Faleceu, ontem, dia 25/09, na cidade da Praia, o poeta e ensaísta cabo-verdiano Mário Fonseca. Para melhores informações, acesse http://asemana.sapo.cv/spip.php?article45774&ak=1
Foi um dos maiores defensores da independência de Cabo Verde e da autonomia do continente africano, o que foi registrado em vários de seus poemas. Coerente, sonhador, batalhador, para ele o seu “espírito estava ocupado quase que exclusivamente a nível profundo a duas coisas: política e literatura”.
Que sua alma descanse em paz e à família minha sentidas condolências.
Ricardo Riso
PARA UM CANTO VERDADEIRAMENTE HUMANO
Antepassados imortais
imortal Maiakovsky
imortal Rimbaud
imortal Camões
imortal Keats
imortal Eluard
imortal Lorca
imortal Whitmann
e vós outros
inumeradas gargantas
de onde brotam
flamejantes dardos
da consciência humana
em assembleia
plenária
aberta
a todos os gritos
a todos os ventos
nós
herdeiros
pequenos
actuais
em assembleia
plenária
aberta
a todos os sonhos
de todos os homens
é preciso
urgente
necessário
que a poesia
sol verdadeiro do nosso sistema solar
passe ao combate
é preciso urgente necessário
que a poesia
tambor rítmico do mundo
passe ao ataque
contra as bandeiras
por demais desfraldadas
da fealdade
da estupidez
da estreiteza de longos dentes
com todas as armas
com todos os gumes
da rima
do ritmo
da melodia
com todas as granadas
da mente
do coração
dos nervos
é preciso
urgente
necessário
que a poesia
farol dardejante
no litoral minado
da fraternidade
passe ao ataque
ao ataque
ao ataque
paciente
ardente
contra
as contra-guerrilhas da exclusão
de ontem
de hoje
de fora
de dentro
do homem
é preciso urgente legítimo
que a poesia
passe ao ataque
brandindo as armas que com sangue forjastes
que com suor brandimos
na rude peleja
brandindo machados de percussão minuciosa
que decepem pela raiz
as fronteiras
por demais guardadas
da fealdade
da estupidez
da estreiteza
por onde se filtram
as quintas-colunas da separação
de ontem
de hoje
de fora
de dentro
do homem
que é preciso urgente legítimo
esmagar esmagar
para sempre esmagar
com todas as armas
com todos os gumes
da rima
do ritmo
da melodia
com todas as granadas
da mente
do coração
dos nervos
para que
de pólo a pólo
da terra ao sol
o animal humano
enfim liberto
das etiquetas
passaportes
diques
da separação
da exclusão
entoe enfim
no ar enfim lavado
o primeiro canto verdadeiramente humano
(FONSECA, Mário. Se a luz é para todos. Praia: Publicom, 1988. p. 85-88)
Um comentário:
Mario Fonseca:
"Onde fincar os pés
Onde fincar os pés senão nas estrelas?
......."
Ele o sabia.
Postar um comentário