De repente nossos olhares se cruzam. Noto que seu sorriso um tanto discreto pede confirmação. Reparei rapidamente em seus olhos, encaracolados cabelos, pele queimada, pouca maquiagem, brincos e cordão daqueles feitos por hippies, blusinha leve e estampada moldando os pequenos seios, saia, tattoo no tornozelo, sandália rasteira. Sorri. Pego minha bebida e vou em sua direção. Bebemos a mesma cerveja, percebo seu cigarro. Posso, disse. Claro, é a resposta. Sento e começamos a nos descobrir. Concentro-me no som aveludado que aquela boca de lábios levemente carnudos emite. Na transcendência de sua voz e no olhar penetrante que me encara docemente, viajo. O bar está bastante movimentado como acontece em uma noite de sexta-feira, pessoas empolgadas, música alta, contudo, ouço apenas um ruído longínquo, indefinido e escuto apenas aquela voz. As cumplicidades começam a surgir, teatro – ela estuda teatro –, cinema, mapa astral, música, literatura, pintura, estrada, sonhos. Soltamo-nos, abrimo-nos. Os sorrisos tornam-se mais intensos, singelos e doces. Você tem um baseado, sim, vamos fumar, vamos. O toque. O desejo. Conta encerrada, saímos. Na rua a infinitude do beijo ardente, mãos ágeis, certeiras desvendam os corpos espremidos. Minha casa é aqui perto, partimos. Beto Guedes rolando, incenso no ar, baseado queimando, corpos acesos. Carícias agressivamente ternas, pungentes, despimo-nos. Penetro-a com voracidade, frenéticos mexemo-nos, devoramo-nos. O pompoarismo me alucina, enquanto me arranha solto tapas viscerais e ela pede mais e mais e mais. Até que desabo, saio de dentro dela, deito ao seu lado, encolho-me e choro desesperadamente. O que houve, ignoro a pergunta. Ela insiste e permaneço sem respondê-la. Choro ainda mais. Ela se aflige, quer me abraçar, não deixo. Grito para ir embora. Enrosco-me nos lençóis. Fetal, aperto-me. Não escuto mais sua voz. O vazio. A porta bate. Continuo chorando. Durmo.
Riso - 09 de outubro de 2007.
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