com a dedicatória do autor - não revelado na trama (leia ao lado).

Horácio usou a mesma frase escrita por Prado Veppo em 1977 no livro Espada de Flor, porém adaptada ao personagem: "Ao Santiago, na esperança de que sempre tenha tempo para a literatura e na expectativa de que este livro não seja uma perda de tempo."

- Logo depois do meu contato com Veppo, parti de Santa Maria e perdi o contato dele - recorda Horácio.

Já nos anos 80, ele voltou a topar com Veppo, mais uma vez caminhando. Foi na Rua da Praia, em Porto Alegre. Após 15 anos, quando começou a escrever, Horácio viu a dedicatória se tornar realidade.

- Pedi para meu pai descobrir o telefone do Prado Veppo. Liguei e disse que eu o amava e que ele era muito importante na minha vida. O Veppo respondeu algo tipo "como assim?", "estou muito velho para ouvir esse tipo de coisa". Depois, quando fiquei sabendo que havia morrido, fiquei muito triste. Mas tive uma grande satisfação, pois pude dizer a ele o que sentia e que havia aprendido a lição. Ele continuou sendo uma pessoa muito importante para mim.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

III ENCONTRO DE PROFESSORES DE LITERATURAS AFRICANAS

Terminou no sábado, 24/11, o III Encontro de Professores de Literaturas Africanas – Pensando África: Crítica, Ensino e Pesquisa, organizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal Fluminense e Fundação Biblioteca Nacional. O megaevento reuniu escritores, críticos e professores de diversas áreas e contou com a presença de nomes Luandino Vieira, Alberto da Costa e Silva, Boaventura Cardoso, Ana Mafalda Leite, Rita Chaves, Laura Padilha, Luís Carlos Patraquim, Simone Caputo Gomes, Paula Tavares entre tantos outros nomes.

Aqui presto meu agradecimento a todos aqueles que, de alguma maneira, contribuíram para a minha participação no Encontro com a comunicação Letras e telas encarceradas: a reclusão libertadora na arte de José Craveirinha e Malangatana Valente:

Profa. Dra. Norma Sueli Rosa Lima (UNESA/UFRJ), Profa. Dra. Carmen Lucia Tindó Secco (UFRJ), Profa. Dra. Maria Teresa Salgado (UFRJ), Profa. Dra. Simone Caputo Gomes (USP), Cláudia Cunha, Gisela Ferreira, Ana Lúcia, Prof. Dr. Cláudio Capuano (FERLAGOS), Fernanda Menininha, Zetho Cunha Gonçalves, Sabrina Oliveira, Cristina Maya, Iasmin Freire, Ouri Pota Pacamutomdo, Profa. Dra. Laura Padilha (UFF), Profa. Dra. Terezinha Val, Profa. Rosemery Granja (UNESA), Prof. Dr. Mauricio do Carmo (UNESA), Profa. Dra. Gilda Korff (UNESA), Prof. Carlos Stowasser (UNESA), Alex Vianna, Andrea Bedeschi, Rafael Jurado, Ilana Braia, Priscilla Arraz, Roberto Chichorro, Nelson Saúte, Cláudia Breviário de C., Arsenio, Luíz Horácio, aos meus familiares e amigos que não foram citados para que a relação não ficasse extensa e cansativa.

Muito obrigado! Ricardo Riso apresentando a Comunicação Letras e telas encarceradas: a reclusão libertadora na arte de José Craveirinha e Malangatana Valente no III Encontro de Professores de Literaturas Africanas, realizado na UFRJ em dia 22/11/2007.

Acompanhando a Profa. Fernanda Angius (Instituto Camões) e os comunicantes Fábio Santana Pessanha (UFRJ - comunicação: Geogonia de Duarte Galvão) e Viviane Mendes de Moraes (UFRJ - comunicação: Guita Jr. e Manuela Cruz: memórias, sonhos e incertezas moçambicanas).

Ricardo Riso e a Profa. Fernanda Angius (Instituto Camões), conviveu e trabalhou com Craveirinha no jornal moçambicano Brado Africano, e é amiga de Malangatana.

Com a Magnífica Profa. Dra. Laura Padilha (UFF), autora do livro Entre voz e letra: o lugar da ancestralidade na ficção angolana do século XX.

Com a Profa. Dra. Simone Caputo Gomes (USP), especialista em Cabo Verde e grande amiga que tanto me ajuda nos assuntos sobre o arquipélago.

A Profa. Dra. Rita Chaves (USP) autografa o livro A formação do romance angolano - o lugar da ancestralidade na ficção angolana do século XX.

Esta é a escritora angolana Paula Tavares, a maior voz feminina dos países africanos de língua portuguesa. Foto tirada após ser presenteado pela autora com o seu primeiro livro: Ritos de Passagem.
Ricardo Riso e o atencioso escritor moçambicano Luís Carlos Patraquim, importante nome da poesia moçambicana do pós-1980, autor de Lidemburgo blues e tantos outros.

Vera Duarte, escritora cabo-verdiana, autora de Arquipélago da Paixão, e a Profa. Dra. Simone Caputo Gomes (USP).

Ricardo Riso, Zetho Cunha Gonçalves (escritor angolano de A palavra exuberante), Ana Lídia e colega.

Profa. Dra. Maria Nazareth Soares Fonseca (PUC/MG) e alguns colegas da pós-graduação África/Brasil - laços e diferenças: Cláudio Capuano, Cláudia Cunha, Geny, Ricardo Riso, Cristina, Ana Lídia, e as karinganas Sílvia e Cláudia Marques (agachada).

Da direita para a esquerda: as contadoras de estórias do Karingana ua Karingana: Sílvia, Alyxandra e Cláudia Marques. Ao fundo as professoras Laura Padilha (UFF), Carmen Lucia Tindó Secco (UFRJ) e Simone Caputo Gomes (USP) na palestra Mesa das Escritoras - III Encontro de Professores de Literaturas Africanas.

Mesa das Escritoras - Odete Semedo (Guiné Bissau), Paula Tavares (Angola), Vera Duarte (Cabo Verde), Maria Aparecida Santilli (coordenadora), Conceição Lima (São Tomé) e Ana Mafalda Leite (Moçambique) no III Encontro de Professores de Literaturas Africanas, dia 22/11/2007.

A Profa. Dra. Maria Aparecida Santilli e o monstro sagrado da literatura angolana: José Luandino Vieira.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Craveirinha e Malangatana - Comunicação UFRJ

LETRAS E DESENHOS ENCARCERADOS: A RECLUSÃO LIBERTADORA NA ARTE DE JOSÉ CRAVEIRINHA E MALANGATANA VALENTE*
RICARDO SILVA RAMOS DE SOUZA1

RESUMO: A presente comunicação propõe-se a analisar a produção artística de José Craveirinha, com o livro Cela 1, e a série Desenhos de prisão, de Malangatana Valente, que retratam o recrudescimento da violência imposta pelo regime ditatorial português. O objetivo central é estabelecer um diálogo entre as duas obras realizadas quando os artistas eram prisioneiros nas cadeias da pide, e como a experiência da asfixia do cárcere serviu de inspiração para denunciar as mazelas da guerra, a reconstrução da memória coletiva e a afirmação de um Moçambique independente.


