Uma nova exposição com curadoria do meu ex-professor e eterno mestre João Magalhães, revelando novos nomes da Escola de Artes Visuais do Parque Lage que apostam na pintura como meio.
Ricardo Riso
( arte3 )
ARTE AO CUBO
Uma receita para um bom e sempre original texto sobre arte tem que necessariamente aludir, em seu bojo, a pensadores fundamentais.O que seria desse texto se não tocasse no mito da caverna, na reprodutibilidade técnica? É forçoso citar Foucault, Deleuze, um pouco de Freud, muito Lacan, quase nenhum Young, embora este último ainda seja consideravelmente apreciado pela turma da energia. Derrida, quem não sabe o que é desconstrução? Quem tem medo da différance? E a sociedade do espetáculo, absolutamente indefectível. Baudelaire, Barthes e todos os Bergs. Argan, o sublime e o pitoresco.Husserl e Merleau-Ponty. Todos os franceses, todos mesmo. Nietzsche. Krauss e o incontornável esquema paisagem/arquitetura. Alguns Adornos, como eventualmente Bourdieu e Wittgenstein, podem acrescentar alguma elegância. Caso ainda se tenha espaço, Belting e Danto.Os analíticos, de um modo geral, podem ser dispensáveis. Um texto que siga rigorosamente os preceitos da presente receita, será,
pela densidade e originalidade, muito bem recebido. Inclusive pela Academia.
João Magalhães, março de 2009.
( arte3 )
ARTE AO CUBO
ANNA MARIA NIEMEYER APRESENTA SEIS NOVOS ARTISTAS AO CIRCUITO DE ARTE
A exposição ( arte3 ) apresenta obras de seis novos artistas, a partir de 12 de março, na matriz da Galeria Anna Maria Niemeyer. Com curadoria de João Magalhães, a coletiva expõe seis pinturas de Alessandro Sartore, Bet Katona, Felipe Fernandes, Jimson Vilela, Raul Leal e Virginia Paiva - todos alunos de João Magalhães na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV- Parque Lage). A mostra poderá ser visitada de segunda a sábado, das 10h às 22h, exceto domingos e feriados até o dia 4 de abril de 2009.
Segundo o curador, os alunos foram selecionados pelo compromisso e qualidade dos trabalhos. “Eles já estão maduros e merecem expor como artistas”, afirma ele, comentando que as obras expostas utilizam materiais convencionais de pintura, como tinta em tela sobre chassi, e trabalham com imagens em diálogo com a contemporaneidade.
Sartore apresenta um díptico, inteiramente dourado de grandes dimensões, formado por duas telas, de medidas iguais, em posições diferentes. Bet expõe uma de suas pinturas, onde utiliza o máximo da síntese em uma pintura gráfica para investigar figuras, paisagens e interiores. Felipe utiliza, principalmente, retratos de amigos da época de criança, recriando essas imagens com toque de deboche, como a obra selecionada. Quem também explora a fotografia é Raul, em pesquisa sobre o meio urbano, onde indivíduos são retratados como seres totalmente anônimos. Jimson, que experimenta diversos suportes e pigmentos, apresenta tela crua, de grande dimensão, onde a interferência da tinta é quase zero. Virginia chega à compulsão ao recorrer à mistura energética de elementos esfumaçados em cores baixas e frias e em dourado.
A ( arte3 ) integra o projeto criado em 2000 pela galeria, onde artistas convidados apresentam o trabalho de seus alunos em coletivas. Edições mais recentes tiveram curadoria de Nelson Leirner, Edmilson Nunes e Chico Cunha. “Desde que abri minha galeria, em 1977, sempre me preocupei em dar espaço aos iniciantes”, ressalta Anna Maria Niemeyer, destacando que já estrearam por lá nomes como Eliane Duarte, Jorge Guinle e Victor Arruda.
ALESSANDRO SARTORE
Eu bebo porque é líquido, se fosse sólido eu comeria!
É a resposta do bêbado. Acho que cabe para pintura, não porque pintar seja uma cachaça, longe disso, pintura é imagem e não palavra ou número.
Criar e resolver problemas pela imagem, acho que é isso. Mesmo com vários outros meios, a pintura ainda é referência. Não como a nobre Arte, mas porque ela está presente. Quantas vezes ouvi: Que vídeo!Até parece pintura!
realmente é.
