Escrever sobre o universo adolescente deve ser um enorme desafio para qualquer escritor, pelo menos imagino. Trata-se de um mundo repetitivo, chato e indeciso na maioria das vezes. Contudo, não é o que acontece no romance chileno “Baixo Astral” (Mala Onda), de Alberto Fuguet.
Fuguet ficou conhecido mundialmente ao propor a ruptura de sua geração com o realismo fantástico predominante na literatura latino-americana, tendo como principal exemplo o livro Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Marques. McOndo (trocadilho com a Macondo de G. G. Marques) é a sua proposta literária para uma nova literatura, escrita por “uma geração que comia no McDonald’s e assistia MTV”, mais preocupada com valores existenciais e a metalinguagem.
Em Baixo Astral os dramas, anseios, crises de um adolescente são apresentados em uma narrativa clara e direta com incontáveis referências literárias (Salinger), musicais (Stones, Blondie, Diana Ross), cinematográficas (The Blues Brothers, O Gigolô americano) e de consumo durante todo o livro.
O romance se passa no Chile de 1980, obscurecido pela sanguinária ditadura de Pinochet. As diversas citações à cultura pop, mais precisamente a cultura de massa americana, denunciam uma juventude afastada dos valores culturais de seu país, o total descrédito com a política e o insistente desejo de ter que sair fora, sair de um Chile asfixiante, de uma vida que nada diz.
A situação caótica imposta pelo regime ditatorial talvez explique o desencanto e o constante mau humor do personagem principal Matías Vicuña. Afinal, uma política repressiva dilacera qualquer tentativa de sonho, de pensamento crítico e vontade de viver.
O romance percorre onze dias na vida do jovem Vicuña, período em que variadas situações acontecem, inclusive uma viagem ao Rio de Janeiro, metáfora do que seria um rito de passagem para uma vida adulta que se aproxima. Na cidade maravilhosa, no Posto 9 de Ipanema Vicuña aproveita todas as aventuras que um adolescente pode fazer sem ninguém para recriminá-lo. Do sexo à cocaína, o garoto cai dentro das experiências possíveis e impossíveis do desbunde carioca.
Quando retorna para sua Santiago, o mal-estar do ambiente chileno desestimula gradativamente o jovem, que se encontra entendiado com tudo ao seu redor: "Me sinto entediado. Sozinho. É que não acontece nada. Não me acontece nada. Apenas babaquices deprimentes. Ou sacais". (FUGUET, p 167. 2001).
Seu cotidiano no Chile passa pelas festinhas, baseados, transas, escola, saudade do amor que deixou na viagem ao Brasil, a indecisão com a menina que se amarra e um sentimento de inquietação incontrolável, faz com que se afaste cada vez mais de tudo e de todos e se concentre nas suas preferências culturais.
Aqui entra a sua admiração pelo barman Alejandro Paz, que sonha em morar nos Estados Unidos, e apresenta o livro O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger. O personagem Holden Caulfield passa a ser idolatrado pelo garoto, que passa a viajar em diálogos imaginários com o personagem. A intertextualidade com o romance de Salinger torna-se intensa e explícita, e são muito bem apropriadas por Fuguet no decorrer do livro, assim como todas as citações de bandas e filmes. Tantas referências culturais talvez remetam ao passado de crítico de música e cinema do escritor no jornal Mercurio (Chile).
Baixo Astral é um ensaio à desilusão, à falta de perspectiva, aos conflitos de um adolescente inseguro com medo da aproximação da vida adulta. Entretanto, o romance de Fuguet consegue ir além ao retratar o medo, a insegurança e as irresponsabilidades que surgem no decorrer da vida de qualquer pessoa em qualquer fase. Talvez elas sejam mais intensas na adolescência. E é exatamente a incerteza que une pai (sedento por voltar à juventude) e filho no romance, e a fuga para o sexo e as drogas. É pela depressão de Matías Vicuña, a desilusão e a falta de sonhos de sua geração que vemos o mal que a repressão pode causar. Baixo Astral é um grande livro.