*Comunicação apresentada no III Encontro de Professores de Literaturas Africanas, realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, no dia 22/11/2007.

1 Universidade Federal do Rio de Janeiro

Esta comunicação aborda um período marcante da história moçambicana, iniciado com a guerra colonial em 25 de setembro de 1964, em que os amigos e parceiros de cárcere José Craveirinha, com Cela 1, e Malangatana Valente, com Desenhos de Prisão, em condições adversas, imortalizaram a triste e fundamental passagem da luta pela independência, ao registrar a violência exacerbada nos cárceres do regime ditatorial português em suas obras.

Os poemas de José Craveirinha em Cela 1 referem-se à produção literária que os críticos das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa denominam como a poesia de combate ou de protesto, momento histórico em que os temas políticos e sociais eram necessários. Porém, os dois artistas não reduziram seus trabalhos ao estilo panfletário comum à época. Em meio à revolta justificada por séculos de injustiças sofridas por causa da ação colonizadora, os poemas apresentam a pluralidade cultural que compõe o corpo moçambicano e abordam uma postura contrária ao regime salazarista, que esmagava as manifestações tradicionais locais.

No período citado, o sujeito-lírico versa sobre o desejo de independência da nação. Segundo Alfredo Bosi, “a poesia há muito que não consegue integrar-se, feliz, nos discursos correntes da sociedade”1, enquanto o crítico Manuel Ferreira descreve assim a situação do escritor:

“Nesta fase o escritor pensa a sua terra em termos de pátria, nação, rejeita o Outro – o colonizador –, e está determinado a uma prática literária integrada na nova situação, toda ela voltada, de vez, para a conquista da libertação nacional. Assume-se como homem inteiramente livre, repensa as suas raízes culturais, faz o reencontro consigo próprio e integra-se no destino colectivo de sua gente. (...) o escritor, após ter adquirido a consciência de sua condição de colonizado, liberta-se completamente da alienação e a sua prática literária cria a sua razão de ser na expressão das raízes profundas da realidade social nacional entendida dialecticamente.”2

Os poemas de Cela 1 foram escritos, em sua maioria, na prisão do poeta durante os anos de 1965 a 1969. Apesar de termos o cuidado em não misturar a vida do autor e a obra na análise literária, podemos, como afirma Rita Chaves, dizer que:

“(...) a força da História não deve ser minimizada na abordagem da literatura, em se tratando da produção dos países de língua portuguesa a compreensão desse peso merece atenção especial. Em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, o contato com os dilemas que a História arma é tão vivo e direto, que a sua dimensão surge visivelmente concreta no cotidiano das pessoas que escrevem e sobre as quais se escreve.”3

No caso de Craveirinha torna-se pertinente esta orientação, pois é com “o poeta e sua experiência que é por ele convertida em matéria poética, o que explica o interesse que ele ganha na abordagem de alguns dos caminhos de sua escrita”4. Logo, a arte é usada como forma de denunciar e conscientizar a sociedade. Segundo Antonio Candido: a “arte coletiva é a arte criada pelo indivíduo a tal ponto identificado às aspirações e valores do seu tempo, que parece dissolver-se nele”5. E é o que depreendemos nas obras do Velho Cravo e de Malangatana, que contam a seguir a experiência no cárcere:

“Lá estive eu na engorda, sem fazer nada. Eu e os amigos também, tão poetas no sentido negativo como eu: por exemplo, Rui Nogar e Malangatana. Só que o Malangatana é para mim um caso muito especial. Estivemos na mesma cela. Quando eu fui para esta cela, era uma cela de castigo, já pequena para mim sozinho; meteram então o Rui, e ficou mais pequena ainda; depois, incrivelmente ainda coube o Malangatana. Desde então, o que me espanta no Malangatana não são os seus quadros: é que ele conseguiu engordar lá dentro (risos). Deve ter havido muito poucos revolucionários na História iguais ao Malangatana. Cantava, assobiava, dormia: mas que grande paz de consciência é essa? (...)”6

“Mesmo na altura de 1961/62 tinha uma actividade política muito grande. Foi quando fiz parte do grupo em que o Craveirinha trabalhava clandestinamente, depois em 1963/64 as atividades crescem, também com o Luís Bernardo Honwana e outros. E somos presos, com o Rui Nogar, (...) Fomos presos juntos, alguns em celas diferentes. (...) fiquei pouco tempo na prisão comparado com muitos correligionários que ficaram de quatro a sete anos. Eu fiquei dezoito meses, (...) A base do julgamento foi pertencermos, sermos simpatizantes, da FRELIMO. (...)”7

O envolvimento com o partido político FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) se dá no início de sua formação, sendo Craveirinha figura capital na sua construção:

“A ligação com a FRELIMO surge muito naturalmente, tinha que surgir (...) Então quem monta a sede da FRELIMO ali no sul fui eu. Desculpe a imodéstia. (...) Então aliciei alguns, como o Rui Nogar, como o José Parente (...) O Malangatana fui eu que o aliciei, e o actual (fevereiro/1990) embaixador moçambicano em Portugal. (...)” 8

Nos poemas e desenhos aqui analisados, veremos o espaço físico do cárcere e o que envolve o cotidiano do preso como fator motivador para os dois artistas. Contra a razão imposta por séculos de colonização européia, o espelhamento dos versos de Craveirinha subverte o barroco tradicional e denuncia as mazelas e fraturas sofridas pelos moçambicanos, escancarando a violência da famigerada polícia política salazarista, a PIDE. O cárcere é exposto de diversas maneiras nos poemas de Craveirinha. Em meio à indignação e revolta, o sujeito-lírico, em ferozes versos, neobarrocamente, mostra este espaço em metáforas insólitas e surreais, em um autêntico surrealismo africano, “bastante diverso do europeu, porque constituído com o esperma da criação e do conjuro cósmico”9:

“(...) E rectangulizados
os pensamentos tuberculizam-se em esquadria
e uns atrás dos outros aos cardumes de náuseas
sangram cotovelos nos ladrilhos.”
10

“Noites enjoadas de um milhão de angústias
racham-me as unhas na lascívia das macias
paredes de cimento (mentira não são macias) caiado
e no amoroso cárcere ensurdecedor de silêncios (...)”
11

A ironia, que beira o sarcasmo, aparece para apresentar a cela. O isolamento é cantado de diversas maneiras e a relação do poeta com o cárcere é exposta com “larga utilização de contrastes, como forma de fazer ressaltar, com maior brutalidade, o sentido dos versos”12.