É esse campo ampliado, que me interessa. Ampliar, reduzir, potencializar, a pintura serve como meio mais imediato, direto, é já tão impregnado de tudo (foto,vídeo,objeto, etc.) que mesmo quando reduzido quase a nada, só tela e tinta, tem um poder de reverberar quase que infinitamente. Criar e tentar resolver problemas pela pintura, não só de pintura, é uma armadilha extremamente atraente. É como mosca na teia, pode não ser aparentemente nada mas ela está lá.
Pinto porque é imagem, se fosse palavra escreveria!
BET KATONA
Escolhi a pintura como suporte para expressar ideias, pensamentos, poesias.
A pintura torna real o meu espaço interno e imaginário.
A pintura torna material o que não é material.
As deformações ou distorções são a realidade do pensamento.
Enfim pinto o que desejo.
Pinto porque me dá tesão.
FELIPE FERNADES
Eu pinto por um pouco de egoísmo. Pinto qualquer cena que eu possa tornar mais interessante, ideal. Altero seu sentido pra algo que me entretenha ou possa causar estranhamento. No geral, escolho cenas que me comovem, mas que nunca deixo de evitar que se tornem ridículas ao final do processo.
JIMSON VILELA
Pinto, pois, para mim, a pintura é a linguagem mais complexa para se estabelecer uma poética, talvez seja a que mais exija do artista uma conjugação, equilibrada, entre a prática e a teoria (forma e conceito).
A pintura tem suas verdades, dizia Matisse. Além disso, a possibilidade de dialogar com mais de dois mil anos de história da pintura, de repertórios da pintura, e, principalmente, da história da imagem; e a partir disso criar saídas e possibilidades para um trabalho me interessa. Gosto de ser exigido de um trabalho, e de fazer deste algo vivo e perturbador para o observador. Minhas paisagens possuem isso, uma inquietação sobre a visualidade no contemporâneo. Pintar hoje, para mim, é desafiar a lógica de uma sociedade firmada na rápida criação de imagens que mediam nossas relações
RAUL LEAL
Citando Peter Doig, a pintura atualmente é uma coisa que se você pensar muito você simplesmente não faz. O quê levaria um artista contemporâneo a investir trabalho e conhecimento num meio que tem sido sistematicamente declarado morto desde fins do século XIX?
Talvez seja por teimosia que insistimos em continuar pintando numa época em que, a cada dia, surgem meios mais e mais sofisticados de produção de imagens. Soma-se a isso o enorme desafio de inserir o trabalho de pintura nos processos que regem a sociedade contemporânea e nas questões filosóficas e conceituais da arte atual.
Enfim, pinto porquê é o meu modo de me relacionar com as questões impostas pelo mundo que me cerca, porquê a pluralidade do meio artístico atual permite que ainda existam pintores, porquê encontro na pintura uma espécie de sublimação das minhas angústias e inquietações e porquê tenho uma enorme paixão por essa atividade.
VIRGINIA PAIVA
Por vontade de descobrir. Por hábito, que foi virando compulsão. Por prazer. Por obrigação. É a minha maneira de me transubstanciar.
Toda criança - que disponha desses meios e de algum incentivo - já moldou suas massinhas, já segurou deliciosamente canhestra um lápis-cera, já cravou no papel suas casinhas, sóis, flores, famílias, coelhos e pássaros; se posso confiar em minha já combalida memória, lembro da descoberta que foi converter o papel em cartola de mágico e assim poder me exibir para o mundo, conversar com ele.
Hoje posso até inventar que com a pintura, com as histórias que conto através dela, com a prazerosa lambança com as cores, com a descoberta de outros colegas de ofício bem maiores que eu - estaria fugindo da náusea sartreana e afirmando minha frágil humanidade num mundo absurdo. Mas prefiro dizer que não cresci: tudo o que eu quero é não deixar de ser criança.
