domingo, 30 de novembro de 2008

CD do III Encontro Internacional de Professores de Literaturas Africanas

A Profa. Dra. Carmen Lucia Tindó Secco (UFRJ) gentilmente me entregou o cd com os artigos publicados do III Encontro Internacional de Professores de Literaturas Africanas - Pensando África, durante o Contravento, Pedra-a-pedra - I Seminário de Estudos Cabo-verdianos realizado na USP. Foi uma grata surpresa.
Naquele Encontro, apresentei minha primeira comunicação: "Letras e desenhos encarcerados: a reclusão libertadora na arte de José Craveirinha e Malangatana Valente".

Para acessar este artigo, clique no endereço abaixo:

Bienal de Artes de São Paulo 2008 – a Bienal do vazio

Por Ricardo Riso


Estive na capital paulistana nesta semana. Como em todas as vezes, o circuito de artes plásticas sempre me atraiu e não poderia ser diferente desta vez, pois a Bienal de Artes de São Paulo está aberta e a cidade não decepciona quando se trata de eventos artísticos.

Questionar a autoria apresentando diversas reproduções de obras famosas. Uma idéia cansada, repetitiva e ultrapassada. Pobre Bienal...

Entretanto, fiquei estarrecido com o que vi nesta edição da Bienal! Já sabia pelas diversas críticas negativas que a seleção de trabalhos estava fraca, mas não imaginei que as obras fossem tão ruins. A atual curadoria conseguiu piorar o que já estava horrível. Sinceramente, não sei qual o papel da Bienal hoje. A edição anterior tinha uma boa proposta de concepção, ao menos. Contudo, a atual nem isso formulou. O vazio predominou.

Riso brincando no parquinho da Bienal de Artes de São Paulo

Por outro lado, o vazio citado corresponde ao momento que estamos vivendo. Sociedade sem sentido, vidas desperdiçadas e despedaçadas, sonhos esgarçados, memórias fraturadas, ausência de afetos, fim das utopias. Vazio de idéias, vazio de criatividade. Ou seja, a arte ali representada retrata a miséria em que vivemos. A miséria mental da contemporaneidade do neoliberalismo em estado terminal.

Entendiado com a Bienal. Realmente, o melhor da Bienal está no salão vazio.

A destacar, com profunda tristeza, o salão completamente vazio, por que é melhor do que as obras expostas em todo o prédio, e o escorrega, pois nele podemos sair rapidamente do prédio e do fajuto parquinho de diversões que se tornou a Bienal nesta edição.

O que resta na Bienal: brincar. Riso na chegada do escorrega. Foto de Norma Lima.

Bienal banal bienada. Adeus.

domingo, 23 de novembro de 2008

Abraão Vicente e a emigração em Cabo Verde

Obras de jovem artista relêem tema caro à literatura do arquipélago

Por Ricardo Riso

A condição insular de Cabo Verde impôs ao ilhéu os dilemas “querer ficar e ter que partir” e/ou “ter que partir e querer ficar” em razão das condições adversas do arquipélago, ora devido às condições climáticas e geográficas desfavoráveis com as persistentes secas e solo árido para o plantio, ora com situações políticas e/ou financeiras como o colonialismo português no passado, e as desigualdades sociais e econômicas que a independência do país não conseguiu resolver. Ou seja, emigrar faz parte da cultura de Cabo Verde.

Disseminadas na literatura cabo-verdiana, a evasão e a emigração foram temas que percorreram todo o século XX gerando profundas polêmicas e atritos entre os escritores de diferentes gerações. O caso mais célebre é o da geração que lançou a revista Claridade (1936), marco da cabo-verdianidade. Seus poetas: Jorge Barbosa, Manuel Lopes e Osvaldo Alcântara (Baltasar Lopes) foram injustamente acusados de evasivos por seus pares nas décadas seguintes.

Entre os claridosos, como eram conhecidos, não havia crítica explícita ao regime colonial português vigente à época, porém, havia, sim, o surgimento de um sentimento nacional independente a Portugal, de apego à terra, fazendo da evasão a válvula de espace para o sonho, como podemos inferir no “Poema de quem ficou” de Manuel Lopes:

Eu não te quero mal
por esse orgulho que tu trazes;
porque este ar de triunfo iluminado
com que voltas...

...O mundo não é maior
que a pupila dos teus olhos
tem a grandeza
da tua inquietação e das tuas revoltas.

...Que teu irmão que ficou
sonhou coisas maiores ainda,
mais belas que aquelas que conheceste...
Crispou as mãos à beira do mar
e teve saudades estranhas, de terras estranhas,
com bosques, com rios, com outras montanhas
– bosques de névoas, rios de prata, montanhas de oiro –

que nunca viram teus olhos
no mundo que percorreste...

(ANDRADE, Mario de.
Antologia Temática de Poesia Africana Vol. 1 – Na Noite Grávida de Punhais. Lisboa: Sá da Costa, 1977. 2ª ed. p. 27)

Nos anos seguintes, aparece a revista Certeza (1944), de forte tendência marxista, que explicita o absurdo do colonialismo enfatizando o desejo de liberdade. Na década de 1950, nasce o PAIGC (Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo Verde) comandado por Amílcar Cabral; na década seguinte começam as guerras coloniais nos cinco países africanos dominados por Portugal que levariam à independência após a Revolução dos Cravos, em terras lusas, no ano de 1974.

O sentimento crescente de revolta e a nova relação com o mar, não mais castrador dos sonhos do ilhéu, são bens retratados por Ovídio Martins no poema “Unidos Venceremos”:

Estendemos as mãos
desesperadamente estendemos as mãos
xxxxxxpor sobre o mar
As ondas não são muros
são laços
de sargaços
que servirão de leite
à grande madrugada
Nosso amor de liberdade
xxxxxxxxxxxxe de justiça
será contemplado
e nosso povo terá direito ao pão
Povo que trabalha
xxxxxxxxxxxxMas não come
Povo que sonha
xxxxxxxxxxxxe obterá
Temos a ternura das nossas ilhas
temos as certezas das nossas rochas
Estendemos as mãos
desesperadamente estendemos as mãos
caboverdianamente estendemos as mãos
xxxxxxxpor sobre o mar.

(ANDRADE, Mario de.
Antologia Temática de Poesia Africana Vol. 2 – O canto armado. Lisboa: Sá da Costa, 1979. p. 142)

Conquistada a liberdade da nação, o cantalutismo domina a poesia engessando os temas tratados. Somente no final dos anos 1980, a antologia Mirabilis – de veias ao sol marcará uma ruptura com os eternos dilemas do ilhéu, tantas vezes versados pelos poetas cabo-verdianos. A proposta da antologia fica clara no prefácio de José Luís Hopffer Almada:

Fustigada pelos ventos (da incompreensão!), pelo sol (da hipocrisia!), pelos tempos vários do mau tempo literário, desse tempo querendo-se vegetação literária. No deserto, cresce a geração mirabílica, feita signo na margem desértica do mar. De veias ao sol. As veias da indagação. As veias alagadas da terra das estradas, da poeira do dia-a-dia, do massapé dos campos, do lixo dos caminhos suburbanos, do desespero recoberto de moscas, baratas e outros vermes. As veias loucas do mar, do marítimo lirismo dos dias afogados nos ciúmes dos montes. As veias, veias de vida, de morte, de desespero, das quatro estações místicas do que se medita no refúgio do silêncio. Veias do camponês e da enxada neste coito de séculos com a terra. Ao sol, hipócrita por entre a bruma e os cerros. Sol, signo de luz. Sol que ilumina. Sol que queima e ofusca o caminhar. Sol dependurado da perseverança secular. Mirabilis – de veias ao sol. Geração mirabílica indagando o sol. “No Deserto cresce a Mirabilis”. Diz o poeta Orlando Rodrigues. “Embora de veias ao sol”. Adita Rodrigo de Sousa, para que das imagens do deserto cresçam as palavras da nossa geração e delas reste, ao menos, o cadáver da poesia. Sugere Mito, o poeta plástico, ou que o cadáver se metamorfoseie em flor e espinho, num panorama azul, de onírico, sugere Mito, o plástico poeta. Uma única rosa é a Mirabilis, e dela queda um sol de sangue. O sol da poesia mirabílica.

(ALMADA, José Luís Hopffer (ORG.). Mirabilis – de veias ao sol – antologia dos novíssimos poetas cabo-verdianos. Praia: ICL, 1988. p.26-27)

Seguindo os novos rumos da poesia, Euricles Rodrigues escancara o rompimento com o passado literário em seu poema “Revolução – evolução”:

Viola a tua tradição
xxxxxxxxxxxxxenterra a tua paranóia marítima secular
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxrenega a tua estreita visão interior
E busca
xxxxxxxnovas formas
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxnovas artes
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxnovos engenhos
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxnova mente
De
xxcortar as amarras da estagnação
xxengravidar a terra de novo sangue
xxestabelecer nova aliança com o mar
(ALMADA, José Luís Hopffer (ORG.). Mirabilis – de veias ao sol – antologia dos novíssimos poetas cabo-verdianos. Praia: ICL, 1988. p.190)

A emigração hoje

Atualmente, Cabo Verde apresenta elevado número de emigrantes espalhados pelo mundo, principalmente nos Estados Unidos e continente europeu. Devido às dificuldades econômicas, o cabo-verdiano continua a sair do seu país a procura de melhores condições de vida nos lugares citados. Entretanto, a recessão econômica mundial crescente nos últimos anos e com maior evidência nos meses recentes, além do alto número de estrangeiros nos países de primeiro mundo, fez com que a entrada de estrangeiros sofresse sérias restrições e vigilância rigorosa.

