domingo, 12 de outubro de 2008

Caio Fernando Abreu: "Sem Ana" (teatro)

Imagem retirada de http://www.bravoonline.com.br

“Sem Ana”, espetáculo teatral no EspaçoSesc/RJ, com a atriz Ana Abbott e dirigido por Ivan Sugahara, é uma livre adaptação do conto “Sem Ana, Blues”, do livro “Os Dragões não Conhecem o Paraíso” de Caio Fernando Abreu (CFA), que, caso fosse vivo, completaria sessenta anos de idade.

Encenados com freqüência, os textos de CFA normalmente geram boas adaptações, e este “Sem Ana” não foge à regra. O que é ótimo, não só por termos acesso a uma peça de qualidade, mas, sobretudo, um respeito à memória do autor, pois é notório o apreço que CFA possuía pelo teatro com a criação de diversas peças ao longo de sua carreira.

Profundo conhecedor das contradições da alma humana, arguto observador dos costumes de seu tempo, o texto de “Sem Ana, Blues” trata da separação de um casal e do desespero causado pelo abandono vivenciado pela pessoa que ainda é apaixonada. A partir daí, CFA explora todas as agruras possíveis que uma pessoa pode sofrer por causa de um amor perdido. Dor, solidão, carência, estagnação, entrega à bebida, desejo de morrer... situações-limite intermináveis para quem passa por essa experiência. E quem não passou por isso, ao menos uma vez na vida? Alguém que não tenha perdido a sua Ana?

Ao escorar-se na expressão “Quando Ana me deixou...”, a personagem interpretada por Ana Abbott mergulha nas trevas deixadas pela ausência da figura amada, tendo como contraponto um cenário completamente branco e delicado, sem excessos, sendo estes já presentes no texto denso e tenso, e na interpretação dedicada de Abbott, que surpreende e angustia com os longos silêncios de sua personagem. Deve-se frisar, a importante e boa montagem de Ivan Sugahara, em harmonia com o texto de CFA.

Entretanto, CFA jamais foi um escritor comum de soluções fáceis e simplórias, às quais nos conformariam. Viradas inusitadas e a perseverança no ser humano eram presenças habituais em seus contos. Em “Sem Ana”, o caminho e a longa permanência em um profundo estado depressivo acaba por revelar a descoberta de novas possibilidades, de outros rumos a serem explorados, experimentados, ou seja, há uma mensagem otimista, de que se deve seguir em frente, de que se deve superar a dor, de que se deve viver.

Com o espetáculo encerrado, reforça-se a impressão de que a genialidade de Caio Fernando Abreu nos faz uma falta terrível. Foi-se cedo demais, assim como Leonílson, Cazuza, Jorge Guinle Filho, Renato Russo...

Para não ficar “Sem Ana”, corra, pois o belo espetáculo só ficará em cartaz até o dia 19 de outubro. Logo ali em Copa, com um preço acessível a todos.

Ricardo Riso

Sem Ana
Espaço SESC
Rua Domingos Ferreira, 160 - Copacabana 21/2547-0156
Sexta e sábado às 20h; domingo às 19h
De R$ 2 a R$ 8
Até 19/10

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