João Magalhães*, curador da exposição (arte3), é artista plástico e, desde 1993, é professor de pintura da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV-P.Lage).
créditos obrigatórios
curadoria: João Magalhães
produção (artistas): Belvedere
fotografia (artistas e obras): Jaime Acioli
design grafico (convite e folder): Inventum
assessoria de imprensa
Angela Falcão - tel: 21 25123636/6187 escritório - e.mail: angelafalcao@uol.com.br
maiores informações ou solicitação de imagens (alta / tif; 300dpi / jpeg ou 96dpi / jpeg)
GALERIA ANNA MARIA NIEMEYER - Leonor Azevedo - tel: 21 22399144 (das 14 às 21h segunda a sexta-feira) - cel: 21 969919023 ou e.mail:galamn@centroin.com.br
( arte3 )
ARTE AO CUBO
Uma receita para um bom e sempre original texto sobre arte tem que necessariamente aludir, em seu bojo, a pensadores fundamentais.O que seria desse texto se não tocasse no mito da caverna, na reprodutibilidade técnica? É forçoso citar Foucault, Deleuze, um pouco de Freud, muito Lacan, quase nenhum Young, embora este último ainda seja consideravelmente apreciado pela turma da energia. Derrida, quem não sabe o que é desconstrução? Quem tem medo da différance? E a sociedade do espetáculo, absolutamente indefectível. Baudelaire, Barthes e todos os Bergs. Argan, o sublime e o pitoresco.Husserl e Merleau-Ponty. Todos os franceses, todos mesmo. Nietzsche. Krauss e o incontornável esquema paisagem/arquitetura. Alguns Adornos, como eventualmente Bourdieu e Wittgenstein, podem acrescentar alguma elegância. Caso ainda se tenha espaço, Belting e Danto.Os analíticos, de um modo geral, podem ser dispensáveis. Um texto que siga rigorosamente os preceitos da presente receita, será,
pela densidade e originalidade, muito bem recebido. Inclusive pela Academia.
João Magalhães, março de 2009.
( arte3 )
ARTE AO CUBO
ANNA MARIA NIEMEYER APRESENTA SEIS NOVOS ARTISTAS AO CIRCUITO DE ARTE
A exposição ( arte3 ) apresenta obras de seis novos artistas, a partir de 12 de março, na matriz da Galeria Anna Maria Niemeyer. Com curadoria de João Magalhães, a coletiva expõe seis pinturas de Alessandro Sartore, Bet Katona, Felipe Fernandes, Jimson Vilela, Raul Leal e Virginia Paiva - todos alunos de João Magalhães na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV- Parque Lage). A mostra poderá ser visitada de segunda a sábado, das 10h às 22h, exceto domingos e feriados até o dia 4 de abril de 2009.
Segundo o curador, os alunos foram selecionados pelo compromisso e qualidade dos trabalhos. “Eles já estão maduros e merecem expor como artistas”, afirma ele, comentando que as obras expostas utilizam materiais convencionais de pintura, como tinta em tela sobre chassi, e trabalham com imagens em diálogo com a contemporaneidade.
Sartore apresenta um díptico, inteiramente dourado de grandes dimensões, formado por duas telas, de medidas iguais, em posições diferentes. Bet expõe uma de suas pinturas, onde utiliza o máximo da síntese em uma pintura gráfica para investigar figuras, paisagens e interiores. Felipe utiliza, principalmente, retratos de amigos da época de criança, recriando essas imagens com toque de deboche, como a obra selecionada. Quem também explora a fotografia é Raul, em pesquisa sobre o meio urbano, onde indivíduos são retratados como seres totalmente anônimos. Jimson, que experimenta diversos suportes e pigmentos, apresenta tela crua, de grande dimensão, onde a interferência da tinta é quase zero. Virginia chega à compulsão ao recorrer à mistura energética de elementos esfumaçados em cores baixas e frias e em dourado.
A ( arte3 ) integra o projeto criado em 2000 pela galeria, onde artistas convidados apresentam o trabalho de seus alunos em coletivas. Edições mais recentes tiveram curadoria de Nelson Leirner, Edmilson Nunes e Chico Cunha. “Desde que abri minha galeria, em 1977, sempre me preocupei em dar espaço aos iniciantes”, ressalta Anna Maria Niemeyer, destacando que já estrearam por lá nomes como Eliane Duarte, Jorge Guinle e Victor Arruda.
ALESSANDRO SARTORE
Eu bebo porque é líquido, se fosse sólido eu comeria!
É a resposta do bêbado. Acho que cabe para pintura, não porque pintar seja uma cachaça, longe disso, pintura é imagem e não palavra ou número.
