quinta-feira, 21 de maio de 2009

Manifestação Pró-Hélio Oiticica e Cosmococa

Diante do vergonhoso fechamento do Centro de Arte Hélio Oiticica, a manifestação que ocorrerá no sábado será fundamental para mostrar a indignação e o descaso das autoridades com o principal artista brasileiro do século XX. Estarei lá com o meu parangolé!

Aproveitei para resgatar um texto que fiz sobre a fantástica exposição Cosmococa, no CAHO, em 2005.

Abraços,
Ricardo Riso

ATENÇÃO
23 MAIO - SÁBADO - 15h
espalha pra geral

PARANGOLÉ DE MUITOS
Leia [abaixo] a proposição de Hélio Oiticica


O IMAGINARIO PERIFÉRICO, a EBAUFRJ, a ECOUFRJ, a UNIVERSIDADE NÔMADE e o PROJETO HÉLIO OITICICA, convocam todos os artistas interessados a participar da manifestação PRÓ Hélio Oiticica a fazerem seus parangolés conforme instrução abaixo e se juntarem a esse corpo coletivo pedindo a permanência da obra de HO no Centro de Arte que leva seu nome.

23Maio - 15H - SÁBADO
Rua Luís de Camões 68 – Centro – Rio de Janeiro [Em frente ao Centro de Arte Hélio Oiticica]

Video-performances do Imaginário Periférico na obra Rodislândia no Centro H.O.

>Treme terra de Aderbal Axogum
>Nimbo Oxalá de Ronald Duarte
>Chapéu Panorâmico de Romano
>Musa Paradisíaca de BobN

Venha e faça você mesmo seu Parangolé.
Leia [abaixo] a proposição de Hélio Oiticica e entre nessa onda.

PARANGOLÉLIO
hélio oiticica
1968

INSTRUÇÕES para feitura-performance de CAPAS FEITAS NO CORPO

1- cada extensão de pano deve medir 3 metros de comprimento.

2- o pano não deve ser cortado durante a feitura da capa, de modo a manter a estrutura extensão-extensão como base viva da capa.

3- alfinetes de fralda devem ser usados para a construção da capa, que será depois cosida.

4- a estrutura da capa construída no corpo deve ser improvisada pelo participador; se a ajuda de outros participadores vier a calhar, ótimo; a estrutura deve ser construída em grupo em cada corpo participante, e feita de modo a ser retirada sem destruir, como uma roupa.

5- um grupo pode construir uma capa para várias pessoas, numa espécie de manifestaçãqo coletiva ao ar livre.

6- o uso de dança e/ou performances criadas por outros indivíduos é essencial à ambientação dessa performance: assim como o uso do humor, do play desinteressado, etc. de modo a evitar uma atmosfera de seriedade soturna e sem graça.

“estivesse eu no rio e já estaria produzindo meu parangolé revisitado. mais que a obra, o espírito de experimentação, de invenção de hélio, deve baixar no centro de arte hélio oiticica, na praça tiradentes, no mangue e no rio de janeiro.
xô o bundalelê que se acoitou nessa cidade. xô!!!!”
Chacal

Fonte: http://chacalog.zip.net/


Hélio Cosmococa Oiticica
(Ricardo Riso)

Eis que o Centro de Artes Hélio Oiticica encerra seu incompreensível período de trevas a que permaneceu durante o corrente ano, e retoma a sua programação em grande estilo com o mais significativo artista brasileiro do séc. XX: Hélio Oiticica. Mais uma vez o CAHO cumpre a sua função em divulgar o acervo de Oiticica, logo, a obrigatoriedade da visita à exposição faz-se pelo ineditismo de algumas obras da badalada série COSMOCOCA.

COSMOCOCA é composta por cinco instalações espalhadas por todo o prédio. Em parceria com o cineasta Neville D'Almeida são apresentadas peças elaboradas detalhadamente, como podemos conferir diante da presença dos manuscristos originais de Oiticica. São trabalhos que datam do distante ano de 1973, sendo que uma instalação foi montada pela primeira vez, Notations, em que há a possibilidade do visitante se banhar e interagir com a obra, no melhor estilo dos famosos penetráveis de HO.