Hoje, conseguir o “visto” para entrar em um país desenvolvido é extremamente difícil por causa das inúmeras exigências feitas pelos consulados. A conseqüência desse endurecimento é o aumento do fluxo de pessoas ilegais que arriscam a própria vida em embarcações superlotadas e com péssima estrutura, oriundas do continente africano.

Por outro lado, há um grave problema vivenciado por Cabo Verde. Por sua posição geográfica, o arquipélago acaba recebendo diversas embarcações ilegais que não conseguem atingir o seu destino, o mais comum são as Ilhas Canárias, território espanhol. Tal fluxo de clandestino gera imensos transtornos a Cabo Verde, pois o país não possui estrutura adequada para receber um grande número de pessoas vindos de várias partes da África, como a Mauritânia, Senegal, Mali e outros países. (Para ver algumas matérias sobre este problema, acesse os links relacionados no final deste texto)

Essa situação simplesmente denuncia o fracasso da política neoliberal dominante em nossos dias, onde os países do primeiro mundo fecham-se e ignoram a situação do continente africano, devastado pela miséria que assola seus países em boa parte causada pelas pressões econômicas dos europeus e americanos.

Os passaportes de Vicente

Nascido na ilha de Santiago em 1980, Abraão Aníbal Fernandes Barbosa Vicente, o Abraão Vicente, vive em Portugal desde 1998, onde se formou em Sociologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Abraão Vicente possui um blog - http://abraaovicenti.blogspot.com/ - com diversas séries expostas, carecendo das fichas técnicas das obras.

Vicente surpreende pela variedade das técnicas apresentadas, que vão desde fotografias com cenas de batuques, de senhoras e senhores que sofrem a intervenção da pintura, criando um belo efeito plástico na série “Len di li”, a trabalhos extremamente expressivos como seus óleos sobre papel, delicadas cenas de nu em aquarelas, e instigantes trabalhos conceituais em que alia grafismos e imagens. Diversidade que poderia traduzir indecisão em sua produção, porém, felizmente, demonstra segurança, conhecimento e, principalmente, ousadia na trajetória deste jovem artista cabo-verdiano.

Em duas séries, “Retratos” e “Passports Frames”, Vicente apropria-se de passaportes para criar tensas e inquietantes obras acerca de um documento que, se pode dizer, mais do que nunca se tornou objeto de desejo do homem cabo-verdiano. Entretanto, antenado com o momento em que vive, o artista transcreve o sugestivo título de uma música dos Rolling Stones em um de seus trabalhos: you can’t always get what you want.

Despedaçando o documento do passaporte, rasurando-o, contaminando-o com pinceladas e traços de giz agressivos, pedaços de fotografias, partes do corpo humano desenhadas e textos nervosos e caóticos, Vicente denuncia o desespero a que conduz as pessoas a abandonar suas famílias e o país. Estendendo o olhar, podemos dizer que ao desfigurar tão importante documento, o artista levanta profundas discussões a respeito da identidade desse homem e da diáspora cabo-verdiana em diversos países como Suécia, Eslovênia, Estados Unidos, Brasil, Portugal, Cuba e Venezuela.

Dialongando com os traços viscerais e o grafismo neo-expressionista típico do americano Jean-Michel Basquiat – não há como não lembrar de suas obras –, Vicente mostra, pela impessoalidade das figuras representadas, o cabo-verdiano que emigra, o cidadão comum, que busca suprir suas necessidades no estrangeiro. Figuras fragmentadas, nunca representadas de corpo inteiro, despedaçadas como a vida que pretendem abandonar e a incerteza de um futuro promissor no destino pretendido. Assim como o próprio dilaceramento do documento demonstra a dificuldade de alcançar o objetivo, a saída do país. O próprio dilaceramento de Cabo Verde.

Pluralidade, diversidade, multiplicidade na escolha dos meios para expor suas obras. Abraão Vicente é um artista em sintonia com as questões que afligem o seu tempo, renovando e não se omitindo em denunciar as novas vertentes de um tema que sempre atravessou a cultura cabo-verdiana: a emigração. Seus trabalhos são impacientes e inquietos pelo tratamento dado e pelo o que fazem pensar, deslocando o observador da pura passividade da contemplação.

Abraão Vicente, um novo nome das artes plásticas de Cabo Verde que merece estar ao lado de artistas inovadores e ousados como Mito e Tchalê Figueira.


Bibliografia:
ALMADA, David Hopffer. A identidade cultural cabo-verdiana. In: Caboverdianidade & Tropicalismo – 2ª Jornada de Tropicologia. Recife: Massangana, 1992.

ALMADA, José Luís Hopffer (ORG.). Mirabilis – de veias ao sol – antologia dos novíssimos poetas cabo-verdianos. Praia: ICL, 1988.

ANDRADE, Mario de. Antologia Temática de Poesia Africana Vol. 1 – Na Noite Grávida de Punhais. Lisboa: Sá da Costa, 1977. 2ª ed.

ANDRADE, Mario de. Antologia Temática de Poesia Africana Vol. 2 – O canto armado. Lisboa: Sá da Costa, 1979.
GOMES, Simone Caputo. Rostos, gestos, falas, olhares de mulher: o texto literário de autoria feminina em Cabo Verde. In: CHAVES, Rita e MACEDO, Tânia. (Orgs.) Marcas da diferença: as literaturas africanas de língua portuguesa. São Paulo: Alameda, 2006.

Sobre Abraão Vicente na Internet:
http://www.confrariadovento.com/revista/numero18/artista.htm
http://www.artafrica.info/html/artistas/artistaficha.php?ida=195

Textos sobre emigração na Internet:
http://www.cndhc.org/?sec=5&sub=5&art=170
http://arquivo.vozdipovo-online.com/conteudos/cabo_verde/emigracao_ilegal:_cabo_verde_quer_negociar_restricao_a_entrada_de_africanos/
http://noticias.uol.com.br/ultnot/lusa/2006/05/28/ult611u72222.jhtm
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u95700.shtml

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Mito e a Sopinha de Alfabeto: renovação nas artes de Cabo Verde

Por Ricardo Riso
Mito, pseudônimo de Fernando Elias Hamilton Barbosa, é um nome inquietante na cultura cabo-verdiana do pós-independência. Artista multifacetado, atua nas letras e nas artes plásticas com desenvoltura e fina ironia. Mito não se prende a gêneros ou estilos, transita por várias linguagens e meios para expor suas obras. A ousadia e a diversidade são algumas das suas características, e o diálogo com as vanguardas contemporâneas aparece com freqüência em seus trabalhos, algo pouco comum entre os artistas do arquipélago.

Com o objetivo de movimentar as artes em Cabo Verde, dominado pelo cantalutismo do país recém-independente e no ano do cinqüentenário da revista Claridade, publicação que marca a moderna poesia cabo-verdiana, em 1986, Mito, acompanhado de Arnaldo Silva, dos poetas Eurico Barros e Filinto Elísio, e do fotógrafo João Nelson, lança a revista Sopinha de Alfabeto.
http://www.tanboru.org/mito/sopinha/SP1capa.htm

A Sopinha de Alfabeto surge com a proposta de ampliar os temas artísticos no arquipélago, fazendo do humor e da ironia as suas principais bandeiras. Contudo, tal ousadia desejada por alguns, não seria bem digerida por outros. Em prefácio à reedição de Sopinha de Alfabeto, Lonha Heilmair afirma que:

Se o projecto da Sopinha de Alfabeto foi de molde a suscitar entusiasmos e mudar paradigmas, ele também provocou reacções menos benevolentes por parte de quem se sentia no dever de velar pela manutenção de algum rumo pretensamente sério da criação artística, porque relacionado, por definição, com um discurso oficial institucionalmente progressista. Assim, a Sopinha foi caracterizada como “sinal de decadência infantil”, não tendo a revista “importância nenhuma” (Manuel Delgado in: Michel Laban, Cabo Verde - Encontro com Escritores, tomo II, Porto 1992, p. 758 e 762, respectivamente).

Entretanto, ao visitarmos a publicação em formato eletrônico no site de Mito - http://www.tanboru.org/mito/sopinha/SP1capa.htm -, deparamo-nos com uma revista ousada, pretensiosa, híbrida. Não há como negar a proposta de renovação da Sopinha. Atrevida, sai do lugar-comum em meio às comemorações da Claridade, já na primeira página demonstra os caminhos que pretende seguir e a proposta plural e aglutinadora dos que querem mostrar suas obras:

Sopinha de Alfabeto surge com o objectivo de criar ou tentar criar um espaço livre de publicação e divulgação no domínio das Artes e Letras, não estando enfeudado a nada e a ninguém nem representará o compromisso com quaisquer padrões estético-formais e/ou mesmo temáticos.

Neste número publicamos apenas poemas, caricaturas, desenhos e fotografias mas as páginas deste projecto estão disponíveis para qualquer outro género literário, do ensaio às reportagens, da poesia à crítica literária e do desenho à fotografia.
http://www.tanboru.org/mito/sopinha/SP1Pag1.htm

Posteriormente, essa postura seria radicalizada e celebrada no início da década de 1990, com a antologia Mirabilis – de veias ao sol, organizada por José Luís Hopffer Almada, o grande marco da renovação literária cabo-verdiana.