“O mundo ensurdecedor de moscas de silêncios
os pulsos mata-fomes do grande rato verde do medo
o imaginário omnipotência dos nossos feitiços impossíveis aqui
e o táctil gosto das pontas dos dedos nas paredes (...)
E por dentro a porta ao meio
mais cega
mais surda
e mais muda do que nós
no papel autêntico
de porta fechada.”
13

O pintor Malangatana Valente ilustrará o cárcere em um expressionismo voraz, realizado com parcos recursos. Os desenhos são simples, sem as cores impactantes e os excessos alegóricos que caracterizam as obras do pintor, entretanto apresentam o olhar atento contra o dilaceramento de sua cultura:

“Ora violentos a violência praticada na prisão ora sonhadores o sonho de liberdade de qualquer preso ora com recurso às suas mais fundas origens culturais as da sua aldeia e do seu povo ora evocando as famílias e as tragédias quotidianas ora virados para o futuro imaginando o seu país livre e independente esses desenhos aparecem-nos, na sua diversidade, como um claro retrato da vida e dos sonhos de Malangatana e de seus companheiros de prisão e de luta.”14

Em desenhos como “Sala de castigo da PIDE”, o espaço exíguo ao qual o preso é submetido é contrastado com o seu tamanho desproporcional, denunciando os maus tratos sofridos. Carmen Lucia Tindó Secco cita, a respeito da pintura de Malangatana, a “ausência de vazios que tenta suplementar as lacunas provocadas pelo processo de neutralização das alteridades, ao longo de séculos de submissão”15, que, nesta série, é mostrada nas celas lotadas, em desumana condição. Por outro lado, apresentam a mobilização dos moçambicanos na luta contra o colonialismo, como em “Pavilhão 9 da Cadeia da Machava da PIDE”.

Sala de Castigo da PIDE

No cárcere, Craveirinha mostra-nos um tempo próprio do preso no seu cotidiano de “ausência citadina”. Em uma linguagem paradoxal e muitas vezes sinestésica, o sujeito-lírico versa sobre a angústia da espera, o silêncio e o barulho, as informações passadas sob os olhares dos carcereiros, o breve contato com a família:

“(...) Em centésimos de segundo
os nossos olhos privilegiados
decifram estritas instruções
de mil e duzentas palavras. (...)”
16

“(...) e depois as noites de vinte e quatro horas a fio
ensurdecedoras de silêncio dos ponteiros de angústia (...)”
17

“(...) o chão exausto dos passos
relojoados centímetro a centímetro ida e volta
na perspectiva de mundos de nada todo o dia. (...)”
18

“(...) – ‘São 30 minutos e acabou!’ (...)
Mas a cada visita (...)
Mais sessenta segundos com a família
Não era mais nada
... ERA OURO!”
19


Uma outra presença marcante nestas obras é o nefasto torturador, os agentes da PIDE encarregados de interrogar os presos. Com ódio e violência desmedida, estes agentes “de olhos raiados de sangue”20 procuravam minar a auto-estima dos que ali se encontravam sob suas garras, utilizando variadas e repugnantes práticas de tortura denunciadas na escrita corrosiva do poeta:


“(...) E ao ritmo
da contradança de joelhos nus nem parece
que algures há cartilagens sangrando
a esfolar-se no chão das cadeias.”
21


“(...) Quietos
quatro horas seguidas
comodamente sentados numa cadeira
ao milésimo século de perguntas (...)


Mas...
não falamos!


Nossos
sorrisos moçambicanizados
previamente a carícias
de cacetadas.

E
as bocas inchadas
a sangue natural imitando o vermelho
torna autêntico este verso.”
22

A desprezível figura do torturador foi ilustrada por Malangatana, recebendo a alcunha de “Chico Feio, o espancador da PIDE”. A degradante personagem é mostrada em cenas de violência extrema contra os prisioneiros, violência motivada pela ditadura salazarista, revelando o ódio que os agentes possuíam pelos revolucionários, como em “O prisioneiro” e “A cela”. Na ilustração supracitada, em “Devoragem” e “Pavilhão da Cadeia da Manchava, espancamento”, Malangatana substitui os espíritos das religiosidades ancestrais. Os seres fantásticos como os xicuembos, lumpfanas e shetanis que vivem no imaginário fragmentado dos seus compatriotas, tornam-se imensas e assustadoras figuras híbridas, com olhares alucinados, garras e dentes afiados. São monstros materializados, do e no tempo presente, os agentes da PIDE. Como observou Julio Navarro: “sem perder a qualidade estética, pelo contrário, Malangatana começa a integrar no seu imaginário aquela ligação dos seus monstros (...) com o monstro real: o colonialismo”23.

Chico Feio, o espancador da PIDE

O prisioneiro

A cela

Devoragem

Pavilhão da Cadeia da Manchava, espancamento

Entretanto, a resistência à tortura é ilustrada por Malangatana em “Apoio moral aos espancados cela IV” e motivada por Craveirinha com impactantes versos a clamar a união e a afirmação dos moçambicanos, e a inverter a relação com o carcereiro:


“(...) E no sofrimento deste prédio
nós os presos e os que não foram presos
conseguimos o seguinte consenso:
– Voz de prisão aos carcereiros!”
24


“(...) Não sou luso-ultramarino
SOU MOÇAMBICANO!


Será suficiente esta confissão
sr. chefe dos cassetetes
da 2ª brigada?”
25


“(...) Pátria:
o nosso próprio receio
leva-nos ao cúmulo da fúria
mas ao carcereiro o próprio medo
fabrica para toda a polícia
o auge do desespero.”
26


O projeto de nação em sua poesia surge antes da participação na FRELIMO e da guerra colonial. Para Fátima Mendonça o Velho Cravo é “o primeiro escritor a apresentar o espaço geográfico moçambicano em termos de nação”27, e complementa afirmando que:


“O elemento de afirmação nacional que emerge, desde o início, da poesia de José Craveirinha, é pois gerado e produzido por um real definido e marcado, porventura apreendido pelo poeta numa fase em que a sua configuração não é perceptível a muitos: o poeta limitou-se a antecipar-se no tempo, captando e prevendo, assumindo-se finalmente como o ‘fabricante de vaticínios infalíveis’.”28


Portanto, a Pátria é cantada em várias formas, sendo motivo para agregar os moçambicanos sedentos por liberdade:


“(...) Mas
a arma da paixão mais secreta
dos filhos que amam a terra-mãe cem por cento (...)”
29


“(...) Este infinito sentimento
no recíproco amor a homem e mulher
para jamais nos esquecermos de vez
do amor dos amores mais amados
o amor chamado pátria!”
30


“(...) percorro este universo emigrando
diariamente no interior africano
deste território minha pátria
escondido no meu país.”
31


Malangatana Valente recorre aos sonhos para suportar as agruras do colonialismo em desenhos como “Sonho, nota de soltura” e “Sonho de prisioneiro, almofada de grilhetas”. Já José Craveirinha versa sobre o desejo de almoçar com a família em casa “depois do grande sonho conseguido”32. Sonho que somente se concretizaria em 25 de junho de 1975, com a efetiva participação dos dois artistas que viram Moçambique se tornar independente. Com isto, o livro Cela 1 foi publicado em 1980 e a série Desenhos de prisão foi exposta como parte das comemorações do 70º aniversário de Malangatana Valente em 2006, imortalizando em suas obras a terrível experiência do cárcere na luta contra o colonialismo.