A proposta de HO e Neville D'Almeida era fazer o que chamaram de “Quasi-Cinema”. Um filme não linear, sem início, meio e fim, projetado por slides, construídos a partir de incontáveis fotografias tiradas aleatoriamente em ângulos inusitados do tema/montagem escolhidos sem a preocupação se as imagens ficariam boas ou não. Para a composição das imagens, foram utilizados objetos de uso diário como estiletes, discos, fotografias, jornais, capas de livros etc. o que gerou imagens de grande apelo visual. O espaço escolhido era o loft de HO em Nova Iorque. A idéia, segundo Neville, era reler o cinema, quadro a quadro, sem preocupação de continuidade ou seqüência lógica, o que leva a questionar a relação temporal do espectador com o cinema e a sua postura rígida diante deste.

As instalações de Cosmococa foram definidas por HO quando apresentadas como Program in Progress. O conceito surge a partir do momento em que o visitante está em contato com uma instalação, observa as imagens espalhadas ao redor da sala intercalando-se aleatoriamente, o que causa um confronto com o ambiente exposto até o visitante se posicionar e interagir com a obra. O in progress motiva o estranhamento inicial, a nova relação espacial com o espaço expositório chama ao aconchego, ao ato relaxante, ou vagabundo como dizia o seu amigo Waly Salomão, que as instalações proporcionam.

Cosmococa. Coca... cocaína, por quê? HO manipula a cocaína como pigmento, o que chamou de rastro-coca. A coca é utilizada como máscara/maquiagem sobre as fotografias. A coca como plagiadora da maquiagem sobre o motivo fotografado. Rastro-coca: fragmentar a imagem acabada através da manipulação da cocaína, adicionar máscara-plágio à imagem, sem preocupar-se em transformar o feio em belo, ou que remetesse a qualquer máscara ritualística. O fato da coca não agir como tinta, o que violentaria a imagem, proporciona múltiplas manipulações da substância sobre as fotografias. A maquilagem, assim, é efêmera, como é efêmera a sensação de quem usa a coca, mas é essa relação com o efêmero que incita e excita a criatividade do artista num ato lúdico, até o momento que este esgota as possibilidades criadoras e decide cafungar o rastro-coca e encerra as experimentações sobre determinada imagem.

Jimi Hendrix com redes esticadas para deitarmos; Yoko Ono, Heidegger, Charles Manson e o chão é todo acolchoado com almofadas em formas geométricas a fortalecer o lado lúdico da exposição; o cineasta Buñuel no New York Times, Mothers of Invention (Frank Zappa), uma pessoa com parangolé, mais colchões e lixas para as unhas ao som de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga; uma piscina e Notations de John Cage; Marilyn Monroe e Norman Mailer em Maileryn nos convidam a vermos as instalações com todos os sentidos.
A série COSMOCOCA representa o que foi de mais transgressor na vasta e diversificada obra que nos deixou HO. Esta série representa o seu ápice criativo, pois nessas instalações estão escancaradas as principais propostas desenvolvidas por ele relacionadas à ambientação e à sensorialidade que tanto buscou aliada ao cinema, fotografia e performance. O caráter híbrido que sempre foi a sua proposta desde os bólides e penetráveis, atinge a plenitude em COSMOCOCA, as referências aos ícones da cultura pop, à filosofia e ao cinema europeu desencadeiam, implícita ou explicitamente, leituras que apropriam, parodiam, mas que transgridem invariavelmente qualquer limite. COSMOCOCA demonstra os vastos caminhos que a arte contemporânea nos apresenta e confirma HO como uma das mais radiante estrelas da pós-modernidade.

Riso
26/10/2005

CENTRO DE ARTE HÉLIO OITICICA
R. Luís de Camões, 68, Centro, tel. 2242-1213 e 2242-1012. Ter. a sex., 11h/19h; sáb., dom. e feriados, 11h/17h

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