Em agradáveis vinte e seis páginas, a Sopinha de Alfabeto apresenta variadas formas de linguagem. Mito comparece, dentre outras ilustrações e poemas, com o belo “Poemito Concreto”, além do desencanto com as conquistas sociais não alcançadas pelo país independente, o curto e agressivo poema cheio de assonância e aliteração “A revolta e sua inflação”:

A vida é cara meu caro
Cara de jarro
Carro de barro
Farejo o meu charro
Fumo o cigarro da farra
E escarro na cara do descarado
(MITO - 11 - 84)

http://www.tanboru.org/mito/sopinha/SP1Pag13.htm

O bom poeta Filinto Elísio apresenta poemas em estilos vários: o hai kai, figuras de linguagem como a assonância, a prosa poética estão entre as características formais de sua poesia. Com temáticas inovadoras no panorama literário do país. Utilizando-se da versificação livre futurista, sua matéria poética surge em cenas do cotidiano como no poema “Ao Mito”:

aquela do coveiro boa gente que a Deus pede mais morte
e o recurso de mais pão
aquela do artista travestido de absurdo
e subversivo mefisto das horas substantivas
aquela da mulher náufraga e sem rumo
que como as ondas do mar vem dar às nossas praias íntimas
aquela que nos abre a flor e nos fecunda a alma
aquela do cão vadio que ninguém dá a mínima
mas que o menino triste acompanha e quer adoptar
aquela da estrela cadente na qual "o da passiva"
viaja na ponta do charro
aquela da "luamito" da metalinguagem futurista
aquela da boca do lixo engolindo os nossos titãs
aquela do sol com vergonha de aquecer corações
aquela do coveiro boa gente e etc
aquela cena da vida para ser vivida...
http://www.tanboru.org/mito/sopinha/SP1Pag3.htm

Filinto Elísico também lança poemas muito bem elaborados, com no ótimo e metrificado “A poesia do reverso”

lusoáfricas berço terço
o terceto da nova poesia

onde passava a Passargada
passa agora o pássaro da paz

tão linda e ledice lírica
vero verso e vertigem

cantiga antiga do amigo
contigo ate canto o cantar

o trottoir da trova trolley
que troveja tartex e tempo

o silêncio silex do Simas
da sirene morna muda

lá onde a noite atinge
de esfinge o Conde finge

o poeMito faz lexema
no pão da poesia morena

à Cris à cruz à luz
o sufixo e o crucifixo

o lixo o Kitsch o bicho
dura lex pax lua

o perverso e o avesso
na poesia do reverso ...
http://www.tanboru.org/mito/sopinha/SP1Pag21.htm

O outro poeta que forma o corpo da Sopinha de Alfabeto, Eurico Barros, possui uma poesia intimista, existencialista, crítica do passado histórico como em “Acidente Danado”:

...e ficou a imagem cósmica
de Titicaca
Tibete

dos deuses que levaram

a outra vida
essa vaga possibilidade de ser feliz,
deixando-nos com o Deus

ocidente

danado.

... e ficou o sofrimento bíblico,
captando a telepoesia

dos espíritos

da antiga

Tibete
Titicaca
... e ficou a imagem religiosa do ÉDEN DESABITADO.
http://www.tanboru.org/mito/sopinha/SP1Pag23.htm

Barros experimenta grafismos e ilustrações para seus poemas. O poema “‘o’culto” demonstra a agonia dos tempos de distopia, chamando para a realidade a perplexidade causada pela desilusão com o país:

http://www.tanboru.org/mito/sopinha/SP1Pag11.htm

Para fechar a publicação, uma ilustração de Mito antecipa as reações que Sopinha de Alfabeto cometeria no meio cultural cabo-verdiano:



Neste texto, mencionei apenas o primeiro número da revista, mas está disponível no site o segundo número, este já com participação maior de artistas e outras propostas estéticas estão presentes. Ao digitalizar e disponibilizar a Sopinha de Alfabeto em seu site, Mito presta uma linda homenagem ao percurso recente da literatura de seu país. Para quem admira ou pesquisa a arte do arquipélago, encontra ali um excelente material para compreensão do desenvolvimento literário de Cabo Verde.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Dia da Consciência Negra


Hoje, 20 de novembro, é o Dia de Zumbi, o Dia da Consciência Negra.

Dia para pensarmos nossas relações raciais/sociais. Dia para visualizarmos os muros invisíveis e continuarmos na incessante luta para rompê-los.

Dia para celebrar a diferença, o outro, o excluído.

Dia da busca pela igualdade, pela democracia racial, pelas oportunidades eqüitativas na educação, no mercado de trabalho, na vida.

Uma busca de todos os dias...

Ricardo Riso

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Amaury Mendes Pereira: Trajetórias e perspectivas do Movimento Negro Brasileiro

clique na imagem para vê-la ampliada

Lêdo Ivo: Réquiem, o longo caminho entre dois nada


"A linha que separa a terra do mar fulgura como um raio."

Ao Lêdo Ivo, ao Gonçalo e à família com carinho e admiração
.


Entre as artes, uma distingue-se pelo seu poder insuperável de criar imagens: é a poesia, que reina soberana nos versos recheados de metáforas imprevisíveis feitas pelos poetas.

Feliz o poeta revelador da palavra que “traz a marca / das coisas escondidas para sempre”. Feliz por falar de “Réquiem”, o novo livro de poesia de Lêdo Ivo. Lançado pela Contra Capa em bem cuidada edição, com fotos das obras de Gonçalo Ivo, seu filho, e um desenho visceral de Gianguido Bonfantti. Sobre as dezoito imagens de Gonçalo criadas para este livro propõem um profundo diálogo com os poemas. A fragmentação das imagens pelas fotografias, a serenidade das pinturas sobre machucadas superfícies remetem às reminiscências versadas pelo poeta.

Densa é a travessia de “Réquiem”. São longos poemas com reflexões sobre a trajetória da vida e da proximidade da morte, em espera tranqüila. Árduo o trabalho do poeta que rememora o passado, busca imagens esgarçadas do outrora traduzidas em vocábulos que anunciam a condição do que foi perdido ou restou: “estilhaços”, “escombros”, “sobras”, “destroços”. “Tudo o que perdi, perdi para sempre”, vaticina o poeta.

Diante dos mares recriados das suas alagoas, o poeta repensa a sua caminhada em longos versos contrastando com o tempo exíguo:

“e agora, diante do oceano exato e visível, diante do
xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx[grande mar prosódico
nada sei sobre a travessia.
Após tantas viagens, esta é a última fronteira
que me cabe transpor.”

Serenidade, sabedoria, paz, despedida... a palavra poética a conduzir a travessia na mente do leitor em belas imagens de um eu lírico profundamente intimista:

“Agora o silêncio do mundo lacra a minha alma.
O róseo raio da rósea alvorada
aponta para a noite escura.
De mim mesmo afastado pela morte,
essa concha que não guarda o barulho do mar,
é aqui que termina, na lama negra dos maceiós,
o meu longo caminho entre dois nadas.”

Sensível e comovente, “Réquiem” nos faz repensar a existência.

Ricardo Riso

Réquiem
Lêdo Ivo
Pinturas de Gonçalo Ivo
Desenho de Gianguido Bonfantti
Editora Contra Capa
64 páginas – 16,8 x 24,5 cm
2008

Imagem extraída de

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Sararau - encontros com a poesia e as literaturas africanas

Um ótimo site para divulgação das literaturas africanas de língua portuguesa é o Sararau - encontros com a poesia e as literaturas africanas, www.sararau.com.br . Administrado pela Profa. Claudia Fabiana, o site procura difundir as propostas da lei 11.645/08, e ser um espaço aberto para os amantes da poesia, da arte e da literatura.

Nas postagens recentes, encontramos suas impressões sobre a FLIPORTO, evento literário realizado no início deste mês em Porto das Galinhas. Há entrevista com Pepetela e resenhas das palestras de Tony Tcheka, Paulina Chiziane, Luís Carlos Patraquim e outros em uma escrita singela.

Vale a visita!

Abraços,
Ricardo Riso

domingo, 16 de novembro de 2008

José Luís Tavares - Lisbon Blues (livro lançado no Brasil)

A Escrituras Editora - http://www.escrituras.com.br/ -, dentro da Coleção Ponte Velha, edição apoiada pelo Ministério da Cultura de Portugal e pela Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas (DGLB), publica Lisbon Blues, de José Luiz Tavares, organizado por Floriano Martins e ilustrações de Fernando Pacheco.

Este livro reúne dois títulos de José Luiz Tavares e o posfácio apresenta ensaio de José Luís Hopffer C. Almada (Cabo Verde, 1960), poeta e editor, já com destacada presença no meio editorial de seu país.

No poeta José Luiz Tavares, como em poucos poetas contemporâneos de língua portuguesa, é flagrante a irrupção de novos paradigmas mediante o primacial recurso à reinvenção da linguagem.

O já relativamente longo percurso literário de Tavares tem o seu ponto de partida no Liceu Domingos Ramos da Praia, onde co-fundou e dirigiu a folha juvenil Aurora (de iniciação às lides literárias), no já longínquo ano de 1987. Então “aprendiz de poeta e de ficcionista”, embebido de insaciável curiosidade intelectual e em pleno processo de maturação criativa, Tavares foi freqüentador regular das tertúlias literárias que, por essa altura, pululavam entre os jovens revelados dos anos oitenta na cidade da Praia.

Apaixonado cultor de poesia, insaciável na busca do novo na linguagem e na perscrutação do insondável para além do real cotidiano, municiado com os conhecimentos da técnica do verso, da tradição poética e da poesia contemporânea lusógrafas, da teoria da literatura e da filosofia que a formação universitária e um trabalho cotidiano, persistente, as leituras, múltiplas e transpirantes, José Luiz Tavares propôs-se ser um partícipe ativo e fecundo na invenção de um dizer novo, não só na poesia caboverdiana, como também em toda a poesia de língua portuguesa.