Sonho, nota de soltura

Sonho de prisioneiro, almofada de grilhetas


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BALTAZAR, Rui. Sobre a poética de José Craveirinha. Via Atlântica, São Paulo, n. 5, p. 88-107, 2002.


BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1977.


CANDIDO, Antonio. A literatura e a vida social. In: Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.


CHABAL, Patrick. Vozes moçambicanas – literatura e nacionalidade. Coleção Palavra Africana. Lisboa: Editora Veja, 1994.


CHAVES, Rita. Angola e Moçambique: experiência colonial e territórios literários. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005.


CRAVEIRINHA, José. Cela 1. Lisboa: Edições 70, 1980.


FERREIRA, Manuel. O discurso no percurso africano 1. Lisboa: Plátano, 1989.


LEITE, Ana Mafalda. A fraternidade das palavras. Via Atlântica, São Paulo, n. 5, p. 20-28, 2002.

NAVARRO, Julio. Uma gula insaciável. Catálogo da exposição Malangatana: de Matalana a Matalana. Lisboa: Instituto Camões, 1999. p. 51.


SECCO, Carmen Lucia Tindó. A apoteose da palavra e do canto: a dimensão “neobarroca” da poética de José Craveirinha. Via Atlântica, São Paulo, n. 5, p. 40-51, 2002.



SECCO, Carmen Lucia Tindó. Craveirinha e Malangatana: cumplicidade e correspondência entre as artes. In: A magia das letras africanas: ensaios escolhidos sobre as Literaturas de Angola, Moçambique e alguns outros diálogos. Rio de Janeiro: ABE Graph Editora, 2003.


REFERÊNCIA INTERNET:
FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES.
http://www.fmsoares.pt. Acesso em 26 de outubro de 2006.

NOTAS:

1 BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1977. p. 143.
2 FERREIRA, Manuel. O discurso no percurso africano 1. Lisboa: Plátano, 1989. pp. 32-33.
3 CHAVES, Rita. José Craveirinha: a poesia em liberdade. In: Angola e Moçambique: experiência colonial e territórios literários. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005. p. 139.
4 Idem, ibidem. p. 141.
5 CANDIDO, Antonio. A literatura e a vida social. In: Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006. p. 35.
6 CHAVES, Rita. Entrevista: José Craveirinha. In: Angola e Moçambique: experiência colonial e territórios literários. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005. pp. 241-242.
7 CHABAL, Patrick. Entrevista: Malangatana Valente. In: Vozes moçambicanas – literatura e nacionalidade. Coleção Palavra Africana. Lisboa: Editora Veja, 1994, pp. 207-208
8 CHABAL, Patrick. Entrevista: José Craveirinha. In: Vozes moçambicanas – literatura e nacionalidade. Coleção Palavra Africana. Lisboa: Editora Veja, 1994. pp. 99-100.
9 SECCO, Carmen Lucia Tindó. A apoteose da palavra e do canto: a dimensão “neobarroca” da poética de José Craveirinha. Via Atlântica, São Paulo, n. 5, p. 45, 2002.
10 CRAVEIRINHA, José. Cela 1. Lisboa: Edições 70, 1980. p. 73.
11 Idem, ibidem, p. 15.
12 BALTAZAR, Rui. Sobre a poética de José Craveirinha. Via Atlântica, São Paulo, n. 5, 2002, p. 100.
13 CRAVEIRINHA, José. Cela 1. Lisboa: Edições 70, 1980. p. 47.
14 FUNDAÇÃO MÁRIO SOARES. http://www.fmariosoares.pt. Acesso em 26 de outubro de 2006.
15 SECCO, Carmen Lucia Tindó. Craveirinha e Malangatana: cumplicidade e correspondência entre as artes. In: A magia das letras africanas: ensaios escolhidos sobre as Literaturas de Angola, Moçambique e alguns outros diálogos. Rio de Janeiro: ABE Graph Editora, 2003, p. 226.
16 CRAVEIRINHA, José. Cela 1. Lisboa: Edições 70, 1980. p. 84.
17 Idem, ibidem, p. 76.
18 Idem, ibidem, p. 73.
19 Idem, ibidem, p. 68.
20 Idem, ibidem, p. 49.
21 Idem, ibidem, p. 10.
22 CRAVEIRINHA, José. Cela 1. Lisboa: Edições 70, 1980. p. 14
23 NAVARRO, Julio. Uma gula insaciável. Catálogo da exposição Malangatana: de Matalana a Matalana. Lisboa: Instituto Camões, 1999. p. 51.
24 CRAVEIRINHA, José. Cela 1. Lisboa: Edições 70, 1980. p. 72.
25 CRAVEIRINHA, José. Cela 1. Lisboa: Edições 70, 1980. p. 38.
26 Idem, ibidem, p. 28.
27 MENDONÇA, Fátima. O conceito de nação em José Craveirinha, Rui Knopfli e Sérgio Vieira. Via Atlântica, São Paulo, n. 5, 2002, p. 54.
28 Idem, ibidem, p. 54.
29 CRAVEIRINHA, José. Cela 1. Lisboa: Edições 70, 1980. p. 17.
30 Idem, ibidem, p. 21.
31 Idem, ibidem, p. 81.
32 CRAVEIRINHA, José. Cela 1. Lisboa: Edições 70, 1980. p. 35.

CABO VERDE: Profa. Dra. Simone Caputo Gomes

Já está no ar sítio da Profa. Dra. Simone Caputo Gomes (Universidade de São Paulo) sobre a literatura e cultura de Cabo Verde:

http://www.simonecaputogomes.com/

A Profa. Simone, generosa como sempre, disponibiliza seus textos, mapas, fotos, links sobre o país e muito mais.

Visita obrigatória para quem quer se aprofundar na cultura de Cabo Verde.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Nelson Saúte – Os Narradores da Sobrevivência

Após a independência moçambicana em 1975, houve um curto período de euforia com a libertação, mas desestabilizado com a guerra civil entre Frelimo, partido que fez a revolução, e Renamo, apoiado pela África do Sul, Rodésia e tendo a colaboração não-declarada do governo norte-americano. Conflito que mergulhou o país numa crise sem precedentes em sua história, prolongando o sofrimento causado pelos séculos de ação colonizadora portuguesa.

A crueldade da situação vivenciada pelos moçambicanos deixou marcas profundas naqueles que participaram desses terríveis anos, que viram a violência aumentando cada vez mais, as mortes tornando-se rotineiras, os habitantes do interior refugiando-se na capital (os deslocados) e os mutilados pelas famigeradas minas tropeçando pelas ruas da capital Maputo. E o que é pior, a desilusão com as promessas não cumpridas pela revolução, que não concretizou os projetos de maior igualdade social, distribuição de renda, fim da fome e diversos outros problemas estruturais, que custaram tantas vidas durante a guerra colonial nos anos de 1964 a 1975.

