quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Cabo Verde em Xique-Xique (Bahia, Brasil)



Cabo Verde em Xique-Xique, Bahia
Ricardo Riso
Resenha publicada no semanário cabo-verdiano A Nação, n. 214, de 06/10/2010, p. 42
Intensa tem sido a presença da literatura cabo-verdiana no Brasil, com eventos recentes envolvendo as letras do arquipélago em três estados: Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. A 587 km de Salvador, capital da Bahia, às margens do rio São Francisco, Xique-Xique recebeu, de 21 a 24 de setembro, o II Xirê das Letras – Giros de Resistência – Congresso Internacional de Línguas, Literaturas e Culturas Africanas e Afro-Americanas no campus DCHT XXIV, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), sob a organização do Prof. Ms. João Silva Rocha Filho e da Profª Ms. Lise Mary Arruda Dourado.
A diversidade foi a tônica do II Xirê das Letras, as palestras abordavam literatura, história, religiosidades afro-brasileiras, ações afirmativas, discriminação, entre outros áreas de interesse, demonstrando as experiências de pesquisadores de várias partes do país. As mesas de comunicação e os minicursos também seguiram o caráter heterogêneo do Congresso.
Cabo Verde marcou presença com a participação, em duas mesas, do sempre cativante escritor e cronista Filinto Elísio; na primeira, a fala emocionada em razão da morte de Aristides Pereira; para além dessa triste passagem, Elísio comoveu a plateia ao mencionar a entrada dos afro-descendentes nas universidades, deslocando-se de objetos de estudos para sujeitos do discurso, sendo a Educação a nova arma na guerra de libertação travada nos estudos acadêmicos.
O outro momento cabo-verdiano concretizou-se com a presença de Joaquim Arena, jovem escritor radicado em Portugal que lançou recentemente o romance “Para onde voam as tartarugas” (Caminho – Portugal). Feliz com a sua primeira vinda ao Brasil, Arena aproveitou para mencionar semelhanças entre Brasil e Cabo Verde, tanto na música quanto na literatura, pois esta última influenciou a sua escrita.
Eu, a convite da Profª Lise Arruda, participei da subcomissão de comunicações, indiquei nomes de autores africanos e ministrei o minicurso “Novas Tendências da Literatura Cabo-Verdiana (escritores heterônimos de si próprios)”. Em dois dias, com quatro horas de duração, o objetivo era mostrar o pluralismo estético-ideológico e a diversidade temática no pós-independência presentes na prosa e na poesia com auxílio de eixos temáticos, tais como Poesia de indagação ontológica e metafísica, Poesia desassombrada da monocultura identitária e Poesia Diaspórica. No último dia, Joaquim Arena e Filinto Elísio abrilhantaram o curso com suas participações e informações pertinentes acerca do panorama contemporâneo da literatura de Cabo Verde.
Para finalizar, houve a comunicação da colega Ruth Maria Chaves Pires a partir do poema “Banquete”, de Filinto Elísio. Aproveito para deixar o meu sincero agradecimento aos organizadores supracitados e demais agentes que construíram tão belo Congresso. O Xirê (roda) fomentou ideias, cativou corações e mentes.
Enquanto isso, na Faculdade de Letras da USP, a presença cabo-verdiana tem sido uma constante no departamento coordenado pela Profª Drª Simone Caputo Gomes. Em abril, Mito Elias apresentou “Tempo de Bichos: celebrando as 70 vidas do poeta Arménio Vieira”, estendida ao Museu Afro-Brasil; em agosto, a escritora e jurista Vera Duarte falou para mais de 200 alunos de Literatura Cabo-Verdiana, para além de pós-graduandos e professores da área. Duarte, no mesmo mês, esteve ao lado de Conceição Evaristo (Brasil), de Odete Semedo (Guiné-Bissau) e de Sonia Sulthuane (Moçambique) no evento “4 vozes femininas de África”, na UFRJ, sob coordenação da Profª Drª Carmen Lucia Tindó Secco. Nos dias 19 e 20 deste, Corsino Fortes e Filinto Elísio discorreram sobre suas obras também na USP. Os dois vates ainda apresentaram-se na prestigiada Casa das Rosas (Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura), dia 20, em São Paulo.
É assinalável a aproximação de Brasil e Cabo Verde no campo literário. Desejo que esses eventos se tornem frequentes por aqui e contribuam para a popularização das letras do arquipélago. É a minha utopia.

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