Sobre o autor:
José Luiz Tavares nasceu em Cabo Verde, em 10 de junho de 1967, mas reside em Portugal, onde estudou Literatura e Filosofia e onde escreve poesia. Com o livro Paraíso Apagado por um Trovão conquistou o prestigiado Prêmio Mário António – poesia 2004, da Fundação Calouste Gulbenkian, juntamente com a poeta angolana Ana Tavares. Tendo como grande referência o brasileiro João Cabral de Melo Neto, um dos grandes poetas da Língua Portuguesa, José Luís Tavares confessa que trata a escrita com o rigor matemático, como uma arte cujo produto acabado depende de apetrechos técnicos. "Não se trata apenas de inspiração, sonho ou do estado de espírito, mas também de habilidades que se desenvolve com a prática", frisa o poeta comparando a arte da escrita com a arte de pintar ou de esculpir. "As palavras são meus instrumentos de trabalho para pintar ou esculpir o meu pensamento através de parâmetros técnicos, com recurso à teoria e à metodologia", sublinhou.

A Coleção Ponte Velha foi criada por Carlos Nejar (Brasil), poeta, ficcionista, crítico e membro da Academia Brasileira de Letras, e pelo poeta António Osório (Portugal).

Livro: Lisbon Blues
Autor: José Luiz Tavares
ISBN 10:
ISBN 13: 9788575313121
Gênero: Poesia/Literatura Caboverdiana
Edição: 1ª Edição
Páginas: 208
Formato: 14x21
Peso: 0,245
Preço: R$ 32,00

Cabo Verde – José Luís Tavares e Glaúcia Nogueira ganham concurso literário promovido pelo MEC

A obra “Os secretos acrobatas” de José Luís Tavares foi premiada na categoria Obra Africana – poesia e a jornalista brasileira residente em Cabo Verde, Glaúcia Nogueira, foi premiada na categoria Biografia com a versão infantil de “O Tempo de B. Léza – Documentos e Memórias", primeiro livro da autora, no II Concurso Literatura para Todos, promovido pelo Ministério da Educação (MEC). Esse concurso é voltado para estimular a produção literária destinada a jovens e adultos em processo de alfabetização.

O resultado ainda é provisório, o oficial sairá hoje. De qualquer maneira, meus parabéns para o poeta cabo-verdiano José Luís Tavares e para a jornalista Glaúcia Nogueira!

Para ver os outros premiados pelo MEC, acesse
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/concliteratura.pdf

Para ler a matéria publicada no MEC a respeito do concurso, acesse
http://portal.mec.gov.br/secad/index.php?option=content&task=view&id=138&Itemid=278

Abraços,
Ricardo Riso

Siaka, an african musician

por Ricardo Riso

Dei sorte ao escolher o primeiro documentário da Mostra do Filme Etnográfico 2008. Siaka, an african musician, produção francesa de Hugo Zemp, apresenta o multiinstrumentista que dá título ao filme. Siaka toca o “grande” balafone senufo, o “pequeno”balafone maninka, a harpa kora, guitarra elétrica e outros instrumentos no grupo de Soungalo Coulibaly, artista já falecido, líder de um conjunto que tocava em festas tradicionais pelo país, tendo alcançado reconhecimento internacional enquanto esteve em atividade.

Siaka executando o balafone

Passado na Costa do Marfim, o documentário surpreende por mostrar o hibridismo cultural do país metonimizado na figura contagiante do músico Siaka. Apaixonado pela música das suas etnias (mãe Senufo e pai Mande – de Burkina Farso), Siaka transpõe para o seu som ritmos diversos procurando aglutiná-los e revela ótimas misturas. Assim, pega referências da música do Mali, país de sua esposa, ritmos da Costa do Marfim tocados pelo grupo de Soungalo e sons de sua aldeia, sem temer a inserção da guitarra elétrica entre os instrumentos tradicionais africanos.

Sua desenvoltura entre os ritmos e instrumentos é impressionante. Podemos vê-lo compondo, aprendendo novos ritmos, ensinando as crianças e tocando nas várias festas tradicionais da Costa do Marfim; seu respeito aos mais velhos que o ensinaram a tocar o balafone e a generosidade com Soungalo. Siaka é uma pessoa extremamente simples, que faz da música o seu prazer, a forma de sustentar a sua família, de manter a sua cultura sem medo da modernidade, ou seja, a música é sua forma de viver e de expressar-se.

Além de apresentar a figura encantadora de Siaka, o documentário mostra a influência árabe no país, as animadas festas de ritos de passagem organizadas pelas mulheres, a confecção dos instrumentos do grupo de Soungalo Coulibaly e o cotidiano do simpático músico.

Aos sons incríveis extraídos dos balafones e da harpa kora, principalmente, o tempo de duração do filme passa com rapidez e leveza. Recomendo-o para quem quer conhecer a diversidade sonora do continente africano. Para isso, basta ir ao Museu da República (Rio de Janeiro) e solicitá-lo em uma das "cabines de visionamento", até o dia 19/11. É gratis.

O texto a seguir foi extraído de

http://www.worldofworship.org/pdfs/2_films_on_African_music_by_Hugo_Zemp.pdf


Siaka, an African musician
79 minutes
Siaka Diabaté is a musician at Bouaké, the second largest town in the Côte d’Ivoire. Through his mother's family he is Senufo, but through his father's ancestry he considers himself a Mande griot. He is a multi-talented professional musician, and for the local festivals plays five instruments: the Senufo and Maninka balafons, the kora harp, the dundun drum and the electric guitar.
This film shows Siaka playing in the group led by Soungalo Coulibaly before his death in 2004, including the use of jembé drums, which we also see being made.
Using long continuous shots that give priority to the music and to what Siaka and Soungalo have to say, this documentary introduces the audience to a fascinating
world of urban music that incorporates traditional songs and dances by griots. Shot on site during various festivities, this film presents a living portrait of this lovable and highly skilled musician working in a traditional environment, adding another dimension to the pleasure of seeing and hearing him during his international tours.
Easy to use for teaching, with 7 chapters: Introduction; The large Senufo balafon; the little Maninka balafon; Workshop of jembe drums; The dundun drum; The kora
harp; The electric guitar.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

África?, diversidade de trabalhos marca a exposição

Por Ricardo Riso

Na sexta-feira terminará a boa e instigante exposição África?, com curadoria de Roberto Conduru, na Galeria Cândido Portinari da UERJ. Trata-se de uma ótima oportunidade para conhecer a recente produção de jovens artistas, com obras inspiradas na cultura afro-brasileira e suas matrizes africanas.

Essas propostas já nos legaram excelentes trabalhos como os de Hélio Oiticica, a constante e de altíssimo nível obra de Rubem Valentim, as belas esculturas orgânicas prontas para voar de Mestre Didi, além de Ronaldo Rêgo, Artur Bispo do Rosário, Abdias Nascimento e tantos outros que trilharam as incontáveis possibilidades de criação a partir das nossas raízes africanas e afro-brasileiras.

Conduru, com a competência característica, foi extremamente feliz ao abordar a multiplicidade temática e as várias linguagens apresentadas pelos artistas, o que demonstra a nossa complexa relação acerca da participação do que seria africano ou afro-brasileiro em nossa cultura. Daí, o pertinente título da exposição: África?, pois este questiona exatamente o conceito predominante do que representa o continente africano em nosso imaginário, sempre demonstrado com formulações simplórias e estereotipadas. É inevitável ao associarmos o título proposto pelo curador e não estendermos o pensamento à outra questão: Áfricas? O que seria uma apropriação mais ampla diante das várias manifestações africanas em nosso país e relidas por nós, alcançando novos prismas e diferenciando-se do outrora vindo da outra margem do Atlântico.

Logo, tal diversidade é natural em nossa cultura, conduzindo a uma fragmentação, a um hibridismo intenso que angustia quem pretende definir essas propostas sem considerar o constante diálogo e confronto entre as referências culturais, formadoras de nossa população. Um exemplo clássico poderia ser o nosso sincretismo religioso.

Ao olharmos para os trabalhos de África?, apreende-se como a hibridização cultural encaixa-se com as inquietações contemporâneas no campo das artes plásticas, sem abandonar a crítica social em relação à história do negro brasileiro. Quando se está à frente de trabalhos como os de Leila Dazinger, pode-se perceber esta linha de pensamento. Ao pintar sobre folhas de jornais, a artista denuncia a exclusão da situação desfavorável do negro, negada nos principais canais de comunicação.

Outra proposta interessante é a de Cristina Salgado e seus singelos rostos/máscaras indefinidos, imprecisos, inquietantes. Diante desses rostos feitos por Salgado, questiona-se qual é o rosto, ou melhor, quais são os rostos do(s) afro-descendente(s), escancarando o multiculturalismo brasileiro.

A instalação de Cristina Pape aproveita-se de algo muito comum em nossas vidas: as plantas de cura e as usadas na culinária. Um trabalho lírico, orgânico e irônico que mostra a forte presença dessas plantas e que esquecemos de sua origem africana.

Como não poderia deixar de ser, a presença da religiosidade encontra-se em Wuelyton Ferreira com entidades recriadas pelo artista, e a leveza apropriativa das missangas de Junior de Odê em uma instalação simbolizando os orixás. Assim como nas belas fotografias, carregadas em erotismo de Francisco Costa.

A exposição África? vale pela ausência de respostas. Vale pelas perguntas que faz ao visitante. Vale pelos trabalhos de alta qualidade, pela boa montagem. Vale por falar de uma parte da nossa cultura que tentam minimizar, mas que está aí, está por toda a parte, está em nós.