É no clima de desencanto com os caminhos trilhados pelo país que, nos anos 1980, emerge a literatura de Nelson Saúte. Contemporâneo da revista Charrua, publicação que apresentou novos paradigmas ao corpo literário moçambicano e lançou nomes como o de Eduardo White entre outros, que Saúte se aproxima da literatura. Através de suas atividades no jornalismo, Saúte desempenha um importante papel ao documentar os nomes que formaram e ainda formam a literatura de Moçambique. Entrevista grandes escritores, organiza antologias de poesia e contos, e, em seguida, publica suas experiências nas letras.

Nascido nos subúrbios da então Lourenço Marques, atual Maputo, em 1967, Nelson Saúte tem a língua portuguesa como o principal e único idioma. Não fala nenhuma língua de etnia local, nem o ronga, língua predominante na região onde foi criado. Portanto, é testemunha viva da história recente do país: participou como “pioneiro” nos anos de euforia com o pós-independência, vivenciou o longo período de guerra civil passado durante a adolescência e juventude, que só encerraria com o acordo de paz de 1992.

Tive a oportunidade de assistir a uma palestra de Nelson Saúte no ano passado. Naquela época, a editora Língua Geral lançava uma série de livros infantis, intitulada Mama África, e Saúte assinava um dos livrinhos - O homem que não podia olhar para atrás - com ilustrações de Roberto Chichorro. Impressionou-me, durante a sua fala, a melancolia e amargura ao comentar sobre o seu passado durante a guerra, o que só viria a compreender melhor com a leitura do romance que comentarei a seguir, Os Narradores da sobrevivência (Publicações Dom Quixote, 2000).

O romance se passa nos difíceis anos da década de 1980, época de sofrimento extremo para Moçambique, um país arrasado pela violência, e pela desesperança e desencanto de seu povo com o irreal cotidiano. Como afirma o narrador: “Anos de uma grande ilusão destruída diante dos nossos olhos por mãos humanas como a nossa”. (SAÚTE, 2000, p. 141)

É a história do desencontro de Marimbique, jovem moçambicano recrutado para lutar pelos ideais da revolução, e sua mãe, a velha Xinguavilana, e o posterior reencontro no enterro de ambos. Metáfora do dilaceramento da sociedade moçambicana, que via as famílias tendo seus destinos separados e/ou encerrados pelas ações deploráveis da guerra.

Depois de vários anos afastado de sua cidade natal, Maputo, Marimbique retorna em um caminhão trazendo trinta e tantos corpos mortos, os quais ele é o responsável:

“O camião que Marimbique escoltava trazia a notícia mais dilacerante da guerra. Três dezenas de cadáveres: pernas, braços, intestinos, ventres, olhos, orelhas, pedaços de carne, corpos macerados. Pela primeira vez a guerra chegava à capital – marchava vagarosa com o camião que entra na cidade ao entardecer”. (Ibide, Ibidem, p. 15)

Trata-se do primeiro momento que a capital, ou a “Nação” como é chamada pelos moçambicanos, com o que a guerra tem de mais cruel: os seus mortos. Até então, a guerra para os moradores de Maputo resumia-se a racionamentos: “Que era a guerra na grande cidade? A falta de energia, a ausência de água”. (Ibide, Ibidem, p. 15) É a partir do reencontro de Marimbique e da presença dos mortos na cidade que o romance trilhará seu caminho.

Diante de tantas desgraças vivenciadas por Marimbique, ele recorre constantemente à memória para buscar um pouco de sossego às vistas cansadas de dor, medo e morte. O jovem está acompanhado pelo motorista, contudo os dois não se comunicam, conheceram-se para cumprir a triste missão. O filósofo Walter Benjamin apontava para a dificuldade em narrar que os novos tempos apresentavam, a violência exacerbada da guerra seria uma das motivadoras desse quadro, pois os soldados quando retornavam das batalhas nas trincheiras permaneciam mudos, incapazes de se comunicar após o convívio desesperador com os mortos e mutilados. Daí o amparo na memória, nas lembranças da infância para suportar as durezas trazidas pelo ódio e matança desenfreada entre os moçambicanos:

“Quando atravessou o Alto-Maé acenou à Estrada da Circunvalação, deste modo ele saudava a infância. Lembrou os canaviais e os carros alegóricos que atravessavam a Avenida de Angola. Estes partiam do Largo Albasine, desciam os foliões em direcção ao Bairro do Aeroporto. Todo aquele mundo labiríntico dos subúrbios acordava lembranças muito nítidas. As coisas que poderiam ter acontecido na véspera por certo deslembrava. Tal é o prodígio da memória, que nos faz recuar a tempos imemoriais e é incapaz de nos revelar uma imagem do dia anterior. No caso, ele tinha razões mais do que razoáveis para se refugiar no tempo – ou templo? – perdido. A infância, a adolescência.” (Ibide, Ibidem, pp. 38-39)

A devastação causada pela guerra às mentes das pessoas, mantém assombrados os pensamentos, a condição miserável do presente faz com que o narrador vasculhe a memória para acalantar a existência:

“As lembranças constantes de lugares ou situações que nos tenham sido queridos denunciam que o presente pouco acrescenta às nossas vidas. Abraçamo-nos ao passado, marcados por uma vontade dilacerante de o reviver constantemente ou, de forma intermitente, momentos inolvidáveis, que já não nos pertencem, a não ser no domínio inatingível da imaginação.” (Ibide, Ibidem, p.21)

A partir daí, a narrativa procura remontar o passado de Marimbique em situações vivenciadas pelas pessoas com quem convivia ou em suas próprias lembranças, entrecruzando-as com a mãe e a sua luta persistente, inglória para todos, em rever o filho desaparecido, o que a faz ser agressiva com os que querem convencê-la da morte do rapaz:

“Morto deixa corpo. Quem disse que um morto desaparece assim mesmo? (...) Nesta vida eu já me cruzei várias vezes com a morte. Todas as vezes ela deixou rasto, não é agora assim. Como se comprova que meu filho morreu?” (Ibide, Ibidem, pp. 19-20)

A morte passa a ser uma rotina no cotidiano dos moçambicanos, que são alvejados em cruéis emboscadas nas estradas, nas minas espalhadas pelo país e nos combates entre os soldados. Torna-se um terrível hábito ter que enterrar os entes queridos, o absurdo da situação chega a atingir o nível extremo de se enterrar apenas os pertences de um morto, pois muitos foram deslocados dos seus locais de origem e seus corpos jamais seriam revistos. Tal proposta é feita à mãe de Marimbique, que denuncia o desrespeito com os que se foram e a insensibilidade daqueles que se acostumaram com a desgraça e vivem dela: “Querem é vender as roupas do meu filho no dumba-nengue (mercado de rua) e mafiar-me que estão enterradas”. (Ibide, Ibidem, p. 26) Por outro lado, revela o estado de penúria a que se encontravam os moçambicanos, em miséria absoluta:

“Há anos que entretanto não se realizavam aquelas cerimônias de enterrar os pertences dos mortos. Roupa dos falecidos serve para os vivos. Numa altura destas, prenhe de crises, como desperdiçar os farrapos dos outros, mesmo depois de passarem para o outro lado da fronteira, lá onde habitam os sem-vida?” (Ibide, Ibidem, p. 26)

Este acontecimento demonstra o dilaceramento das tradições espirituais, a descrença nos rituais funerários dos antepassados, a cultura esgarçada. Nei Lopes, em Kitábu, comenta que a morte é a continuidade da vida, que se desprende do corpo físico e parte ao encontro dos que o precederam, em um outro nível de existência. Por isso, é fundamental o respeito aos antepassados e o cumprimento dos rituais e obrigações para com eles.