Criar e resolver problemas pela imagem, acho que é isso. Mesmo com vários outros meios, a pintura ainda é referência. Não como a nobre Arte, mas porque ela está presente. Quantas vezes ouvi: Que vídeo!Até parece pintura!
realmente é.
É esse campo ampliado, que me interessa. Ampliar, reduzir, potencializar, a pintura serve como meio mais imediato, direto, é já tão impregnado de tudo (foto,vídeo,objeto, etc.) que mesmo quando reduzido quase a nada, só tela e tinta, tem um poder de reverberar quase que infinitamente. Criar e tentar resolver problemas pela pintura, não só de pintura, é uma armadilha extremamente atraente. É como mosca na teia, pode não ser aparentemente nada mas ela está lá.
Pinto porque é imagem, se fosse palavra escreveria!
BET KATONA
Escolhi a pintura como suporte para expressar ideias, pensamentos, poesias.
A pintura torna real o meu espaço interno e imaginário.
A pintura torna material o que não é material.
As deformações ou distorções são a realidade do pensamento.
Enfim pinto o que desejo.
Pinto porque me dá tesão.
FELIPE FERNADES
Eu pinto por um pouco de egoísmo. Pinto qualquer cena que eu possa tornar mais interessante, ideal. Altero seu sentido pra algo que me entretenha ou possa causar estranhamento. No geral, escolho cenas que me comovem, mas que nunca deixo de evitar que se tornem ridículas ao final do processo.
JIMSON VILELA
Pinto, pois, para mim, a pintura é a linguagem mais complexa para se estabelecer uma poética, talvez seja a que mais exija do artista uma conjugação, equilibrada, entre a prática e a teoria (forma e conceito).
A pintura tem suas verdades, dizia Matisse. Além disso, a possibilidade de dialogar com mais de dois mil anos de história da pintura, de repertórios da pintura, e, principalmente, da história da imagem; e a partir disso criar saídas e possibilidades para um trabalho me interessa. Gosto de ser exigido de um trabalho, e de fazer deste algo vivo e perturbador para o observador. Minhas paisagens possuem isso, uma inquietação sobre a visualidade no contemporâneo. Pintar hoje, para mim, é desafiar a lógica de uma sociedade firmada na rápida criação de imagens que mediam nossas relações
RAUL LEAL
Citando Peter Doig, a pintura atualmente é uma coisa que se você pensar muito você simplesmente não faz. O quê levaria um artista contemporâneo a investir trabalho e conhecimento num meio que tem sido sistematicamente declarado morto desde fins do século XIX?
Talvez seja por teimosia que insistimos em continuar pintando numa época em que, a cada dia, surgem meios mais e mais sofisticados de produção de imagens. Soma-se a isso o enorme desafio de inserir o trabalho de pintura nos processos que regem a sociedade contemporânea e nas questões filosóficas e conceituais da arte atual.
Enfim, pinto porquê é o meu modo de me relacionar com as questões impostas pelo mundo que me cerca, porquê a pluralidade do meio artístico atual permite que ainda existam pintores, porquê encontro na pintura uma espécie de sublimação das minhas angústias e inquietações e porquê tenho uma enorme paixão por essa atividade.
VIRGINIA PAIVA
Por vontade de descobrir. Por hábito, que foi virando compulsão. Por prazer. Por obrigação. É a minha maneira de me transubstanciar.
Toda criança - que disponha desses meios e de algum incentivo - já moldou suas massinhas, já segurou deliciosamente canhestra um lápis-cera, já cravou no papel suas casinhas, sóis, flores, famílias, coelhos e pássaros; se posso confiar em minha já combalida memória, lembro da descoberta que foi converter o papel em cartola de mágico e assim poder me exibir para o mundo, conversar com ele.
Hoje posso até inventar que com a pintura, com as histórias que conto através dela, com a prazerosa lambança com as cores, com a descoberta de outros colegas de ofício bem maiores que eu - estaria fugindo da náusea sartreana e afirmando minha frágil humanidade num mundo absurdo. Mas prefiro dizer que não cresci: tudo o que eu quero é não deixar de ser criança.
João Magalhães*, curador da exposição (arte3), é artista plástico e, desde 1993, é professor de pintura da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV-P.Lage).
créditos obrigatórios
curadoria: João Magalhães
produção (artistas): Belvedere
fotografia (artistas e obras): Jaime Acioli
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