ÁFRICA?
Local: Galeria Cândido Portinari / UERJ
Rua São Francisco Xavier, 524 – Maracanã
Tel.: (21) 2587-7796 / 7182
Inauguração: 14 de outubro de 2008, a partir das 19h
Visitação: até 14 de novembro, de segunda a sexta, das 9h às 20h
ENTRADA FRANCA

UFRJ - Literaturas Africanas: conhecer para amar, dias 17 e 28/11





LITERATURAS AFRICANAS: CONHECER PARA AMAR

Dia 17 de novembro de 2008 (segunda-feira)

OLHARES SOBRE A POESIA E A FICÇÃO DE ANGOLA E MOÇAMBIQUE
9:00 - Abertura – Auditório G1
9:15 - Declamações de poemas africanos pelos alunos

9:30 às 11:00 – Mesa-redonda com os escritores Peptela e Ondjaki– Auditório G1



11:00 às 11:15 - Declamações de poemas africanos pelos alunos
11:15 às 13:00 – Mesas de Comunicações


Mesa 1: G1
POESIA E PINTURA EM AUTORES DE CABO VERDE E MOÇAMBIQUE

Coordenador: Diego Alves Moreira
1. Vinícius Antunes da Silva: Parábola caboverdiana: Almada e Figueira entre o Éden e o Hades
2. Giselly Pereira: O mar e a mulher em Cabo Verde através da poesia de Vera Duarte e da pintura de Hileno Barbosa
3. Viviane Mendes de Moraes: Memória, mito e erotismo em José Craveirinha e Malangatana Valente

Mesa 2: G2
A REINVENÇÃO DAS PALAVRAS NA FICÇÂO DE MIA COUTO E LUANDINO VIEIRA

Coordenadora: Roberta Guimarães Franco
1. Ramon Ramos: A terra de hoje e os rios de ontem
2. Fernanda Drummond: Luandino Vieira: umas veredas
3. Paulo José Filho: Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra: aspectos da oralidade que geram o real e o fantástico

Mesa 3: E1
POESIA MOÇAMBICANA

Coordenadora: Edna Nazaré Batista Tourão
1. Kim Albano de Barros e Élvio Cotrim : Rui Knopfli e uma poética da citação
2. Thaís Santos: A dinamicidade temporal mítica na poética de José Craveirinha: a cosmogonia de uma nova literatura

Mesa 4: E2
O RISO E A IRONIA EM TEXTOS ANGOLANOS E CABO-VERDIANOS

Coordenadora: Lucimar Francisco Ribeiro
1. Priscila da Silva Campos: Viriato da Cruz e o transcriar irônico da angolanidade
2. Nilzelaine Silva dos Anjos: Aspectos da crônica e da ironia na poesia de Viriato da Cruz
3. André Salviano: João Melo espelhando Machado de Assis

13:00 às 14:00 – almoço

14:00 às 15:45 - Mesa-Redonda sobre Ficção – Auditório G1

1. Otavio Meloni (coordenador): Traços poéticos, fronteiras da língua
2. Renata Flávia: A Literatura Angolana e seus espaços ficcionais
3. Roberta Franco: Luandino Vieira, Pepetela e Ondjaki: infância e violência em três momentos da literatura (e da história) de Angola
4. Robson Dutra: O terrorista de Berkeley, Califórnia, de Pepetela e a cartografia identitária de Angola

Dia 28 de novembro de 2008 (sexta-feira):

9:00 às 11 h - Projeção do filme O Testamento do Sr. Napumoceno –Auditório G1

UM POUCO DE ANGOLA E CABO VERDE
11:00 às 13:00 – João Melo (Literatura, Sociedade e História) , Brito Semedo (Cabo Verde: A Construção da Identidade Nacional) , Mito e Fátima Fernandes
Coordenação Dra. Laura Padilha – Auditório G1

13:00 às 13:15 - Declamações de poesia pelo grupo “Metaforia”
Coordenação: Dra. Teresa Salgado – Auditório G1

13:15 – Autógrafos do livro Filhos da Pátria, de João Melo


*E-mail enviado pela Profa. Carmen Lucia Tindó Secco, no 12 de novembro de 2008, às 03h32.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Moçambique - literatura e artes plásticas

Ontem, preparei uma apresentação para a disciplina de Estágio de um tema que muito me agrada: as letras e telas moçambicanas. A partir da diversificada produção de Mia Couto, com trechos de romances, contos e crônicas tracei diálogos com as produções dos artistas plásticos Malangatana Valente, Roberto Chichorro e Naguib Abdula.

Comecei com a crônica de Mia Couto, “Perguntas à Língua Portuguesa”. Nesta, apresentei sua postura em relação ao uso da oratura na escrita, os neologismos e suas brincriações, e a emancipação de um falar moçambicano independente à matriz européia.

A seguir, selecionei um trecho inicial de “Terra Sonâmbula” e apontei a característica expressionista do romance, ambientado em tempos de guerra, com intensa presença de cores como o vermelho e com a fragmentação da família, das perdas da raízes. Daí a comparação com a tela “Onde está a minha mãe, meus irmãos e todos os outros?” de Malangatana. Ambas, tratam de uma busca incessante das raízes perdidas em tempos de horror e inconseqüências desestabilizadoras da sensibilidade humana.

Depois, li trechos da crônica “O Gênio Ingênuo" de Mia Couto a respeito da obra de Malangatana Valente. Basicamente, comentei características formais e temáticas da pintura do pintor da Matalana como o surrealismo e a presença dos sonhos em “Monstros grandes comendo monstros pequenos”, explorando a representação de seres do imaginário da etnia ronga como os shetanis, lumpfanas, xicuembos etc., as cores vibrantes, os excessivos elementos asfixiados no espaço da superfície pintada e a analogia com a situação moçambicana perante o colonialismo português, o sincretismo religioso em “O feitiço”, e a planaridade da tela numa relação próxima com a técnica do all over de Jackson Pollock.

Ao usar o conto “O cego Estrelinho” de “Estórias Abensonhadas”, atentei-me às novas formas de olhar engessadas em meio à voracidade da guerra, expressas no conto quando o cego Estrelinho conduz sua guia além dos vários firmamentos com as pinturas oníricas de Roberto Chichorro. Destaquei o lirismo da narrativa coutiana acompanhado pelas cores e temas expostos por Chichorro. O predomínio da cor azul e a analogia com o infinito, a liberdade e a imaginação criadora, segundo Gaston Bachelard; os olhos também na cor azul, sendo o surrealismo onírico citado por Carmen L. T. Secco, os olhos dos sonhos a imaginar uma vida sem as atrocidades reinantes dilaceradoras da paz entre os homens. Além das alegorias de pássaros, do ar como elemento da natureza, representando os vôos da imaginação e da liberdade.

Ainda com Mia e Chichorro, aproveitei para mostrar dois momentos de esperança na história recente de Moçambique. O primeiro está retratado na tela “sonhar amanhã sem lágrimas”, onde Chichorro transmite toda a euforia do momento de nascimento de Moçambique independente com destaque para a representação de duas personagens lendo livros. Lembro que o idioma português, ou seja, a língua do colonizador, foi utilizado como arma para unificação das etnias contra o regime então vigente. No segundo momento, usei o conto “Chuva: a abensonhada” para falar do encerramento da guerra fratricida, a desconfiança inicial do narrador com o futuro e a entrega feliz, lúdica, com a paz que se inicia.

Para finalizar, abordei possíveis relações da obra coutiana com a arte multifacetada de Naguib. Em texto para catálogo de sua exposição, em que Mia frisa o caráter plural da arte do artista da região do Tete. A respeito da arte deste artista, Mia comenta: “obra de mestiçagem, sem buscar as identidades mas as fronteiras, os cruzamentos e as viagens. Nos seus quadros reconhecemos os múltiplos tempos do nosso tempo moçambicano, as diversas raças do nosso ser colectivo”.

Foi explorando o multiculturalismo nas obras de Naguib que comentei as múltiplas linguagens utilizadas por ele, como a fotografia, a pintura, o uso de jornais, sites specifics, grafismos como hieróglifos nos remetendo a um passado esgarçado na tentativa de revivê-los. Além disso, sua arte é sensual, erótica, livre e celebradora da vida de um novo tempo moçambicano, com destaque para as mulheres zoomorfas.

Para finalizar a apresentação, entre Mia e Naguib, em comum, a linha tênue da ancestralidade/modernidade. Em Naguib, os procedimentos contemporâneos: fotografias para retratar a árvore sagrada, o embondeiro, com pinturas rupestres. Em Mia, o conto “O embondeiro que sonhava pássaros” de “Cada homem é uma raça”, também aponta para o resgate das raízes perdidas por séculos de colonização, representado pelo menino Tiago, filho de portugueses no tempo da colonização, o seu envolvimento com a cultura local e a presença do animismo africano trabalhado com brilhantismo pelo narrador.

Com isso, procurei mostrar a confluência das artes desses artistas moçambicanos, perseguidores da memória esfacelada, dos sonhos esgarçados, desbravadores das sendas de lirismo da poesia em um mundo dominado por mentes obliteradas. Artistas que prezam por expor um país multicultural, sem omitir os olhares atentos às mazelas sociais e políticas na expectativa de um tempo novo para Moçambique. Um tempo sem a crueldade do outrora e distante da perversidade neoliberal da atualidade.

Para quem quiser acessar a apresentação, basta acessar este endereço:
Ricardo Riso

Ricardo Riso: palestra no SESC/Engenho de Dentro

No dia 06/11, fui convidado para ministrar uma palestra no SESC/Engenho de Dentro que antecederia a peça "O Auto da Escrava Anástácia", da companhia Nossa Senhora do Teatro - http://www.nossasenhoradoteatro.com/ -, dirigida por Ricardo Andrade Vassílievitch, com pesquisa histórica realizada pela minha amiga Nágila Santos, editora da revista acadêmica, África e Africanidades - http://www.africaeafricanidades.com/ .

Para esta ocasião, escolhi como o tema a figura do contratado nas lavouras de São Tomé e Príncipe: as mazelas sofridas, angústia, evasão, revolta, identificação com a nova terra. Selecionei poemas de Angola (Agostinho Neto), Cabo Verde (Ovídio Martins) e São Tomé e Príncipe (Conceição Lima), procurando fazer um contraponto com a denúncia durante o período colonial em Neto e Martins, e o revisionismo proposto por Lima no pós-independência. Assim sendo, o título para a palestra foi: "Representação dos Contratados em São Tomé e Príncipe na poesia de Agostinho Neto, Ovídio Martins e Conceição Lima".

