Noite quente de verão, enluarada. Assim que entrei no bar, olhei para o varandão e a vi, sozinha, com jeito pensativo e distante admirando a lua como se por lá estivesse. Ao redor, outros freqüentadores estavam empolgados com o dia lindo que havia se encerrado e a noite convidativa que rolava. De repente, nossos olhares se cruzaram. Tive a oportunidade de fitar um rosto delicado, brilhante em vida e sorrindo para mim, um sorriso discreto que pedia confirmação. Rapidamente reparei em seus olhos pretos, encaracolados cabelos, pele morena queimada pelo sol, o batom básico, brincos, cordão pulseirinhas, saia hippie, o anel de âum, fadinha tatuada sobre o cogumelo no tornozelo e sandália rasteira. Sorri. De imediato dirige-me a ela, pedi a mesma cerveja que estava bebendo. Percebi o cigarro sobre a mesa e a maneira convidativa com que me encarava. Posso, perguntei. Claro, foi a resposta dita pelos delicados seios estufados sob a fina blusinha com vários tons de rosa acompanhada por expressão radiante, mágica. O que diz a lua cheia, quis saber. Ela está próxima de Saturno, logo estarão na mesma casa com Marte, e quando isto acontecer será um momento que somente se repetirá daqui a quarenta anos. Sou Áries, ascendente em Virgem, planeta Marte. Jura, Capricórnio com ascendente em Aquário, planeta Saturno. Combinamos, questionei. Ela se empolga, ajeita os pequenos seios com ambas as mãos que descem suavemente pela barriga e estacionam entre as pernas. Há uma conjunção astral acontecendo, o momento é especial. Começo a sentir tesão ao vê-la arrumando os cabelos, coluna ereta, seios salientes apontados para mim e uma linda barriguinha aparece discretamente. Resolvo continuar no papo esotérico, apesar de todas as ressalvas que tenho atualmente com os astros. Contudo, diante daqueles peitinhos... tinha que ver onde chegaria. Talvez, porém de uns tempos para cá estou como uma antiga canção que fala sobre o desinteresse das teorias, “nem nessas coisas do oriente, romances astrais / a minha alucinação é suportar o dia-a-dia / e o meu delírio é a experiência com coisas reais”. Acho que perdi a última nave São Thomé das Letras – Ixtlán. Não tente fugir daquilo que você é, ela sorriu. Fale-me sobre você, quis saber. Alguém que ainda acredita nos sonhos, que o homem é bom, que procura viver em paz consigo e tenta manter acesa a chama da crença na justiça e bem-estar entre seus pares, respondi. O que é impossível, por isto inquieto e infeliz, completei. Sonhar é bom, é o que sustenta a nossa existência, o que nos conforta neste plano astral, como citou versos de uma canção, ou seja, os sonhos não envelhecem. Com eles, não deixamos morrer a tal da chama da indignação contra as perversidades cometidas pelos homens, ela respondeu empolgada e deu uma longa tragada, um sensual movimento de ombros e cruzar as pernas. Concentrei-me no som aveludado que aquela boca de lábios levemente carnudos emitia. O que somos, quixotescos, surreais, anacrônicos, questionei. Raros, ela disse e olhou novamente para a lua. Tais palavras vieram em minha como o efeito da ayahuasca, transmutando-se palavras, objetos e corpos em um só ser inominável e intangível. As cumplicidades começaram a surgir. Estudou letras. A literatura é séria demais e nem tudo pode ser explicado ou dito, disse. Largou, foi fazer teatro em Sampa nas companhias de zé celso e antunes filho. Enjoou, partiu para Alto Paraíso, na Chapada dos Veadeiros, e virou astróloga. Contou mais da estrada e dos seus sonhos. Fã do cinema surrealista de Buñuel e dos silêncios de Antonioni, reclamou da ausência do olhar distante de Matt Dillon nos filmes, empolgou-se com Gus van Sant e Ken Loach, das obras solitárias de Osvaldo Goeldi e Edward Hopper, do encantamento das telas de Cícero Dias e Marc Chagall, das canções de amor e amizade do Clube da Esquina, da poesia de Manoel de Barros e Manuel Bandeira, e acha que o fatalismo das letras Ian Curtis é o que melhor retrata o mundo que vivemos, infelizmente, completou. Fascinado com a maneira que falava e seus movimentos hipnotizantes, não escutava nada ao nosso redor, a não ser a voz e o olhar impactante sedento de desejo. Enquanto me encarava, só me imaginava abocanhando aqueles seios. Nossas mãos acariciavam-se, os pêlos arrepiavam-se, já estava duro. Ela pegou seu copo, levou-o à boca, com suavidade baixou a cabeça e me encarou. Não resisti. Beijei-a. A língua sagrada e universal do amor. A primeira penetração, intensa, forte, asfixiante. Nossos corpos espremiam-se, as mãos eufóricas, ágeis e certeiras desvendavam os corpos excitados. O tempo daquele beijo não sei quanto durou. Encerramos a conta, partimos para minha casa. Ela encanta-se com o ambiente ainda um tanto esotérico com incenso de massala, tapete, puff, artesanatos, pinturas, Jim Morrison e Bob Marley nas paredes. Continuamos nos beijando intensamente sobre o sofá. Com a mão entre suas pernas, acaricio seu grelo e meu dedo penetra sua xota encharcada. Ela se contorce, geme, me arranha e morde minha orelha com força, contraio-me. Arranco sua blusa e minha língua passeia pelos seus peitos enquanto ela abre minha calça, segura com firmeza o meu pau e me toca com rapidez. Deito-me, sou aquecido pela sua boca, e começo a preparar um baseado. Enevoadas chupadas elevam-me a Jah. Decido retribuir, ela se ajeita suavemente, beijo a barriguinha, desço, tiro sem pressa a calcinha, viajo no cheiro dos pêlos tratados com esmero, no sabor de sua xota e em mordidas no grelo duro em minha cara. Ela se contorce, aperta minha cabeça, rosna, grita, bate na minha cabeça, me sufoca. Penetro-a com voracidade, corpos molhados, epileticamente mexemo-nos. Suas pernas travam a minha cintura, aperta minha bunda, bate nela, me arranha, desfere um forte tapa em meu rosto, cuspo na sua boca. Ela está ensopada, aproveito o líquido que escorre e enfio o dedo no seu cu, delira. Jogo-a sobre mim, ela cavalga com frenesi, sua bunda está ardendo com a força dos meus tapas, pula ainda mais e pede para que a pegue como uma cachorra. Duplo penetro-a. Visceral. Puxo seus cabelos com força. Noto que domina o pompoarismo, fico louco. Ela grita por mais e mais e mais. De repente amoleço, busco forças, concentro-me, mas não consigo continuar. Despedaço-me ao seu lado, me encolho e começo a chorar, desesperado. Deixa, não fica assim. Ignoro seus comentários e desfaço-me em uma torrente de lágrimas. Ela insiste em falar, apenas choro, e muito. Ela se aflige, quer me abraçar, afasto com violência seu braço. Grito para que vá embora. Por quê? Não respondo, continuo a me contorcer e me enrosco nos lençóis. Fetal, aperto-me. Um tempo interminável se passa, eu permaneço na mesma. Ela fica falando e tentando me tocar, no que é prontamente repelida. Não me viro para ela. Não escuto mais sua voz. Apenas meus grunhidos quebram o silêncio e a frieza tangíveis do quarto. Até que a porta da sala bate. Permaneço chorando. Durmo.
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