Tais costumes tentam sobreviver nos bairros periféricos de Maputo, os bairros de caniço, onde se passa a história. Bairros que tinham como característica o convívio entre as diversas raças (negros, árabes, portugueses, indianos) que viviam em Moçambique e formaram a cultura miscigenada do país.

A narrativa privilegia as manifestações da religiosidade africana deformada pelos séculos de colonialismo e depois perseguida pelos representantes da revolução, de orientação comunista, que diziam que a “revolução era pagã”. Porém, a hipocrisia é uma característica dos que estão no poder e tal fato não era praticado pelos dirigentes, que, às escondidas, visitavam os curandeiros:

“Dizem até, numa altura em que os grandes não punham os pés nas igrejas nem sequer admitiam cerimónias para lembrar os antepassados, tudo isso porque a revolução era pagã, alguns, muitos destes alguns, dizem as falas populares, saíam dos seus Volvos e dirigiam-se, à socapa, ao velho Aeroporto, famoso por socorrer as mais incríveis inquietações.” (Ibide, Ibidem, p. 29)

Contrapondo-se à asfixia das origens locais, o narrador mostra a relação com o mundo dos mortos, o que os envolve como os xicuembos (espíritos malignos, constantes na pintura de Malangatana Valente), xipócùes (almas de outro mundo) e os nyangas (curandeiros). Sendo assim, conhecemos doenças como a nyocana, a doença da lua, sofrida por Marimbique, o ritual para sua cura e como o ritual se adaptou à geografia dos subúrbios:

“Quando há luar, o atingido entra nas convulsões, sofre espasmos. (...) Mata-se um animal representativo – cabrito, por exemplo – cozinha-se carril de amendoim de galinha, mais xima, alguns assimilados fazem arroz, junta-se a família. Para além disso, existem as bebidas tradições, como o uputso. Vinho também serve, mas tem que ser branco. (...) Ajoelha-se a um canto da palhota, se for no subúrbio, no quarto da flat para aqueles que transitaram e estão na cidade, e fala com os velhos de antigamente. (...) A cerimônia termina sempre com alegria entre os convivas. Assim, os que estão deste lado da Terra podem continuar sossegados, os espíritos haverão de protegê-los.” (Ibide, Ibidem, pp. 115-116)

Como a mãe de Marimbique acreditava nos valores da revolução, não dava importância para o que sentenciavam os nyangas (curandeiros) e Marimbique não cumpriu as obrigações necessárias. Somente com a velhice acompanhada do desespero em não reencontrar o filho e a morte que se aproxima, é que ela retornará às crenças locais:

“O filho sofrerá a vida inteira desta doença e dos maus espíritos que lhe ensombraram os caminhos. Muitos anos depois, a velha será uma devota das consultas aos curandeiros. Mas o filho terá já desaparecido, as suas demandas pouco ajudarão a saber do seu destino.” (Ibide, Ibidem, pp. 116-117)

Embalados pelo clima festivo e de vitória absoluta da independência, alguns excessos foram cometidos pelos novos governantes e seus simpatizantes. Seguindo a cartilha dos partidos comunistas europeus, houve um patrulhamento intenso sobre os costumes tradicionais moçambicanos e tudo o que não seguisse as diretrizes européias era considerado contra-revolucionário, passível de pesadas punições. Havia, por exemplo, a “Operação Produção”, que mandava para fora da cidade os desajustados sociais, como os bêbados:

“Durante a ‘Operação Produção’ desapareceram, passaram a beber clandestinamente num improvisado bar de subúrbio, até passar a fúria revolucionária que varria os famosos improdutivos dos centros para o Niassa.” (Ibide, Ibidem, p. 113)

A burocracia estatal mostra sua (in)eficiência no controle da vida das pessoas, na quantidade enorme de documentos exigidos aos transeuntes pelos despreparados soldados governamentais, procedimento que ficou conhecido como “Operação Tira-Camisa”, que também servia para prender ou forçar ao alistamento nas tropas:

“– Documentos?
– BI, cartão de residente e cartão de recenseamento!
(...)
– Os que estão indocumentados para aquele canto. Fiquem ali em fila, tirem as camisas.
Era a mais do que conhecida ‘Operação Tira-Camisa’. Marimbique ouvira falar apenas deste tipo de rusga. Os militares ficavam à porta dos cinemas e de outros lugares de concentração dos jovens e exigiam que estes exibissem os papéis. Pediam de preferência documentos impraticáveis. Havia aqueles que, no delírio de sua ignorância, até exigiam que os incautos transeuntes sacassem dos bolsos certidões de óbito. Quem não os tivesse ia preso. Era levado para os centros de concentração ou eram recrutados compulsivamente para a tropa. A guerra apertava. Precisava-se, com urgência, de carne para canhão.”
(Ibide, Ibidem, p. 50)

Com o intuito de equiparar tudo, de criar uma sociedade sem classes como nas teorias socialistas, o governo revolucionário toma medidas radicais. Surge o cartão de abastecimento e a lei de igualdade salarial:

“Quatro barra oitenta foi uma das leis mais conhecidas no tempo da revolução, com ela se estipulava a igualdade de salários nas mesmas categorias profissionais. (...) Para além dos salários que provinham dessa lei, havia os cartões de abastecimento que o GOAM (Gabinete de Organização do Abastecimento de Maputo), distribuía, sem os quais não se podia adquirir comida nas lojas.” (Ibide, Ibidem, p. 84)

A incompetência estatal também serve para mascarar a corrupção, alimentar o tráfico de influências e favorecer os quadros políticos. Infelizmente, situações típicas das elites dos países periféricos. O romance denuncia o deplorável caráter de alguns representantes das lideranças revolucionárias e mais uma vez o despreparo para o comando:

“Muitas das padarias da cidade não faziam pão. Tinham entrado em crise. Ter pão era privilégio dos chefes, os famigerados Estruturas. Aqueles que vestiam balalaicas do poder e acenavam dos seus LADA. Os LADA eram carros importados de um dos países socialistas que apoiavam a revolução. Os populares não sabiam a origem exacta dos carros protocolares, mas eximiam-se no escârneo, LADA significava, na fala de rua: leva atrás dirigente analfabeto.” (Ibide, Ibidem, p. 13)

A luta pela independência serviu para unificar Moçambique e as várias etnias que compõem o país. Porém, a harmonia entre elas era instável, as lideranças dividiam-se, enquanto os combatentes, como Marimbique, desconheciam as outras regiões e povos. O bairro onde vivia, a Munhuana, havia o convívio entre povos de várias raças, o que pode ser confirmado nos depoimentos do poeta José Craveirinha ao comentar sobre a Mafalala.