Foi uma experiência interessante, pois deparei-me com um público heterogêneo e fora do meio acadêmico.

Agradeço à Nágila e ao Ricardo Andrade pela oportunidade.

Abraços,
Ricardo Riso

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

II Encontro de Cinema Negro acontece no Rio de Janeiro


NOTÍCIAS*
II Encontro de Cinema Negro acontece no Rio de Janeiro
Publicação: segunda, 10 de novembro de 2008.

Cinema, seminários e oficinas fazem parte da programação do II Encontro de Cinema Negro Brasil, África e América Latina, que acontecerá de 13 a 24 de novembro no Rio de Janeiro. Idealizado por Zózimo Bulbul, o evento reunirá realizadores afro-descendentes da América Latina, de diversos estados do Brasil e do continente Africano para promover um fórum de reflexões e idéias.

O evento acontecerá espalhado pela cidade. No Centro, terá palco no Cinema Odeon BR, Centro Cultural Justiça Federal, numa tenda montada na Lapa e encontros diários pela manhã no Centro Afro Carioca de Cinema. Na Zona Sul, no recém-inaugurado Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico.

Coordenado por Zózimo Bulbul, o encontro visa a divulgar a influência africana na formação da identidade cultural brasileira e latino-americana.

* Fonte: http://www.guiadasemana.com.br/noticias.asp?ID=11&cd_news=46260

domingo, 9 de novembro de 2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

UERJ - Cursos de especialização do Instituto de Letras

29/10/2008
http://www.uerj.br/modulos/kernel/index.php?modulo=noticias&cod_noticia=2740

Estão abertas até o dia 19 de novembro as inscrições para diversos cursos de especialização do Instituto de Letras. Os cursos oferecidos são: Língua Portuguesa (30 vagas), Literatura Brasileira (30), Língua Latina (24), Língua Italiana – Tradução (30), Tradução em Língua Francesa (25), Literaturas de Língua Inglesa (30), Literatura Portuguesa (15), Lingüística Aplicada: inglês como língua estrangeira (25).

As inscrições devem ser feitas de segunda a sexta-feira, das 13h às 17h, na secretaria dos cursos de especialização, na sala 11.136, 11º andar, bloco F do Pavilhão João Lyra Filho, no campus Maracanã (Rua São Francisco Xavier, 524). Informações pelo telefone 2587-7271 ou pelo e-mail: especletras@yahoo.com.br .

Ricardo Riso participa de mesa-redonda - SESC/Engenho de Dentro

Hoje participarei de uma mesa-redonda às 18h, no SESC Engenho de Dentro, que antecipará a encenação da peça O AUTO DA ESCRAVA ANASTÁCIA, com início às 19h. Para este evento, abordarei a figura do contratado nas ilhas de São Tomé e Príncipe, presente na poesia de Angola, Cabo Verde e São Tomé.

A peça O AUTO DA ESCRAVA ANASTÁCIA (Direção artística de Ricardo Andrade Vassilievitch, pesquisa e consultoria de Nágila Oliveira dos Santos) trata-se de uma leitura cênico-musical da história da personagem, misto de mártir, heroína e santa que permeia o imaginário popular brasileiro como símbolo de resistência da população negra. Será encenada hoje, às 19h, e no dia 20/11 – às 15h, em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Grátis.

O Sesc Engenho de Dentro fica na Avenida Amaro Cavalcanti, 1661.

Abraços,
Ricardo Riso

Manuel Rui - Obama e um acto de cultura universal

Ainda não tive tempo para escrever algo a respeito de um novo vento a soprar por aí. Não sei, sinto receio em criar expectativas. Talvez, por ingenuidade, não perco a vontade de sonhar... de viver e ver a História acontecer... pensei que vivenciaria aqui, na cidade do Rio de Janeiro, contudo, o carioca não quis ser fator determinante nos rumos da História. Mas ela chegou, veio de longe... creio que só o fato de estimular a esperança já nos faz algum bem.

Boa sorte, Obama!

O texto a seguir é do escritor angolano Manuel Rui, gentilmente enviado pela Profa. Carmen Lucia Tindó Secco*, no qual comenta a expectativa em torno de Obama. Considerei uma ótima leitura. Espero que gostem.

Abraços,
Ricardo Riso


OBAMA E UM ACTO DE CULTURA UNIVERSAL

Eu sempre me confundi na realidade com a utopia. Ou na insatisfação constante como forma quase de fingir felicidade na busca, na procura e imitação de coisas muito simples como o voar dos pássaros, o declinar do sol, o brilho das estrelas e o mistério das conchas que aconteciam com os meus pés à beira mar na areia. Sempre não me conseguindo encontrar com o paraíso do infinitamente bom e infinitamente belo para todos, quase desinfinitando a morte que é o único lugar infinito mas parte da vida, o infinitamente belo que até poderia ser um contraste com o infinitamente bom que sempre para mim ficaram sem ser, iguais à inexistência ou à infelicidade de não procurar mais nada, muito antes da nostalgia ou depois da saudade da morte.

Afinal viver é também não imaginar aquilo que pode acontecer enquanto estamos vivos. Só que eu nunca pensei que em vida, para além de tanta coisa que estava, ainda que muito longe, mas no horizonte por detrás da noite e da nuvem, pudesse ainda ter vivido sonhos, porque a minha geração viveu sonhos depois de os ter sonhado no passa-palavra de muitos silêncios. E também viveu a morte de muita alegria triste.

Mas agora era demais. Numa data e hora em que um grande amigo meu fazia anos. Quatro de Novembro. Eu a telefonar-lhe e ele quase ou mesmo esquecido do seu aniversário por causa de OBAMA.

Era algo que nos tocava e falámos ao telefone. Porque era uma coisa que estava impensada no nosso tempo. A utopia tinha ultrapassado a nossa imaginação. Já não era tanto uma eleição ou uma vitória. Fazia semanas que vivíamos a novidade. Principalmente porque OBAMA falara mais ou menos que se mudarmos a sala podemos mudar a casa; e se mudarmos a casa podemos mudar a rua; e se mudarmos a rua podemos mudar a cidade; e se mudarmos a cidade podemos mudar o estado; e se mudarmos o estado podemos mudar o país; e se mudarmos o país podemos mudar o mundo.

OBAMA, em gesto de sagrado, no discurso de Filadélfia, tirou o pé do tiro do reverendo Jeremiah Wright. Embora o reverendo tivesse razão mas era uma razão da memória e da injustiça. Uma razão sobre os que haviam sido negados como pessoas, deixando suor e sangue nas plantações de tabaco e açúcar. Uma razão que podia ser entendida como rancor.

Nesse discurso, OBAMA trouxe uma utopia ligando a jovem Ashley e um mais velho que estava ali por Ashley estar.

No dia e hora em que escrevo este texto ainda não sei se OBAMA ganhou. Mas não é tanto por isso que estou a escrever. É mais por causa do outro que nunca percebeu que eu existo e ele só pode ser também se deixar de estar assim para podermos ser todos.

OBAMA tem um significado do maior acto de cultura universal do início deste século. No século passado, quem tinha televisão ficou uma noite inteira à espera que um homem pisasse a lua.

Neste princípio de século, OBAMA conseguiu criar uma energia, um astral de muitas mãos inteiras pelo pensamento de pessoas de todas as partes do mundo, numa corrente parecida com uma constelação de paz sem fronteriras. E Isso é um acto de cultura que vai ficar.

Não importa que este Messias traga milagres. Importa é o milagre cultural de pôr uma boa parte do mundo inteiro a olhar para ele como um salvador e perder uma noite só a olhar para um televisor como se OBAMA fosse uma madrugada.

No século passado, foram à lua. Agora OBAMA parece que desceu da lua e chegou à terra.

No século passado foi Mandela.

Mas antes de Mandela, o reverendo Luter King já tinha orado que tinha um sonho. O reverendo foi assassinado por causa do sonho.

Mandela tornou realidade um bocado do sonho do reverendo. Por cima de tanta memória que sobrou para os blues.

OBAMA acrescenta mais um bocado de realidade ao sonho do reverendo.

Como Agostinho Neto deixou escrito:

E DO DRAMA INTENSO
DUMA VIDA IMENSA E ÚTIL
RESULTOU CERTEZA

AS MINHAS MÃOS COLOCARAM PEDRAS
NOS ALICERCES DO MUNDO
MEREÇO O MEU PEDAÇO DE PÃO.

manuel rui


* Fonte: recebido em 5 de novembro de 2008,20h30.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Palestras Ricardo Riso - UERJ e UNESA (2)

Encerrei ontem três palestras ministradas por mim, extremamente gratificantes. As duas primeiras aconteceram como encerramento do curso de extensão História da África Antiga, promovido pelo Núcleo de Estudos de Antigüidade - NEA/UERJ, com a apresentação da "poesia cabo-verdiana: do mito hesperitano aos dias atuais”, sendo o mito hesperitano o assunto que teve maior acolhida entre a platéia, historiadores em sua maioria.

Palestra sobre a poesia cabo-verdiana no encerramento do curso História da Africa Antiga/NEA-UERJ, no dia 01/11/2008. Ao meu lado superior direito, uma máscara antílope, curiosa como sempre.

Agradeço ao prestativo e atencioso Prof. Cristiano Bispo pela oportunidade oferecida e ao excelente curso ministrado por ele.