Fuguet ficou conhecido mundialmente ao propor a ruptura de sua geração com o realismo fantástico predominante na literatura latino-americana, tendo como principal exemplo o livro Cem anos de solidão, de Gabriel Garcia Marques. McOndo (trocadilho com a Macondo de G. G. Marques) é a sua proposta literária para uma nova literatura, escrita por “uma geração que comia no McDonald’s e assistia MTV”, mais preocupada com valores existenciais e a metalinguagem.
Em Baixo Astral os dramas, anseios, crises de um adolescente são apresentados em uma narrativa clara e direta com incontáveis referências literárias (Salinger), musicais (Stones, Blondie, Diana Ross), cinematográficas (The Blues Brothers, O Gigolô americano) e de consumo durante todo o livro.
O romance se passa no Chile de 1980, obscurecido pela sanguinária ditadura de Pinochet. As diversas citações à cultura pop, mais precisamente a cultura de massa americana, denunciam uma juventude afastada dos valores culturais de seu país, o total descrédito com a política e o insistente desejo de ter que sair fora, sair de um Chile asfixiante, de uma vida que nada diz.
A situação caótica imposta pelo regime ditatorial talvez explique o desencanto e o constante mau humor do personagem principal Matías Vicuña. Afinal, uma política repressiva dilacera qualquer tentativa de sonho, de pensamento crítico e vontade de viver.
O romance percorre onze dias na vida do jovem Vicuña, período em que variadas situações acontecem, inclusive uma viagem ao Rio de Janeiro, metáfora do que seria um rito de passagem para uma vida adulta que se aproxima. Na cidade maravilhosa, no Posto 9 de Ipanema Vicuña aproveita todas as aventuras que um adolescente pode fazer sem ninguém para recriminá-lo. Do sexo à cocaína, o garoto cai dentro das experiências possíveis e impossíveis do desbunde carioca.
Quando retorna para sua Santiago, o mal-estar do ambiente chileno desestimula gradativamente o jovem, que se encontra entendiado com tudo ao seu redor: "Me sinto entediado. Sozinho. É que não acontece nada. Não me acontece nada. Apenas babaquices deprimentes. Ou sacais". (FUGUET, p 167. 2001).
Seu cotidiano no Chile passa pelas festinhas, baseados, transas, escola, saudade do amor que deixou na viagem ao Brasil, a indecisão com a menina que se amarra e um sentimento de inquietação incontrolável, faz com que se afaste cada vez mais de tudo e de todos e se concentre nas suas preferências culturais.
Aqui entra a sua admiração pelo barman Alejandro Paz, que sonha em morar nos Estados Unidos, e apresenta o livro O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger. O personagem Holden Caulfield passa a ser idolatrado pelo garoto, que passa a viajar em diálogos imaginários com o personagem. A intertextualidade com o romance de Salinger torna-se intensa e explícita, e são muito bem apropriadas por Fuguet no decorrer do livro, assim como todas as citações de bandas e filmes. Tantas referências culturais talvez remetam ao passado de crítico de música e cinema do escritor no jornal Mercurio (Chile).
Baixo Astral é um ensaio à desilusão, à falta de perspectiva, aos conflitos de um adolescente inseguro com medo da aproximação da vida adulta. Entretanto, o romance de Fuguet consegue ir além ao retratar o medo, a insegurança e as irresponsabilidades que surgem no decorrer da vida de qualquer pessoa em qualquer fase. Talvez elas sejam mais intensas na adolescência. E é exatamente a incerteza que une pai (sedento por voltar à juventude) e filho no romance, e a fuga para o sexo e as drogas. É pela depressão de Matías Vicuña, a desilusão e a falta de sonhos de sua geração que vemos o mal que a repressão pode causar. Baixo Astral é um grande livro.
FUGUET, Alberto. Baixo astral. Editora Record. Rio de Janeiro, 2001.
Blog do escritor: http://albertofuguet.blogspot.com/
2 comentários:
Fala Ricardo,
O Baixo Astral/Mala Onda é realmente um ótimo livro. Pena ter tão pouca coisa do Fuguet lançada no Brasil.
Eu postei lá no meu blog um artigo q tirei de um dos últimos livros dele, Apuntes Autistas, q é genial.
abraços!
É uma pena não termos contato mais intenso com a literatura latino-americana, pois deixamos de conhecer autores interessantes.
Mas o importante é aproveitarmos o que sai por aqui, ou encarar a versão original.
Um abraço!
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