sexta-feira, 28 de agosto de 2009

José Luis Hopffer C. Almada - Praianas (livro)

Novo livro de poesia do cabo-verdiano José Luis Hopffer C. Almada, Praianas, publicado pela Spleen Edições (Cidade da Praia-Cabo Verde), com ilustração de capa de Abraão Vicente.


Nasceu no sítio de Pombal, Concelho de Santa Catarina, ilha de Santiago, Cabo Verde (1960). Reside actualmente em Lisboa.
Associado a diversas iniciativas culturais em Cabo Verde, como o Movimento Pró-Cultura (1986), o suplemento cultural Voz di Letra do jornal Voz di Povo (1986-1987) e a revista Pré-Textos; director da revista Fragmentos (1987-1998); co-fundador da Spleen-Edições (1993) e dirigente da Associação de Escritores Cabo-Verdianos (1989-1992/1998).
Participação regular em colóquios, em diversos países, como Senegal, Cuba, Bélgica, Brasil, Angola, Portugal, Holanda, Suíça, Moçambique; colaboração assídua em jornais e revistas literárias e jurídicas, com destaque para Fragmentos, Pré-Textos, Direito e Cidadania, Lusografi as, A Semana, Liberal-Caboverde.
Representado em diferentes antologias poéticas estrangeiras.
Organizou Mirabilis – de Veias ao Sol (Antologia dos novíssimos poetas cabo-verdianos (1998) e O Ano Mágico de 2006 – Olhares Retrospectivos sobre a História e a Cultura Cabo-Verdianas (2008). Publicou: livros de poesia – À Sombra do Sol, I e II, (1990); Assomada Nocturna (1993) e Assomada Nocturna – Poema de NZé di Sant’ y Águ (2005); ensaio: separata – Orfandade e Funcionalização Político-Ideológica nos Discursos Identitários Cabo-Verdianos (2007).
Utiliza os nomes literários Nzé di Santý Águ, Zé di Sant´y Águ, Alma Dofer Catarino, Erasmo Cabral de Almada (poesia), Tuna Furtado (artigos e ensaios) e Dionísio de Deus y Fonteana (crónica literária e prosa de ficção).

Texto da orelha do livro:
A filiação literária de “Praianas”, como acontecia com Assomada Nocturna, pode (...) situar-se entre a épica do século XX e o Bildungsroman realista defi nido por Bakhtin. Quanto a este aspecto, e a propósito ainda de Assomada Nocturna, Inocência Mata afi rmou precisamente que o tempo revivido por NZé di Sant’y Águ “pode considerar-se a fase de «conhecimento do mundo»”; daí que fosse esse um tempo “cujo signifi cado não terá sido entendido no presente daquele passado e que o sujeito quer recuperar na sua significação histórica”, como é comum suceder no Bildungsroman realista. Já se pensarmos noutras revisitações, mais ou menos épicas, aos lugares da formação pessoal ou colectiva, poderemos encontrar afi nidades entre estes dois
livros cabo-verdianos e um Cahier d'un Retour au Pays Natal, de Césaire, um Éloges ou um Anabase, de Perse, ou mesmo um Paterson, de William Carlos Williams. Com este, além do recurso ao collage, há a coincidência do topónimo e do antropónimo, já que “NZé di Sant’y Águ” é também um pseudónimo
gentílico. A propósito de Perse, podemos servir-nos criticamente da asserção de Ana Mafalda Leite que diz ser o franco-caribenho autor da “épica possível de um ocidental, distanciado já de um sentido histórico romântico”: é certo que NZé di Sant’y Águ se destina africano e que os processos de nation building são precisamente românticos, mas quer a geral condição pós-moderna, quer a qualidade teoricamente crioula e historicamente diaspórica do Arquipélago, quer ainda, sem fantasmagórica máscara greco-latina, a biografi a
europeia de J. L. Hopffer C. Almada distanciam o autor de “Praianas” do casticismo folclórico oitocentista. Sobre a herança do martinicano, enfi m, devemos recordar a entrevista do autor a Michel Laban: no período pós-independência, explica Almada, “fazíamos como que uma conjugação entre o surrealismo na forma (…) e um certo engajamento político –, até que descobrimos Aimé Césaire e chegámos à conclusão que (…) essa conjugação era possível...”. A incrustação de frases ou versos alheios no corpo do poema, a recorrência da
anáfora e do discurso metafórico, a exuberância e a virulência vocabulares, a encenação articulada de ambientes rurais e urbanos, a consciência política africanista e libertária ou o recurso à arma miraculosa da cultura ocidental (como queria também T. Tio Tiofe) são partes do património comum aos dois poetas insulares.

Por sua vez, os sucessivos Leaves of Grass, de Walt Whitman, The Cantos, de Ezra Pound, ou oesía Vertical, de Roberto Juarroz, partilham com “Praianas” esse estatuto de work in progress adquirido nas alterações, acrescentamentos ou restaurações progressivos de um projecto iniciado cedo na vida literária do autor – no caso vertente, com a redacção, em Leipzig, no início dos anos 80, da primeira versão de Assomada Nocturna.

In Posfácio de Rui Guilherme Gabriel


Fonte: e-mail enviado pelo próprio autor em 26/08/2009.

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