Durante a palestra sobre literatura e artes plásticas de Angola, Cabo Verde e Moçambique - Semana de Letras 2008/Universidade Estácio de Sá, em 04/11/2008

Após ter apresentado-me em algumas instituições, finalmente chegou o momento de mostrar minha pesquisa com as artes plásticas e literaturas dos países africanos de língua portuguesa na UNESA. Preparei um amplo panorama das artes em Cabo Verde, Moçambique e Angola, privilegiando neste a produção pós-1980 com Onjaki, João Tala, Antonio Olé, Yonamine, E. Bonavena e outros; naquele o lirismo e o onírico em Mia Couto, Roberto Chichorro e Naguib; e em Cabo Verde, a geração claridosa, a resistência de Ovídio Martins e pinturas de Kiki Lima, dos irmãos Manuel e Tchalê Figueira.


Parte da platéia durante a palestra na Semana de Letras

Agradeço a participação do público nos dois lugares. Aos estacianos de ontem e de hoje, à contribuição da Denise e aos amigos Professores: Gilda, Marta Faraco, Accacio, Carmen Lucia Tindó Secco, Simone Caputo Gomes e, principalmente, Norma Lima. Não estenderei a lista para não ficar cansativa, mas outros nomes foram e são de extrema importância para mim.

Disponibilizei na web as apresentações feitas no Power Point. Para vê-las, basta clicar nos endereços abaixo:

http://www.slideshare.net/risoatelie/semana-de-letras-2008-letras-e-telas-de-angola-presentation/

http://www.slideshare.net/risoatelie/semana-de-letras-2008-letras-e-telas-de-moambique-presentation/

http://www.slideshare.net/risoatelie/semana-de-letras-2008-letras-e-telas-de-cabo-verde-presentation/

Muito obrigado!
Abraços,
Ricardo Riso

Mia Couto - Um passado ainda por nascer

"Esta lixiviação das responsabilidades históricas serve os propósitos das elites que hoje actuam como gestores indígenas da dependência neo-colonial".

Mia Couto *

África 21 Digital - 04/11/2008 - 17:32
http://www.africa21digital.com/noticia.kmf?cod=7851026


Existem poucas coisas que podem ser tão novas e recentes quanto o passado. O tempo – ou melhor a memória que dele ficou – é uma escolha permanente retrabalhada, uma página sempre e sempre actualizada.

A produção dessa encenação que é o passado africano está ainda curiosamente nas mãos de quem sempre negou a História do continente. As referências desse edifício solene, à sombra do qual repousam o sagrado e os mortos, continuam ainda hoje sendo eminentemente europeias: o colonialismo como único divisor de águas, a visão romântica de uma África pré-colonial paradisíaca e a projecção de um amanhã sem futuro. O afropessimismo é irmão gémeo da imagem de uma África pré-colonial mistificada, onde apenas reinavam harmonias e equilíbrios.

O expediente é simples: anulam-se os conflitos internos das sociedades africanas como motor da sua própria História. Partem-se as pernas aos processos que moveram os tempos e se moveram ao longo dos séculos. Numa cadeira de rodas, se coloca um corpo inerte, deficiente e desresponsabilizado. A esse corpo se dá o nome de «África» e ora se elogia ora se acusa quem faz movimentar a cadeira de rodas. A confissão de culpa dos «excessos» do esclavagismo e da dominação colonial por parte dos europeus ajuda a reiterar esta imagem de um continente inteiro menorizado, apenas e sempre vítima.

Falei da simplificação da História porque ela sugere uma sumária infantilização dos africanos. Leiam-se os compêndios escolares e escutem-se os discursos oficiais das elites africanas e não ficarão dúvidas: tudo corria bem até ao século XVI, todos os africanos eram pessoas encantadas e encantadoras, até à chegada dos europeus.

Este maniqueísmo está presente quando se julgam os crimes da escravatura: parece que do lado de África ninguém foi nunca culpado. Esta lixiviação das responsabilidades históricas serve os propósitos das elites que hoje actuam como gestores indígenas da dependência neo-colonial. O continente africano tem vários passados e os africanos têm o direito de os inventar e colocar ao serviço de um sem número de retratos do presente.

O grave é que os africanos interiorizaram estes critérios e se avaliam a si mesmos na base destes critérios de «pureza» e «autenticidade». A anulação da diversidade e o reconhecimento que afinal há muitas e várias Áfricas não serve nesta mobilização contra o mundo e os pecadores externos.

Ditadores como Mobutu e Idi Amin (e agora Mugabe) serviram-se deste apelo unitário que, nas décadas de 50 e 60, foi intensamente mobilizador para a construção das independências. Esta operação é simples.

A «maldade» e o «ódio» nascem sempre fora. Nós, africanos, somos apenas vítimas, mesmo quando somos culpados. Nós, africanos, somos irmãos, unidos por uma condição que tem mais a ver com natureza do que com a História. Porque a História essa actuou, como já vimos, por um processo de sofrimento. E esse sofrimento foi sempre infligido pelos de «fora». É por isso que ficamos sem reacção quando quem nos faz sofrer é um «nosso».

Algumas das hesitações face a Mugabe explicam-se por esta ausência de distância. Foi fácil empreender acções contra o ditador anterior na ex-Rodésia: Ian Smith era branco, filho de colono. Era um «outro». Mobilizar a opinião africana contra Mugabe é bem mais difícil. E não se trata apenas de razões políticas. É porque temos contra nós esta visão deformada do passado e mistificadora do presente.

Várias são as vozes de África que alertam para o perigo deste reducionismo. Kofi Annan dizia a propósito de Robert Mugabe: «Os africanos devem-se guardar de uma forma auto-destrutiva e perniciosa de racismo que une e mobiliza o cidadão para lutar contra os tiranos brancos, mas que serve para criar desculpas para os tiranos que são pretos».

Samora Machel criticou duramente Marrocos pela sua postura de ocupação do Sara Ocidental. «Por que razão atacamos o colonialismo quando é praticado por europeus e não o fazemos quando é praticado por africanos?» O Nobel da Literatura, Wole Soyinka, alertou também para esta auto-complacência. «Devíamos estar preocupados com a bota que nos pisa sem querermos saber da raça de quem calça essa bota».

Os africanos estão, assim, criando focos de guerrilha contra esta visão dominante empobrecedora de si mesmos. Eles questionam os pressupostos da própria «africanidade». Querem ser contemporâneos e sair da toca identitária para onde puristas os empurraram. As identidades múltiplas dos africanos e das diferentes Áfricas estão sendo forjadas neste processo.

O passado do continente, esse passado tão plural quanto os continentes que há em África, está ainda por escrever. Vive ainda no futuro.

* Mia Couto, escritor moçambicano, assina coluna na Revista África 21, edição de Outubro

1º Festival Cultural de Moçambique

Começará amanhã, em Brasília, o 1º Festival Cultural de Moçambique, no Museu Nacional da República, de 6 a 9 de novembro. Com diversas manifestações da cultura moçambicana, o festival contará com mostra de filmes, exposições de arte maconde, de capulanas produzidas por Suzette Honwana – esposa do escritor Luis Bernardo Honwana, debates, mostra gastronômica, shows com o grupo Milorho e o jazzista Moreira e lançamento do novo livro de Calane da Silva, "Nyembête ou As Cores da Lágrima”.

Há um belo site para o evento: http://www.festivalculturalmocambique.com.br/

Abraços,
Ricardo Riso

Fonte: http://www.africa21digital.com/noticia.kmf?cod=7853323

João Melo autografa "Filhos da Pátria" no Rio de Janeiro


Foto tirada por mim no lançamento do livro “Filhos da Pátria” (Editora Record) do escritor angolano João Melo, na Biblioteca Nacional, dia 03/11/2008.

João Melo é poeta, contista, cronista e ensaísta. “Filhos da Pátria” é o seu primeiro lançamento no Brasil, tendo sido lançado em Angola, no ano de 2001, pela editora Nzila, e em Portugal, pela editora Caminho.

É formado em Direito pela Universidade de Coimbra/Portugal, em Jornalismo pela Universidade Federal Fluminense e Mestre em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. No período que aqui esteve, meados dos anos 1980 e início de 1990, trabalhou como correspondente de imprensa. Atualmente, participa da revista África 21 – http://www.africa21digital.com/

Ricardo Riso

As informações a seguir foram retiradas de http://html.editorial-caminho.pt/show_produto__q1area_--_3Dcatalogo__--_3D_obj_--_3D35948__q236__q30__q41__q5.htm

Filhos da Pátria
João Melo

«Até onde é capaz de ir a capacidade de humilhação do ser humano?» É com esta interrogação que João Melo inicia a sua mais recente viagem pelas estórias do quotidiano angolano. A cada virar de página somos surpreendidos com a sua forma clara e honesta de apresentar os diferentes personagens, homens e mulheres que a todo o momento se movem entre uma realidade extremamente dura e os sonhos sempre adiados face à severidade do dia-a-dia, num movimento que se torna muitas vezes demasiado alucinante, demasiado presente. Utilizando, como ele mesmo diz, uma «prosa rápida e rasteira», o autor prende-nos pela acção ritmada que contém em si mesma muito da alma africana, pela ironia simples (embora não simplista...) e todavia plenamente ligada a uma reflexão profunda e cuidada das questões que são o ponto central de cada um dos dez contos, onde a palavra e a imagem se entrelaçam de forma admirável numa dança que abre diferentes caminhos (conforme a sensibilidade e a opinião do leitor), sem que nela se intrometa qualquer tipo de decadência, mesmo quando esta parece evidente.

Género(s): Literatura/ Ficção
Acabamento: brochado
Dimensão: 13,5x21 cm
Páginas: 174
Peso: 211 g
Colecção: «Uma Terra Sem Amos», n.º 121
Código: 06.121
ISBN: 972-21-1419-0
1.ª edição: Outubro 2001

terça-feira, 4 de novembro de 2008

À Cor...