“Em pouco tempo ficou a perceber que era do Sul, havia os do Norte. Também soube que era ronga e havia os macuas. A revolução não resolvera o grande dilema de um país embrulhado em várias nações. Não sabia Marimbique o que significava a palavra etnia. Mais tarde aprendeu na dureza do quotidiano que os homens se dividiam por origens geográficas, por raças, por línguas ou etnias.
O seu mundo era a Munhuana, ali eram, todos, meninos. Pretos, chineses, mulatos, fosse o que fossem. Eram todos da mesma raça. (...)”
(Ibide, Ibidem, p. 41)

Tal situação era geradora de intensos conflitos na mente de Marimbique, que não compreendia as desavenças entre os vivos, a matança desenfreada da guerra, o desarranjo do mundo:

“Hoje, quando olha o país mergulhado na confusão de cores, lembra-se do daltonismo que então guiava os moçambicanos. (...) De onde são estes corpos que transportamos? Que língua falarão lá no lugar para onde vão? A que etnia pertencem? Serão eles ainda muito diferentes na sua condição única de mortos?” (Ibide, Ibidem, pp. 41-42)

O convívio com a guerra faz com que a anestesia se apodere dos sentimentos das pessoas. Amor, sonho e dignidade são desalojados pela inércia e desinteresse pelo sofrimento do próximo. Os mutilados não causam espanto, nem revolta:

“Apareceram depois os mutilados. Os transeuntes olhavam-nos mas não se importavam. Era apenas mais uma palavra que a guerra nos trouxera para o vocabulário: mutilado. (...) Pessoas que viram seus membros estilhaçarem-se ao vento. Gente que perdeu sonhos e dignidade. Agora vendem maços de cigarros em bancas improvisadas nos passeios.” (Ibide, Ibidem, p. 59)

Com a aproximação da independência, os portugueses colonizadores, que segundo Albert Memmi se acostumaram à vida e às benesses oferecidas na colônia jamais imaginaram que essa realidade um dia findaria e que precisariam abandonar a colônia e seriam obrigados a retornar à metrópole. Essas pessoas viviam às custas do sistema colonial e tiveram que se retirar em massa, deixando os apartamentos nos prédios da cidade desocupados. Estes, passaram a sofrer com a falta de manutenção e foram ocupados pelas pessoas que viam do interior, que se adaptavam, a sua maneira, à nova vida, situação parecida com a da novela angolana de Manuel Rui, Quem me dera ser onda:

“Os prédios ameaçavam ruir de podre. (...) Por todos os lados havia furos de água suja. A rede de esgotos acolhia ratazanas. Os tubos das canalizações enferrujavam secos. Bebia-se água insalubre, que subia a baldes nas escadas porcas e escorregadias (...) Os inquilinos acendiam fogões a carvão nos andares, punham a lente em chama nas flats, as paredes escureciam ocultando o branco que haviam tido antes. Os homens, nas suas horas de lazer, plantavam pequenas hortas nas banheiras. Eles ignoravam a utilidade dos novos objectos que se atulhavam nas casas de banho da revolução. (...) As explêndidas moradias tinham sido deixadas ao abandono pelos antigos proprietários. Estes haviam sido apanhados desprevenidos na encruzilhada da História, eles que se julgavam eternos, na sua modorra africana (...)”(Ibide, Ibidem, p. 71)

As ruínas da cidade são as ruínas psicológicas dos moçambicanos, fraturadas pela presença constante da morte e dos mutilados. Pessoas deslocadas dos seus locais de origem sonambulam pelas estradas com o risco real de sofrer uma emboscada, além da fome, que passa a ser uma fiel companheira do cotidiano. Há, até uma denúncia feita em relação a isto, pois os postos de abastecimento tinham papéis higiênicos e outros artigos em grande quantidade, enquanto a comida quase não aparecia:

“As lojas do Povo o que tinham de mais era o batom e papel higiênico. Não que as moças desgostassem do batom que vinha do Leste da Europa, não que os nossos hábitos fossem contrários ao uso de papel higiênico, preferindo a areia, coisa que se fazia agachado, depois de se defecar no mato, também tínhamos ânus urbanizados, o que se passa é que a comida era pouca e a necessidade terrena de nos desfazermos dos sólidos desnecessários ao organismo também. Daí o excesso na provisão do papel higiênico.” (Ibide, Ibidem, pp. 143-144)

Em um estado de pobreza onipresente, cada cidadão lida com a terrível época a sua maneira. A personagem Jamaica é um ex-combatente que se tornou mutilado após pisar em uma mina. Porém, era “mutilado de uma guerra que ele recusava existir, Jamaica, enfim, vivia das lembranças”. (Ibide, Ibidem, p. 61) Recordava-se sim, dos tempos em que era jogador de futebol e das meninas que namorava. A evasão servia para encobrir a realidade: “Mutilado eu? Vão todos para aquele sítio. Dizem que eu não tenho perna? Quem não tem perna é este país que está cheio de malucos. Eu sinto a minha perna, esta muleta é tudo estilo”. (Ibide, Ibidem, p. 62) Já a personagem Bragança, amigo de Jamaica, fez da incomunicabilidade a sua forma de reação contra as agruras da guerra: “Bragança, esse, não falava. Voz dele extinguiu-se há muitos anos”. (Ibide, Ibidem, p. 63)

O desajuste perpetrado pela guerra, desloca os homens para longe da racionalidade. A realidade aniquilada pelas minas apresenta um quadro surreal que beira a loucura:

“Mano, como não podemos estar com o juízo fora de lugar? As búlgaras gostam dos pretos, os italianos filmam cães a fornicar nossas filhas. Como não ficar maluco perante esta sociedade que até nos traz os mortos de Maluana para serem passeados pela Avenida Eduardo Mondlane como se fosse dia de carnaval? Tudo isto não bate certo. Fazemos parte de um terrível carnaval de estúpidos!” (Ibide, Ibidem, p. 81)

A irracionalidade dos anos de guerra motiva a ironia ao grotesco dos acontecimentos. Rir-se da própria desgraça. O riso como fator crítico da ordem estabelecida, demonstrando, através do grotesco, as falhas da época:

“Não muito tempo depois, nos palcos da cidade se começou a zombar da própria desgraça, fazendo com que os desgraçados se rissem de si próprios. Não sei se moçambicanamente cultivamos a ironia na forma de nos retratarmos no quotidiano, mas verdade seja dita: o teatro que haveria de irromper, nos anos aflitos de guerra, nos tempos do cerco à cidade, quando se anunciavam todos os apocalipses, seria de grande motivação do riso e do escárneo.” (Ibide, Ibidem, p. 72)

A maneira como a guerra definha os sentimentos dos povos que são obrigados a conviver com cenas deprimentes e deploráveis, ultrapassa o grotesco. O horror das mortes corriqueiras, amendronta até aqueles que estão habituados a conviver com ela, como o coveiro Mandala:

