quarta-feira, 3 de junho de 2009

Bouquet de Estrelas para Arménio Vieira, por José Luiz Tavares

Esta belíssima homenagem ao escritor Arménio Vieira, galardoado com o Prêmio Camões, foi enviada pelo poeta José Luiz Tavares. Aqui, compartilho com vocês.
Parabéns, Arménio Vieira!!!
Ricardo Riso
BOUQUET DE ESTRELAS PARA ARMÉNIO VIEIRA,

DITO CONDE, REI À NOSSA MANEIRA

Mais do que justa é a atribuição do prémio Camões ao poeta Arménio Vieira, senhor duma obra sólida, ainda que escassa. Em meio às pressões identitárias e à vociferação tribunícia, que tempos e circunstâncias impuseram a outros menos radicais na assumpção da condição criadora, Arménio Vieira soube abrir-se à universalidade estética e pensante, sem no entanto deixar de reflectir nas suas obras as atribulações existenciais e as particularidades antropológicas do ser-se caboverdiano.

Embora se possa tomar este prémio como uma reparação devida, ainda que tardia, à literatura caboverdiana, ele é, indubitavelmente, o coroar da obra daquele que dentre nós encarnava por excelência a figura e condição de poeta, e não nobilita, por atacado, toda a produção literária do arquipélago.

Talvez a pátria suspirasse por outros mais conformes aos ditames e cânones da monocultura identitária, a esses que de tanto fincar os pés perderam de vista o horizonte longínquo, como postula um dos meus grandes mestres, o irlandês Seamus Heaney neste verso, minha divisa e meu lema: «vai para além da segurança do que te é conhecido».

A ele, condor de largo voo, inolvidável coveiro da literatura gastronómica, nobre oficiante das horas salerosas do Cachito e Café Sofia, impoluto cobridor das fêmeas tresmalhadas, a ele nunca lhe foi horizonte o arrazoado folclórico-etnológico, mas o irredutível humano condensado na totalidade dos signos, onde a articulação entre reflexão e sentimento, aliada à discreta inteligência metapoética, são a afirmação extrema do que ainda nos sustém e poderemos chamar - no desconforto de um tempo de imundície terror e morte - beleza.

Lisboa, 3 de Junho de 3 de Junho de 2009
José Luiz Tavares (jltavares.poeta@gmail.com)
Fonte: e-mail gentilmente enviado por José Luíz Tavares às 13h31, dia 03 de junho de 2009.

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