À Cor... Paul Klee, Alfredo Volpi, Henry Matisse, Gonçalo Ivo - aquarela s/papel. 40 x 30 cm. 2002

Pensei que não encontraria uma imagem desta pintura em meu acervo digital. Possuo carinho especial por ela, apesar de carregar a insegurança de um aquarelista iniciante e não conter as características da minha pintura.

Ricardo Riso

Palestra Ricardo Riso: conteúdo na web

As apresentações feitas no Power Point para minha palestra “Diálogos Possíveis: letras e telas de Angola, Cabo Verde e Moçambique”, integrante da Semana de Letras 2008 – Universidade Estácio de Sá / campus Millôr Fernandes, estão disponíveis nos endereços abaixo:

http://www.slideshare.net/risoatelie/semana-de-letras-2008-letras-e-telas-de-angola-presentation/

http://www.slideshare.net/risoatelie/semana-de-letras-2008-letras-e-telas-de-moambique-presentation/

http://www.slideshare.net/risoatelie/semana-de-letras-2008-letras-e-telas-de-cabo-verde-presentation/

Abraços,
Ricardo Riso

domingo, 2 de novembro de 2008

Contravento, pedra-a-pedra: I Seminário Internacional de Estudos Africanos

http://www.seminariodeestudoscaboverdianos.org/apresentacao.aspx

CONTRAVENTO, PEDRA-A-PEDRA

I SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE ESTUDOS
CABO-VERDIANOS

Dias 25, 26, 27 e 28 de novembro de 2008

Prazo de Inscrições: de 30/10/2008 a 14/11/2008

*Taxa de inscrição:
R$ 50,00 (professores e público em geral);
R$ 35,00 (alunos de Pós- Graduação);
R$ 20,00 (alunos de Graduação).

Inscrições para monitores:
Envie mensagem à Comissão do evento, para o email
contato@seminariodeestudoscaboverdianos.org

http://www.seminariodeestudoscaboverdianos.org/inscricoes.aspx


PROGRAMAÇÃO SUMÁRIA (aguarde detalhes)

A programação do evento é composta por conferências proferidas por escritores, pesquisadores e artistas oriundos de Cabo Verde, compondo um painel dos principais temas cabo-verdianos: história, língua(s), cultura popular (tradições orais, música popular, rituais, culinária e artefatos/artesanato), literatura, pintura. Às conferências sucederão debates coordenados por renomados professores da área de Literaturas Africanas e de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa.

Além dessas atividades, ao evento estarão associadas uma mostra de vídeos/filmes sobre Cabo Verde, a audição de música crioula, nas suas várias modalidades, dança, sarau literário, lançamento de livros e uma exposição de pintura.


CALENDÁRIO

25/11 – A fala da tradição crioula: história, língua, patrimônio imaterial
Local: MAC-USP (Museu de Arte Contemporânea: Rua da Reitoria, 160 - Cidade Universitária, 05508-900 - São Paulo - SP – Brasil)

08:30 às 09:00
- Café da manhã

09:00 às 09:20
- Sessão solene de abertura

09:30 às 10:00
- Conferência de Abertura: Daniel António Pereira (Embaixador de Cabo Verde no Brasil, historiador)

10:00 às 10:30
- Conferência: Dulce Almada Duarte (Lingüista)

10:30 às 11:00
- Mesa de Debates

11:00 às 11:30
- Conferência: João Lopes Filho (Antropólogo)

11:30 às 12:00
- Conferência: Moacyr Rodrigues (Etnomusicólogo)

12:00 às 12:30
- Mesa de Debates

12:30
- ALMOÇO

14:30 às 15:00
- Conferência: Tomé Varela da Silva (Pesquisador das tradições orais, poeta)

15:00 às 15:30
- Conferência: José Maria Semedo (Pesquisador dos rituais e festas crioulas)

15:30 às 16:00
- Mesa de Debates

16:00 às 17:00
- Apresentação de livros e autógrafos; Apresentação, por Kiki Lima, de sua obra e exposição (no Anexo do MAC USP - Rua da Reitoria, 160 - Cidade Universitária, 05508-900 - São Paulo - SP – Brasil)
- Sessões paralelas de filme/documentários cabo-verdianos no CINUSP (a partir das 14 horas).


26/11 – A fala das mulheres: escritura literária de autoria feminina e literatura infantil e juvenil
Local das atividades da manhã: MAC-USP (Museu de Arte Contemporânea: Rua da Reitoria, 160 - Cidade Universitária, 05508-900 - São Paulo - SP – Brasil)
08:30 às 09:00
- Café da manhã

09:00 às 09:30
- Conferência: Vera Duarte (Ministra da Educação e Ensino Superior de Cabo Verde, romancista, poeta)

09:30 às 10:00
- Conferência: Fátima Bettencourt (Contista, cronista)

10:00 às 10:30
- Mesa de Debates

10:30 às 11:00
- Conferência: Sara Almeida (Novelista, cronista, contadora de estórias)

11:00 às 11:30
- Conferência: Dina Salústio (Romancista, contista)

11:30 às 12:00
- Mesa de Debates

12:00 às 12:15
- Dina Salústio, Fátima Bettencourt e Sara Almeida contam histórias infantis.

12:15 às 12:35
- Interação e debate

12: 35
- ALMOÇO

Local das atividades da tarde: CINUSP Paulo Emílio, Sala de exibição: Rua do Anfiteatro, Colméia, Favo 04, Cidade Universitária, S. Paulo, Brasil
14:00 às 17:00
- Uma tarde com os documentários de Margarida Fontes (TCV- Televisão de Cabo Verde)

14:00
- Plateau da Cidade da Praia (documentário, com 24’52”).
Realização: Margarida Fontes.
Sinopse: Uma visita guiada pelos prédios, ruas, praças e monumentos, entendido por muitos como o Centro Histórico da Capital de Cabo Verde. A Praia de Santa Maria é uma das mais antigas concentrações urbanas do arquipélago e, neste particular, o Plateau tem um peso histórico importante. A sua antiguidade só é ultrapassada pela da Ribeira Grande, que é sem margens para dúvida a primeira fundação populacional de Cabo Verde, como escreveu o historiador António Correia e Silva

14:30
- Debate com Margarida Fontes.

15:00
- Manuel Lopes, prosa e poética (documentário, com 21’32”).
Realização: Margarida Fontes.
Sinopse: Manuel Lopes fundou, efectivamente, com Baltasar Lopes e Jorge Barbosa, a revista Claridade, em 1936, na cidade do Mindelo, e foi activista do Movimento em prol de uma literatura de novos paradigmas...denominado, mais tarde, por analistas, de modernismo literário cabo-verdiano. Foi, ao longo da vida, alvo de elogios e criticas, algumas justas, outras exageradas, mas todas confirmando a complexidade da sua figura e da sua trajectória como homem de letras.

15:30
- Debate com Margarida Fontes.

16:00
- A problemática da água em Cabo-Verde (documentário, com 24’05”).
Realização: Margarida Fontes.
Sinopse: Durante sua trajectória histórica, Cabo Verde viveu sob o espectro das secas e das estiagens, condicionando a agricultura e a alimentação, e espalhando ciclos de fome e de pobreza crónica. Milhares de cabo-verdianos morreram à míngua de água e comida nos séculos passados. Outros milhares partiram para fora das ilhas, formatando a vasta diáspora cabo-verdiana.
A chuva, sempre escassa e aleatória, moldou Cabo Verde e os cabo-verdianos ao longo dos tempos. A água, sobretudo a água potável tem sido sempre o drama dos cabo-verdianos.

16:30
- Debate com Margarida Fontes.


Dia 27/11 – A fala da ficção e da poesia:
Local: MAC-USP (Museu de Arte Contemporânea: Rua da Reitoria, 160 - Cidade Universitária, 05508-900 - São Paulo - SP – Brasil)
09:30 às 10:00
- Conferência: Germano Almeida (Romancista, contista)

10:00 às 10:30
- Mesa de Debates

Conferências: as falas dos poetas
Parte 1:
10:30 às 11:00
- Filinto Elísio

11:00 às 11:30
- José Luís Tavares

11:30 às 12:00
- Mesa de debates

12:00 às 14:00
- Almoço

Parte 2:
14:00 às 14:30
- José Luís Hopffer Almada

14:30 às 15:00
- Mário Fonseca

15:00 às 15:30
- Corsino Fortes

15:30 às 16:00
- Mesa de debates

16:00
- Apresentação Musical e de Dança, concomitante com a Exposição de Pintura de Kiki Lima (Anexo MAC USP)

Sessões paralelas de filmes/documentários cabo-verdianos no CINUSP (a partir das 14 horas).


Dia 28/11 – ENCERRAMENTO (aberto ao público, gratuito): O Museu da Língua Portuguesa recebe os escritores e artistas de Cabo Verde
Local das atividades: Museu da Língua Portuguesa, Praça da Luz, s/nº, Centro - São Paulo – SP
Convívio entre escritores cabo-verdianos e brasileiros, artistas, pesquisadores e público na Praça do Café do Museu. Com exposição de Kiki Lima, sarau poético e musical.

Fonte: http://www.seminariodeestudoscaboverdianos.org/programacao.aspx

sábado, 1 de novembro de 2008

Norma Lima: Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, novo blog

A Profa. Dra. Norma Lima criou um blog dedicado às Literaturas Africanas de Língua Portuguesa - http://culturaafrobrasileira.blog.terra.com.br/

Norma Lima destaca-se na área pela sua tese de doutorado a respeito da presença do modernismo brasileiro na revista Claridade (Cabo Verde), sob orientação da Profa. Dra. Simone Caputo Gomes.

Norma Lima, minha amiga, foi a pessoa responsável por me inserir no mundo das letras africanas durante a minha graduação no curso de Letras. Felicito-a pelo blog e indico-o a todos que querem se aprofundar nessas literaturas, pois será um local de ótimos textos.

Sucesso, Norma!!!

Ricardo Riso