“Afaguei muita morte. Mas, palavra de honra, tenho medo destes mortos. São caras de mulheres assustadas, de crianças que ainda gritam, de homens surpreendidos pelas baionetas, precocemente. Não são mortos vindos do sossego. Dizem que são as vítimas da guerra. De Maluana, de Taninga. Com estes mortos assim qualquer dia esta guerra não fará vítimas, ela própria será vítima dos mortos porque nenhuma guerra devia agüentar tanto.” (Ibide, Ibidem, p. 88)

A inconseqüência e fúria dos ataques dos soldados destroem as vidas das pessoas, que perdem seus bens materiais, seus parentes, suas identidades. Vários personagens representam o vazio, a ausência de um passado que foi dilacerado no decorrer do conflito. A perda da identidade é o que pode haver de mais doloroso, além da perda de contato com os familiares desaparecidos. Mandala é um personagem sem passado e sem nome, recebeu a alcunha daqueles que passaram a conviver com ele: “Dizer velho Mandala é uma espécie de redundância dado que o nome de Mandala ninguém conhecia e assim lhe chamavam por sua idade justificar tal alcunha”. (Ibide, Ibidem, p. 87)

O mesmo acontece com a velha mãe de Marimbique. Seu passado são especulações dos que com ela passaram os anos:

“Fala-se muito dela mas nada se sabe ao certo. Sua lenda intensifica-se na densidade da incerteza. Nem mesmo o elementar pormenor do nome. Como se chama? Ninguém lhe conhece o nome. Ela é conhecida, porém, pela alcunha, que lha deram por ser má, intratável, difícil, irascível – Xinguavilana.” (Ibide, Ibidem, pp. 22-23)

A tragédia da morte ronda todo o romance e é somente na morte que Marimbique e sua mãe, Xinguavilana, voltam a se encontrar, em dois cortejos distintos rumo as suas sepulturas. O rapaz acabou dominado pela loucura em um hospital, sua última morada. A mãe de Marimbique foi vencida pelo tempo quando perdeu a esperança de achá-lo:

“Outra vez eles cruzaram-se, agora nas campas, lado a lado. Definitivamente. Não havia como evitar que se encontrassem. O dia estava-lhes reservado a este encontro na morte, descerão à terra e residirão lá nos lugares onde acoitam os antepassados, ao mesmo tempo quase, e em talhões gémeos por assim dizer. (...)
A filha de Mambone e mãe de Marimbique não resistira ao desgosto do desaparecimento do filho. Quando perdeu a esperança de reencontrar, deixou-se levar para a terra dos antepassados. Afinal, os dois, mãe e filho, por fim encontravam-se e abraçavam-se para a eternidade.”
(Ibide, Ibidem, pp. 139-140)

A família destruída pela guerra continuará dilacerada com a presença do filho de Marimbique, que conheceu o pai e a avó no dia do enterro, e, assim, “ficou a saber a partir daquele dia quando, finalmente, lhe contaram a estória da sua família paterna”. (Ibide, Ibidem, p. 140)

Para finalizar, fico com as palavras do narrador, que melhor expressam o triste período da história recente de Moçambique, neste pungente romance de Nelson Saúte:

“Os anos oitenta foram anos dramáticos. Foi o tempo em que experimentámos a miséria mais abjecta em termos materiais. Onde os homens despojaram-se da sua humanidade e vestiram a bestialidade oculta na sua personalidade. Foram os anos da morte, da violência das armas que em humanas mãos serviram para destroçar os mais belos projectos igualmente humanos que havia entre nós e reduzir o homem moçambicano à condição de coisa nenhuma. (...) Os anos da falta de luz. (...) Os anos dos suicídios dos jovens, da morte estúpida e brutal dos jovens. Estes são os anos oitenta. Os anos da nossa desgraça individual e colectiva, mas os anos que resgatamos hoje e quase choramos ao lembrá-los porque em tudo em que eles representavam havia uma pureza que as minhas palavras não têm competência para nomear. E agora que os homens se vestem dos agasalhos da amnésia para atravessar as ruas, vale a pena recordá-los.” (Ibide, Ibidem, pp. 141-144)


BIBLIOGRAFIA:
BENJAMIN, Walter. O narrador. In: Magia e técnica, arte e política – ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1985.

LOPES, Nei. Kitábu: o livro do saber e do espírito negro-africanos. Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2005.

MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido do retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.

SAÚTE, Nelson. Os narradores da sobrevivência. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2000.

SECCO, Carmen Lucia Tindó Ribeiro. Paisagens, memórias e sonhos na poesia moçambicana contemporânea. In: A magia das letras africanas – ensaios escolhidos sobre as literaturas de Angola, Moçambique e alguns outros diálogos. Rio de Janeiro: ABE Graph Editora, 2003.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

II Fórum Internacional de Angolanistas

Política, Direito, Economia e Democracia na Reconstrução de Angola
7 a 9 de novembro de 2007
Universidade Estadual do Rio de Janeiro

http://www.angolanistas.org/Evento2007/index1.htm


O II Fórum Internacional de Angolanistas é uma realização da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Centro de Ciências Sociais, Programa de Estudos e Debates dos Povos Africanos e Afroamericanos, Laboratório de Pesquisas e Práticas de Ensino-LPPE, Programa de Pós-Graduação em História), e colaboração do Departamento de Literaturas Africanas da UFRJ, Departamento de História/História da África da UFF e da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto/Angola, com o apoio da Embaixada da República de Angola no Brasil e do Consulado Geral de Angola no Rio de Janeiro. Tem como objetivo estimular e divulgar a produção de idéias que visam a reconstrução, o progresso e o desenvolvimento sustentável de Angola, bem como o intercâmbio acadêmico-científico entre estudantes, cientistas, pesquisadores, acadêmicos e atores da sociedade civil e pública para debater questões do interesse desse rico e potencialmente influente país africano. Passando para a sua segunda, depois da bem-sucedida realizacão do I Fórum de Quadros Angolanos e Angolanistas no Brasil, promovido pela mesma Universidade, caracteriza-se como o primeiro esforço de lutar pela necessidade de convergência e colaboração dos angolanistas do Brasil, de Angola e do mundo inteiro com vistas a engajá-los na discussão de idéias e propostas que podem ajudar Angola a trilhar o rumo do desenvolvimento social, cultural e científico sustentável. É um projeto que busca afirmar-se como um Fórum Internacional de natureza acadêmica e científica para a discussão, produção, divulgação e monitoramente de idéias propositivas que auxiliem Angola a construir planejadamente uma sociedade socialmente mais justa, politicamente harmoniosa e economicamente estável.
Além dos conferencistas e palestrantes convidados do Brasil, Angola e outros países, poderão submeter trabalhos para palestras à apreciação da Comissão Científica professores, estudantes de graduação e pós-graduação e investigadores envolvidos em trabalho de pesquisa (concluída ou em andamento) sobre os diversos temas do interesse de Angola e da academia (veja aqui como inscrever trabalhos). Alunos de graduação, bolsistas, concluintes e interessados em geral, poderão submeter seus trabalhos para apresentação dentro da programação "Comunicações.